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Da dominação masculina à submissão feminina: relação amorosa de adolescentes infratores e suas companheiras

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Academic year: 2017

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VIVIANE DE SOUZA FERRO

DA DOMINAÇÃO MASCULINA À SUBMISSÃO FEMININA: RELAÇÃO AMOROSA DE ADOLESCENTES INFRATORES E SUAS COMPANHEIRAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Saúde e Desenvolvimento Humano.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Penso

Co-Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Alexina Ribeiro

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3 - REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 - A escolha amorosa na perspectiva sistêmica

A abordagem sistêmica considera a família como um todo orgânico, um sistema entre sistemas que supera e articula vários componentes individuais e representa um subsistema dentro de um suprasistema, que por sua vez é composto de sistemas internos menores (NICHOLS; SHWARTZ, 2007; ANDOLFI, 1981, MINUCHIN, 1982; ANGELO, 1995; CARTER; MCGOLDRICK, 1995; MINUCHIN; FISHMAN, 1990; OSÓRIO; VALLE, 2002; PENSO, 2003; PENSO; FERRO, 2008; SARTI, 1995; 2008).

Dentro do contexto macro, a família tem como função a socialização de suas crianças e adolescentes, ou seja, ela está inscrita no contexto social e repassa para seus membros os valores que adquire a partir de sua própria formulação (SARTI, 1995). A partir disso, os sujeitos definirão, por exemplo, as suas escolhas amorosas, uma vez que o aparecimento da noção de sentimento de família, que se fundamenta em uma representação sócio-cultural, pressupõe a interiorização de vivências, percepções e valores por meio de uma representação simbólica construída no contexto familiar (FÉRES-CARNEIRO, 2003).

No contexto micro, a família constrói sua história e seus mitos a partir do que ouve de si, por meio do discurso externo internalizado. Mas ela devolve um discurso sobre si que contém, também, sua própria elaboração, construindo sua experiência subjetiva (SARTI, 2004). Esse processo de pertencer ao social, mas conseguir se diferenciar, também, ocorre com o indivíduo, uma vez que nesse sistema o sujeito aprende a falar e, por meio dessa linguagem, ele ordena e dá sentido aos seus comportamentos e sentimentos.

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De acordo com Neuburger (1999), o mito familiar constitui-se por uma crença construída através de características e especificidades do grupo familiar que concernem todos os níveis da realidade vivida pela família e pela constituição da personalidade familiar. Assim, esse mito só existe se os membros da família acreditarem ou mostrarem que compartilham das crenças nos diferentes níveis de funcionamento. Porém, paradoxalmente, ele é visto como o ponto cego, pois não é percebido pelos membros da família. Essas crenças, segundo o autor, suprimem qualquer alternativa e podem acarretar comportamentos que geram dificuldades ou incapacidades para resolver problemas, ou seja, elas organizam o pensamento e o funcionamento das famílias sem serem percebidas como tais.

O mito familiar pode ser entendido como o veículo de transmissão entre as gerações familiares. De acordo com Martins e Cerveny (1997), esse conceito foi introduzido, em 1963, por Ferreira que o definiu como um conjunto de regras sistematizadas, integradas e compartilhadas por todos os membros da família para constituir sua auto-imagem mantendo a sua homeostase. Para Neuburger (1999) e Miermont (1994) essa homeostase está ligada a dois movimentos. O primeiro é o de defesa da família que teria, como objetivo, a neutralização da dor e do conflito; e o segundo é o ligado à proteção familiar por meio da manutenção de segredos sobre situações consideradas pela sociedade como vergonhosas.

O mito familiar está presente em todas as famílias e se constitui a partir de crenças, regras e papéis da família que são vividos e assumidos por todos os integrantes do sistema familiar. São a memória e os rituais familiares que permitem a sua transmissão através de suas gerações (NEUBURGER, 1999; PENSO, 2003; PENSO; COSTA; 2008; PENSO; FERRO, 2008). De acordo com os autores, a memória permite selecionar o que é importante para ser compartilhado, sendo que os rituais irão organizar as relações interpessoais entre os membros da família, permitindo a perpetuação do mito para manter a sua identidade em todo o seu ciclo de vida. Isso acontece porque os rituais, condutas repetitivas que reforçam o pólo mítico do grupo, permitem que todos os participantes pensem ou acreditem na mesma coisa, dando um sentido de pertencimento (NEUBURGER, 1999).

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NEURBURGER, 1999; PENSO, 2003; PENSO; FERRO, 2008). De acordo com os autores, é a memória familiar que faz a triagem das informações, sendo, portanto, um processo de seleção daquilo que será julgado, bom ou não, para ser transmitido aos membros da família. Neuburger (1999) afirma que a memória familiar é mais que um processo de seleção do que pode ser passado. Ela “é, essencialmente, um

processo de seleção daquilo que convém esquecer para sustentar, manter e

transmitir um mito familiar (p.34)”.

Os mitos familiares são mantidos pelo processo de delegação e pela

lealdade familiar. “Através da memória e dos ritos familiares, observa-se que eles (os

pais) delegam a cada membro da família um papel” (PENSO; FERRO, 2008, p.28).

Essas delegações servem como ponto de retenção das obrigações de cada comportamento da família. Penso e Ferro (2008), baseadas nas contribuições de Miermont et al. (1994), acrescentam que as gerações passadas mantêm os mitos familiares e garantem a sua transmissão, através dos pactos de lealdade.

A lealdade familiar é entendida como uma espécie de contabilidade entre os membros da família sobre os débitos e créditos de cada um. Segundo Boszormenyi

– Nagy e Spark (2001), são as lealdades que definem o que cada um dos membros da família pode esperar receber e o que deve dar à família. Todavia, isso é perpassado por um sentido ético dentro desse sistema. Nichols e Shwartz (2007) afirmam que bons relacionamentos entre os membros do sistema familiar incluem um comportamento ético que, juntamente, com a confiança serve como cola que mantém as famílias unidas.

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relacionamento nos diferentes sistemas familiares de origem, no que diz respeito a como é garantido o pertencimento familiar ao mesmo tempo em que é permitido a separação e a individuação de cada um dos seus membros.

A escolha do parceiro reflete o nível de separação e individuação semelhante ao familiar e isso definirá sua relação conjugal (ANGELO, 1995). Dessa forma, os indivíduos tendem a escolher parceiros que possuem o mesmo nível de diferenciação, ou seja, se o nível de separação e pertencimento familiar reflete uma relação de dependência, o parceiro escolhido deverá ter características que possam manter esse padrão. Portanto, as vivências familiares permitem a resolução do conflito entre separação e pertencimento e, por conseguinte, a construção da identidade individual, na qual o sujeito fará suas escolhas amorosas. Além disso, tais escolhas refletirão aprendizagens vividas pela observação do relacionamento dos pais, do modo como eles resolvem seus conflitos, vivenciam seus papéis na família e nas redes sociais que os adolescentes vão definir sua individualidade e conjugalidade (RAPAPPORT, 2001; SIEGEL, 2005). Isso significa que a escolha conjugal será referenciada na história vivida na família por cada um dos seus cônjuges, ou seja, apesar da escolha atualmente ser atribuída ao indivíduo e não mais à família ou à comunidade, é inegável que aspectos conscientes e inconscientes permanecem e são repassados seja numa mesma geração, sejam herdados das gerações anteriores.

Uma forma de compreender a família é observá-la a partir de seu ciclo de vida familiar e de sua história transgeracional. A noção de ciclo de vida familiar parte do pressuposto que a família não é um sistema estático e nem fechado, mas sim, sujeita a mudanças internas e externas que se movem através do tempo, desde o início de sua constituição em uma geração até a morte do ou dos indivíduos que a iniciaram (MINUCHIN; FISHMAN, 2003; CARTER; MCGOLDRICK, 1995; CERVENY; BERTHOUD, 2002; PENSO, 2003).

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e das características dos casais estudados, dois estágios serão privilegiados

“famílias com filhos adolescentes” e “lançando os filhos e seguindo em frente”.

Entretanto, cabe lembrar que o modelo proposto por Carter e McGoldrick (1995) foi proposto para famílias de classe média americana, que possuem características bem diferentes daquelas aqui estudadas. Mas é necessário pontuar que não foram encontrados estudos sobre famílias brasileiras com características semelhantes às desta pesquisa.

Carter e McGoldrick (1995) apresentam o ciclo de vida familiar dividido em seis estágios, sendo que cada uma possui tarefas que devem ser desempenhadas pela família e um processo emocional a ser resolvido. Primeiramente, “Saindo de casa”, onde os jovens solteiros saem de casa, sendo necessária a aceitação da responsabilidade emocional e financeira pelo “eu”. Isso envolve as tarefas de diferenciação do “eu” em relação à família de origem, o desenvolvimento de relacionamentos íntimos com adultos iguais e o estabelecimento do eu com relação ao trabalho e independência financeira.

O segundo estágio é a “União de famílias no casamento”, onde, com o surgimento de um novo casal, faz-se necessário o comprometimento com um novo sistema e, por isso, algumas tarefas precisam ser cumpridas para atingir este objetivo: a formação do sistema marital e o realinhamento dos relacionamentos com as famílias ampliadas e com os amigos para incluir o novo cônjuge.

No terceiro, “Famílias com filhos pequenos”, pressupõe a aceitação de novos membros no sistema. Para isso, é necessário o ajustamento do sistema conjugal para se criar espaço para o(s) filho(s), a união do casal nas tarefas de educação dos filhos, realização de tarefas financeiras e domésticas e o realinhamento dos relacionamentos com a família ampliada para incluir os papéis de pais e avós.

No quarto estágio, “Família com filhos adolescentes”, o processo

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No quinto estágio, “Lançando os filhos e seguindo em frente”, o processo emocional se concentra na aceitação das várias saídas e entradas no sistema familiar. Isso só ocorrerá se houver uma renegociação do sistema conjugal como díade, o desenvolvimento de relacionamentos de adulto para adulto entre os filhos crescidos e seus pais; o realinhamento dos relacionamentos para incluir parentes por afinidades e netos; e o desenvolvimento de formas de lidar com a incapacidade e morte dos pais (avós).

O último estágio, “Famílias no estágio tardio de vida”, envolve a aceitação da mudança dos papéis geracionais. As tarefas necessárias englobam a manutenção do funcionamento e os interesses próprios e/ou do casal em fase de declínio fisiológico; o apoio ao papel mais central da geração do meio; a abertura de espaço no sistema para a sabedoria e experiência dos idosos, apoiando a geração mais velha sem super funcionar por ela; a capacidade de lidar com a perda do cônjuge, irmão e outros iguais; e a preparação para a própria morte. Envolve também a revisão e a integração da vida.

Para discutir o ciclo de vida de famílias de baixa renda, sujeitos desta pesquisa, faz-se necessário uma reflexão e uma adaptação deste modelo. Fulmer (1995), ao estudar as famílias negras pobres dos Estados Unidos, afirma que seu ciclo de vida é prejudicado por questões multiproblemáticas, tais como o desemprego, desnutrição, gravidez precoce, instabilidade e violência familiar, delinquência, abuso de substâncias, índice alto da mortalidade infantil, morte precoce, estresses contínuos de habitações inadequadas, constantes dívidas, entre outros. Esses problemas, acrescenta o autor, promovem uma série de crises que, diferentemente das demais classes sociais, não possuem um ou outro problema, mas uma sobreposição entre eles.

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Quadro 1 - Comparação dos Estágios do Ciclo de Vida Familiar

Idade Famílias “Profissionais”1 Famílias de Baixa Renda 12-17 - Evitam a gravidez

- Terminam o segundo grau - Pais continuam a sustentar enquanto permitem que os filhos obtenham maior independência.

- Primeira gravidez

- Tentam terminar o segundo grau - Pais tentam um rígido controle antes da gravidez. Depois da gravidez, o controle é relaxado e a nova mãe e o bebê continuam a ser sustentados. 18-21 - Evitam a gravidez

- Saem da casa paterna para a faculdade

- Adaptação à separação pais-filhos

- Segunda gravidez

- Nenhuma instrução adicional

- A jovem mãe adquire um status adulto na casa paterna

22-25 - Evitam a gravidez

- Desenvolvem uma identidade profissional na faculdade

- Continuam separados da casa paterna. Começam a viver um relacionamento sério

- Terceira gravidez

- Casamento – saem da casa paterna para constituir uma família com padrasto

- Continuam conectados com a rede familiar

26-30 - Evitam a gravidez

- Casamento – desenvolvem um casal nuclear separado dos pais - Intenso envolvimento com o trabalho quando a carreira começa

- Separam-se do marido

- A mãe se torna a chefe da própria família dentro da rede familiar

31-35 - Primeira gravidez

- Renovam o contrato com os pais como avós

- Papéis diferenciados na carreira e na criação dos filhos entre marido e mulher

- Primeiro neto

- A mãe se torna avó e cuida da filha e do bebê

Penso, Costa e Ribeiro (2008), ao estudarem famílias brasileiras em contexto de pobreza, ressaltam que:

(...) a compreensão da história transgeracional de famílias em situação de pobreza no Brasil tem suas peculiaridades, já que as famílias são expostas a cortes entre as gerações em razão de constantes migrações em busca de condições mais favoráveis de sobrevivência, dificultando, assim, a manutenção e a transmissão de uma memória familiar através das gerações, bem como da perpetuação de seus rituais (p. 17).

1 “Esses grupos são em quase sua totalidade compostos por pessoas brancas, com nível de renda

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Ressaltamos que, mesmo utilizando o modelo de Carter e McGoldrick (1995) estamos cientes das suas limitações na compreensão da complexidade vivida pelas famílias com as quais trabalhamos.

De forma geral, procuramos apresentar, aqui, os conceitos da Teoria Sistêmica sobre a dinâmica de funcionamento das famílias e sua importância na definição das escolhas amorosas dos sujeitos. A partir desta perspectiva, a escolha

não é aleatória ou baseada no conceito definido de “amor romântico”, mas que essa

escolha é influenciada pela história vivida na família ao longo do seu ciclo de vida e da sua história transgeracional.

3.2 ENTRE A INFÂNCIA E A VIDA ADULTA: SER ADOLESCENTE E JOVEM

Para subsidiar este trabalho sobre as escolhas amorosas dos nossos sujeitos, consideramos importante a apresentação dos conceitos de adolescência e juventude, que têm sido objetos de discussões com convergências e divergências, como veremos a seguir.

A proposta desse trabalho não é discutir a adolescência em termos de idade, já que não há um consenso; mas sim, tratar do tema, a partir de suas definições e características. É importante, também, ampliar essa discussão às definições sobre a juventude, que provoca novas reflexões sobre o assunto.

3.2.1 Adolescência: a construção de uma nova identidade

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período de preparação para ser adulto, momento este em que, culturalmente, foi instituída a fase da adolescência, tendo como papel fundamental a escolarização, a exclusão da criança do mundo do trabalho e a privatização da família (RAPAPPORT, 2001).

Atualmente, podemos afirmar que o conceito sobre adolescência não é unificado. De início, já existe a dificuldade em determinar o período de idade que compreende essa fase. Para ilustrar, temos como exemplos a definição proposta pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 2º, que considera adolescente aquele indivíduo entre doze e dezoito anos de idade (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990), conceito também definido pela UNICEF –

Fundo das Nações Unidas para a Infância (2002). Já a Organização Mundial de Saúde (1965) considera adolescente o indivíduo que se encontra entre os dez e dezenove anos de idade. Lembramos, assim, que a adolescência, apesar das divergências quanto ao período, deve ser vista a partir dos valores e crenças de

cada cultura. Isso se justifica porque “em culturas menos sofisticadas não há motivos para retardar o ingresso do jovem nas suas estruturas sociais”

(RAPAPPORT, 2001, p. 12).

A definição clássica de adolescência deriva do verbo latino adolecere que

tem como significado “crescer” ou “crescer para a maturidade” (HURLOCK, 1979).

Foi traduzida, de forma geral, como a passagem da infância para a vida adulta por diversos autores (WAGNER; OLIVEIRA, 2007; PAPALIA et al., 2007; TIBA, 1994; HURLOCK, 1979; BROOKS, 1981).

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sua perspectiva de futuro seja inexistente, uma vez que valorizam apenas o presente.

Utilizando como metáfora o parto, Tiba (1994) conceitua a adolescência

como o nascimento do adolescente da família (útero) para a sociedade. “Enquanto

no útero (família) a mensagem dominante é ditada pelos cromossomos, na adolescência, é ditada pelo „como somos‟, através da qual os pais mostram como vivem, o que sentem e como agem diante da vida” (p.17). É nessa transmissão que

os valores são repassados, possibilitando o convívio do adolescente na sociedade. A adolescência é a fase em que os indivíduos vivenciam as maiores mudanças, dentre todas as fases do ciclo de vida. Diante dessas grandes modificações, a adolescência passa a ser considerada um período complexo na vida humana (TUYAMA, 2006). Esta complexidade envolve, em sua globalidade, mudanças cognitivas, físicas, psicomotoras, morais e relacionais, além de promover o desenvolvimento da autonomia, auto-estima e intimidade (TIBA, 1994; PAPALIA et al., 2007; BROOKS, 1981).

Dentre os aspectos psicossociais, alguns são relevantes na adolescência tais como inserção no grupo, importância da família, sexualidade, escolarização e profissionalização. A seguir, trataremos de cada um desses aspectos de forma mais detalhada.

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Nesse espaço, há possibilidade de uma elaboração da identificação construída no sexo semelhante e no sexo oposto que promove o desenvolvimento de características e habilidades importantes no convívio com os demais grupos sociais. Também possibilita o autoconhecimento facilitado pelas similaridades de características, sentimentos, desejos, fantasias ou mesmo agressividade que individualmente são impossibilitados de externalização (RAPAPPORT, 2001).

A auto-estima se desenvolve no relacionamento com os amigos, especialmente aqueles do mesmo sexo (PAPALIA et al., 2007). Os autores sinalizam para uma diferenciação dos gêneros em relação a essa questão: enquanto que, para os meninos, a auto-estima está ligada ao esforço por realização pessoal dentro do grupo; para a menina, está relacionada aos vínculos com esse grupo.

Assim como a auto-estima, a aceitação social também está relacionada diretamente com o grupo de amigos, já que essa aceitação só pode ser conseguida conforme as expectativas do grupo com o qual deseja se identificar e se baseia naquilo que o grupo julga necessário para tornar as pessoas mais acessíveis e agradáveis como companhia. A aceitação social ajuda na compreensão de outra questão existente no grupo identificada como status social, que se refere à posição que uma pessoa mantém no grupo a partir de sua aceitação, comumente

comparado ao termo “popular” que implica o respeito e a admiração por parte do

outro e não implica, necessariamente, em relações íntimas (HURLOCK, 1979, PEREIRA, 2009).

Dentre todas as peculiaridades do desenvolvimento do adolescente, a formação da identidade é considerada como uma das mais importantes nessa fase. Contudo, é necessário lembrar que a crise resultante dessa formação raramente se resolve plenamente na adolescência, uma vez que questões relativas à construção da identidade aparecem repetidas vezes durante a vida adulta (ERIKSON, 1976).

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A questão socioeconômica, também, tem suas implicações na identidade. Spencer e Markstrom-Adams (1990) afirmam que a formação da identidade é especialmente complicada para jovens carentes, pois algumas características como a posição social estereotipada pode ser extremamente influente na formação do autoconceito. Além disso, quando as oportunidades são limitadas e há uma dificuldade para fixar sua identidade ocupacional, os adolescentes correm o risco de apreender comportamentos com graves consequências como a inserção na vida infracional ou a gravidez precoce, comuns no mundo contemporâneo (PAPALIA et al., 2007; PENSO, 2009).

A identidade, então, vai se delineando e redefinindo em processos dialéticos em vários encontros com o outro, quando são confrontados valores, crenças e emoções (ABRAMOVAY et al., 2004). No desenvolvimento da identidade, observa-se, também, a resistência à autoridade adulta. Com o abandono da identidade infantil e a busca de uma nova identidade, o adolescente passa a funcionar na base da reação e não da afirmação, organizando-se em torno da oposição à ordem (TIBA, 1994).

Apesar das particularidades conceituais sobre a adolescência, podemos sintetizar suas tarefas como; formar uma identidade, alcançar a independência dos pais ou dos adultos responsáveis; conhecer pessoas em quem possa confiar fora do sistema familiar e buscar sua independência financeira.

A sexualidade também é aspecto fundamental na adolescência e na construção da identidade. Ela se destaca como campo em que se busca autonomia e práticas exercidas de forma singular e com urgência própria de uma geração jovem (ABRAMOVAY et al., 2004). Segundo as autoras, é nesse período que acontecem as modelagens sobre a feminilidade, busca da autonomia e a afirmação

da virilidade para os homens: é o “tornar-se homem” e o “fazer-se mulher”,

perpassados por sentidos identitários diversos, como o que se entende por masculino e feminino e as realizações das trocas afetivas.

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As diferentes formas de vivenciar a sexualidade (iniciação sexual precoce,

namoro, “ficar”) a inserem como parte da individualidade, dando acesso à vida do

corpo e à vida da espécie, porém de uma forma muito subjetiva, e está presente nas diferentes classes sociais, sendo admitida como uma tendência generalizada (BORGES & SCHOR, 2002; ALTMAN, 2007).

O namorar e o “ficar” são realidades do mundo moderno. A diferença entre

esses dois tipos de relacionamentos foi relatada na pesquisa realizada por Oliveira et al. (2007), envolvendo 130 adolescentes. Namorar implica em um compromisso sério, na oficialização diante da família e do grupo social, numa relação de intimidade e maior proximidade entre o casal. Já o “ficar”, possibilita uma relação

sem formalidades, que pode até se transformar em um namoro, mas que se inicia sem um compromisso. A dimensão do “ficar” está correlacionada a uma liberdade absoluta, enquanto no namorar, as questões estão correlacionadas à responsabilidade formalizada.

Outra pesquisa de âmbito nacional realizada por Castro et al. (2004) com jovens, concluiu-se que, quando se namora, a fidelidade adquire um lugar especial. Há uma associação entre amor e fidelidade no imaginário dos jovens, o que mantém

uma perspectiva tradicional de relacionamento, ao passo que o “ficar” configura-se,

de certa forma, como a interação afetiva e sexual, onde se pode lidar com as demandas referentes às relações de namoro, consideradas mais rígidas.

Em nenhuma das pesquisas há menção sobre a preferência dos

adolescentes em namorar ou “ficar”. Contudo, o que há de importante é que a

vivência da sexualidade existe e adquire um valor individual.

A escola é socialmente tipificada como um espaço importante no desenvolvimento do indivíduo. A ida para a escola marca a primeira saída de casa e permite que o sujeito entre em contato com o grupo fora do sistema familiar.

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A escola surge como um co-partícipe na educação das crianças e adolescentes e, do ponto de vista dos pais, assume a conotação de uma colaboradora na educação e no cuidado dos filhos, evitando, assim, a vivência nas ruas, o envolvimento com drogas e más companhias, principalmente nas famílias com baixo poder aquisitivo (THIN, 2006; OLIVEIRA et al, 2001). Talvez, uma pergunta a ser feita é: por que a escola se torna um local determinante no desenvolvimento do adolescente, sendo que o sujeito convive nesse local desde a infância?

A diferença, explica Rapapport (2001), é que quando o sujeito ainda está na fase da infância, as regras são impostas exclusivamente pela família e pelos adultos e a resolução de problemas também tende a ser solucionada por adultos enquanto que na adolescência o sujeito adquire mais autonomia e, com o grupo, consegue constituir regras próprias e enfrentar sozinho as dificuldades e os conflitos.

No que diz respeito à relação adolescente/escola, Pereira (2009) a percebe como um espaço privilegiado uma vez que é possível, dentro desta instituição, conhecer e estudar situações de risco e proteção no contexto relacional dos adolescentes. Então, a escola pode ser um suporte identitário à medida que se torna

um “lugar de encontro e abrigo dos adolescentes” (p. 54).

Oliveira et al. (2001), a partir de um estudo com 778 jovens de duas escolas públicas de São Paulo, traçaram a representação social dos alunos a respeito da escola e concluíram que, para eles, a escola tem duas funções primordiais: libertar para um futuro melhor e constituir-se como instância de saber vinculada às possibilidades e impossibilidades de ascensão social.

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importância da escolarização, que interfere diretamente no investimento que o indivíduo faz em sua própria formação.

Associada ao sucesso ou fracasso escolar, a profissionalização se situa como mais um importante passo no desenvolvimento do adolescente, à medida que se constrói uma identidade relacional, concretizada pela maturidade e pela emancipação econômica. Desta forma, a profissionalização deve ser compreendida a partir do contexto social em que esses jovens estão inseridos, já que essa variável também ajudará na construção da representação do trabalho para cada população e trará conseqüências na construção da sua autoimagem e identidade (FISHER et al., 2003).

Não podemos esquecer que a escolarização, a profissionalização e, consequentemente, a inclusão no mercado de trabalho estão diretamente correlacionadas, uma vez que o trabalho funciona como um mecanismo de legitimação de valores sociais hegemônicos e a escola liberta o sujeito da repetição de uma vida em que impera a falta de possibilidades de sobrevivência (OLIVEIRA et al. 2001)

Nas populações pobres, apesar dos jovens possuírem uma alta aspiração em relação ao trabalho, eles não atingem, na prática, essa pretensão devido à baixa escolaridade, culminando em uma taxa de desemprego superior às demais classes sociais. Segundo Hines (1995, p. 446):

Alguns, mas pouquíssimos, têm sorte. Eles encontram as pessoas certas no momento certo, e conseguem vislumbrar seus talentos e ter um senso de responsabilidade. Com o apoio das pessoas interessadas, conseguem evitar os campos minados que os cercam e subir até a classe média. No entanto, mesmo esses poucos talvez precisem lidar com profundos sentimentos de culpa e confusão por terem deixado para trás suas famílias e seus iguais.

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As relações familiares é um ponto importante na adolescência e, apesar de ter grande relevância nas demais fases do ciclo de vida, é nesse estágio que passa a ser exigida da família uma reorganização em sua estrutura. Isso acontece a partir de uma renegociação de papéis e redefinição de regras, que levam a exigências da realização de novas tarefas familiares decorrentes do desenvolvimento do adolescente (CARTER; MCGOLDRICK, 1995; MINUCHIN; FISHMAN, 2003).

Segundo Rappaport (2001) e Papalia et al. (2007), a instabilidade entre pais e filhos tem seu início na puberdade, quando os adolescentes, a partir das mudanças corporais, passam a se perceber como diferentes e a exigir uma maior privacidade, liberdade e autonomia. Neste momento, surge o desafio à autoridade através dos questionamentos às regras; participação dos adolescentes nas decisões da família; expansão da rede social dos adolescentes sem a participação dos pais e busca pelas próprias verdades a partir da desconstrução dos pais como onipotentes e oniscientes (RAPAPPORT, 2001).

Os pais também ajudam a instaurar os conflitos existentes nesse período. Isso ocorre através da manifestação dos sentimentos ambivalentes, já que ao mesmo tempo em que eles lutam pela emancipação da prole, convivem com sensações de abandono, solidão e falta de controle sobre a situação (RAPAPPORT, 2001). Apesar disso, a existência de conflitos familiares em decorrência da adolescência não gera consequências significativas, pois os filhos expressam opiniões semelhantes sobre questões importantes e valorizam a aprovação dos pais (SCHOEN-FERREIRA et al., 2003). Porém, uma ressalva devee ser feita:

Nas famílias desestruturadas, onde impera o desentendimento, o desamor e o distanciamento entre os pais como casal e deles com os filhos, o sofrimento é intenso e as dificuldades também. O jovem fica mais perdido, encontrando problemas maiores para fazer as suas escolhas, chegar às suas definições. Fica mais suscetível a enveredar por caminhos conflitantes, às vezes durante longos anos. (RAPAPPORT, 2001, p.37)

Isso também ocorre pois, dependendo de como as regras são estabelecidas com o adolescente, algumas questões que podem ser consideradas como menores, passam a ser entendidas pelos adolescentes como “procurações” para outras

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o grupo de amigos a responsabilidade de falar de alguns assuntos como sexualidade, por exemplo, pode levar a um desfecho não recomendável.

Em todo esse processo, a flexibilidade nas fronteiras familiares torna-se uma aliada para favorecer a vivência tranquila nessa fase, pois permite o desenvolvimento e independência do adolescente sem que ele sinta que, para obter a sua individualidade, tenha necessariamente que romper com o sistema familiar (MINUCHIN, 1982; CARTER; MCGOLDRICK, 1995; PENSO, 2003, 2008).

Mesmo com toda essa turbulência e com as dificuldades de negociação entre pais e filhos, a família é uma importante fonte de sustentação da identidade do indivíduo (MINUCHIN, 1982). É nesse momento que todo o aprendizado e repasse de valores são sintetizados pelo adolescente e colocados em prática. Isso é um fator fundamental para se alcançar o estágio 5 do Ciclo de Vida Familiar - lançando os filhos e seguindo em frente - proposto por Carter e McGoldrick (1995), já que, neste momento, os filhos se tornam adultos e independentes. Para tanto, há uma necessidade de mudança na função do casamento dos pais e no relacionamento entre pais e filhos que devem estabelecer uma relação de adultos. Existe, ainda, a necessidade de expansão dos relacionamentos familiares para incluir novos parentes e futuros filhos e, por fim, é uma fase em que se pode resolver o relacionamento com os pais que estão envelhecendo (CARTER; MCGOLDRICK, 1995; MINUCHIN; FISHMAN, 2003). Mas, no momento atual, entre a chamada adolescência e a conquista da independência do adulto, surge uma fase

intermediária, que vem sendo denominada pelas políticas públicas de “juventude”,

como veremos a seguir.

3.2.2 – Conceito de Juventude: ampliando perspectivas

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desenvolvimento humano tópico específico que inclua essa fase. Essas discussões nos remete a alguns questionamentos: a) a juventude é uma nova fase no ciclo de vida do sujeito?; b) a juventude pode ser entendida como uma particularidade no desenvolvimento de alguns sujeitos?

De acordo com Abramo (2007), a concepção de juventude foi difundida como noção social e tem como definição um momento da transição no ciclo de vida (entre a infância e a vida adulta), correspondendo a situações específicas e dramáticas de socialização, em que os indivíduos processam sua integração e se tornam membros da sociedade a partir da aquisição de elementos apropriados da cultura e de sua ascensão aos papéis adultos. Esse momento tem como objetivo a preparação do indivíduo para se constituir como sujeito livre, integrando-se à sociedade e mudando seus papéis por meio da interiorização dos valores. Da mesma forma, Dayrell (2007) concebe a juventude como um momento de crise centralizada nos conflitos da auto-estima e/ou da personalidade que culmina no distanciamento dos jovens de sua família como tentativa de ressignificar as informações adquiridas até o momento.

Franssen (2007), apesar de não fazer uma discussão sobre grupo social, discorda da comparação dirigida à adolescência, já que entende que a juventude vai além da semelhança com a adolescência, sendo, na verdade, um prolongamento desse período devido às novas configurações da família e às transformações econômicas e sociais.

Peralva (2007) delimitou a juventude como marco essencial na redefinição do lugar da criança na família, provocando a cristalização social das idades. Sua definição é similar à de adolescência e inclui a maturação física e o desenvolvimento psicossocial. Para essa autora, a definição de juventude está de acordo com as descritas na fase da adolescência, porém, o emprego da palavra “juventude” no plural está ligada aos grupos existentes na sociedade, ou seja, enquanto a adolescência é uma fase pela qual todos os indivíduos passam, a juventude pode ou não ser encontrada em diferentes segmentos da sociedade e quando existe, assume diversos significados a partir de sua formação. Podemos pensar como exemplo em juventude negra, juventude transgressora, juventude gay, juventude excluída, juventude de classe média, entre outras.

(20)

permaneça dependente e prolongue a sua estadia com a família. Não se sabe, ao certo, em qual período da vida está delimitada a faixa etária, mas é comumente englobada entre os 15 e 24 anos ou se estende até os 29 anos (ESTEVES; ABRAMOVAY (2007).

No histórico levantado por Sposito e Carrano (2003) sobre a juventude e políticas públicas no Brasil, os autores colocam que, com a elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as ações políticas se voltaram para um recorte etário e sócio-econômico estabelecido nesse Estatuto, deixando de lado a categoria

“juventude” que é marcada por uma luta de instabilidade associada a determinados problemas sociais e “desvios”. Os autores, então, ao mencionarem a juventude

como alvo necessário de implementação de políticas públicas, referem-se a uma parte da sociedade, existente no nosso país desde a década de 1970, que possui problemas de emprego e de entrada na vida ativa do trabalho, o que coloca a juventude, dessa forma, como um período que antecede à vida adulta e que depois do ano de 2003, foi elaborada uma política para a mesma. Ao tratar desta questão, o Ministério da Saúde segue a convenção elaborada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que delimita o período entre 10 anos aos 18 anos 11 meses e 29 dias de idade como adolescência e o situado entre 15 a 24 anos como juventude.

A família, a inserção no trabalho e a contextualização social são fundamentais para essa discussão, uma vez que, a juventude, reflete no prolongamento do jovem na convivência na família que se justifica pela crise econômica instalada em nosso país, impedindo a saída de casa mais cedo. (HENRIQUES et al. 2006).

Rapapport (2001) elucida a questão com base na diferenciação de classe social, sendo que o prolongamento da adolescência estaria associado a um grupo

“tecnicamente” mais desenvolvido:

As profissões de nível superior, características das culturas desenvolvidas, exigem uma longa formação na escola básica, alguns anos de formação em nível de segundo grau, cinco ou seis anos de formação universitária, seguidos de mais alguns anos de especializações, residências ou pós-graduações. Ou seja, o aprendiz bem-sucedido só as concluirá entre os 25 e 30 anos (p.12).

(21)

Existem, atualmente no Brasil, 48 milhões de jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos e, diante da crise econômica, é nessa parcela da sociedade que se concentram os maiores índices de desemprego e evasão social.

Por fim, Salles (2005) acredita que poderá surgir um “novo estágio” no

desenvolvimento. Porém, ele estaria ligado à classe social de maior poder aquisitivo, já que a permanência do jovem na casa dos pais deve-se ao prolongamento do tempo de estudo. Segundo ele, a entrada no mercado de trabalho é adiada, devido às dificuldades, cada vez maiores, de obtenção de empregos qualificados que traz, como consequência, a falta de autonomia financeira e uma taxa imensa de desemprego.

Henriques et al. (2006) corroboram com a ideia de que esse evento é recorrente na sociedade e que ocorre, prioritariamente, em famílias de classe média devido a fatores particulares dessa camada da sociedade, tais como a possibilidade de investimento escolar e profissional dos filhos, e pela ambiguidade na configuração dos laços de trabalhos de pais e filhos. Ou seja, para os pais, a ideia de trabalho está condicionada à estabilidade e longa permanência dentro de uma instituição. Isso foi modificado na sociedade atual e tem feito com que as relações de trabalho sejam transitórias, dificultando a estabilidade financeira, o que tem influenciado na representação atual dos jovens à cerca do mercado de trabalho.

Apesar da juventude ser discutida há algum tempo, precisamente desde a

década de 1960, quando era definida como um “problema” na medida em que era

protagonista de uma crise de valores e de um conflito de gerações essencialmente situado sobre o terreno dos comportamentos éticos e culturais (SPOSITO; CARRANO, 2003), observa-se que atualmente ela está relacionada com o contexto social e econômico.

(22)

4 MÉTODO

4.1 - Delineamento da pesquisa:

A pesquisa qualitativa é definida pelos pesquisadores como um método de

estudo e conhecimento das “qualidades” do seu objeto de investigação. Ela é

utilizada em diversas ciências tais como a física, química, biologia e várias outras. Nas ciências humanas, apesar do seu significado ser semelhante às demais ciências, ela assume um significado mais amplo que, segundo Turato (2003), tem sua melhor compreensão a partir do conceito elaborado por Denzin e Lincoln (1994, p. 2):

Pesquisa Qualitativa é multimetodológica quanto ao foco, envolvendo uma abordagem interpretativa e naturalística para esse assunto. Isso significa que os pesquisadores qualitativistas estudam coisas em seu setting natural,

tentando dar sentido ou interpretar fenômenos em termos dos significados que as pessoas trazem para eles.

Turato (2003) clarifica que, por meio desse método investigativo, se observa pessoas e comunidades através de sua fala e seu comportamento a partir do seu ambiente natural. Acrescenta que o alvo da pesquisa é a significação que as coisas ganham, ou seja, as significações que um indivíduo particular ou um grupo específico atribuem aos fenômenos da natureza.

Seu objetivo se estende a situações complexas ou estritamente particulares com a finalidade de analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em um maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades dos comportamentos dos indivíduos (RICHARDSON et al., 1999).

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(...) ao diálogo inteligente e crítico com a realidade, tomando como referência que o sujeito nunca dá conta da realidade e que o objeto é sempre também um objeto-sujeito. A realidade tanto se mostra como se esconde (p.10).

Os autores que trabalham com pesquisa qualitativa ressaltam a importância da postura do pesquisador que é diferenciada da pesquisa quantitativa. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador passa a fazer parte do processo de construção e interpretação das informações (MINAYO, 2007), sendo assim, o pesquisador deve contestar as coisas como se apresentam e a partir de uma alternativa de composição, acreditando no novo, no inesperado, na virada e no salto qualitativo (DEMO, 1987).

Somados a esses conceitos, Martins e Bicudo (1989) explicam que a pesquisa qualitativa não tem como finalidade a generalização, mas sim a compreensão particular do que se estuda. Ela busca, então, a compreensão e não explicações lineares sobre os fenômenos estudados a partir da centralização de questões específicas, ou seja, no que há de peculiar, no individual.

Para Gonzalez-Rey (2005), a pesquisa qualitativa pode ser definida como um processo permanente de produção de conhecimento onde os resultados são momentos parciais que se integram constantemente a novas perguntas e abrem novos caminhos à produção do conhecimento. O autor alerta para o equívoco criado por pesquisadores que utilizam o método qualitativo, pois, muitas vezes, aplica-se esse método para obter informações puramente quantitativas como, por exemplo, uma entrevista onde os dados são objetivos e não subjetivos.

Em suma, o autor pontua que:

A pesquisa qualitativa não corresponde a uma definição instrumental, é epistemológica e teórica, e apóia-se em processos diferentes de construção do conhecimento, voltados para o estudo de um objeto distinto da pesquisa quantitativa tradicional em psicologia. (...) A história e o contexto que caracterizam o desenvolvimento do sujeito marcam a sua singularidade, que é a expressão da riqueza e plasticidade do fenômeno subjetivo (p. 50/51).

(24)

intensidade deste fenômeno a partir de um estudo em profundidade de casos exemplares (DEMO, 2001).

4.2 - Contextualização da pesquisa:

A presente pesquisa foi realizada em uma instituição governamental do Distrito Federal que se destina à execução de medida socioeducativa de privação de liberdade.

Em agosto de 2008, o projeto foi apresentado para a direção do local e, após a formalização da autorização, deram-se início às observações das visitas recebidas pelos adolescentes institucionalizados. Segundo Marconi e Lakatos (1996), a observação é uma técnica de coleta de dados para conseguir informações e utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Os autores acrescentam que a observação é o ponto de partida da investigação social.

Nesse sentido, a observação para essa pesquisa foi de extrema importância, já que possibilitou o delineamento dos participantes. Inicialmente, delimitamos participantes que compreendesse 18 anos incompletos para que na visita as namoradas ou companheiras precisassem de seus responsáveis. Porém, a partir das observações realizadas, percebemos que esse perfil não existia no presente momento, o que nos levou a uma reestruturação do critério de participação.

Foram realizadas cinco observações das visitas (15/07/08, 22/07/08, 05/08/08, 12/08/08, 19/08/08). Nos três primeiros dias, as observações foram realizadas no período da manhã. Somente na terceira observação fui informada que a visitação acontecia em período integral. Assim, nos dois últimos dias, foram incluídas as observações no período integral.

(25)

tornaria inviável as observações pretendidas, já que esse dia é exclusivo para visitação de familiares, namoradas ou companheiras. No meio da semana, a visita é

realizada no “Galpão”, local amplo e de fácil visualização, o que facilitou as

observações.

Nas terças-feiras, um agente social fica responsável pelas vistas aos adolescentes e, por isso, recebe um documento referente às pessoas autorizadas a entrar tendo, portanto, uma previsão do número de visitantes. Ao final das visitas esse documento foi disponibilizado à pesquisadora para que as informações contidas fossem anotadas.

Mediante as informações levantadas, observamos que dos 141 adolescentes que tinham a possibilidade de receber visita na instituição, 11 deles tinham autorização para receber a visita das namoradas ou companheiras. O perfil destes adolescentes apresentou as seguintes informações: Ato infracional cometido: 5 atentaram contra a vida de terceiros (tentativa de homicídio, homicídio e latrocínio), 5 respondiam por roubo e 1 por tráfico de drogas. Do total, 5 adolescentes evadiram da instituição, interrompendo o cumprimento da medida aplicada e depois retornaram para cumprir o restante da medida; a idade dos adolescentes varia dos 15 anos aos 20 anos, sendo que a maioria deles (7) tinha entre 16 e 17 anos.

No que se refere às namoradas e companheiras, observamos que elas possuíam idade superior a dos adolescentes (7 com idade superior a 18 anos), assim como a escolaridade, já que 4 possuíam ensino médio completo e 7 dos adolescentes possuíam ensino fundamental incompleto. O tempo do acompanhamento das visitas aos respectivos adolescentes na instituição variou de três meses a três anos, sendo que 8 delas visitavam o namorado/companheiro semanalmente. As que iam à instituição quinzenalmente ou mensalmente estavam com problemas de saúde ou estavam de resguardo após o parto.

Geralmente, a definição do tipo de relacionamento é informada pelos próprios adolescentes assim que iniciam o cumprimento da medida socioeducativa. É considerada namorada aquela que não convive maritalmente com o adolescente e companheira aquela que, em período anterior à aplicação da medida, convive maritalmente. Sendo assim, 7 adolescentes afirmaram que conviviam maritalmente e 4 expressaram serem apenas namorados.

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adolescentes tinham sido desvinculados da instituição por finalizarem o cumprimento da medida socioeducativa, um estava cumprindo sentença em instituição para adultos, alguns haviam sido transferidos para outras instituições que executam a mesma medida; já outros, receberam progressão de medida socioeducativa, estando, então, em casas de semi-liberdade ou vinculados a instituições que executam a medida socioeducativa de liberdade assistida. Dessa forma, apenas uma namorada poderia participar da pesquisa, sendo necessário um novo levantamento.

No novo levantamento, observamos que dos 198 adolescentes que poderiam receber a visita das namoradas ou companheiras, apenas 8 adolescentes tinham tal autorização, sendo que 4 delas não estavam acompanhando o adolescente por estarem com problemas de saúde ou em período gestacional avançado, impossibilitando a visita, já que elas não aceitaram a participação na pesquisa. Então, restaram apenas quatro possíveis participantes. Com uma delas, foram agendados cinco horários, em dias diferentes para uma entrevista, mas ela não compareceu em nenhum e depois não atendeu mais aos telefonemas; outra permitiu que a entrevista fosse agendada, mas minutos antes de encontrá-la ela ligou informando que o namorado havia evadido durante uma saída de aniversário e, por ter cometido um delito e ter atingido a maioridade, ele foi encaminhado à Papuda, presídio para adultos. Assim, restaram duas companheiras que aceitaram participar dessa pesquisa.

4.3 - Participantes da pesquisa:

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companheiras e nem com suas famílias. Optamos, então, por compreender o relacionamento amoroso a partir da fala do casal. Diante disse, o objetivo inicial da pesquisa foi reestruturado e tivemos como participantes dois casais constituídos por adolescentes em conflito com a Lei e suas companheiras. Os nomes utilizados nesse trabalho são fictícios para preservar as suas identidades.

O primeiro casal é formado por Vilma e Fred. Vilma tem 22 anos, estudou até a 8ª série, trabalhava como manicure, mas atualmente cuida de uma sobrinha na própria residência. Fred tem 17 anos, cursa a 6ª série do ensino fundamental e, antes da aplicação da medida socioeducativa, não trabalhava. Ele possui quatro passagens infracionais: dano ao patrimônio, duas por roubo e um homicídio, que culminou na aplicação da medida socioeducativa. O casal tem um filho, Miguel, de sete meses.

O segundo casal é formado por Amélia e Romeu. Amélia tem 21 anos, terminou o segundo grau. Atualmente não trabalha pois está grávida do segundo filho, o primeiro do casal. Romeu tem a mesma idade, cursa a 8ª série do ensino fundamental. Ele tem duas passagens por homicídio.

4.4 Instrumentos utilizados:

Para a coleta de dados, foram utilizados os seguintes instrumentos:

a) Entrevista semi-estruturada: A entrevista semi-estruturada se desenvolve a partir de um esquema básico, permitindo ao pesquisador adaptações necessárias, tornando sua aplicação mais flexível que os outros modelos de entrevista (LUDKE, 1996). Segundo González-Rey (2005), esse tipo de instrumento permite contemplar, de forma mais rica, uma relação entre entrevistador e entrevistado. O autor acrescenta que o conteúdo da fala permite desvelar as características do processo que se está pesquisando.

b) Genograma: Trata-se de “um mapa que oferece uma imagem gráfica da

estrutura familiar ao longo das várias gerações, esquematiza as várias etapas do

ciclo de vida familiar, além dos movimentos emocionais a ele associados” (Miermont

et al., 1994).

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emocionais de transição e as mudanças de segunda ordem no status familiar necessárias para prosseguir no desenvolvimento (CARTER; MCGOLDRICK, 1995). Será feita uma adaptação da proposta elaborada por Penso (2003). Nesse estudo, o genograma e o ciclo de vida familiar ajudarão na compreensão das relações afetivas, bem como a visualização da estrutura familiar e aspectos transgeracionais.

4.5 - Procedimentos para coleta de dados:

Após o levantamento dos adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação estrita e que têm namoradas/companheiras que os acompanham na instituição, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas individualmente, com cada membro do casal, na própria instituição executora de tal medida.

Para cada casal, foi realizada uma entrevista com duração que variaram entre uma hora e meia e três horas e meia com cada um dos componentes do par amoroso.

O contato com as companheiras foi realizado pela própria equipe técnica do local. Com os adolescentes, foram disponibilizados, pelo técnico responsável, os horários em que os mesmos não tinham atividades e foi realizada sem agendamento prévio.

As entrevistas com as companheiras foram realizadas nos dias 18/03/09 e 23/03/09 e com os adolescentes nos dias 08/04/09 e 15/04/09. Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas de forma literal.

4.6 - Análise dos dados

Foi utilizada, para a análise e interpretação das informações, a proposta de González-Rey (2005) que, na perspectiva interpretativa e construtivista, pressupõe o conhecimento enquanto uma produção e não uma assimilação linear da realidade. A proposta desse trabalho é fazer uma análise detalhada do material adquirido na pesquisa com o objetivo de levantar indicadores, para então, construir as Zonas de Sentido.

(29)
(30)

5 APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS

5.1 Vilma e Fred: na pré-história das relações amorosas

5.1.1 – A história do casal

A história desse casal é o que podemos dizer “duas versões para o mesmo

fato”. Cada um conta a história à sua maneira, nem mesmo o tempo de

relacionamento é o mesmo para cada membro.

O casal começou a se relacionar em uma festa realizada no local em que moram. Antes disso, eles se conheciam apenas de vista, mas não tinham trocado nenhuma palavra. Segundo ele, não houve uma seleção para poder “ficar” com ela,

apenas deu vontade. Ela afirma que ficou com Fred para se desvencilhar de um

outro rapaz que estava tentando “ficar” com ela durante toda a festa, mas a

aparência física dele não a agradava. Quando ela olhou Fred, percebeu que ele tinha um lindo sorriso e pediu para que eles ficassem juntos aquela noite e ele aceitou.

Segundo Vilma, o casal “ficou” durante um ano para se conhecer e depois iniciaram o namoro. Para ela o relacionamento ficou sério depois que ele passou a buscá-la e levá-la para casa dela e preocupar-se com os locais para onde ela saía sem sua companhia e, também, quando ele passou a cobrar seus horários de saída e chegada em casa.

Fred afirma que o namoro se iniciou depois de uma semana que eles estavam se encontrando. No início, ele disse que ficava com outras moças, pois não tinha se apaixonado por Vilma, apenas tinha gostado do jeito dela. O relacionamento, para ele, dura há dois anos, sendo que há um ano e alguns meses eles estão casados (morando juntos). Ela afirma que estão juntos há três anos, sendo que durante um ano ficaram apenas se conhecendo. Depois disso, ficaram alguns meses namorando e estão há quase dois anos juntos (morando na mesma casa).

Após o início do namoro, Fred contou a Vilma que era “foragido” da polícia e

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Vilma é diferente. Segundo ela, após saber que o namorado era foragido, o convenceu a mudar de cidade para evitar que ele se envolvesse em outras infrações. Ele aceitou a proposta dela e foram morar em Águas Lindas em uma casa desalugada da mãe de Fred.

A rotina de festas e diversão do casal se manteve. Porém, durante uma festa em Águas Lindas, Fred se envolveu em uma confusão e levou um tiro na coxa. Ele afirma que não era o momento dele se entregar para a polícia e que, por isso, tentou dar um nome falso para ser liberado, mas o plano não funcionou. Vilma, ao contrário, afirma que incentivou o companheiro a se entregar e que ele concordou por querer pagar tudo o que deve à Justiça e, assim, ter uma vida mais tranquila.

No período em que Fred aguardava a sentença do juiz em uma instituição provisória que atende menores em cumprimento de medida socioeducativa, Vilma descobriu que estava grávida. O filho do casal tem, hoje, sete meses de idade. Ela acompanha Fred há um ano e sete meses. Ele já tem autorização judicial para sair a cada quinze dias da instituição para ficar o final de semana em casa.

5.1.2 O contexto familiar de Vilma

Vilma tem 22 anos, é a terceira filha de um total de quatro que a mãe dela teve. Ela tem um filho, cuida de uma sobrinha e, ocasionalmente, trabalha como manicure na própria residência. A genitora, a Sr.ª Geralda, 47 anos, teve três filhos no primeiro casamento: Gustavo tem 32 anos, é casado e pai de cinco filhos; Sophia tem 24 anos, é solteira, vendedora em uma empresa de turismos e mãe de uma filha de 3 anos e Vilma. Luisa tem 16 anos, é estudante e fruto do segundo relacionamento da Sr.ª Geralda.

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Segundo Vilma, o casamento atual da mãe não “anda” muito bem, pois o padrasto trabalha durante toda a semana em uma residência e fica em casa apenas nos finais de semana e sempre se queixa de estar cansado, sobrecarregando a Sr.ª Geralda.

O sustento da família vem do trabalho da genitora como copeira em uma empresa particular no Plano Piloto e do trabalho da irmã em uma empresa de turismo. Vilma recebe ajuda financeira para poder cuidar da filha de sua irmã. Além disso, recebe algum dinheiro fazendo unhas de pessoas da vizinhança na própria residência. Contudo, não ajuda nos gastos da família, pois alega que tem muitos gastos com o filho pequeno.

O irmão de Vilma, Gustavo, tem um ótimo relacionamento com a família. Passa alguns finais de semana e datas festivas na residência da genitora, mas sente dificuldades em estar sempre presente, já que a família dele é numerosa e os gastos se tornam maiores.

Sofia passou pela mesma situação que a mãe, pois o relacionamento com o namorado estava indo bem até que ele descobriu a sua gravidez e foi embora.

(33)

Genograma - Vilma

Gustavo

32 Sophia 24 Vilma

22

7m 3

Luisa 16 Geralda

47

(34)

5.1.3 O contexto familiar de Fred

A família de Fred é formada pela genitora, Sr.ª Matilde, 45 anos; o padrasto, Sr. Orlando e os irmãos Felipe, 19 anos e Mateus, 10 anos. Não há muitos dados sobre a família de Fred, pois o mesmo não se disponibilizou a falar. Sempre que era perguntado a ele algo sobre sua família, afirmava que a pesquisadora estava querendo saber demais.

A Sr.ª Matilde teve os dois filhos mais velhos com o primeiro companheiro, Sr. Joaquim. Fred não soube informar o motivo da separação, mas afirma que depois disso, teve poucas notícias do pai. Há dois anos, o Sr. Joaquim reapareceu para a família, mas, segundo Fred, voltou querendo mandar nele e na mãe. A forma de agir do Sr. Joaquim fez com que Fred se desentendesse com o pai e lhe desse um tiro. Fred afirma que a intenção não era matar o pai, mas apenas assustá-lo para que ele, pai, visse que não tinha autoridade junto à família. Depois desse episódio, Fred não teve mais notícias dele.

O atual padrasto é visto por Fred como seu verdadeiro pai. Ele ajuda a mãe e está sempre por perto. Ele não sabe se os irmãos sentem a mesma coisa.

Os irmãos de Fred moram, atualmente, com a avó paterna. Fred afirma que seu relacionamento com a avó é muito bom, mas prefere não ir visitá-la com receio de se encontrar com o pai.

Fred não sabe nada sobre o pai de Matheus, nem mesmo o nome, e enfatiza que ele não chegou a conviver com a família.

(35)

Genograma - Fred

Fred 17

1 Vilma

22

Matilde 45

Mateus 10

Felipe 19

(36)

5.2 Amélia e Romeu: a mulher de verdade e o machista romântico

5.2.1 A história do casal

Diferente do casal anterior, a história desse é convergente. Da mesma forma que Vilma e Fred, Amélia e Romeu se conheceram em uma festa. Na verdade, segundo ele, era apenas uma pequena confraternização entre os amigos. Eles se conheciam apenas de vista. Mas como a irmã de Amélia era amiga de Romeu, ela serviu de cupido entre o casal. Porém, o encontro durou apenas essa noite, pois Romeu reatou com a ex-companheira.

Depois de muitas brigas e crises de ciúmes, ele terminou definitivamente esse relacionamento e, por lembrar sempre de Amélia, resolveu ligar para ela e a convidou para sair. Após algumas saídas, ele a pediu em namoro. Ela aceitou, porque gosta de namorar e não de “ficar”. Além disso, ela reconheceu algumas qualidades em Romeu que despertaram o seu interesse. Com Romeu o processo foi similar.

Amélia relata que, durante o relacionamento, Romeu disse que não havia atendido uma convocação para audiência na Vara da Infância e da Juventude e que, por isso, havia o risco dele ser preso. Apesar disso, informou à namorada que, de acordo com a delegacia de sua cidade, não constava nenhum débito dele com a justiça e, por isso, ficou mais tranquilo.

Romeu trabalhava como auxiliar de mecânico e, em um certo, dia a polícia foi ao seu local de trabalho e o levou para a delegacia, de onde ele foi encaminhado para uma instituição que executa a medida de internação provisória e, posteriormente, ele foi levado para a instituição em que está no momento.

Amélia não sabe qual o ato infracional cometido pelo namorado, mas o vista desde o início do cumprimento da medida, há cinco meses.

(37)

5.2.2 O contexto familiar de Amélia

Amélia é décima quarta de dezoito filhos. Seus pais se conheceram há 45 anos, quando a genitora, Sr.ª Rosa, tinha treze anos e o pai, Sr. Arnaldo, 17 anos. Depois que ele atingiu a maioridade pediu a Sr.ª Rosa em casamento, mas como ela ainda era muito nova, eles alteraram os documentos para que pudessem se casar.

Os genitores de Amélia ficaram casados por quase quarenta anos e estão separados há, aproximadamente, cinco anos. Segundo Amélia, o pai bebia muito e agredia a mãe fisicamente. Ela relata que a mãe perdoou o pai diversas vezes, mas os filhos mais velhos não permitiram mais que eles convivessem mais juntos. Então, o Sr. Arnaldo retornou para a cidade natal, Bahia. Com a separação, o contato com o pai diminuiu consideravelmente e hoje é restrito.

A Sr.ª Rosa trabalhou por muito tempo como diarista. No entanto, depois que o filho mais novo nasceu com paralisia nos membros inferiores, ela deixou o trabalho e ficou por conta dos cuidados com do mesmo.

A família mora em um lote fracionado em três domicílios. A genitora mora com o filho que tem a paralisia e sobrevivem da aposentadoria dele. Quando o marido ainda estava em casa, dividia as despesas com ela, pois trabalhava como pedreiro. Atualmente, o Sr. Arnaldo está aposentado e não contribui mais com as despesas.

Amélia mora com o filho mais velho, do primeiro relacionamento, com mais duas irmãs e sete sobrinhos. Uma das irmãs trabalha em residências como doméstica e outra em uma pastelaria. As duas ajudam Amélia financeiramente para ela possa cuidar dos filhos delas. Na última fração moram mais sete irmãos. Apenas dois trabalham para sustentar a casa. Os demais irmãos (sete) são casados e moram em outros locais com os(as) companheiros(as) e com os filhos.

(38)

Genograma - Amélia

Arnaldo 62

33

29

27

Amélia 21

Romeu 20

5m

20 19 19

38a

(39)

5.2.3 O contexto familiar de Romeu

Assim como a família de Amélia, a de Romeu também é extensa. A genitora, Sr.ª Sarah, 59 anos, teve no total oito filhos com quatro companheiros diferentes. Romeu não consegue fornecer informações sobre os ex-companheiros da sua mãe e não sabe precisar o tempo em que os seus pais (último relacionamento da mãe) conviveram juntos, mas afirma que foram mais de vinte anos.

De acordo com Romeu, o relacionamento dos pais, Sr.ª Sarah e Sr. Pedro, foi

“esfriando”, até que os dois decidiram viver como amigos sob o mesmo teto. A Sr.ª Sarah continuou cuidando do Sr. Pedro até a morte dele, que ocorreu em razão de um ataque cardíaco em 2005, aos 73 anos de idade. A Sr.ª Sarah pensou em arrumar outro companheiro, mas os filhos não a autorizaram por temerem um companheiro poderia maltratá-la. Além disso, como afirma Romeu, os filhos ocupam a mãe com muitos problemas e, assim, não há tempo para ela dispensar em relacionamento amoroso.

No que diz respeito ao relacionamento com o pai, Romeu relata que, apesar do longo convívio, este não era satisfatório. Ele acredita que, pelo fato do pai ter uma idade avançada, ele era muito ignorante e se mantinha distante sem manter nenhum diálogo. Contudo, afirma que o pai tratava os filhos dos primeiros relacionamentos da esposa como sendo seus, sem fazer nenhuma distinção.

Em relação aos relacionamentos familiares, não fica claro com quem Romeu tem maior afinidade. Ele fala dos irmãos da mesma maneira e afirma que não compartilha com a família seus problemas pessoais.

Dos oito irmãos, apenas um reside com a Sr.ª Sarah, o filho mais velho de 35 anos que é solteiro e não tem filhos. Ele é responsável pelos cuidados da mãe e pelos afazeres domésticos (limpa a casa, cozinha, cuida das roupas). A Sr.ª Sarah é funcionária pública e trabalha como cozinheira. É ela quem é responsável pelo sustento da família. Cinco dos filhos são casados e todos possuem filhos, ao todo quinze.

(40)
(41)

Genograma - Romeu

Pedro 73

Romeu 20

Amélia 21

5m

23 27

Sarah 59

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