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APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS EMPÍRICOS DA PESQUISA

Considera-se que a recepção de um fato ou acontecimento, a ponto de tornar-se relevante em algum grau em nosso “mapa cognitivo”, se dá a partir do instante em que o contatamos de alguma maneira, presencial ou não. Deste momento por diante, numerosos outros eventos ocorrem a todo favor em vários outros espaços, países, continentes, não recebendo demais fatos/ eventos igual importância ou sequer ganham-na por parte de cada um de nós (MCCOMBS, 2004).

São os meios de comunicação, por assim dizer, o elo de aproximação de muitos dos fatos do mundo a diferentes indivíduos, ainda que estes apresentem limitada capacidade de intelecção de todos os fatos existentes, fazendo com que discussões de temas diferentes façam parte do dia a dia sem que, sequer, isso seja claro a cada ser. Dessa forma, aproveitam-se os meios de comunicação em massa do espaço intangível pela mente humana de modo a aproximar pessoas e fatos que ocorrem em quaisquer lugares do mundo. Assim, verbi gratia, uma pessoa de país “X” pode discutir assunto de país “Y”, contudo, sem precisar estar em qualquer um dos dois países (LIPPMAN, 2008).

Evidente a não possiblidade de ater-nos a todos os fatos do mundo, razão pela qual a análise em Agenda Setting requer aproximação com eventos em número reduzido, sendo a proposta do então estudo traçado que contará com dados que hão de subvencionar a discussão ao que fora epigrafado.

Todos os dados dar-se-ão com a compilação dos resultados da pesquisa “liberdade de imprensa versus direitos da população presa” (base da pesquisa Google Forms) que fez uso do instrumento de pesquisa questionário, o qual abordou 07 (sete) questões que reclamaram do público pesquisado (servidores do Sistema Prisional e Penitenciário do Tocantins, profissionais do direito – advogados, defensores públicos, procuradores federais de justiça - e profissionais da comunicação – jornalistas) o posicionamento quanto a temas considerados orbitantes à teoriza-ção da Agenda Setting, todos oportunamente apresentados e debatidos ao longo desta partiteoriza-ção. Ao todo, obteve-se 57 (cinquenta e sete) resultados que propiciam um tratamento científico confiável. Vale dizer que as respostas ao formulário exigiram o uso obrigatório de um endereço de e-mail válido e/ou ativo para registro oficial, o que contribui à confiabilidade dos resultados. Demais, todas as respostas iniciadas reclamaram posicionamento a todos os itens, os quais possuíram como alternativa SIM ou NÃO como posicionamentos admitidos e definitivos, à exceção dos itens 01 e 02 de um total de 07 que admitiram as alternativas DESCONHEÇO e TALVEZ, respectivamente, ante particularidades confluentes ao tratamento final dos dados.

À apresentação das questões abordadas no formulário e digressões científicas sobre os objetos pesquisados.

Item 01 – “CONSIDERA AS NOTÍCIAS DO JORNAL DO TOCANTINS CONFIÁ-VEIS? “ Alternativas: SIM, NÃO e DESCONHEÇO.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 47,4% foram registradas com SIM, 36,8% registradas com NÃO e 15,8% registradas com DESCONHEÇO.

Figura 01 – resultado ao item 01

Os resultados expressam considerável não segurança ou credibilidade quando da atuação jornalística do referido Jornal, a ver, 47,4% afirmam não enxergar confiáveis as notícias do meio de comunicação sob discussão, o que esbarra com a possível falta do meio em robustecer valor--notícia e/ou agendamento que alinhe o interesse público sobre a temática.

Item 02 – “VOCÊ SE CONSIDERA INFLUENCIADO (A) PELA MÍDIA? ” Alterna-tivas: SIM, NÃO, TALVEZ.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 71,9% foram registradas com NÃO, 22,8% registradas com TALVEZ e 5,3% registradas com SIM.

Figura 02 – resultado ao item 02

Já quando abordados os pesquisados sobre a influência que consideram sofrer dos mass media, impressionantemente 71,9% dos sujeitos pesquisados consideram-se não influenciáveis. A afirmação majoritária não se assenta nos postulados da Teoria do Agendamento, pois, conforme estudos de Lippman (2008), os meios de comunicação têm importante e central papel na atribuição de valores ou estímulos para a criação de imagens da realidade. O próprio pesqui-sador considera não ser os mass media os únicos influenciadores, contudo, são os mais destaca-dos.

MCCOMBS (2004) afirma que a incumbência do agendamento se dá com o enfatizar de temas, notícias, que acabarão se tornando relevantes ao passar do tempo pelo público receptor.

Item 03 – “VOCÊ JÁ LEU NOTÍCIAS DO JORNAL DO TOCANTINS SOBRE CRISES NO SISTEMA PRISIONAL? ” Alternativas: SIM ou NÃO.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 64,9% foram registradas com SIM e 35,1% registradas com NÃO.

Para a situação, 64,9% (logo, mais de 50% dos resultados) do público avaliado diz já ter lido ou conhecido alguma notícia do Jornal envolvendo crise no sistema prisional. O dado evidencia que as notícias de crise no sistema prisional podem mapear mentes, a ver, número majoritário se diz lembrar, o que confirma o efeito agendamento.

Ao se confirmar o agendamento de notícias de crise prisionais por parte do veículo sob estudo, o dado cobra maior preocupação com a maneira de construção das narrativas que envolvem o tema central ante a delicadeza do ambiente carcerário e limites talvez não conhe-cidos de atuação jornalística em se tratando, especialmente, dos direitos personalíssimos da pessoa presa.

De acordo com o modelo de McCombs (2004), pode-se enquadrar a preocupação do Jornal ao tema ainda na primeira fase do agendamento, qual seja, a fase em que se exerce a capacidade, pelo meio de comunicação, de agendar o assunto que considera relevante, formando, assim, a agenda midiática que resultará na consideração do que é importante na agenda pública. Contudo, frisa-se, o agendamento deve se dirigir por meio dos valores notícia e da atuação ética, quando se respeita limites à atuação.

Item 04 – “A PESSOA PRESA TAMBÉM GOZA DOS DIREITOS PERSONALÍSSI-MOS (IMAGEM, PRIVACIDADE, INTIMIDADE)? ” Alternativas: SIM ou NÃO.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 71,9% foram registradas com SIM e 28,1% registradas com NÃO.

Figura 04 – resultado ao item 04

Já que se discute o ambiente carcerário, a relevância deve se dá, para o momento, sobre os indivíduos lá mantidos, fala-se da figura do preso que possui, sim, direitos personalíssimos que devem ser respeitados, a citar, direito à imagem, à privacidade e à intimidade.

No mínimo, o Estado não garante estrutura interna capaz de oferecer ao custodiado acesso a condições básicas de sobrevida, ar, iluminação e instalações sanitárias (MIRABETE, 1996). Logo, é difícil imaginar que os direitos personalíssimos sejam respeitados, frente à ineficiência em garantia ao mínimo existencial.

Citados direitos precisam ser considerados na formação da narrativa jornalística sob a possiblidade de incursão em violação de limites que a ética jornalística já adverte, pois, como já observado, 71,9% do público afirma conhecer de tais direitos.

Item 05 – “VOCÊ SABE O QUE É LLIBERADE DE IMPRENSA? ” Alternativas: SIM ou NÃO.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 93% foram registradas com SIM e 07% registradas com NÃO.

Figura 05 – resultado ao item 05

Em apenso ao item 04, aqui se observa que 93% dos resultados dizem que as pessoas pesquisadas conhecem o que se tem por liberdade de imprensa, principal direito e garantia à atuação jornalística. Logo, é preciso que os mass media se atenham às nuances de referidos bens de atuação.

Item 06 – “CONSIDERA ABUSIVA A FORMA COMO A MÍDIA REPRESENTA A POPULAÇÃO PRESA? ” Alternativas: SIM ou NÃO.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 42,1% foram registradas com SIM e 57,9% registradas com NÃO.

Figura 06 – resultado ao item 06

Em fluxo, observa-se que a maioria das pessoas pesquisadas não consideram que a mídia reporta a pessoa presa de forma abusiva, o que, na visão dos pesquisados, pode atestar ainda que não com precisão, que os direitos da pessoa presa e a atuação do Jornal do Tocantins em cobrir crises no sistema prisional não se mostram faltosos e/ou abusivos.

Contudo, não partilha de idêntica opinião a outra parcela dos pesquisados, qual seja, 42,1% (dado que deve ser considerado, a ver, perde em 15,8% de ponto da majoritária opinião).

Item 07 – “CONSIDERA QUE A LIBERDADE DE IMPRENSA É UM DIREITO DOS JORNAIS BRASILEIROS, PODENDO ESTES VEÍCULOS DE NOTÍCIAS, EM NOME DA LIBERDADE DE IMPRENSA, TRATAR EM SUAS NARRATIVAS DA IMAGEM, DA PRIVACIDADE E DA INTIMIDADE DA PESSOA PRESA? ” Alternativas: SIM ou NÃO.

Das 57 (cinquenta e sete) respostas registradas, 38,6% foram registradas com SIM e 61,4% registradas com NÃO.

Figura 07 – resultado ao item 07

O último item reafirma os objetos trabalhados nos questionamentos dos itens anteriores, pois, em conclusão, põe em linha de embate a atuação jornalística (garantida pela liberdade de imprensa) e os direitos das pessoas presas, precisamente os direitos personalíssimos de imagem, privacidade e intimidade.

Nesse momento, observa-se que maioria das pessoas consideram que os mass media não podem fazer uso da imagem, da privacidade e da intimidade das pessoas presas. Referido dado confirma o grau de consciência do maior número de pesquisados quanto a alguns limites à atuação jornalística em ambiente prisional.

CONCLUSÃO

O curso de trilha discursiva adotado nesse trabalho voltou-se a tratar de delicado cenário, o ambiente carcerário no Tocantins e a atuação da mídia tocantinense, especialmente, do Jornal do Tocantins, com vistas a confirmar os efeitos da Teoria do Agendamento ou Agenda Setting na formação da opinião pública ou da agenda pública das pessoas pesquisadas, vale lembrar, profissionais do Sistema Prisional, do Jornalismo, da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, da Defensoria Pública do Tocantins e da Procuradoria Federal de Justiça no Tocantins.

O estudo buscou iniciar uma discussão que se vê pouco debatida no âmbito das Teorias da Comunicação, especialmente, da Agenda Setting em entrelaçamento ao Direito a fim de se observar como os mass media atuam no ambiente carcerário em consideração a direitos dos presos, ambiente de delicada realidade que espelha brutal condição humana largamente debatida e que, para além de condições mínimas de vida faltantes, se vê, muitas das vezes, sendo invadido e violado de qualquer forma e modo pelo mundo externo aos muros da prisão.

Aqui, se discutiu de forma breve e sutil a atuação jornalística na formação de narrativas que hão de desaguar na formação da agenda pública da sociedade, o que pode contribuir ou não à mantença da dura realidade humana e de negação de direitos que é o cárcere, situação ampla-mente debatida e conhecida no meio social, político, acadêmico e científico do Jornalismo e do Direito.

As conclusões alcançadas com força em dados empíricos levantados ainda que tratam em suficiência da matéria ou tema central, requer a contribuição de novos estudos que venham a somar, possibilitando entender e compreender de forma mais ampliada os efeitos das teorizações de Agenda Setting em ambiente carcerário e na formação da opinião pública.

Em desfecho, os dados apresentados e discutidos evidenciaram que a sociedade pesqui-sada se mostra consciente do que se tem por liberdade de imprensa e por direitos personalíssi-mos sobre a população presa, o que requer uma atuação jornalística mais atenta a eleições de valores-notícia por parte do Jornal do Tocantins quando da formação da agenda midiática e pública, considerando os estudos do Agendamento sem ignorar outros setores sociais que não serão ignorados pelo corpo social, a exemplo, o Direito no que toca aos direitos personalíssimos sobrepujados ao ambiente carcerário e a pessoa do preso.

REFERÊNCIAS

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