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Aprofundar a Web 3.0 Uma nova estrutura e linguagem

Capítulo III – Aprofundar a Web 3.0

3.2. Aprofundar a Web 3.0 Uma nova estrutura e linguagem

Uma das mudanças resultantes da chegada da Web 3.0 consiste no aparecimento de uma nova linguagem na programação das páginas web. Esta nova Web Semântica sobrepõe-se à anterior Web Sintáctica, sendo agora dotada de mecanismos que vão à procura do significado das páginas, criando-se um ambiente virtual onde os computadores acedem e relacionam conteúdos de oriundos de várias fontes. Para tal acontecer, é necessária de inserção de semântica na estrutura dos documentos online.

Para atingir os propósitos da terceira geração da web, é necessária uma padronização de tecnologias, linguagens e metadados descritivos, de forma que todos os usuários da Web obedeçam a determinadas regras comuns sobre como armazenar dados e descrever a informação armazenada de forma que ela seja utilizada por pessoas e máquinas de maneira automática e sem ambiguidade (Ferreira e Navarro, 2015: 3).

Tim Berners-Lee propôs uma arquitectura da Web semântica, recomendada pela World Wide Web Consortium (W3C)17, composta por camadas, tendo como base a estrutura da actual web, nomeadamente HTTP, URI e HTML, que se correlaciona com a linguagem RDF e ontologias.

Figura 4 - Estrutura da Web Semântica (Fonte: Agahei et al, 2012).

17 Consórcio internacional liderado por Tim Berners-Lee que, através da cooperação entre centenas de

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Começando pela base do diagrama, um Unicode é um padrão que permite aos computadores representarem texto independentemente da linguagem em que foi escrito. Quanto ao Uniform Resource Identifier (URI), trata-se de um conjunto de caracteres utilizado para identificar diversos recursos18. Em conjunto, o Unicode e o URI

providenciam um mecanismo de identificação na linguagem a ser utilizada na Web Semântica (Aghaei et al, 2012).

Extensible Markup Language (XML) é uma linguagem utilizada para codificar informações em símbolos, para que possam ser legíveis por humanos e por computadores. A XML é utilizada como a sintaxe base para outras tecnologias desenvolvidas para as capacidades superiores da Web Semântica (Aghaei et al, 2012). A meta-linguagem XML permite que o autor dos conteúdos possa estruturá-los com base em anotações feitas sobre os dados, transformando-os em metadados, importantes para uma recuperação eficiente da informação na Web. Esta camada permite também que lhe sejam aplicados esquemas sintácticos que visam dar sentido lógico à informação, como o caso do RDF, o segundo pilar da Web Semântica, um modelo de representação que, através de XML, permite fazer afirmações acerca de recursos disponíveis (Sabino, 2007).

A camada seguinte dá pelo nome de Resource Description Framework (RDF), um modelo de dados que utiliza URI’s para identificar recursos web e descrever as relações entre eles. O objectivo consiste em criar um modelo simplificado de dados, com uma semântica formal, utilizando o vocabulário URI e suportar o uso de XML (Aghaei et al, 2012). Sabino (2007, citado por Sabino, 2013), refere que esta camada permite ao autor de determinado conteúdo organizar, estruturar e personalizar informações através de anotações e marcações nos dados, transformando-os em metadados. Através deste recurso é possível identificar determinadas acções no ciberespaço, como identificar o autor de uma Webpage, por exemplo (Teixeira e Silva, 2013).

Através da fraseologia RDF, pode dizer-se que determinado recurso (uma página Web, por exemplo) foi criado por este ou aquele autor. Ao identificar e sequenciar um “sujeito” (o recurso), um “predicado” (a acção) e um valor (o autor), o RDF explicita uma sintaxe que ajuda a fazer a ponte entre aplicações diferentes, das quais se espera que partilhem dados. (Sabino, 2007: 3)

18 Componentes físicos ou virtuais associados a um computador, como ficheiros electrónicos ou dispositivos

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Segue-se a camada RDF Schema (Esquema RDF, em português), uma extensão semântica de RDF que disponibiliza um sistema básico predefinido para modelos RDF. Providencia uma estrutura simples para inferir diferentes tipos de recursos (Aghaei et al, 2012).

Surge depois a camada Ontologia, um modelo de dados que abrange e define um conjunto de conceitos dentro de um domínio19 e os relacionamentos entre estes (Aghaei et

al, 2012). As ontologias têm como função definir termos que representam objectos e conceitos, definindo também axiomas formais que ditam a interpretação e uso desses mesmos termos. As ontologias são o vocabulário utilizado para a troca de informações entre aplicações na medida em que, “para que estas ‘falem’ a mesma língua de uma forma organizada, é imprescindível que dominem o significado da informação que pretendem partilhar” (Sabino, 2007: 3). As ontologias são conjuntos de conceitos que, dentro de um domínio, interrelacionam-se e unem termos, o que permite explicar uma determinada área de conhecimento (Breitman, 20005). A partir das ontologias publicadas torna-se possível o processamento de informações pelas máquinas, sendo, para tal, necessária a construção de uma linguagem para a web (Santos e Nicolau, 2012). Para definir e instanciar ontologias na web, é utilizada a OWL (Web Ontologic Language), concebida para disponibilizar uma forma comum de processar informação semântica na web. Esta linguagem, baseada em XML, permite aumentar o volume de conteúdos passíveis de serem interpretados por computadores.

As ontologias ajudam a construção de esquemas de organização simples do conhecimento chamadas SKOS (Simple Organization of Knowledge System), integradas num banco de dados para consulta através da linguagem SPARQL (SPARQL Protocol And RDF Query Language) (Paletta e Mucheroni: 2014). Esta linguagem é utilizada para extrair e manipular dados em formato RDF.

As diversas estruturas presentes na camada de Ontologia devem-se à necessidade de especificar descrições para definir os domínios de interesse em classes, permitindo a existência de uma distinção entre as coisas existentes na Internet, assim como as suas propriedades e atributos (Corrêa e Bertocchi, 2012).

Acima da Ontologia está a camada Logic and Proof, capaz de deduzir se um recurso específico cumpre a suas funções. Esta operação é possibilitada com o recurso a um

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reasoning system, um software capaz de gerar conclusões com base em técnicas indutivas e dedutivas (Aghaei et al, 2012).

Por último surge a camada Trust, responsável por assegurar a qualidade da informação na Web, conferindo um grau de confiança aos recursos que providenciam informação (Aghaei et al, 2012).

Para além de uma linguagem (XML) e uma sintaxe (RDF), é preciso algo mais para assegurar uma compreensão abrangente e relacional da informação por parte dos computadores, sendo esta a principal característica da Web 3.0. Uma vez que uma aplicação consegue criar os seus próprios conceitos para que outras aplicações possam manipulá-los, impera que o significado desses conceitos possa ser interpretado automaticamente. De forma a atingir este objectivo, têm vindo a surgir várias as iniciativas que procuram assegurar a interpretação da linguagem humana por parte dos computadores. Projectos como Scorpion e Indexa foram criados com o propósito de indexar os documentos existentes na Internet de forma electrónica e automática (Sabino, 2007).

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