• Nenhum resultado encontrado

Capítulo IV – As vozes das crianças: Abordagem de Mosaico

4. Planeamento e implementação

4.2. Fase 2 – Ponderação e discussão

4.2.2. Apresentação e discussão dos dados

Neste seguimento, começámos por analisar as entrevistas semiestruturadas realizadas às crianças. Desta forma, salientámos cinco categorias como a “Estrutura espacial do jardim de infância”, que tem como subcategorias o “espaço interior” (espaços da sala de atividades e materiais didáticos e lúdicos), “o espaço exterior” (multiestrutura: os baloiços, o escorrega, as bolas e os triciclos) e “alterações/acréscimos ao espaço”.

Quando questionadas sobre a importância de frequentarem o jardim de infância, houve uma elevada incidência de respostas direcionadas para os motivos lúdicos (o brincar), embora também se tivesse constatado outro tipo de motivos: o gosto por aprender, trabalhar e adquirir novos conhecimentos (descobrir coisas novas, fazer projetos, aprender a ler, a escrever e a fazer números).

Em relação à subcategoria “espaço exterior”, evidenciou-se o Quintal: “Gosto muito do Quintal, porque posso andar de triciclo e brincar aos polícias e ladrões e ao vendedor de gelados”; “Gosto do Quintal, porque tem lá um baloiço que anda muito alto”. Na subcategoria “espaço interior”, distinguiram-se a Área do Faz-de-conta: “Gosto mais da Área do Faz-de-conta, porque gosto de fazer de conta que estou a cozinhar”; “Gosto mais da Área do Faz-de-conta […], porque posso imitar outras pessoas e os animais”; “mas também gosto da Área do Faz-de-conta, porque gosto de fazer de conta que estou a limpar a casa”; “Gosto mais do Faz-de-conta, porque gosto de lavar a loiça, cozinhar e cuidar dos bebés”; e a Área da Expressão Plástica: “Gosto mais da Área da Expressão Plástica, porque gosto de fazer desenhos, construções, recortes e pinturas”; “porque gosto de fazer desenhos da minha família”; “gosto de desenhar dinossauros e outros animais”. Assim, constatámos que as áreas acima referidas foram consideradas as preferidas das crianças. Inerente à subcategoria “alterações/acréscimos ao espaço”, averiguámos que as crianças não faziam grandes alterações, apenas alguns acréscimos como, por exemplo, mais baloiços, mais triciclos, mais um escorrega, uma piscina e um túnel no Quintal, mais bonecos na Área do Faz-de-conta, o que foi comtemplado nas seguintes respostas: “No Quintal, punha mais baloiços”; “No Quintal, punha mais um escorrega”; “No Quintal, gostava que houvesse mais triciclos para todos os meninos andarem sem terem de estar à

75 espera”; “Gostava que tivéssemos uma piscina no Quintal para podermos nadar quando está calor”; “No Quintal, punha um túnel para passarmos por dentro dele”; “Gostava de ter mais um bebé na Área do Faz-de-conta”; “Gostava que a Área do Faz-de-conta fosse maior e tivesse mais bonecos para brincarmos”; “Gostava que houvesse animais a fingir no Faz-de-conta para cuidar deles” (cf. Apêndice XXVI, tabela 11).

Relativamente à categoria das “Atividades”, destacámos as subcategorias “de preferência”, nomeadamente brincar, desenvolver projetos e realizar visitas de estudo, como o seguinte exemplo comprova: “Gosto de brincar no Quintal, brincar com as formas geométricas e fazer construções, também gosto dos passeios que fazemos de vez em quando e gosto de trabalhar nos projetos”. Mata (2008) corrobora que para a concretização de determinada atividade é necessário que haja satisfação, a qual se encontra aliada à motivação intrínseca das crianças. Neste sentido, a satisfação é indissociável da componente lúdica da atividade, porque “a brincadeira e o jogo são uma das vias fundamentais de aprendizagem na infância” (p. 47); e as “de desagrado”, em que as crianças responderam quase unanimemente que “Gosto de fazer tudo”, ainda que tenhamos registado algumas evidências em que responderam que não gostavam de escrever e fazer números, como podemos aferir nas seguintes respostas: “Não gosto de escrever letras” e “Não gosto muito de fazer números”. Segundo a mesma autora, a competência é uma componente positiva da aprendizagem, pois “todos nós procuramos envolver-nos em tarefas em que nos sentimos competentes e evitamos aquelas onde esse sentimento não é muito elevado” (Mata, 2008, p. 48). Talvez, por esse motivo, as crianças tenham referido que se identificavam com determinadas atividades em detrimento de outras, isto é, elas, ao longo da sua aprendizagem, devem ser constantemente estimuladas e elogiadas para atingirem a progressão desejada nessa caminhada. O facto de não gostarem de escrever e/ou fazer números é um princípio indicador e revelador de que estas ainda se encontram na fase de desenvolvimento dessas competências (fase pré-operatória). Por isso, manifestam algum desagrado face a estas atividades (cf. Apêndice XXVI, tabela 12).

A categoria “Estrutura temporal/Rotinas” pretende responder à subcategoria “momentos privilegiados”. Dentro desta subcategoria, averiguámos que as crianças

76

privilegiavam as “Visitas, Saídas e Surpresas” e “Atividades e Projetos” expressos na Agenda Semanal, bem como os momentos de trabalho autónomo, em que se deslocavam e circulavam livremente nas diferentes áreas do seu interesse. Verificámos ainda uma elevada incidência de respostas inerentes aos momentos de tempo livre, sobretudo aqueles em que brincavam no espaço exterior (Quintal) (cf. Apêndice XXVI, tabela 13).

A categoria “Relações interpessoais” divide-se em duas subcategorias como as “relações entre pares” e as “relações com os adultos”. Nas “relações entre pares”, notámos que as crianças gostavam de desenvolver laços com os colegas, constatando-se que aquelas, quando se encontravam a desempenhar determinada atividade, demonstravam uma certa empatia com a presença destes. Quando lhes foi perguntado “Com quem mais gostas de estar no jardim de infância?”, a maioria das crianças respondeu que gostava de estar com os colegas ou então nomeava aqueles com quem estabelecia um vínculo mais próximo. A título de exemplo, saliento as seguintes respostas: “Com os meus amigos”; “Na Área da Matemática com o J.C. a brincar com as formas geométricas”; “Gosto de estar no Faz-de-conta com a I.B., o T.O. e o M.N.”. No que diz respeito às “relações com os adultos”, aferimos que as crianças estabeleciam uma relação afetiva e próxima com a educadora cooperante, a assistente operacional e até mesmo connosco, o que se pode constatar nas seguintes respostas: “Gosto da R. [educadora cooperante], da V. [assistente operacional] e das estagiárias”; “Gosto de estar com todas as pessoas” (cf. Apêndice XXVI, tabela 14).

As respostas aos questionários realizados aos encarregados de educação revelaram concordância com os espaços/áreas preferidos das crianças : “Do pátio [Quintal], porque gosta de ir para o baloiço”; “Do recreio, porque gosta muito de brincar com os seus colegas”; “O espaço que o meu educando mais gosta é o Faz-de- conta, porque pode criar personagens e histórias”; “O espaço que a minha filha mais gosta é o Faz-de-conta, porque neste espaço pode brincar com os seus amigos e criar novas personagens”. Analogamente à subcategoria “alterações/acréscimos ao espaço”, o espaço exterior seria a zona indicada para proceder a eventuais mudanças: “os aparelhos do terraço estão um pouco degradados pelo tempo e atualmente existem outros que poderiam ser adicionados” (cf. Apêndice XXVI, tabela 15).

77 Em relação ao questionário efetuado à educadora cooperante, apurámos que esta sentia que as crianças estavam integradas e gostavam de estar no jardim de infância. Neste contexto, evidenciou que as crianças gostavam de todos os espaços, embora houvesse um espaço mais procurado e um menos procurado: “De qualquer forma, penso que o espaço mais procurado é o Faz-de-conta e o menos procurado é a Área das Ciências”. Posto isto, no que concerne à subcategoria “alteração/acréscimo ao espaço”, a educadora cooperante manifestou que gostaria de ter uma sala maior e mais prateleiras e móveis, ou seja, “precisava de ser tudo modernizado, o interior e o exterior”. Quanto à delimitação do espaço na sala de atividades, afirmou que “com o modelo do MEM, as crianças entendem facilmente a organização da sala, têm autonomia para fazer o que escolhem e efetuar aprendizagens significativas nas áreas”. Segundo o seu testemunho, as áreas e a sua localização eram delimitadas com o grupo, o qual circulava livremente e autonomamente nas mesmas.

Em relação aos desenhos, as crianças focaram, essencialmente, o espaço exterior (Quintal), a Área do Faz-de-conta e a Área da Expressão Plástica.

Relativamente às fotografias, as crianças fotografaram todos os espaços e, inclusive, os colegas. Logo, obtivemos um considerável número de registos do Quintal, da Área do Faz-de-conta e da Área da Expressão Plástica, respetivas multiestruturas e equipamentos. Fotografaram também os refeitórios (dos adultos e das crianças), os animais, o computador, “o dinossauro” (relativo a um dos projetos realizados no ano letivo anterior) e o livro A casa da Mosca Fosca, inserido nas atividades do Dia do Pai.

78