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2 APROPRIAÇÃO DO CONHECIMENTO E A CONSTRUÇÃO DO MODO DE

3.4 A APRENDIZAGEM NA FORMAÇÃO INICIAL

3.4.1 A aprendizagem com um tipo de atividade

Na pesquisa assumimos como uma das preocupações a formação da habilidade de identificar jogos populares tradicionais. Neste sentido, às categorias habilidade e formação de habilidade são discutidas, com o intuito de esclarecer seus sentidos. A aprendizagem como atividade pode ser pensada como um conjunto de ciclos concatenados e, para cada ciclo, pode-se separar para sua análise quatro momentos funcionais principais: a orientação (segundo os esquemas de referência para planejar e executar a ação); a realização ou execução da atividade no plano prático (ação); a regulação da ação (durante o processo e o controle sobre o processo do resultado) e o momento final de correção ou ajuste. Cada um desses

ciclos, na sequência, avança como um espiral no processo de apropriação do conteúdo. Assim, o novo ciclo está relacionado com o anterior (ideias prévias, recursos cognitivos e afetivos, etc.), que é o ponto de partida no processo.

O momento de orientação é de vital importância para a atividade de aprendizagem; por ser uma orientação teórica, é crucial para sua execução. É nessa etapa que se planeja como vai realizar-se a atividade. Vale salientar que a qualidade da execução depende desse planejamento, portanto se deve refletir de forma crítica sobre a atividade, sua estrutura, as condições, os recursos de que dispõe e os indicadores qualitativos ou as qualidades da ação. A base orientadora da ação (B.O.A) possibilita o autocontrole, a regulação, o aprender a aprender.

Durante a execução, o aluno deve regular sua ação pelo sistema de padrões e indicadores da B.O.A., segundo critérios pessoais e sociais. A B.O.A. constitui um modelo teórico que fundamenta a execução da atividade. O controle da execução, segundo os indicadores qualitativos, possibilita as correções necessárias durante a aprendizagem, assim como a compreensão dos erros e sua natureza e, quando é preciso, a reconstrução da própria orientação.

A Base Orientadora da Atividade (B.O.A.): constitui a imagem da ação que se irá realizar, a imagem do produto final ligada aos procedimentos, assim como ao sistema de condições exigidas para a ação. Nela, expressa-se o modelo teórico da atividade de aprendizagem como um sistema de operação que regula e dirige a aprendizagem. O aluno, antes de fazer, deve ter clara a compreensão do que vai fazer, com possibilidades de argumentar as ações que conformam a atividade que vai desenvolver. Ao construir o referido modelo teórico, pelo qual poderá desenvolver a atividade, o aluno precisa conscientizar-se da estrutura da atividade.

Na Base Orientadora da Ação, inclui-se o sistema de condições no qual se apoia o sujeito para cumprir uma atividade. O aluno pode construir o sistema de conhecimentos e estabelecer os modelos das ações a executar visando à realização da atividade, assim como a ordem de realização dos componentes da ação: orientação, execução e controle com a mediação do profissional.

Na teoria de assimilação por etapas, de Galperin (1998), foram estudados oito possíveis tipos de Bases Orientadoras da Ação, levando-se em conta três parâmetros fundamentais: o grau de plenitude, o grau de generalidade e o modo de obtenção, como se mostra no quadro. As Bases Orientadoras mais estudadas têm sido as conhecidas como B.O.A. I, B.O.A. II, E B.O.A. III.

TIPO DE B.O.A. GENERALIDADE PLENITUDE MODO DE OBTENÇÃO

I Particular Incompleta Independente

II Particular Completa Elaborada

III Geral Completa Independente

IV Geral Completa Elaborada

Quadro 2- Tipos de Base Orientadora da ação Fonte: Núñez, 2009.

O primeiro tipo, B.O.A. I, caracteriza-se por uma composição incompleta da orientação. As orientações estão representadas de forma particular. O processo de assimilação, segundo esse tipo de orientação, caracteriza-se por ser lento e por apresentar um grande número de erros na solução das tarefas. A transferência dos conhecimentos é limitada.

No segundo tipo de orientação, B.O.A. II, característica do ensino tradicional, dá-se aos alunos, de forma elaborada, toda a condição necessária para o cumprimento correto da ação, porém essas condições são particulares, só servem para a orientação de um caso determinado de tarefa. A formação da ação, segundo essa orientação, avança rapidamente e com poucos erros, porém a esfera de transferência é limitada. Para cada tipo de tarefa, o aluno precisa construir uma orientação.

O terceiro tipo, ou B.OA. III, tem uma composição completa e generalizada, aplicável a um conjunto de fenômenos e tarefas de uma determinada classe. Nela está contida a essência da atividade, porque se trata de uma orientação teórica. A B.O.A., como modelo teórico da atividade, expressa os nexos entre o singular, o particular e o geral da atividade, na qual entra o conceito em formação, propiciando

o trabalho com estratégias metodológicas que distinguem o fenômeno da essência, o caminho do abstrato ao concreto e vice-versa, como via de formação do pensamento teórico. O aluno constrói a B.O.A. de forma independente, com ajuda de métodos gerais sob a orientação do professor. Segundo Galperin (2001d) a atividade, conforme esse tipo de orientação, forma-se rapidamente com poucos erros e se caracteriza por sua estabilidade, alto nível de generalização e, portanto, por uma maior transferência. É uma orientação completa que dá possibilidade de orientação não só na solução de tarefas concretas como também em todo um conjunto de tarefas de uma mesma classe.

Núñez (2009) diz que organizar a aprendizagem sob a perspectiva da atividade supõe delimitar:

a) o papel que tem o sujeito que aprende no processo de aprendizagem, seus motivos, interesses, possibilidades físicas, intelectuais e volitivas, nível de desenvolvimento de suas estratégias de aprendizagem, de suas habilidades para o estado;

b) as características do objeto, como parte da realidade que é necessário se aprender e transformar na aprendizagem;

c) os procedimentos, técnicas, estratégias de aprendizagem e de estudo necessários para a atividade;

d) os meios disponíveis (materiais, cognitivos e afetivos) para a atividade; e) os resultados esperados (objetivos e propósitos) e os resultados

atingidos.

f) a situação ou contexto espaço-temporal no qual tem lugar a aprendizagem;

g) os resultados e efeitos da atividade.