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5 – APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS 5.1 – Vilma e Fred: na pré-história das relações amorosas

5.1.1 – A história do casal

A história desse casal é o que podemos dizer “duas versões para o mesmo fato”. Cada um conta a história à sua maneira, nem mesmo o tempo de relacionamento é o mesmo para cada membro.

O casal começou a se relacionar em uma festa realizada no local em que moram. Antes disso, eles se conheciam apenas de vista, mas não tinham trocado nenhuma palavra. Segundo ele, não houve uma seleção para poder “ficar” com ela, apenas deu vontade. Ela afirma que ficou com Fred para se desvencilhar de um outro rapaz que estava tentando “ficar” com ela durante toda a festa, mas a aparência física dele não a agradava. Quando ela olhou Fred, percebeu que ele tinha um lindo sorriso e pediu para que eles ficassem juntos aquela noite e ele aceitou.

Segundo Vilma, o casal “ficou” durante um ano para se conhecer e depois iniciaram o namoro. Para ela o relacionamento ficou sério depois que ele passou a buscá-la e levá-la para casa dela e preocupar-se com os locais para onde ela saía sem sua companhia e, também, quando ele passou a cobrar seus horários de saída e chegada em casa.

Fred afirma que o namoro se iniciou depois de uma semana que eles estavam se encontrando. No início, ele disse que ficava com outras moças, pois não tinha se apaixonado por Vilma, apenas tinha gostado do jeito dela. O relacionamento, para ele, dura há dois anos, sendo que há um ano e alguns meses eles estão casados (morando juntos). Ela afirma que estão juntos há três anos, sendo que durante um ano ficaram apenas se conhecendo. Depois disso, ficaram alguns meses namorando e estão há quase dois anos juntos (morando na mesma casa).

Após o início do namoro, Fred contou a Vilma que era “foragido” da polícia e que pretendia mudar de cidade para não ser preso. Ele queria sair do Recanto das Emas para ir morar em Águas Lindas. Ela, prontamente, concordou com ele e em poucos dias arrumaram seus pertences e mudaram de residência. A história de

Vilma é diferente. Segundo ela, após saber que o namorado era foragido, o convenceu a mudar de cidade para evitar que ele se envolvesse em outras infrações. Ele aceitou a proposta dela e foram morar em Águas Lindas em uma casa desalugada da mãe de Fred.

A rotina de festas e diversão do casal se manteve. Porém, durante uma festa em Águas Lindas, Fred se envolveu em uma confusão e levou um tiro na coxa. Ele afirma que não era o momento dele se entregar para a polícia e que, por isso, tentou dar um nome falso para ser liberado, mas o plano não funcionou. Vilma, ao contrário, afirma que incentivou o companheiro a se entregar e que ele concordou por querer pagar tudo o que deve à Justiça e, assim, ter uma vida mais tranquila.

No período em que Fred aguardava a sentença do juiz em uma instituição provisória que atende menores em cumprimento de medida socioeducativa, Vilma descobriu que estava grávida. O filho do casal tem, hoje, sete meses de idade. Ela acompanha Fred há um ano e sete meses. Ele já tem autorização judicial para sair a cada quinze dias da instituição para ficar o final de semana em casa.

5.1.2 – O contexto familiar de Vilma

Vilma tem 22 anos, é a terceira filha de um total de quatro que a mãe dela teve. Ela tem um filho, cuida de uma sobrinha e, ocasionalmente, trabalha como manicure na própria residência. A genitora, a Sr.ª Geralda, 47 anos, teve três filhos no primeiro casamento: Gustavo tem 32 anos, é casado e pai de cinco filhos; Sophia tem 24 anos, é solteira, vendedora em uma empresa de turismos e mãe de uma filha de 3 anos e Vilma. Luisa tem 16 anos, é estudante e fruto do segundo relacionamento da Sr.ª Geralda.

Quando Geralda estava grávida de Vilma, o marido a abandonou e nunca mais deu notícias, mas não demorou para que ela arrumasse um novo companheiro, com quem teve a filha mais nova, Luisa, 16 anos. Vilma não sabe explicar o motivo da separação da mãe. Porém, afirma que o relacionamento não durou muito, assim como não durou a vida de solteira, pois logo ela, a mãe, conheceu Lindalvo com quem vive até o presente.

Segundo Vilma, o casamento atual da mãe não “anda” muito bem, pois o padrasto trabalha durante toda a semana em uma residência e fica em casa apenas nos finais de semana e sempre se queixa de estar cansado, sobrecarregando a Sr.ª Geralda.

O sustento da família vem do trabalho da genitora como copeira em uma empresa particular no Plano Piloto e do trabalho da irmã em uma empresa de turismo. Vilma recebe ajuda financeira para poder cuidar da filha de sua irmã. Além disso, recebe algum dinheiro fazendo unhas de pessoas da vizinhança na própria residência. Contudo, não ajuda nos gastos da família, pois alega que tem muitos gastos com o filho pequeno.

O irmão de Vilma, Gustavo, tem um ótimo relacionamento com a família. Passa alguns finais de semana e datas festivas na residência da genitora, mas sente dificuldades em estar sempre presente, já que a família dele é numerosa e os gastos se tornam maiores.

Sofia passou pela mesma situação que a mãe, pois o relacionamento com o namorado estava indo bem até que ele descobriu a sua gravidez e foi embora.

Vilma tem uma aproximação maior com a mãe e a admira por ser muito batalhadora, já que criou os filhos sozinha.

Genograma - Vilma Gustavo 32 Sophia 24 Vilma 22 7m 3 Luisa 16 Geralda 47 Lindalvo

5.1.3 – O contexto familiar de Fred

A família de Fred é formada pela genitora, Sr.ª Matilde, 45 anos; o padrasto, Sr. Orlando e os irmãos Felipe, 19 anos e Mateus, 10 anos. Não há muitos dados sobre a família de Fred, pois o mesmo não se disponibilizou a falar. Sempre que era perguntado a ele algo sobre sua família, afirmava que a pesquisadora estava querendo saber demais.

A Sr.ª Matilde teve os dois filhos mais velhos com o primeiro companheiro, Sr. Joaquim. Fred não soube informar o motivo da separação, mas afirma que depois disso, teve poucas notícias do pai. Há dois anos, o Sr. Joaquim reapareceu para a família, mas, segundo Fred, voltou querendo mandar nele e na mãe. A forma de agir do Sr. Joaquim fez com que Fred se desentendesse com o pai e lhe desse um tiro. Fred afirma que a intenção não era matar o pai, mas apenas assustá-lo para que ele, pai, visse que não tinha autoridade junto à família. Depois desse episódio, Fred não teve mais notícias dele.

O atual padrasto é visto por Fred como seu verdadeiro pai. Ele ajuda a mãe e está sempre por perto. Ele não sabe se os irmãos sentem a mesma coisa.

Os irmãos de Fred moram, atualmente, com a avó paterna. Fred afirma que seu relacionamento com a avó é muito bom, mas prefere não ir visitá-la com receio de se encontrar com o pai.

Fred não sabe nada sobre o pai de Matheus, nem mesmo o nome, e enfatiza que ele não chegou a conviver com a família.

O relacionamento atual da mãe é, na sua opinião, o mais satisfatório, mas não detalha seu ponto de vista sobre isso.

Genograma - Fred Fred 17 1 Vilma 22 Matilde 45 Mateus 10 Felipe 19 Orlando Joaquim

5.2 – Amélia e Romeu: a mulher de verdade e o machista romântico 5.2.1 – A história do casal

Diferente do casal anterior, a história desse é convergente. Da mesma forma que Vilma e Fred, Amélia e Romeu se conheceram em uma festa. Na verdade, segundo ele, era apenas uma pequena confraternização entre os amigos. Eles se conheciam apenas de vista. Mas como a irmã de Amélia era amiga de Romeu, ela serviu de cupido entre o casal. Porém, o encontro durou apenas essa noite, pois Romeu reatou com a ex-companheira.

Depois de muitas brigas e crises de ciúmes, ele terminou definitivamente esse relacionamento e, por lembrar sempre de Amélia, resolveu ligar para ela e a convidou para sair. Após algumas saídas, ele a pediu em namoro. Ela aceitou, porque gosta de namorar e não de “ficar”. Além disso, ela reconheceu algumas qualidades em Romeu que despertaram o seu interesse. Com Romeu o processo foi similar.

Amélia relata que, durante o relacionamento, Romeu disse que não havia atendido uma convocação para audiência na Vara da Infância e da Juventude e que, por isso, havia o risco dele ser preso. Apesar disso, informou à namorada que, de acordo com a delegacia de sua cidade, não constava nenhum débito dele com a justiça e, por isso, ficou mais tranquilo.

Romeu trabalhava como auxiliar de mecânico e, em um certo, dia a polícia foi ao seu local de trabalho e o levou para a delegacia, de onde ele foi encaminhado para uma instituição que executa a medida de internação provisória e, posteriormente, ele foi levado para a instituição em que está no momento.

Amélia não sabe qual o ato infracional cometido pelo namorado, mas o vista desde o início do cumprimento da medida, há cinco meses.

Antes da aplicação da medida socioeducativa, Amélia descobriu que estava grávida. Até o momento da entrevista, contavam cinco meses de gestação.

5.2.2 – O contexto familiar de Amélia

Amélia é décima quarta de dezoito filhos. Seus pais se conheceram há 45 anos, quando a genitora, Sr.ª Rosa, tinha treze anos e o pai, Sr. Arnaldo, 17 anos. Depois que ele atingiu a maioridade pediu a Sr.ª Rosa em casamento, mas como ela ainda era muito nova, eles alteraram os documentos para que pudessem se casar.

Os genitores de Amélia ficaram casados por quase quarenta anos e estão separados há, aproximadamente, cinco anos. Segundo Amélia, o pai bebia muito e agredia a mãe fisicamente. Ela relata que a mãe perdoou o pai diversas vezes, mas os filhos mais velhos não permitiram mais que eles convivessem mais juntos. Então, o Sr. Arnaldo retornou para a cidade natal, Bahia. Com a separação, o contato com o pai diminuiu consideravelmente e hoje é restrito.

A Sr.ª Rosa trabalhou por muito tempo como diarista. No entanto, depois que o filho mais novo nasceu com paralisia nos membros inferiores, ela deixou o trabalho e ficou por conta dos cuidados com do mesmo.

A família mora em um lote fracionado em três domicílios. A genitora mora com o filho que tem a paralisia e sobrevivem da aposentadoria dele. Quando o marido ainda estava em casa, dividia as despesas com ela, pois trabalhava como pedreiro. Atualmente, o Sr. Arnaldo está aposentado e não contribui mais com as despesas.

Amélia mora com o filho mais velho, do primeiro relacionamento, com mais duas irmãs e sete sobrinhos. Uma das irmãs trabalha em residências como doméstica e outra em uma pastelaria. As duas ajudam Amélia financeiramente para ela possa cuidar dos filhos delas. Na última fração moram mais sete irmãos. Apenas dois trabalham para sustentar a casa. Os demais irmãos (sete) são casados e moram em outros locais com os(as) companheiros(as) e com os filhos.

Apesar do número extenso de membros na família, Amélia se sente à vontade para dividir sua intimidade apenas com as irmãs que moram com ela. Relata que a sua mãe não conversa muito e não sabe detalhes de sua vida, bem como da vida dos demais irmãos.

Genograma - Amélia Arnaldo 62 33 29 27 Amélia 21 Romeu 20 5m 20 19 19 38a Rosa 58

5.2.3 – O contexto familiar de Romeu

Assim como a família de Amélia, a de Romeu também é extensa. A genitora, Sr.ª Sarah, 59 anos, teve no total oito filhos com quatro companheiros diferentes. Romeu não consegue fornecer informações sobre os ex-companheiros da sua mãe e não sabe precisar o tempo em que os seus pais (último relacionamento da mãe) conviveram juntos, mas afirma que foram mais de vinte anos.

De acordo com Romeu, o relacionamento dos pais, Sr.ª Sarah e Sr. Pedro, foi “esfriando”, até que os dois decidiram viver como amigos sob o mesmo teto. A Sr.ª Sarah continuou cuidando do Sr. Pedro até a morte dele, que ocorreu em razão de um ataque cardíaco em 2005, aos 73 anos de idade. A Sr.ª Sarah pensou em arrumar outro companheiro, mas os filhos não a autorizaram por temerem um companheiro poderia maltratá-la. Além disso, como afirma Romeu, os filhos ocupam a mãe com muitos problemas e, assim, não há tempo para ela dispensar em relacionamento amoroso.

No que diz respeito ao relacionamento com o pai, Romeu relata que, apesar do longo convívio, este não era satisfatório. Ele acredita que, pelo fato do pai ter uma idade avançada, ele era muito ignorante e se mantinha distante sem manter nenhum diálogo. Contudo, afirma que o pai tratava os filhos dos primeiros relacionamentos da esposa como sendo seus, sem fazer nenhuma distinção.

Em relação aos relacionamentos familiares, não fica claro com quem Romeu tem maior afinidade. Ele fala dos irmãos da mesma maneira e afirma que não compartilha com a família seus problemas pessoais.

Dos oito irmãos, apenas um reside com a Sr.ª Sarah, o filho mais velho de 35 anos que é solteiro e não tem filhos. Ele é responsável pelos cuidados da mãe e pelos afazeres domésticos (limpa a casa, cozinha, cuida das roupas). A Sr.ª Sarah é funcionária pública e trabalha como cozinheira. É ela quem é responsável pelo sustento da família. Cinco dos filhos são casados e todos possuem filhos, ao todo quinze.

Romeu é o filho mais novo. Ele trabalhava como auxiliar de mecânico, antes de cumprir a medida socioeducativa, e ajudava a mãe a pagar algumas despesas. Seu outro irmão, Cássio, 23 anos, cumpre pena no presídio masculino do Distrito

Federal. Ele foi preso outras vezes e a última prisão ocorreu dias antes da entrevista com Romeu, por isso, ele não soube informar sobre o motivo da prisão do irmão. Além de Romeu e Cássio, uma de suas irmãs também cumpriu pena no presídio feminino por roubo. Segundo ele, o fato só foi descoberto depois que a irmã foi liberada.

Genograma - Romeu Pedro 73 Romeu 20 Amélia 21 5m 23 27 Sarah 59 35

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