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3. CAPÍTULO 3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1 APRESENTAÇÃO DO CASO

Neste tópico será apresentada a história de vida de LS. através dos relatos do caso.

LS., 06 anos, sexo masculino, branco. O pai, L, tem 53 anos e é agricultor. A mãe, já falecida.

O pai relata que: a sua esposa não estava fazendo uso de contraceptivos quando engravidou. Quando descobriu a gestação ficou tranquila, aceitou bem, porém não se preparou para recebê-lo com acompanhamento médico. O pai da criança é que não gostou muito da notícia, mas com o tempo foi se acostumando com a idéia.

O acontecimento que mais marcou psicologicamente a gestação foi à descoberta em que ela estava infectada com a gripe H1N1. Ele ainda relata que sua esposa ficou revoltada, pois por ser nova e com poucas orientações, ela não aceitava, ficou muito triste e com medo, e demorou a aceitar a doença e buscar ajuda médica.

L diz também que o parto foi complicado, com utilização de fórceps. Ficou bastante tempo esperando, com muita dor e sangramento, não teve dilatação suficiente e teve que ser preparada para cesárea de emergência. O processo teve duração de cinco a seis horas.

O menino demorou a chorar, só chorou depois de um tempo no ombro do pai, pois a mãe veio a falecer horas após o parto. Nasceu com uma cor roxa forte. Após os primeiros dias de vida teve reações normais. Foi amamentado até os três meses de idade, com leite disponibilizado pela secretária de saúde. Começou a receber alimentação salgada aos cinco meses. Ficou utilizando a mamadeira até os nove meses, depois ficou utilizando mais a alimentação salgada, pois não gostava de leite. Nunca foi forçado a comer, “sempre foi comilão”, relata o pai.

Em relação ao desenvolvimento psicomotor conta que o menino não engatinhou, já se segurava nas coisas e depois andou direto, sem engatinhar. Andou com um ano e dois meses. O Pai retirou as fraldas de dia com um ano e meio e a noite com dois anos; depois que retirou as fraldas nunca mais precisou colocá- las.

Relatou que o desenvolvimento da linguagem foi um pouco antes dos dois anos de idade. A primeira palavra que L falou foi “papa”, depois dos dois anos começou a falar corretamente, de acordo com o que é normal para a idade. O pai diz que “ele não teve muitos atrasos na fala, nem no desenvolvimento motor, tudo

dentro da normalidade.”.

Usou chupeta até os cinco anos de idade, depois não quis mais usar, nunca chupou dedo. Apresenta vários tiques nervosos, o que é mais perceptível e mais frequente na opinião da madrasta é que o menino caminha de um lado para outro sem parar, às vezes fala sozinho, bate nas orelhas, mexe as mãos e quando fica muito nervoso morde os dedos. A madrasta diz para ele não fazer isto, que era para ele se acalmar, mas agora ela já desistiu de cobrar isto.

Agora dorme bem, em função das medicações, mas em uma época, há uns três anos atrás ele teve alguns pesadelos, mas hoje em dia dorme bem. Ainda dorme com o pai e a madrasta, no mesmo quarto, na mesma cama, mas a madrasta disse que irá tomar providências para tirá-lo de sua cama.

Em relação à sociabilidade, o pai relata que o menino não tem companheiros para brincar, é muito difícil uma criança se aproximar, brinca sozinho desde pequeno. O pai acha que ele gosta de brincar sozinho, pois quando tem muitas crianças ao redor ele fica nervoso. Ele diz que desde pequeno ele já apresentava este comportamento.

“Brinca todo dia sozinho, as crianças têm preconceito com o jeito dele, às vezes até debocham...”, conta a madrasta. Tem dificuldades em fazer amizade.

Quer conversar com as crianças, mas tem dificuldades para se aproximar e quando consegue se aproximar, a forma como aborda as outras crianças é estranha, o que acaba dificultando este contato.

Não se interessa por muitos brinquedos, somente por carros antigos, andar de bicicleta e algumas vezes joga bola, no restante só tem interesse por “coisas” de adultos.

A madrasta diz que em sua família tem várias crianças, mas que ele não gosta de ficar com eles e sim com os adultos; conta que quanto mais crianças estiverem perto dele mais nervoso ele fica e caminha de um lado para outro até ir embora.

O pai relata também relata que o menino tem uma tara por pés. Diz: quando

ele vê pés fazendo movimentos circulares ou experimentando algum sapato fica com uma “confusão mental”, bastante ansioso. Está tendo dificuldades até para ir a lojas

experimentar calçados, pois quando chega lá e vê mulheres experimentando sapatos fica nervoso e caminha de um lado para outro. O pai percebeu este comportamento pela primeira vez quando ele tinha aproximadamente uns cinco anos quando ele disse a ele que estava cansado e que queria uma massagem nos pés; ao pai percebeu que ele ficou e ansioso e então foi ao banheiro.

Em relação à escolaridade o menino sempre teve vários problemas; não sabe ler e escrever bem, mas tem dificuldades para frequentar a escola.

Na escola que o menino frequentou teve vários problemas. O pai diz que ele desenvolveu vários traumas, pois a professora fechava a porta da sala de aula, o que deixava o menino muito nervoso, pois não consegue ficar em lugares fechados por muito tempo, também não ficava quieto, o que irritava a professora. Certa vez, o pai deixou o menino na escola e foi em casa, mas o menino achava que o pai ficava toda a tarde esperando por ele; a professora resolveu dar um passeio com eles e não havia avisado o pai; quando ele desceu e não viu o pai ali fora, se desesperou. Ficou muito nervoso e chorava sem parar. Então foram buscar o pai em casa. Desde então não quis mais ir à aula.

Após algum tempo, e depois da escola ter acionado o conselho tutelar L, voltou à escola. Teve problemas com os professores em função de seu comportamento que não é compreendido, relata o pai. Nesta fase o menino estava muito revoltado e falava palavrões. Os professores não entenderam e falaram que o menino não sabia se comportar e era mal educado. O menino foi “expulso” da escola

e o que foi alegado, segundo o pai, é que ele não ia frequentemente as aulas e que tinha mais crianças esperando para serem matriculadas, então o menino saiu. Atualmente está frequentando a escola, o pai do menino é que o ajuda a estudar algumas coisas, mas relata que ele não pratica muito a leitura, pois também não tem muito estudo.

Relacionado aos antecedentes familiares o pai de L conta que não existem portadores de necessidade especiais na família. O convívio do menino com os familiares é difícil Os familiares ainda têm preconceito, relata o pai, mas antes era bem pior. É maltratado pelas outras crianças da família e os adultos falam coisas que magoam o pai de L como “ele é assim o pobrezinho...”.

O pai diz que a madrasta do menino não tem muita paciência com ele. Quando ele está nervoso a madrasta fica brava e diz para o pai: “Porque ele está

bem louco hoje? Já deu as boletas dele hoje?”.

Os vizinhos também têm preconceito segundo o pai, pois dizem a ele:

“para ficar na rua sem fazer nada ele não é doente, mas para estudar ele é doente... é porque é mal educado mesmo.”

O dia do menino, como relata à madrasta e o pai, tem sempre uma mesma rotina. Acorda tarde da manhã, toma café e já vai para frente da casa andar de bicicleta ou para ficar só na rua, sem fazer nada.

A noite mexe em livros e revistas; gosta de procurar as cores nas imagens; tem fixação por isto diz o pai. Mas não se concentra muito tempo em uma mesma atividade. É muito difícil acontecer um dia de lazer; o menino não gosta de sair. Não gosta de ficar no meio de muita gente. Gosta de sair com o pai para andar de carro.

Os medicamentos utilizados pelo menino são: depaquene, respiridona e fluoxetina.

Possuem como renda, aproximadamente, dois salários, pois um dos salários é o benefício continuado de L que é de (R$ 880,00), tipo Auxílio Doença e o outro salário varia, pois depende da renda do pai como agricultor e a madrasta não ajuda no sustento do menino.

Na entrevista semi estruturada o pai relata que desde cedo, aproximadamente aos três anos, ele já pode perceber que o menino era diferente das outras crianças. O comportamento estranho que ele apresentava, então a agente comunitária de saúde da comunidade levou-lhe a procurar um médico pediatra.

O pai acredita que o que pode ter agravado alguns traumas do menino é ele ter ido para a escola antes de ter sido efetuado um diagnóstico correto, pois ele era muito mal tratado e foi ficando com medos. Existiram vários diagnósticos para a doença;

Está em tratamento com um médico psiquiatra que havia dado um diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), psicológico e fonoaudiólogo. O pai falou que sua reação ao receber o diagnóstico da Síndrome, foi por um lado se sentir aliviado, pois alguém havia encontrado o real diagnóstico, pois ele sabia que não era “normal” aquele comportamento de seu filho. Por outro, ficou triste em saber que o filho tinha uma doença grave, “do grau do autismo”.

O pai diz que a convivência de L com os familiares é restrita, não gosta de conviver com os parentes do pai, nem da madrasta. A convivência com familiares mais próximos (pai, madrasta e irmã paterna) depende do dia e de como está o humor do menino. Muito tempo no mesmo lugar pede para vir embora.

O menino passa a maioria do tempo com a madrasta. L disse: “não gosto

mais de ficar ela”.

Pude observar também, através dos diários de campo e dos relatos da madrasta e do pai de L que o menino não tem ocupações e tarefas diárias. Passa todo dia andando de bicicleta ou folhando as revistas e livros, recebendo pouca atenção dos familiares.

Costuma brincar sempre sozinho, pois é muito raro alguma criança se aproximar, devido à estranha forma de abordagem.

O pai relatou que os vizinhos não gostam de LS., dizem que ele é mal educado. Ela percebe que lês têm preconceito com o menino.

Perguntou-me várias vezes o que eu estava fazendo em sua casa e por que queria saber tantas coisas sobre sua vida.

O pai diz estar preocupado, pois o menino está não está tendo um avanço diante de todo acompanhamento que está tendo. Pude observar também, que os tiques nervosos, como caminhar de um lado para outro, bater nas orelhas, mexer com as mãos e morder os dedos quando fica ansioso são bastante presentes, o que normalmente. Foi perceptível também a ecolalia (repetição das palavras e frases), com pouca clareza na pronuncia.

Foi possível observar, também, que o pai é muito cuidadoso, carinhoso e preocupado com o menino, demonstrando em algumas vezes um excesso de preocupação, uma superproteção.

Observei também que o menino tem um carinho muito especial pelo pai, embora o pai seja alguma vezes estúpido com ele, o que demonstra uma ambiguidade do pai (às vezes fica com raiva do menino, às vezes é carinhoso e cuidadoso).

Pude perceber no menino várias características do autismo apresentadas por vários autores como dificuldade no contato visual, interesse restrito (no caso dele esse interesse é livros e revistas), preferência pelo ambiente doméstico, objetos pessoais, situações cotidianas, sentindo-se infeliz fora de seu ambiente de conforto, etc.

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