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CAPÍTULO II MODALIDADES DA EDUCAÇÃO

2.4. Aprendizagem ao Longo da Vida

Compreendemos que a preocupação com o processo de aprendizagem deve ser sempre uma questão indissociável a toda prática pedagógica. Na contemporaneidade, estas questões recebem ainda mais destaque. Talvez isso se dê pelo fato do advento de novas realidades sociais, culturais e econômicas nas quais a educação esta inserida. Sabemos que na sociedade ocidental, o modelo educacional de caráter formal foi durante muito tempo preconizado, mas a partir da chamada crise da educação e do consequente aumento da busca por novos modos de aprender, foi possível a ampliação do entendimento do significado de aprendizagem, que passa a ser reconhecido como um processo que ocorre pelas pessoas ao longo de toda a vida e em diversos ambientes.

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Para a compreensão do significado do termo, e a aprendizagem ao longo da vida, Aníbal (2013), afirma ser necessária a busca de uma visão histórica sobre a educação e principalmente, sobre as mudanças ocorridas nela nas últimas décadas. Ao analisarmos a história da educação, na segunda metade do sec. XX podemos observar a grande influência de entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) e a União Europeia (UE), que colaboraram intensamente no enfrentamento dos novos desafios da educação.

A UNESCO exerceu um papel importante no que tange a educação, principalmente em relação ao período de pós-guerras, através da realização de seis conferências internacionais de educação de adultos (CONFITEA). “Cada uma dessas conferências marcou, no seu tempo, a agenda e as prioridades da educação e formação de adultos, tendo delas resultado um importante conjunto de declarações e recomendações internacionais subscritas pelos países participantes...” Aníbal (Op. cit. p.2).

A quinta conferência que aconteceu na Alemanha (Hamburgo), em 1997, sob o tema: A Educação das Pessoas Adultas, Uma Chave para o Século XXI e a sexta conferencia que aconteceu no Brasil (Belém) 11em 2009, com o tema: Vivendo e Aprendendo para Um Futuro Viável: O Poder da Aprendizagem e da Educação de Adultos, segundo Aníbal (2013) merecem destaque, pois nelas se é possível identificar uma mudança de paradigma no que tange a valorização da aprendizagem ao longo da vida. Desta forma, o enfoque na educação de adultos cede espaço à educação e formação de adultos e saberes e conhecimentos por competências.

Segundo Cavaco (2009), essa mudança de enfoque se expressa claramente na utilização da terminologia “aprendizagem ao longo da vida” no lugar de “educação permanente”.

Enquanto, nos anos 70, os conhecimentos tidos como necessários nas ações de alfabetização incidiam nos aspetos culturais, políticos e económicos, assentes numa educação integral, no final dos anos 90, as ações de alfabetização são orientadas,

11 As quatro outras conferências que antecedem são: Elsinore, na Dinamarca (1949); Montreal, no Canadá (1960); Tóquio, no Japão (1972) e Paris, na França (1985). Estas conferências destacavam a necessidade de compreender a educação de adultos no mundo em transformação por meio da educação permanente.

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fundamentalmente, para o desenvolvimento de competências básicas que favoreçam a empregabilidade (Op. cit. p. 122).

De acordo com Radloff (2007), entende-se por aprendizagem, o movimento que visa estimular a expressão de conhecimentos, atitudes, habilidades, em movimento progressivo. Desta forma, a pessoa humana não deve ser avaliada isoladamente por habilidades que possui (do ponto de vista formal), mas sim, por experiências individuais adquiridas e desenvolvidas através de diversas situações próprias do contexto social, educativo, de trabalho, de lazer e que hoje buscam legitimidade, enquanto pertencentes a um processo de aprendizagem mais amplo. Cabe ressaltar que, tais saberes experimentados, desenvolvidos e transmitidos pelos indivíduos ao longo de suas vivências, em diversos locais e por meio de processos não formais, até pouco tempo, foram considerados como de menor valor em uma sociedade onde se preponderava exclusivamente, o saber adquirido em metodologias de ensino formal e em ambientes escolares.

O papel da aprendizagem ao longo da vida é fundamental para resolver questões globais e desafios educacionais. Aprendizagem ao longo da vida, “do berço ao túmulo”, é uma filosofia, um marco conceitual e um princípio organizador de todas as formas de educação, baseada em valores inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos, sendo abrangente e parte integrante da visão de uma sociedade do conhecimento. (UNESCO, 2010, p.6).

O Memorandum ratificado em março de 2000, em Lisboa, pela Comissão Europeia, representa um dos mais significativos e relevante documento europeu sobre a política educacional, principalmente no que se refere à educação e à formação ao longo da vida. Este documento ressalta que: "a aprendizagem ao longo da vida (life long learning) não é apenas mais um dos aspectos da educação e da aprendizagem; ela deve se tornar o princípio diretor que garante a todos, o acesso às ofertas de educação e de formação, em uma grande variedade dos contextos de aprendizagem" (Commission of the European Communities, 2000, p. 3).

O Memorandum evidência, ainda, a educação ao longo da vida como aquele conjunto de atividades significativas onde a construção do saber, ou seja, a aprendizagem deve acontecer independentemente da sua modalidade, local ou metodologia.

Processos de aprendizagem formais que ocorrem nas instituições de formação clássicas e que são, geralmente, validados por certificações socialmente reconhecidas; processos de aprendizagem não formais que se desenvolvem habitualmente fora dos estabelecimentos de formação institucionalizados — nos locais de trabalho, em organismos e associações,

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no seio de atividades sociais, na busca por interesses esportivos ou artísticos; processos de aprendizagem informais, que não são empreendidos intencionalmente e que “acompanham” incidentalmente a vida cotidiana. (Commission of the European

Communities, 2000, p. 8).

Entendida desse modo, a educação ao longo da vida parece vir ao encontro de questões levantadas anteriormente como, por exemplo, a dicotomia que se estabeleceu ao longo do tempo entre as diversas modalidades de educação. De acordo com Alheit (2006), um dos resultados dessa nova forma de conceber o conceito de educação, pode ser o surgimento de uma nova relação, entre as modalidades de ensino.

O interesse dessa nova compreensão do conceito de educação reside em estabelecer a sinergia desses diferentes modos de aprendizagem. A aprendizagem não deve ser somente, e sistematicamente, ampliada para toda a duração da vida. Ela deve também se desenvolver "life wide", quer dizer, generalizar-se para todos os domínios da vida, para isso estabelecem-se, portanto, ambientes de aprendizagem nos quais os diferentes modos de aprendizagem encontram-se para complementarem-se organicamente. (Op. cit., 2006).

Essa nova compreensão do conceito de educação é inovadora, pois além de valorizar o papel da aprendizagem informal, desenvolvida pelos indivíduos ao longo da vida, propõe uma nova relação entre os diversos modos de aprendizagem, através da busca de uma visão mais global e humana do processo educacional. Essa proposta educacional possibilita a aquisição de saberes diversos e de competências (pessoais e sociais) necessárias dentro das novas realidades sociais contemporâneas, Altheit (2006).

O Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI, chamado também por Relatório Delors, constitui o resultado de uma série de discussões com autoridades de diversas áreas do saber, que buscou a promoção, de forma ampla, dos quatro pilares do conhecimento e da formação contínua através do desenvolvimento do conceito de “educação ao longo da vida”.

Esse relatório exerceu um papel importante em sistemas educacionais e em políticas a nível internacional e nacional de educação, nas duas últimas décadas. A origem desse relatório, situa-se na iniciativa da UNESCO que convida Jaques Delors para traçar parâmetros educativos ideais para o século XXI. "À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita navegar através dele." (Delors, 2000, p. 89).

Para desenvolver o tema da educação ao longo da vida, Delors (Op. cit.) ressalta as múltiplas mudanças ocorridas no mundo hodierno. Apesar de relatórios anteriores já

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evidenciarem essa realidade e o seu impacto sobre a educação, o autor aponta a necessidade de se voltar para a escola de modo a redescobri-la. Para ele, as transformações da escola e das estruturas de ensino se darão no momento em que as pessoas “aprenderem a aprender”. Para isso, faz se necessário que os processos educativos estejam dispostos a contribuir para que os sujeitos compreendam melhor a si, o outro e o mundo. Isso significa formar para o diálogo, para a aceitação das diferenças, para a diversidade e para a harmonia.