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CAPÍTULO 3: Homicídios no Brasil, no Nordeste e em Pernambuco: Relações de

3.3 Violência homicida e as instituições ineficazes em Pernambuco

3.3.2 Variáveis institucionais e os homicídios no Nordeste

3.3.2.2 Aprisionamento e os homicídios no Nordeste

Echeverry e Partow (1998) desenvolveram um estudo tendo como fim explicar a baixa resposta do sistema policial e judicial ante as altas taxas de violência em Colômbia. De acordo com esses autores, dada a natureza descentralizada das tomadas de decisões por parte das autoridades policiais e judiciais, a resposta das autoridades ante um choque que aumente a taxa de criminalidade dependerá da percepção que tais autoridades tenham da origem do choque. Na Colômbia, o surgimento e consolidação do narcotráfico, fundamentalmente da cocaína, elevou consideravelmente as taxas de homicídios, pelo que as autoridades de polícia e o poder de justiça não responderam com maior provisão de justiça por que consideravam o fenômeno como não originário de sua jurisdição, enquanto que o mundo todo considerava como sendo um fenômeno internacional.

Do ponto de vista empírico, o trabalho de Echeverry e Partow (1998) se concentra em explicar as diferenças inter-regionais em provisão de justiça tendo como medida a relação entre homicídios e as detenções por homicídios. Utilizaram o modelo de “ilhas” elaborado por Lucas (1976) segundo o qual agentes separados geograficamente podem responder assimetricamente ante choques observados. No caso dos autores em destaque, as respostas das autoridades em cima desse critério, maior punição como reflexo da maior taxa de arrestos (detenções), não obteve resposta negativa nas taxas de homicídios, ou seja, não houve relação causal (Sanchez TORRES, 2006: PP. 33-34).

Seguindo mais ou menos essa linha de raciocínio de Echeverry e Partow (1998) tenho a tarefa de relacionar ou associar as elevadas taxas de homicídios na região Nordeste, em seus estados separadamente, com os indicadores de encarceramento de uma forma geral. Apesar de um dado agregado, pois estou trabalhando com todos os aprisionamentos, é importante averiguar tal relação.

Hoje no Brasil a população prisional é de 422.590. São 157.202 pessoas presas no regime fechado, 58.688 no regime semi-aberto, 19.147 em regime aberto. 127.562 pessoas presas provisoriamente e 3.760 por medida de segurança, que equivale a

366.576 pessoas nos estabelecimentos penitenciários. Existem mais 56.014 sob controle das polícias (Depen/Infopen, 2008). A tendência é de crescimento.

O estado que vem tendo uma relação positiva entre taxa de encarceramento crescente e a redução dos homicídios é São Paulo69 (Khan, 2008 e Kahn e Zanetic, 2009). Mas será que isto pode ser visto como uma variável determinante para o Brasil?

Avaliando o quantitativo de aprisionamento entre 2003 e 2006 para a região Nordeste como variável independente, qual a relação desta variável e os homicídios (variável dependente)?

Gráfico 23. Sistema Penitenciário – Estados Nordestinos – 2003 a 2006

Fonte: Sistema Nacional de Informação Penitenciária (2008).

69 Avaliado em capítulo posterior.

Observando os dados do Sistema Nacional de Informação Penitenciária (2008) em relação aos dados do SIM/MS de mortes por agressão, algumas inferências importantes podem ser tiradas (gráficos 23 e 24).

Gráfico 24. Mortes por Agressão (X85-Y09) Região Nordeste – Estados – 2003 a 2006

Fonte: SIM/MS.

Em Alagoas houve crescimento continuo dos aprisionamentos entre 2003 e 2005 com uma queda em 2006, ou seja, a tendência é de crescimento. Mas, os homicídios foram crescentes em toda a série histórica, com exceção de 2004. O impacto percentual nas mortes por agressão em números absolutos foi na ordem de 55%. Já o impacto percentual nos aprisionamentos foi de 26%. Para o estado de Alagoas os aprisionamentos, para este período, não vem mostrando relevância.

Na Bahia a relação entre as variáveis são positivas, ou seja, uma cresce e a outra também. Quanto mais se prende mais homicídios vem sendo cometido neste estado, o

que mostra relação inversa de causalidade. Os homicídios foram contabilizados em 2.164 mortes em 2003 e chegou a 3288 mortes em 2006, um aumento de mais 1.124 mortes em um período curto. Já as prisões seguiram um caminho positivo de encarceramento saindo de 5.537 prisões em 2003 para 7.639 em 2006. Mais de 2.000 apreensões. Houve um incremento percentual de 52% nos números absolutos de homicídios e de 38% nos encarceramentos.

Com exceção de 2004, todos os anos da série mostram crescimento dos aprisionamentos no estado do Ceará. Lá os homicídios também vêm apresentando incremento positivo o que parece muito com o caso da Bahia. Mostrando relação inversa das variáveis, quanto mais se prende, mais homicídios ocorrem.

Com exceção de 2004, todos os anos da série apresentam crescimento nos números de homicídios no estado do Maranhão. Lá todos os anos da série mostram crescimento dos aprisionamentos. Mais uma vez apresentando relação inversa, ou seja, quanto mais se prende, maior o quantitativo de mortes por agressão.

A Paraíba segue o mesmo caminho das respostas da Bahia. Em todos os anos da série há crescimento do quantitativo de pessoas aprisionadas sem refletir em queda nos homicídios.

Em Pernambuco houve crescimento dos aprisionamentos em quase todos os anos, com exceção de 2006. Já os homicídios ocorreram positivamente, com exceção do ano de 2004. Também em Pernambuco não existe relação entre as variáveis. Em 2004 houve mais aprisionamento que em 2003 com menos homicídios. Em 2006 houve menos aprisionamento que em 2005 com crescimento dos homicídios. Os dois casos não são suficientes para uma relação positiva dos aprisionamentos e negativa dos homicídios. Parece que não há ligação entre crescimento dos aprisionamentos e a diminuição das mortes por agressão neste estado.

No Piauí, à exceção de 2005, todos os anos demonstraram crescimento dos aprisionamentos. Os homicídios são crescentes em todos os anos da série. Demonstrando que não há relação entre as variáveis, ou há relação inversa.

No Rio Grande do Norte há crescimento dos aprisionamentos para todos os anos. Os homicídios, com exceção de 2004, são crescentes. Ou seja, aumentam-se os aprisionamentos sem reflexo na redução dos homicídios.

Em Sergipe a situação é praticamente a mesma, com uma coincidência. No ano de 2004 houve menos aprisionamento que o ano anterior e menos homicídios para o mesmo ano. O estado vem mostrando mais aprisionamento e mais homicídios.

Todos os estados da região Nordeste vem apresentando sinal positivo em seus indicadores de homicídios. Há na literatura (Nóbrega Júnior, Zaverucha e Rocha, 2009) alguns autores que defendem a teoria que quanto mais pessoas presas menos violência, esta vista como homicídios (Khan, 2008 e Kahn e Zanetic, 2009). Para a região Nordeste, como foi visto aqui, essa teoria parece não ter sustentação, apesar da necessidade de um modelo de série temporal maior e que os números de aprisionamentos são agregados, não tendo os presos por homicídios, o que poderia mudar o quadro dessa análise.