• Nenhum resultado encontrado

2. Enquadramento teórico

2.7 Apresentação de outros projectos de investigação relevantes

Muito se tem vindo a melhorar nos últimos anos, nomeadamente no que se refere ao uso cada vez maior da Internet (Chagas, 2002; Pedrajas, 2005). Continuam, no entanto, a existir questões relevantes no domínio da educação científica que teremos de reflectir tais como as repercussões da introdução de um ambiente comunicativo com alunos de outras escolas.

A integração das TIC na sala de aula poderá permitir uma abordagem mais centrada no aluno, na medida em que facilita o desenvolvimento de diversas tarefas, beneficiando os alunos com necessidades específicas de aprendizagem (Balanskat, Blamire & Kefala, 2006). Os mesmos autores referem ainda efeitos positivos do uso das TIC no aproveitamento escolar dos alunos, sendo que os principais indicadores apontam sobretudo efeitos a nível de comportamento, motivação, comunicação e capacidades, dando particular destaque ao efeito motivador das TIC, associado a uma mudança de atitude dos alunos e a um maior envolvimento nas actividades de aprendizagem.

O papel das TIC não pode ficar reduzido, como habitualmente acontece, a fornecer a informação previamente seleccionada e organizada, em que o papel do aluno se resume a receber e assimilar essa mesma informação. Várias investigações e estudos

32

sobre a utilização das TIC, nomeadamente da Internet têm vindo a salientar o potencial das tecnologias, no processo ensino e aprendizagem, referindo o importante papel que poderão desempenhar no acesso à informação e ao conhecimento, no desenvolvimento de estratégias de trabalho colaborativo e cooperativo, na criação de contextos de aprendizagem significativa e na criação de comunidades de aprendizagem. D‘Eça (2002) menciona, por exemplo, projectos de introdução e adaptação ao e-mail, correspondência electrónica (Keypalling), intercâmbios electrónicos, projectos de colaboração, projectos criados pelos alunos, projectos de investigação, desafios cooperativos, inquéritos e sondagens, simulações e publicações do produto do projecto na Web. As experiências foram consideradas interessantes e D‘Eça (2006) salienta que a motivação dos alunos e a sua capacidade de escrita e correcção linguística saíram particularmente beneficiadas.

Vários estudos foram realizados no sentido de se perceber as consequências da implementação de projectos mediados pelas TIC. Assim, no estudo The ICT Impact Report, realizado por Balanskat et al. (2006) a integração das TIC é referida como tendo repercussão no aproveitamento escolar dos alunos, nas faixas etárias entre os sete e os dezasseis anos de idade. O impacto positivo da utilização das TIC ao nível do desempenho educativo é também referido por Machin, McNally e Silva (2006), uma vez que se registaram melhorias no aproveitamento dos alunos, passíveis de serem relacionados com a utilização das TIC. Após uma revisão de diversos estudos relacionados com a integração das TIC na aprendizagem, Eng (2005) refere que as TIC contribuem positivamente para uma melhor e mais eficaz aprendizagem na escola.

Em geral, a investigação sobre o uso da interacção comunicativa, na aula de línguas, tem apontado para um aumento da motivação (Buzato, 2001, D‘Eça, 2002; Kern, 1996; Warschauer, 1996a), da colaboração (D'Eça, 2002), da interacção social (Chun, 1994; D‘Eça, 2002; Liaw, 1998), do conhecimento da cultura do outro (D‘Eça, 1998; Kern, 1996), da negociação de sentido (Paiva, 1999), do conhecimento das TIC (D‘Eça, 2002; Greenfield, 2003) e da participação dos alunos (D‘Eça, 2002). Diversos estudos destacam, também, um maior equilíbrio nas intervenções (D‘Eça, 1998; Warschauer, et al., 2000); uso autêntico da língua (D‘Eça, 2002; Liaw, 1998; Tella, 1992; Young, 2003); uso diversificado de funções da linguagem (Paiva, 1999; Tella, 1992) e desenvolvimento da competência da escrita, com a possibilidade de se

33

escrever, reescrever, editar e modificar a mensagem, ao ritmo do próprio aluno, uma vez que se trata de uma forma de comunicação assíncrona (D‘Eça, 1998; Tella, 1992; Young, 2003). Por outro lado, inúmeras pesquisas ─ Motta-Roth (2001); Meskill e Ranglova (2000); Paiva (1999); Pellettieri (2000); Peyton (1999); Souza (2000); Warschauer (1999); ─ vêm indicando a relevância das ferramentas comunicativas para promover a aquisição da língua alvo em oposição ao ensino formal de estruturas linguísticas (Paiva, 2001).

A publicação online tem sido apontada como forma de motivação, uma vez que constitui, ainda, algo de novo, e é passível de ser vista por um número alargado de pessoas, de qualquer parte do mundo. É a possibilidade de o aluno exprimir as suas ideias, a sua identidade, a sua forma de ver o mundo, e, a partir da sala de aula, ter um impacto no seu exterior, o que Warschauer (2000) designa de ―agency‖. Paralelamente, este público-alvo alargado, real e desconhecido faz com que o aluno tenha um cuidado especial na realização dos trabalhos a publicar, nomeadamente em termos de revisão de texto (Carvalho, 2005). De igual modo, a publicação dos trabalhos dos alunos, ou até de actividades realizadas na escola, em termos gerais, permite uma abertura da Escola à comunidade, que não seria possível sem este recurso (Baía, 2000). Warschauer (1996c), comparando a interacção presencial e electrónica, conclui que se verifica mais equilíbrio na participação dos alunos online, e mais qualidade na linguagem usada, dado que os enunciados produzidos foram sintáctica e lexicalmente mais formais e complexos. Kern, Ware e Warschauer (2004) também apontam para uma maior participação dos alunos envolvidos em interacções electrónicas, contudo os resultados desta investigação não são conclusivos em termos de melhorias na capacidade de escrita dos alunos. Greenfield (2003) refere uma parceria comunicativa entre estudantes de diferentes países, com resultados positivos em termos de conhecimento linguístico, competências em TIC e grau de satisfação, especialmente para os alunos com menos conhecimentos informáticos. Liaw (1998) promoveu um projecto comunicativo e, apesar de não terem sido óbvias as melhorias em termos de competências na língua estrangeira, esta experiência criou nos alunos a necessidade de comunicar em língua estrangeira e aponta para progressos em termos de conhecimentos informáticos, motivação e interesse pela aprendizagem. Liaw e Johnson (2000) salientam que estas experiências comunicativas fomentam uma maior sensibilização relativamente à cultura do ―outro‖ e à compreensão entre culturas.

34

Independentemente das conclusões dos estudos que existem, importa salientar que a tecnologia deve ser encarada como um recurso e não um método e que a tecnologia por si só não promove a aprendizagem (Attwell, 2008).

Kern, Ware e Warschauer (2004) abordando, em particular, três tópicos da comunicação online: interacção e desenvolvimento linguístico; aprendizagem e consciencialização intercultural; e desenvolvimento de novas multiliteracias e sua relação com a identidade do sujeito, concluem que não se pode considerar um efeito único do recurso à comunicação online, dado que os resultados variam substancialmente, dependendo de factores logísticos, pedagógicos e sociais, a que o professor tem que atender. Defendem, essencialmente, que a Internet não deve ser usada para ensinar o mesmo, de forma diferente, mas para ajudar os alunos a alcançar novas realidades em termos de pesquisa colaborativa e de construção do conhecimento. Algumas investigações no âmbito da educação tem apontado que a existência de computadores nas escolas não conduz a efectivas mudanças, visto que a tendência e serem usados de acordo com praticas já existentes (OCDE, 2001), podendo mesmo ser contra-produtivo e fonte de desmotivação (Warschauer & Meskill, 2000).

Por outro lado, em situações de aprendizagem, a mesma tecnologia pode ser utilizada segundo diferentes visões da língua, com objectivos variados e diferentes paradigmas de aprendizagem, podendo fazer com que se apresentem resultados divergentes. Como qualquer tecnologia, o computador é também um recurso possível, e os resultados dependerão sempre da interacção que com ele se estabelece. Apesar das suas enormes potencialidades, o computador e os recursos da Internet devem ser encarados como complemento e suporte a aprendizagem e não como panaceia para o processo de ensino-aprendizagem em geral e das línguas em particular.

35