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Operações policiais x Grupos de extermínio e homicídios em Pernambuco

CAPÍTULO 3: Homicídios no Brasil, no Nordeste e em Pernambuco: Relações de

3.4 A relação dos Grupos de Extermínio com os homicídios em Pernambuco

3.4.1 Operações policiais x Grupos de extermínio e homicídios em Pernambuco

Nos dois últimos anos foram 30 operações policiais de desbaratamento de grupos de extermínio em Pernambuco. Várias pessoas foram presas, outras respondem a processo, muitos agentes do estado envolvidos, com destaque para policiais. Contudo, não se verifica uma redução satisfatória dos homicídios nesses dois anos. Em 2007 foram 4.592 óbitos desse tipo contra 4.525 para o ano de 2008, segundo dados da SDS- PE.

Aqui vou procurar destacar algumas dessas operações investigando o quantitativo de assassinatos os quais os grupos desbaratados por tais operações são acusados. Dessa forma, terei como avaliar – aquém de um método mais adequado -, o real impacto dessas mortes em torno do quantitativo geral para o estado de Pernambuco.

Operação Aveloz

Em abril de 2007 foi executada, sob a coordenação da Polícia Federal, a Operação Aveloz. Foram presas quase trinta pessoas dentre elas vários policiais civis e militares. As investigações da PF indicavam que a quadrilha teria executado aproximadamente 1.000 pessoas nos últimos cinco anos. O grupo atuava na região de Caruaru. Cobravam valores que variavam entre R$ 1.000,00 e R$ 5.000,00 pelas “encomendas” dos assassinatos. As vítimas eram rivais de empresários, agiotas e comerciantes (Lopes, 2007).

Pelo que averiguei com os dados de homicídios do estado de Pernambuco, mil mortes parece ser um exagero, pois, depois de desarticulado o grupo, assassinatos continuaram sendo cometidos, comprovados pelos dados de 2008. O grupo atuava na região de Caruaru, e neste município a média de assassinatos entre 2003 e 2006 foi de 159 mortes (DATASUS/SIM). Se o grupo fora responsável por uma média anual de 200 mortes deveria existir um impacto mais robusto no quantitativo geral dessas mortes no município.

Thundercats

Os Thundercats são uma quadrilha de criminosos que executam várias atividades criminosas. Roubos de cargas, homicídios e extorsão são os crimes mais comuns cometidos pela quadrilha. Em 2007, essa quadrilha foi “desarticulada” numa operação que teve a participação de quarenta policiais civis e três delegados. Foram presas 11 pessoas em flagrante, uma delas era sargento da Aeronáutica. Esse grupo fora acusado de 30 homicídios na região metropolitana do Recife nos últimos cinco anos.

Em relação a quadrilha presa em Caruaru houve bem menos homicídios de autoria dos Thundercats. No que tange aos homicídios, esse grupo criminoso parece não ter grande relação, pois o universo de mortes para o Recife é na ordem de 900 a 1.000 assassinatos por ano.

Operação Drenagem

Em abril de 2008 policiais civis e militares desbarataram um grupo de extermínio com atuação na zona da mata sul de Pernambuco. Foram presas mais de trinta pessoas que foram acusadas de cometerem vários homicídios nos municípios de Ribeirão,

Escada, Gameleira, Rio Formoso, Água Preta, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão e Recife.

Não se tem informação sobre o quantitativo de mortes este grupo estaria responsável, sendo difícil inferir alguma relação. Sabe-se, contudo, que os municípios assinalados vem tendo impacto positivo nas taxas de homicídios no estado. Alguns deles, como Ribeirão e Escada, vem sendo constantemente utilizado como ponto de recepção e venda de drogas (vide capítulo 2).

Operação Anjo da Guarda

Os “Anjos da Guarda” podem ser apontados como o grupo criminoso onde sua principal tarefa é de exterminar pessoas a mando de políticos, empresários e agiotas. Agiam na cidade de Timbaúba, Zona da Mata pernambucana, entre fins da década de oitenta e o ano de 2003, quando foram desmantelados pela polícia.

Segundo a delegada responsável pelo caso, dos 133 homicídios registrados na cidade de Timbaúba entre 1989 e 1999, 88 tinham autoria desconhecida e indícios de terem sido praticados por grupos de extermínio. As vítimas eram jovens pobres que tinham praticados pequenos delitos e o fato comum de terem sido executadas com vários tiros.

O grupo de extermínio ditava as regras da cidade, impunham toque de recolher, ameaçava de morte as testemunhas de seus crimes, extorquiam de comerciantes, fazia segurança de eventos na cidade e o seu chefe, Abdoral Gonçalves de Queiroz, tinha uma sinecura na prefeitura (Schimdt, 2003). O que vem demonstrar forte relação de atores estatais/políticos nos desmandos do grupo.

Segundo informações da polícia, depois da prisão do líder dos “Anjos da Guarda” houve diminuição dos homicídios na cidade de Timbaúba. Contudo, os dados não mostram essa redução. Em 2003 foram 17 assassinatos, em 2004 cresceu para 31, em 2005 caiu para 27 e em 2006 para 23 (SIM/DATASUS). Ou seja, homicídios continuam sendo praticados independente da captura do grupo, ou então, outros atores estão formando novos grupos de extermínio ou assumindo o local daqueles que foram presos. A prática de extermínio é aceita naquela região.

Operação Guararapes

Grupo de extermínio responsável por mais de cem homicídios ao longo de oito anos de ação em Jaboatão dos Guararapes, tinha a participação de policiais civis, policiais militares e bombeiros em seu quadro. Mais de quarenta pessoas foram presas pela operação capitaneada pela Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. Apesar do desbaratamento da quadrilha, que contou com a ação de mais de quatrocentos agentes do estado na tarefa, Jaboatão dos Guararapes continua sendo o município com um dos piores indicadores da região metropolitana com uma média de 520 mortes por ano e uma taxa de mais de 82 homicídios por cem mil habitantes, nos últimos cinco anos.

Sabe-se que grupos com as mesmas características continuam praticando assassinatos nessa cidade. Até que ponto grupos de extermínio tem uma relação direta com o quantitativo geral dos homicídios em Jaboatão? Assassinatos são praticados por diversas razões (Cano e Ribeiro, 2007), até onde se sabe a variável grupos de extermínio não vem tendo relação direta com as mortes por agressão em Jaboatão dos Guararapes. Operação Canaã

Mais uma operação que deslocou um quantitativo razoável de agentes estatais, 380 policiais civis e militares de Pernambuco, foi responsável pela prisão de mais de trinta pessoas acusadas de formarem uma organização criminosa que praticava tráfico de drogas e extermínio de pessoas.

Das pessoas presas, o que é lugar comum, quatro eram policiais (três militares e um civil). Segundo informações do Grupo de Operações Especiais (GOE), que comandou a operação, os policiais teriam a função de repassar informações confidenciais do trabalho da polícia ao grupo criminoso.

Um dos policiais envolvidos é o soldado da PM Eduardo Moraes. Este chefiava há oito anos - a operação Canaã ocorreu em novembro de 2007 - um grupo de extermínio que estava ligado a uma organização criminosa maior que praticava, além disso, tráfico de drogas e segurança privada ilegal (entenda milícias). O grupo chefiado por Eduardo aterroriza as comunidades de Cavaleiro e outros pontos de Jaboatão dos Guararapes, na região metropolitana do Recife.

Houve um grande esforço do estado em desarticular esta quadrilha. A investigação deu origem a uma série de mandados de prisão – inclusive uma advogada procurada pela justiça responsável por roubo de cargas -, que foram realizados pelo pessoal do DHPP. A tarefa de investigação teve início em junho de 2007 e contou com a participação de 17 delegacias que compõem a Gerência de Polícia Especializada, incluindo ai, também, o GOE (Grupo de Operações Especiais).

Operação Xeque-Mate

No dia 23 de abril de 2009 quase trezentos policiais, entre civis e militares, deram cumprimento a 19 mandatos de prisão e 26 de busca e apreensão para desarticular uma quadrilha envolvida em tráfico de drogas, homicídios e assaltos em saídas de banco. A quadrilha tinha como foco assaltar pessoas que saiam das agências bancárias com grandes quantias em dinheiro. Mais uma vez, a principal função do grupo criminoso não era extermínio de pessoas.

O grupo criminoso impunha terror em Nova Descoberta e Alto do Pascoal, bairros periféricos e conhecidos por seus altos indicadores de criminalidade, localizados na zona norte do Recife. Mais uma vez houve a participação de agentes estatais na cúpula da quadrilha. Um ex-policial militar e dois outros policiais militares eram os chefes do bando (Jornal do Commercio, 2009e).

Não se tem ideia de quantas pessoas este grupo criminoso executou, nem há quanto tempo agia.

Operação Athena

Operação efetivada pela SDS resultou na prisão de policiais acusados de envolvimento em grupos de extermínio. A Operação Athena deteve vinte pessoas das quais quatro delas eram agentes do estado – confirmando, mais uma vez a tese da inevitabilidade da participação de agentes estatais em grupos criminosos organizados -, um sargento do Corpo de Bombeiros, dois PMs e um comissário de polícia. Essa operação ocorreu em menos de duas semanas da Operação Xeque-Mate.

Na operação foram utilizados 270 policiais que tinham como missão impetrar 22 mandatos de prisão e três buscas e apreensão no Recife, Moreno, Pombos, Carpina,

Vitória de Santo Antão e Igarassu, áreas onde o grupo criminoso atuava. A Operação foi resultado de uma investigação de cinco meses por parte do DHPP.

O diretor de Operações da Polícia Civil afirmou que as quadrilhas foram acusadas de atuação em grupos de extermínio, tráfico de drogas, roubo, porte e comércio ilegal de armas, formação de quadrilha, corrupção de menores e pedofilia (Jornal do Commercio, 2009f). Mais uma vez, demonstrando que a atividade fim não é o extermínio.

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Percebe-se que o município de Jaboatão dos Guararapes vem sofrendo com a ação desses grupos organizados criminosos, que são grupos mais sofisticados de criminosos, onde o extermínio é uma de suas tarefas. Na verdade, o foco de suas operações está nos roubos de cargas, extorsão de comerciantes, milícias e tráfico de drogas. Vejamos, então, a evolução dos homicídios em Jaboatão dos Guararapes em um período histórico de mais de dez anos, ressaltando que tais grupos foram responsabilizados por períodos longos de ação, como o exemplo daquele envolvido com os crimes em Canaã e em Cavaleiro74.

Gráfico 26. Taxas de homicídios Jaboatão dos Guararapes – 1995-2006

Fonte: SIM/MS.

74 Bairros de Jaboatão dos Guararapes.

Fica difícil inferir a relação entre grupos de extermínio e os homicídios. Sabe-se que tais grupos são responsáveis por chacinas e por homicídios, mas qual a real relação da variável? No caso do grupo de extermínio que fora desarticulado pela Operação Canaã, em oito anos este grupo foi acusado de um pouco mais de cem mortes, o que equivale a 12 mortes por ano.

Vejamos o gráfico acima exposto. A evolução dos homicídios ou mortes por agressão no município sofreu um incremento de 1996 a 2004 de 250% nos números absolutos. A média dos últimos quatro anos da série foi de 547 mortes anuais. Sabe-se que as operações foram intensificadas a partir de 2007, o que não vem demonstrando resultado satisfatório, pois os homicídios continuam sendo praticados. As taxas são ainda muito altas: 2004 com 87,9, 2005 com 89,6, 2006 com 80,3 e 2007 com 82,2 (SIM/MS/SDS-PE).

Os grupos de extermínio tem relação direta com as mortes por agressão, pois é a prática de tais grupos, contudo aparece como variável interveniente, pois não são determinantes para a redução dos homicídios em Pernambuco, de acordo com os números de acusações de assassinatos os quais tais grupos são acusados.

3.5 População jovem versus homicídios em Pernambuco e São Paulo e na Região