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Capítulo IV – As vozes das crianças: Abordagem de Mosaico

4. Planeamento e implementação

4.1. Fase 1 – Recolha e seleção de informação:

Após a certificação de todas as questões éticas, pusemos em prática a recolha de dados. Esta fase do estudo corresponde à primeira do processo investigativo, onde se agrupam as perspetivas dos adultos e das crianças, através da recolha e seleção de informação obtida a partir dos diferentes métodos utilizados. Note-se que a informação recolhida é conduzida ou liderada pelas crianças.

Deste modo, conversámos com as crianças sobre o estudo que iria ser fomentado, para esclarecê-las acerca do processo investigativo e para saber se estariam interessadas em fazer parte do mesmo. A sua participação não era obrigatória, embora todas tenham cooperado. Iniciámos com uma conversa em grande grupo, na Área Central Polivalente, com a intenção de compreender as interpretações que as crianças faziam acerca dos espaços, dos interesses e das preferências.

26 Esta fase, sendo de caráter facultativo, não foi concretizada no estudo desenvolvido, devido a uma

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Para a recolha de dados, elaborámos entrevistas semiestruturadas às crianças, as quais determinaram a formulação de questões condutoras (cf. Apêndice XXVI, figura 151). Essas questões são abertas, centradas nas crianças e formuladas pelos adultos. Podemos definir entrevista semiestruturada como uma entrevista que se aproxima de um diálogo, sendo esta espontânea, ou seja, apoiada num guião de entrevista adaptável, em que o entrevistador tem um conjunto de questões condutoras, mas tem a liberdade de colocar outras questões que surjam no seu decorrer. Portanto, quando se realiza este tipo de entrevista, as vantagens principais são a flexibilidade e a adaptabilidade, pois esta pode ser adequada quer ao indivíduo, quer ao contexto envolvente. Assim, a entrevista semiestruturada permite recolher e reunir dados importantes e sistemáticos, gerando informação quantitativa e qualitativa.

Neste momento, tivemos em consideração o local onde iríamos efetuar as entrevistas, já que o ambiente é um fator determinante na desinibição das crianças. Neste sentido, realizámo-las em contextos informais como, por exemplo, em momentos oportunos, enquanto as crianças estavam a concretizar algumas atividades e/ou brincadeiras. Na verdade, as entrevistas fluíam de forma espontânea, não sendo encaradas pelas mesmas como uma imposição. Clark (2010) afirma que as entrevistas “can, for example be carried out outdoors, in an environment more familiar to the young children than a head teacher’s office (…) [or] carried out on the move so children can talk and play at the same time”27 (p. 34). Outro fator tido em conta foi a linguagem utilizada, visto que a forma como nos dirigíamos às crianças poderia influenciar as suas interpretações e respostas às questões colocadas. Assim sendo, tentámos utilizar uma linguagem acessível, clara e objetiva.

Devido à logística temporal, decidimos enviar um questionário escrito aos encarregados de educação e fornecemos outro à educadora cooperante, como meio de aceder a informações complementares que apoiassem o nosso estudo. Os questionários permitiram-nos conhecer de forma pormenorizada as perspetivas de

27 Tradução adaptada: as entrevistas podem ser realizadas num contexto informal, mais familiar para

as crianças, evitando contextos formais, por exemplo, o gabinete do educador, ou podem ser, ainda, realizadas num espaço exterior, em que estas brinquem e comuniquem ao mesmo tempo.

71 cada criança, a partir do modo como estas são percecionadas pelos adultos (cf. Apêndice XXVI, figuras 152 e 153).

Neste percurso, foi relevante escutar as crianças e o que elas nos tinham para contar acerca do jardim de infância e sobre as suas vivências nesse espaço. De facto, as informações que as crianças nos deram tornaram-se essenciais para conhecermos, de uma forma mais detalhada, as suas conceções. Para tal efeito, observámos os seus comportamentos, as suas interações e brincadeiras, na medida em que:

A observação tem sido largamente adoptada na investigação da infância e da educação e cuidados pré-escolares, sendo uma forma de compreender as necessidades e aspirações das crianças. Esta é uma forma simples de aproximação à utilização que as crianças fazem do espaço construído. (Bigode, 2013, p. 65)

Numa etapa posterior, pretendemos despertar o interesse das crianças face à exploração dos espaços e estimulá-las para nos facultarem informação pertinente sobre o jardim de infância, mediante o seu ponto de vista. Nessa ocasião, realizámos visitas guiadas, sendo fornecida uma máquina fotográfica digital às crianças, com o objetivo de estas fotografarem os espaços. No decorrer das visitas guiadas e à medida que fotografavam, procedíamos ao registo dos comentários, diálogos e observações que as crianças faziam. Refere-se que esta etapa foi desenvolvida a pares, dando oportunidade a cada criança de manusear a máquina fotográfica (cf. Apêndice XXVI, figuras de 154 a 167).

Terminadas as visitas guiadas, solicitámos às crianças que desenhassem os espaços que mais gostaram e os que menos gostaram do jardim de infância (cf. Apêndice XXVI, figura 168).

Na etapa seguinte da investigação, recorremos a mais um dos métodos da Abordagem de Mosaico, elaborando um mapa (Planta). Aqui, as crianças poderiam utilizar as fotografias capturadas nas visitas guiadas ou, então, produzir uma planta que ilustrasse os espaços do jardim de infância. No âmbito da Atividade Pontual “Mãos à Obra!”, esclarecemos o que era uma planta e as suas funções, instigando as crianças a desenharem a própria planta do jardim de infância. Foi-lhes dada a possibilidade de escolha de como queriam desenvolver este método e neste contexto,

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optaram por construir, a partir de desenhos, a planta do jardim de infância, em que todos tiveram uma participação ativa (cf. Apêndice XXVI, figura 169).

A manta mágica surgiu como uma atividade final, sendo usada como meio de reunir toda a informação recolhida, nomeadamente as fotografias das visitas guiadas, a planta do jardim de infância, os desenhos e registos dos diálogos das crianças. Portanto, juntámos as diferentes peças de informação, dialogámos e refletimos com o grupo. Neste momento, as crianças tiveram a oportunidade de rever as fotografias e os desenhos. Constatámos que esta fase foi crucial para a perceção e compreensão da informação reunida nos métodos utilizados, revelando as perspetivas das crianças. A manta mágica foi exposta à entrada da sala de atividades, garantindo que toda a comunidade educativa e o grupo pudessem aceder e observar o trabalho concretizado (cf. Apêndice XXVI, figuras 170 e 171).

4.2. Fase 2 – Ponderação e discussão