4.1. Apresentação de queixa ou denúncia
As vítimas de crime e violência foram também questionadas sobre a possibilidade de terem falado, apresentado queixa ou contactado uma instituição ou serviço sobre os atos de violência. Na análise que se segue disponibilizam-se estimativas ponderadas para a população.
Estimou-se que cerca de 64.9% das vítimas de crime e violência (194361 pessoas) não falou, nem contactou ou apresentou queixa sobre a situação vivida e quando o fez (35.1%), a maioria recorreu apenas a uma instituição ou serviço (32.6%).
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// quadro
n // Estimativas na populaçãoIC 95 %
Apresentação de queixa / denúncia
// Falar, contactar ou apresentar queixa (N=134)
Não 88 64.9 [52.8;75.4]
Sim 46 35.1 [24.6; 47.2]
Sim, a 1 Instituição/serviço 42 32.6 [22.5; 44.7]
Sim, a 2 Instituições/serviços 4 2.5 [0.7; 8.3] Apesar do reduzido número de respostas obtidas (n=133), a distribuição indicou que independentemente da relação com o agressor, a maioria das vítimas não apresentou queixa/denúncia. No entanto, no caso dos agressores pertencentes à família nuclear (cônjuges e descendentes) e à rede de sociabilidade e vizinhança, a frequência de denúncia ou queixa foi mais reduzida do que noutros casos.
Relativamente aos fatores que poderão estar relacionados com o comportamento de procura de ajuda e de apresentação de queixa/denúncia por parte das vítimas, analisou-se adicionalmente se o tipo de violência poderia ser uma variável que influenciasse tal comportamento. Embora não se tenham verificado diferenças estatisticamente significativas na frequência de queixa/denúncia entre tipos de violência, constatou-se que as vítimas de violência física foram aquelas que menos frequentemente apresentaram queixa/denúncia (8%). Estes resultados, podem ser indicativos da importância que outros fatores que não a severidade da violência, poderão ter na decisão de procura de ajuda por parte das vítimas.
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// gráfico (ex) conjuge (ex) companheiro 100 80 60 40 20 0 19.8% Sim NãoApresentação de queixa/denúncia segundo o tipo de relação da vítima com
o agressor (N=133) 80.2% Descendentes (filhos e netos) 24% 76% Outros familiares 40.7% 59.3% Rede social não-familiares (amigos, vizinhos e profissionais) 18.6% 81.4% Vários agressores 51.0% 49.0%
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//página // projeto Envelhecimento
e Violência
Por um lado, a própria relação com o agressor poderá induzir à não apresentação de queixa, seja para proteção do agressor ou simplesmente, por medo. Neste caso é de notar que 56% das condutas de violência física foram da responsabilidade dos cônjuges/companheiros (atuais ou ex). Por outro lado, a perceção do que é mais grave poderá ser diferente consoante os indivíduos, e para as vítimas as condutas de violência física podem não ser sentidas ou percecionadas como tão graves como as condutas de outros tipos de violência.
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// gráfico Financeira 100 80 60 40 20 0 39.6% Sim NãoApresentação de queixa/denúncia segundo o tipo de violência
que a vítima foi sujeita (N=134)
60.4% Psicológica 38.7% 61.3% Física 92% Multiplos tipos 28.3% 71.7% 8%
As vítimas foram ainda questionadas sobre as instituições ou serviços que contactaram ou onde apresentaram queixa. Os resultados indicam que 20.7% das vítimas procurou as forças de segurança (PSP ou GNR) para denunciar a sua situação de vitimização e 7% partilhou a sua história de violência com a rede informal. Os profissionais de saúde constituíram também um grupo profissional a quem as vítimas recorreram. O Ministério Público, advogados e Segurança Social foram igualmente procurados, embora com menor frequência.
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// quadro
n // Estimativas na populaçãoIC 95 %
// Entidades contactadas (N=133)
Entidades contactadas pelas vítimas para a apresentação de queixa/denúncia
Forças de Segurança (PSP e GNR) 30 20.7 [12.8,31.7]
Rede informal (e.g. amigos, vizinhos e colegas de trabalho) 5 7.0 [2.7, 17.0]
Profissionais de saúde 7 4.5 [1.4, 13.2]
Ministério Público 5 3.5 [1.0, 11.9]
Advogados 1 1.4§ [0.2, 9.7]
Segurança Social 1 0.2§ [0.0, 1.5]
§ Estimativa obtida com n<5.
Também se questionou as vítimas que não apresentaram denúncia e/ou queixa sobre os motivos para não o fazerem: se nunca contactou nenhum serviço ou instituição qual a principal razão para não o fazer?. Um dos principais motivos evocados pelas pessoas com 60+ anos, vítimas de violência foi o de considerar que o incidente foi irrelevante (38.1%). Cerca de 10.5% considerou a importância da família e dos laços afetivos com o agressor como um dos motivos para a não apresentação de queixa. As vítimas indicaram com menor frequência o medo de represálias/agravamento da situação e de que ninguém acreditasse (5.9%) ou ainda a falta de informação relativa a quem recorrer (5.1%).
Destacam-se ainda outras razões como a dependência financeira do agressor (3.2%), a vergonha (1.6%) e a tentativa do próprio em encontrar uma solução (1.6%).
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// quadro n // Estimativas na populaçãoIC 95 %// Motivo para não falar, contactar ou apresentar queixa (*)
Motivos evocados para a
não apresentação de queixa/ denúncia sobre a situação de violência
Irrelevância 35 38.1 [27.2,50.3]
Proteção do agressor e família 22 10.5 [5.7, 18.4]
Medo 11 5.9 [2.3, 14.2]
Falta de informação 5 5.1 [1.8, 13.8]
Dependência financeira 2 3.2§ [0.7, 13.8]
Vergonha 4 1.6§ [0.4,7.1]
A tentar solucionar 1 1.6§ [0.2, 10.7]
(*) Respondente podia dar respostas múltiplas § estimativa obtida com n<5.
Em síntese, da análise relativa à apresentação de queixa/denúncia de situações de violência a terceiros sobressaem as seguintes conclusões:
Apenas 35% das pessoas com 60+ anos, vítimas de violência em Portugal, denunciou ou apresentou queixa sobre a situação de violência que viveu.
A não procura de ajuda face a uma situação de violência parece ser comum às diferentes categorias de agressores, indicando que na população com 60+ anos os sentimentos de inibição, vergonha ou tabus associados à violência foram transversais aos vários agressores.
O tipo de violência não surge como fator determinante do comportamento de procura de ajuda, o que poderá indicar que as vítimas não sentem ou percecionam a maior gravidade de acordo com o tipo de violência, que serà à partida mais severo (por ex: violência física). Por outro lado, a relação com o agressor pode também influenciar o comportamento de denúncia/apresentação de queixa, pela tentativa de proteção daquele, mas também pelo medo de represálias ou devido à dependência financeira. Das vítimas que procuraram uma instituição ou serviço, a maioria dirigiu-se a uma força de segurança, como a GNR e a PSP, seguindo-se a rede informal, os serviços de saúde e outras instituições.
Dos principais motivos identificados pelas vítimas para a não denúncia destacam-se: considerarem o incidente como sendo irrelevante (38.1%), a importância da família e os laços afetivos com o agressor (10.5%), o medo (5.9%) e a falta de informação (5.1%).
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