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PARTE I – MOMENTOS VIVENCIADOS EM CRECHE

Capítulo 3 – Dimensão investigativa

3.4. Apresentação e discussão dos resultados

Os dados dos comportamentos vinculativos suprarreferidos foram identificados, quantificados e organizados em quadros. Os Quadros 5, 6 e 7 revelam os dados relativos a cada criança em estudo para cada um dos comportamentos vinculativos em estudo, em cada um dos momentos de observação (vídeo 1, vídeo 2, vídeo 3, com a respetiva duração temporal), aquando da chegada da educadora à instituição (período da manhã).

Quadro 5. Criança F.: comportamentos vinculativos manifestados. Comportamentos vinculativos Vídeo 1

3’23’’ Vídeo 2 4’48’’ Vídeo 3 2’27’’ Total Sorrir 1 6 5 12 Seguir 2 4 11 17 Agarrar - 3 - 3 Chamar 0 1 - 1 Chorar - - - 0 Mexer 2 - - 2 Total 5 14 16 35

Perante os dados do Quadro 5, é possível ver que a criança F. manifestou um total de 35 comportamentos vinculativos, ao longo dos três momentos de recolha dos dados considerados. O comportamento vinculativo mais evidente desta criança foi “seguir”, com um total de 17 evidências, tal como este excerto do vídeo 1 revela: “00:38 – A educadora dirige-se até uma das mestrandas a intervir, iniciando um diálogo com esta, e a criança F. acompanha os seus movimentos com o olhar.” (Anexo XI). O comportamento vinculativo que menos evidências teve foi o “chorar”, com 0 evidências registadas. Quadro 6. Criança N.: comportamentos vinculativos manifestados.

Comportamentos vinculativos Vídeo 4 2’26’’ Vídeo 5 1’37’’ Vídeo 6 0’54’’ Total Sorrir - - - 0 Seguir 3 3 4 10

Agarrar 2 - - 2

Chamar 1 - 3 4

Chorar - - - 0

Mexer - 1 1 2

Total 6 4 8 18

O Quadro 6 evidencia os dados da criança N., revelando um total de 18 comportamentos vinculativos manifestados ao longo dos três momentos observados. O comportamento vinculativo com maior evidência foi o “seguir” (10 evidências), em que se pode tomar como exemplo este excerto do vídeo 4: “01:02 – A educadora entra na sala, diz “bom- dia” e a criança N., ao ouvir a sua voz, interrompe a sua ação com o carro de plástico, movimenta a cabeça e olha na sua direção.” (Anexo XI). Os comportamentos vinculativos menos evidentes, ambos com um total de 0 evidências, são o “sorrir” e “chorar”.

Quadro 7. Criança V.: comportamentos vinculativos manifestados. Comportamentos vinculativos Vídeo 7

0’35’’ Vídeo 8 3’04’’ Vídeo 9 1’38’’ Total Sorrir - 1 - 1 Seguir 3 5 5 13 Agarrar - - - 0 Chamar 4 7 - 11 Chorar - - - 0 Mexer 3 7 - 10 Total 10 20 5 35

Ao ler o Quadro 7, referente à criança V., é possível observar um total de 35 comportamentos vinculativos. Destes, o mais manifestado foi “seguir” com 13 evidências, em que se pode tomar como exemplo este excerto do vídeo 7: “00:13 – A educadora começa a atravessar a sala e a criança V. suspende a sua deslocação pela sala, ficando a observá-la.” (Anexo XI). Os comportamentos vinculativos menos manifestados por esta criança foi “agarrar” e “chorar”, com 0 evidências.

Os dados referentes às três crianças permitem-nos concluir que, à exceção do comportamento vinculativo “chorar”, existem evidências de todos os comportamentos vinculativos considerados. Face a este resultado, admite-se a ausência do choro pelo momento escolhido para a recolha de dados, o momento de entrada da educadora na sala de atividades.

0 5 10 15 20

Sorrir Seguir Agarrar Chamar Chorar Mexer Criança F. Criança N. Criança V.

Os resultados demonstram que, apesar de cada um dos participantes ter reagido à chegada da educadora de formas distintas, o comportamento vinculativo “seguir” foi aquele que maior registo de manifestações obteve nos três participantes em estudo. Dada a faixa etária das crianças e a evidência de que que uma das crianças ainda não tinha adquirido a marcha, assumiu-se que este comportamento vinculativo representava a ação da criança procurar deslocar-se até à educadora, bem como o acompanhar dos seus movimentos através do olhar.

Para além deste comportamento vinculativo (“seguir”), as três crianças revelaram “chamar” e “mexer” no momento de chegada da educadora à sala de atividades. Os comportamentos “sorrir” e “agarrar” foram manifestados apenas por duas das três crianças em estudo.

Organizando os dados por criança (Gráfico 1), verifica-se que a criança F. demonstrou todos os comportamentos vinculativos considerados, excluindo o “chorar”. A criança N. revelou 4 dos 6 comportamentos vinculativos, à exceção do “sorrir” e “chorar”. Por sua vez, a criança V. manifestou 4 dos 6 comportamentos vinculativos, sendo a única criança que não demonstrou o comportamento vinculativo “agarrar”. Estes dados quantitativos permitiram obter uma perspetiva global das evidências obtidas e, consequentemente, proporcionaram uma análise consciente dos mesmos.

Gráfico 1. Frequência da expressão dos comportamentos vinculativos considerados por cada criança, no total das 9 observações.

Com os comportamentos vinculativos relados pelos três participantes desta investigação, compreendemos que todos os comportamentos vinculativos considerados, à exceção do “chorar”, foram manifestados pelas crianças no momento observado, o momento de chegada da educadora de infância à sala de atividades. Estes comportamentos,

considerados por Bowlby (1984) como “comportamentos de apego”, correspondem a respostas da criança perante a presença da sua figura de vinculação, em busca da manutenção de proximidade com esta.

Conforme o estudo de Ainsworth, que investigou o comportamento das crianças quando a figura de vinculação se ausentava de um espaço e voltava a retomar a este (Soares, 2009), foi possível observar e compreender os comportamentos revelados pelas crianças quando a educadora chegava à sala de atividades. Papalia, Olds e Feldman (2001) defendem que (praticamente) qualquer ação que vise a resposta da figura de vinculação poderá ser considerada um comportamento vinculativo.

Estes resultados, que permitem identificar a frequência dos comportamentos vinculativos das três crianças em estudo, possibilitam reforçar a ideia de que todas as crianças possuem características próprias e individuais, reagindo de múltiplas formas aos acontecimentos do seu quotidiano. Neste sentido, as respostas dadas pelas crianças dependem e variam não só consoante a sua personalidade ou estado de espírito, mas principalmente pela relação que mantinham com esta figura, a educadora de infância (Brazelton, 2007). A organização e apresentação dos dados no gráfico de barras apresentado permite-nos compreender que cada criança reagiu de forma distinta nos momentos observados, existindo um dos comportamentos considerados (“seguir”) com maior registo de evidências que os restantes. Este dado permite confirmar aquilo que Sila, Esteves e Castro (2013) mencionam, quando referem a importância da utilização dos sentidos na construção e manutenção das relações de vinculação. Neste caso, o sentido da visão surge associado a este comportamento vinculativo (“seguir”), tendo em conta a sua definição (ver Quadro 3). Nas relações vinculativas, o olhar assume um papel preponderante nas interações entre a criança e o adulto, neste caso a educadora de infância, considerando-se como uma ação mediadora dos estados afetivos de ambas as partes que interagem (Ibidem, 2013).

Por outro lado, importa referir que os comportamentos de vinculação evidenciados possuem uma função biológica específica e devem-se à ativação de determinados sistemas comportamentais. Estes comportamentos são resultado dos contactos e interações que as crianças estabeleceram com o meio ambiente, sustentando a ideia de uma adaptação evolutiva (Bowlby, 2002).

Apesar de não ser objetivo deste estudo reconhecer que tipo de vinculação estas crianças mantêm com a educadora de infância (se uma vinculação segura, uma vinculação não segura/ansiosa, uma vinculação ambivalente/resistente ou uma vinculação desorganizada/desorientada) (Soares, 2009), pode afirmar-se que as crianças se encontram no quarto estádio definido por Ainsworth, em que já se tornam competentes para estabelecer relações de vinculação com outras figuras próximas para além da mãe (Papalia, Olds & Feldman, 2001).

As evidências obtidas comprovam aquilo que Spodek (2010) menciona, que as crianças nos primeiros meses de vida procuram estabelecer ligações emocionais com aqueles que lhes são mais próximos e que lhes asseguram um ambiente de conforto e segurança. Assim, procuram interações com os outros, neste caso com a educadora, de forma a procurar proximidade com esta.

Assumindo que os comportamentos vinculativos manifestados tinham como principal fim a promoção da proximidade da criança com a sua figura de referência, estes foram manifestados com o intuito de as crianças alcançarem a sua proximidade com a educadora de infância. Dado ser o primeiro momento do dia em que as crianças contactavam com a educadora, à exceção de um dos momentos considerados, tornou-se possível atentar às ações das crianças e reconhecer a presença de comportamentos vinculativos (Bowlby, 1984).

Tal como é defendido por Portugal (1998), a creche como um contexto educativo que visa a promoção de um ambiente de segurança, conforto e confiança, pressupõe a existência de profissionais competentes que primam por um atendimento adequado às necessidades e características das crianças. Nesta perspetiva, espera-se que este contexto priorize a construção de relações afetivas entre os profissionais e as crianças, em particular entre o educador de infância e as crianças.

Não sendo esse o objetivo deste estudo nem tendo evidências para tal, não é possível avaliar a relação de vinculação construída entre a educadora e cada uma das crianças. No entanto, através das evidências de comportamentos vinculativos obtidas, pode afirmar-se que a educadora empregou a sensibilidade e cuidado necessários no momento de adaptação das crianças à creche, constituindo-se uma base segura para estas. Dada a faixa etária das crianças, pressupõe-se que estas já haviam estabelecido relações de vinculação

com outras figuras de referência. Através das evidências de comportamentos vinculativos obtidas, considera-se que a natureza e qualidade destas relações eram independentes daquela que a educadora construiu com cada uma das crianças (Veríssimo, Duarte, Monteiro, Santos & Meneses, 2003).

Neste sentido, pode afirmar-se a existência da construção de uma relação de confiança entre crianças/educadora e a assumir a educadora como uma figura de referência para as crianças (Soares, 2009). Com isto, é espectável inferir-se que a educadora assegurou um acompanhamento eficaz e seguro a cada uma das crianças, atendendo às suas necessidades, de forma a fortalecer a ligação construída com cada uma delas (Papalia, Olds & Feldman, 2001).