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Parte II A cultura e a liderança numa escola secundária

Capítulo 4 A Escola Secundária ATENA

1. Apresentação da Escola

1.1. Breve incursão histórica19

Criada por decreto régio de 20 de Dezembro de 1864 e obtendo confirmação pelo decreto de 3 de Dezembro de 1884, a então designada ATHENA, entrou em funcionamento em 198520,

para procurar dar resposta a alguns dos bloqueios à industrialização identificados no inquérito industrial de 1881 e às necessidades evidenciadas na 1ª exposição industrial da cidade, realizada no verão de 1884. Era um tempo em que a instrução ainda não chegava aos portugueses que, segundo o Marquês de Pombal, constituíam o último escalão da sociedade.

As suas primeiras instalações foram cedidas por uma instituição da cidade, uma das principais organizadoras da ‘I Exposição Industrial’ da qual resultou um relatório elaborado por José Guilherme de Parada e Silva Leitão, inspector das Escolas Industriais e de Desenho Industrial da Circunscrição do Norte.

Nesse extenso relatório Silva Leitão mostrava “a importância e a multiplicidade das indústrias da cidade” e, consequentemente, a conveniência de se deferir a antiga aspiração da mesma, que, desde há muito tempo, pedira a criação de um Instituto de Ensino que levantasse o nível de educação das classes operárias21. Este parecer foi decisivo.

19 Informação retirada e adaptada da página electrónica da escola (acesso em 23-06-10), que por motivos de confidencialidade e anonimato não

identificamos, do projecto educativo 2006-2009 e do relatório de avaliação externa (2007).

20 Era nessa altura uma escola dotada de um corpo docente de um único professor – António Augusto Cardoso.

21 “O início das aulas de desenho industrial, no dia 14 de Janeiro de 1885, iria introduzir uma relação de permanente complementaridade e parceria

da Escola com a região, nomeadamente com as actividades económicas, procurando dar resposta, desde o seu início à “falta de preparação do pessoal operário”, uma missão que tem vindo a ser cumprida e renovada ao longo de mais de cento e vinte e cinco anos. Até aos anos setenta, a Escola, identificada com ensino de forte componente prática, com currículos de menor incidência teórica, tinha objectivos claros de profissionalização e de consequente satisfação das necessidades do mercado de trabalho com operários qualificados ou de quadro médios” (Projecto Educativo 2010- 2013).

A partir de 14 de Janeiro de 1885, os primeiros 153 alunos da ATHENA tiveram a sua primeira casa, numa única sala. Alguns candidatos ficaram em lista de espera, dados os limites impostos ao número de inscrições.

Em 1887 foi lançada a primeira pedra das instalações definitivas, em terrenos de uma quinta local e estiveram presentes ministros, figuras ilustres da terra, a própria rainha, príncipes e povo em grande quantidade e euforia. No entanto, as primeiras instalações dignas desse nome, e provisórias, só viriam a ser realmente edificadas em 1923-24, trinta e seis anos depois da primeira pedra.

Porque estas instalações se manifestavam cada dia mais inadequadas, a Escola passou, primeiro, em 1910, para a Casa do B. do P. e em 1914, para um outro edifício, que dividiu com a Câmara e o Liceu da cidade. Só em 1924, a ATHENA voltou para o seu terreno inicial.

Em 1924 os velhos barracões onde se encontrava a funcionar estavam em bem pior estado de conservação que muitos anos antes. Assim, em 1934, escreve o Governo, no seu Boletim da Instrução Pública, que não há nada a fazer às velhas instalações e que é preferível fazer instalações novas, ainda que no mesmo local, dada a sua excelente área e localização. A ideia foi aceite e a obra foi, então, planeada e orçamentada mas apenas concretizada em 1959, data do bloco principal das actuais instalações e claramente insuficiente para os mais de dois mil alunos que a procuravam.

1.2. A escola e os seus actores

Desde a sua criação até aos anos setenta do século XX, a escola, identificada com um ensino de forte componente prática e por isso com currículos de menor incidência teórica, tinha objectivos claros de profissionalização e de consequente satisfação das necessidades do mercado de trabalho com operários qualificados ou de quadro médios.

Após o 25 de Abril, com as alterações introduzidas na organização do ensino secundário que conduziram à unificação do curso geral em 1975, à criação de cursos complementares de via única para os dois ramos de ensino, eliminando assim, em 1978, a distinção entre escolas e liceus e à criação do ensino técnico-profissional em 1983 e em 1989 a criação das escolas profissionais, foi possível diversificar as ofertas formativas da escola permitindo, consequentemente, por um lado dotar o mercado de trabalho de operários qualificados de nível intermédio nas actividades da

indústria e dos serviços, por via do ensino técnico-profissional e, por outro lado, dotar o mercado de trabalho de quadros técnicos superiores e profissões liberais, por via da universidade.

Neste período, a escola em estudo é identificada, a nível nacional, como uma escola de referência, o que a nível local se reflecte na grande procura por parte da população escolar. Vários factores contribuíram para esta situação. De salientar a forte relação da escola com a comunidade em que está inserida, que, desde a sua génese, tem tido uma forte interacção com as vivências económicas, sociais e culturais da região. Esta relação foi consolidada pela capacidade da escola em satisfazer as necessidades do mercado de trabalho em recursos humanos qualificados nos diferentes sectores de actividade, em particular a indústria e os serviços. Outro factor determinante na relação com a comunidade prende-se com a persistente dinamização de actividades escolares no exterior e com o estabelecimento de parcerias envolvendo as mais diversas instituições locais.

Esta escola é procurada por uma população escolar proveniente, na sua quase totalidade, da área urbana do conselho. Cerca de 20% dos seus alunos são subsidiados pela Acção social Escolar. A procura excede claramente a capacidade das instalações da escola, particularmente em Ciências e Tecnologias, o que se reflecte nas condições físicas e pedagógicas da escola. Tal como nos seus primórdios, muitos candidatos têm de ficar em lista de espera dados os limites impostos ao número de inscrições. Esta procura reflecte a imagem que a escola pretendeu incutir nos jovens que a procuram.

Com o Programa de Modernização do Parque Escolar, aprovado pela Resolução de Conselho de Ministros 1/2007, a Escola está ser alvo de obras de requalificação desde 2009 prevendo-se a conclusão dos trabalhos em 2011. Esta requalificação poderá contribuir para a resolução das dificuldades dos espaços físicos resultantes do aumento da procura e das novas exigências educativas22.

Na óptica da comissão de avaliação externa, docentes, não docentes, alunos e encarregados de educação revelam um forte sentido de pertença e de identidade com a escola. Dos 170 professores em exercício de funções no ano lectivo 2007/2008, 88% pertenciam ao quadro de escola e a sua maioria tinha mais de 40 anos. Trata-se de um corpo docente estável, com bastante experiência profissional e elevada qualificação académica, sendo que dois docentes tinham o grau de doutor e 18 o grau de mestre. Quanto ao pessoal não docente, no mesmo ano lectivo, a escola tinha ao seu serviço 51 funcionários, 34 dos quais do quadro de escola, 12 em regime de contrato individual de trabalho e 5 em contrato de termo certo assim distribuídos: 1 técnico-profissional, 1

22 Toda a informação referente à escola foi retirada e adaptada do documento Projecto Educativo 2010-2013, apresentado à escola para debate, no

psicóloga, 3 cozinheiras, 30 auxiliares de acção educativa, 14 assistentes de administração escolar e 2 a extinguir.23

A associação de pais, criada há cerca de 30 anos, está presente na escola participando na elaboração do projecto educativo e do regulamento interno. Integra os órgãos de direcção e pedagógicos, de acordo com a legislação em vigor, participando neles de forma regular e sistemática. Através do seu presidente tem participado no projecto editorial da escola com testemunhos e entrevistas.

A associação de estudantes é também uma presença dinâmica na comunidade escolar norteando a sua conduta pela participação e responsabilidade cívica fazendo-se representar nos diferentes órgãos da escola. É também possível verificar a sua participação no projecto editorial da escola.