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5. Estratégias para o incremento da motivação de uma turma de 10º ano na

5.7. Apresentação e discussão de resultados

 Principais diferenças notadas na abordagem ao Futsal

As principais diferenças notadas entre a Unidade Didática de Futsal e as restantes modalidades abordadas ao longo do ano letivo foram a possibilidade de ser os alunos a fazer as equipas tornando, na perceção dos mesmos, mais equilibradas e competitivas, salientando também as ligações sociais entre elementos do grupo. Algumas melhorias em torno do individualismo foram, também, referenciadas pelos alunos embora ainda exista muito trabalho a ser desenvolvido com a turma para que tal fator termine. Por fim, notou-se maior empenho por parte dos alunos que não gostam de Educação Física. Modelos que colocam o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem exigem

que cada elemento do grupo deixe de pensar exclusivamente nos seus objetivos individuais procurando o comprometimento, envolvência e responsabilização (Hastie, 2011; Wallhead & O’ Sullivan, 2005).

“Acho que alguns alunos se têm esforçado mais nesta UD. Mesmo no jogo, há pessoas que melhoraram na atitude que têm. Lutam para ganhar, mas se perderem não levam a mal como levavam. Acho que os colegas já perceberam que deveriam passar mais a bola e dar mais oportunidades a toda a gente do que preocupar-se apenas com o resultado.”

E2GM

“Eu odiava futsal e agora gosto porque os colegas apoiam-me. Eles passavam-me a bola e os capitães não brigavam comigo quando eu falhava.”

E2GD

“Estamos a jogar com pessoas de quem gostamos e isso ajuda-nos a sentir mais motivadas.”

E2GO

Embora modelos de ensino como o Modelo de Educação Desportiva visem a inclusão, solidariedade e partilha, alguns estudos reconhecem o domínio dos rapazes e dos alunos com estatuto superior (Hastie, 1998; Brock, et al., 2009; Hastie et al., 2009). Desse modo, é possível, no presente estudo, afirmar que embora o individualismo tenha decrescido de forma significativa, ainda houve alguns momentos em que ele imperou, sobretudo, quando existia um resultado desportivo em disputa.

“Já há rapazes que passam a bola, embora ainda não sejam todos”.

E2GO

Sendo um processo novo de responsabilidade pessoal e social para a turma, é necessário referir que os capitães tiveram dificuldade em começar a planear, organizar e liderar a turma. Tal como refere Johnson e Johnson (1999), os alunos precisam de tempo para aprender a comandar o seu grupo e trabalhar enquanto equipa. A falta de competência na liderança por parte dos capitães, levou a que houvesse uma preocupação do professor da turma em transmitir conhecimentos sobre esta temática e, consequentemente, houve menos tempo

para uma abordagem profunda dos conteúdos a ser ensinados. Ainda assim, no desenrolar da Unidade Didática, a turma aprendeu conteúdos tático-técnicos suficientes para disputar uma partida formal de 5x5 com os princípios específicos da Contenção, Penetração, Cobertura Defensiva, Cobertura Ofensiva, Equilíbrio e Mobilidade a serem abordados. Este resultado vai ao encontro de Hastie e Curtner-Smith (2006) onde afirmam que os seus estudantes conseguiram compreender e aplicar regras e conteúdos táticos rudimentares.

A necessidade de sensibilização e consciencialização da turma levará, a longo prazo a uma melhoria de aspetos de responsabilidade pessoal, como por exemplo, a solidariedade para dar lugar aos alunos que estão fora do exercício.

“Não gostei que alguns alunos não saíssem de campo tantas vezes para dar lugar aos alunos mais fracos.”

E2GD

 Perceção da turma sobre o trabalho desenvolvido pelos capitães A turma demonstrou satisfação por ajudar os colegas e, desse modo,

promoveu a entreajuda (Bayraktar, 2011; Cardoso, 2014). Como referem Polvi e Telama (2000), os alunos são protagonistas tanto no processo de ensino como no processo de aprendizagem e por existir uma maior proximidade entre pares os alunos consideraram que foi motivante ter um colega a ajudá-lo diretamente tornando, dessa maneira, o ensino mais individualizado. Assim os capitães eram, não só, responsáveis pela sua aprendizagem, mas também pela aprendizagem dos seus colegas de equipa (Slavin, 1991; Kagan, 1994).

“Senti que os capitães estavam a abdicar do seu tempo para me ajudar. Senti que se preocupavam comigo e que queriam que eu aprendesse.”

E2GD

“A Sónia ajuda-nos imenso e dá dicas fixes. Aprendi muito com ela. Ela tenta ao máximo, mesmo não tendo o mesmo conhecimento que o Vítor em Futsal.”

Como aspetos negativos, foi referido que alguns colegas não têm respeito pelos capitães e que, quando eles organizam um exercício, não são tão aceites como quando é o docente a instruir. Com a continuação deste tipo de trabalho por parte do futuro professor da turma, acreditamos ser possível ultrapassar este obstáculo e sensibilizar os restantes alunos para cumprirem com as tarefas propostas pelos capitães de equipa.

“Eles não os levam a sério quando criam exercícios. Às vezes, quando o capitão faz equipas dentro do clube para fazer um exercício, eles criam rivalidades.”

E2GO

 Transferência do trabalho de equipa para o contexto escolar Dentro da transferência dos resultados da metodologia de trabalho desenvolvida ao longo do estudo para todo o contexto escolar (outras

disciplinas, intervalo, trabalhos de grupo), houve uma divisão de opiniões por parte dos diferentes grupos. Enquanto alguns alunos afirmaram que se sentem mais à-vontade para auxiliar o seu colega de turma caso necessite de ajuda noutras disciplinas ou problemas pessoais, outros referiram que era difícil implementar este tipo de estratégias porque a personalidade da turma varia consoante a disciplina lecionada.

“É a única disciplina que nos faz estar e trabalhar com os colegas de forma coletiva. Em todas as outras disciplinas estamos tão preocupados com os testes que nem pensamos nisso. Educação Física ajuda a ter essa preocupação com o outro e crescemos neste sentido.”

E2GD

"Se a Matilde precisar de ajuda noutras disciplinas serei a primeira a ir ajudá-la. Ajudou- me a ser uma pessoa melhor.”

E2GD

“Depende. Podemos querer muito ensinar, mas elas podem não querer aprender. São diferentes de disciplina para disciplina.”

A transferência da solidariedade e companheirismo, respeito mútuo pelo outro e compaixão, é feito tanto através do modelo protagonizado pelo presente estudo, mas também pela ligação que criam entre si em momentos prévios ao exercício, tempo que passam no balneário ou o tempo que antecede a própria aula (Cardoso, 2014). A aula de Educação Física em geral e o trabalho de equipa em particular são apenas um elo de ligação entre os alunos que possibilita o início de uma relação social positiva, tendo em consideração, que existem objetivos comuns entre ambas as partes. Johnson et al. (1994), referem que o trabalho de equipa a longo prazo leva a:

1. Mútua influência entre os elementos do grupo;

2. Equilíbrio entre a preocupação consigo e com o outro; 3. Alunos não abandonarem o sistema escolar.

 Incremento da motivação para as aulas de Educação Física

De todos os alunos que referiram, no início do ano letivo, não gostar da disciplina de Educação Física, apenas dois manifestaram não ter alterado a sua opinião. Todos os restantes alunos do grupo “Desmotivados” afirmaram que gostam mais de Educação Física do que gostavam à entrada para o ano letivo e que a Unidade Didática de Futsal foi importante para que passassem a gostar. Tais resultados poderiam ser influenciados pelo gosto natural pela modalidade em causa, contudo, dos 8 alunos que referiram não gostar de Educação Física, nenhum afirmou que Futsal era a sua modalidade favorita. Pelo contrário, 5 alunos mencionaram que esta era a Unidade Didática que iam ter mais dificuldades.

“Eu continuava a não colocar a Educação Física como disciplina favorita, mas também já não digo que odeio a disciplina. Este trabalho com os capitães ajudou-me a não ter tanto medo de falhar.”

E2GD

“Comecei a gostar de fazer Educação Física porque temos uma palavra a dizer na disciplina, os professores preocupam-se connosco e compreendem-nos.”

“Ainda não punha como favorita, mas não punha nas que não gosto. Comparativamente com o ano passado em que sabia que ia ter Educação Física e pensava que ia ter uma depressão mas agora, em algumas modalidades, gostava da aula que tinha tido e esforçava-me. Tem, sem dúvida a ver, com as pessoas envolvidas e com a maneira como tivemos as aulas.”

E2GD

“Continuo a não gostar de Educação Física. Tenho medo de falhar e isso trava-me.”

E2GD

 Perceção sobre a repetição do modelo em futuras Unidades Didáticas

Aquando questionados sobre se os alunos gostariam de repetir o trabalho com capitães em futuras Unidades Didáticas a resposta “sim” foi consensual entre todos os elementos da turma.

“Consegui ensinar a fazer manchete a uma colega. Fiquei muito contente, ela conseguiu aprender e sentiu que precisava de melhorar. Senti-me muito bem, gostava de fazer mais vezes.”

E2GO

No que concerne às faltas e dispensas das aulas de Educação Física, até à entrada para o 3º período, apenas tinham existido três aulas em que não houve nenhuma falta nem dispensa à aula enquanto, só no último período, foram quatro as aulas que toda a gente este presente e a realizar a parte prática da aula.