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Novas exigências aos jornalistas

Capítulo IV – A Web 3.0 e o jornalismo

4.7. Novas exigências aos jornalistas

A Web Semântica traz consigo transformações significativas no que à utilização da Web diz respeito, nomeadamente em termos de back office25 da rede, onde se destacam algoritmos, software, sistemas de bancos de dados, aplicações, linguagem computacional, entre outros. Ao comunicador passa a ser exigido um novo exercício aquando do processo comunicacional. Este assume o papel de agenciador, municiador, mediador, articulador e analista humano neste novo processo de organização e criação de significados. Torna-se, então, num curador de informação (Corrêa e Bertocchi, 2012)

Com a Web 3.0, à semelhança do que aconteceu aquando das alterações introduzidas pela Web 2.0, aos jornalistas e meios de comunicação será exigido um reposicionamento cultural e comportamental.

O contexto exigirá, ainda, investimentos significativos em sistemas CMS26, ontologias

e vocabulários controlados, ou seja, em áreas indiretas do core business cujo retorno não é imediato. E, consequentemente, exigirá um repensar dos modelos de negócio sobre os quais, na atualidade, ainda se discutem aspectos pré-web 3.0. Desse conjunto, emerge como ponto agregador a (re)valorização da palavra como matéria-prima essencial para a prática informativa no mundo semântico (Corrêa e Bertocchi, 2012: 141).

Como ficou definido no capítulo anterior, a Web Semântica necessita de ontologias com diferentes níveis de estruturas. Estas têm como função especificar descrições para definir os domínios de interesse em classes, permitindo a existência de uma distinção entre as coisas existentes na Internet, assim como as suas propriedades e atributos (Corrêa e Bertocchi, 2012). Numa web que prescinde da ontologia, a navegação assenta num sistema baseado num algoritmo. Esse algoritmo permite que os motores de pesquisa consigam analisar dados devidamente organizados, possibilitando estruturar a informação num índice. Quando um utilizador insere palavras num motor de busca, o sistema processa essas palavras, rastreia os sites que as contêm e apresenta-os por meio de um algoritmo denominado PageRank. Este ordena os sites pela frequência com que as palavras aparecem

25 Software que suporta determinada actividade empresarial, disponibilizando tarefas que permitem produzir,

gerir e coordenar dados que serão transformados na informação final, visível para todos os utilizadores.

26 Content Management System: em português, Sistema de Gestão de Conteúdos, uma aplicação que permite,

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nessas páginas ou pelo número de links que que remetem para essa mesma página, entre outras alternativas (Corrêa e Bertocchi, 2012).

Contudo, convém ressalvar que a lista de resultados apresentada nem sempre corresponde aos websites mais pesquisados nem ao conteúdo que mais se aproxima da pesquisa do utilizador, dado que é possível pagar ao motor de pesquisa para disponibilizar determinado site no topo desta lista, ainda que estes estejam identificados como anúncios.

Figura 10 – Exemplo do PageRank. O site referente ao termo “publicidade no Google” surge, após três anúncios, apenas em quarto lugar.

Com base nesta questão, o comunicador, entenda-se jornalista, precisa de construir conteúdos passíveis de serem identificados (tagged), podendo torna-los ainda mais visíveis através de técnicas de SEO (Search Engine Optimization) 27. Através de um conjunto de estratégias de SEO, é possível tornar um website mais relevante nos motores de pesquisa, permitindo que um conteúdo chegue mais facilmente ao utilizador.

Trata-se de “um processo em que a ação comunicativa é determinada pelo sistema de busca e não pelos significados atribuídos pelo público ao produto ou serviço de uma dada marca ou empresa e às relações que estas estabelecem com os públicos (Corrêa e Bertocchi, 2012: 128)

27Conjunto de técnicas e estratégias que visam melhorar o posicionamento de determinado website na lista

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Vivendo numa era de constante inovação tecnológica, as capacidades computacionais afiguram-se cada vez maiores, prevendo-se que os computadores sejam capazes de processar dados de forma cada vez melhor. É nisso que assenta a Web 3.0, onde o computador não só compreende os dados como também os relaciona, criando, inclusive, conhecimento artificial (Corrêa e Bertocchi, 2012).

O papel do jornalista neste processo depende da sua capacidade de construção de conteúdo de uma página tendo em conta o tagueamento, isto é, a capacidade desse mesmo conteúdo ser identificado por outros sistemas, tendo em conta as regras da programação. De forma a tornar o seu conteúdo visível para os motores de pesquisa, o jornalista terá que dominar técnicas de SEO (Corrêa e Bertocchi, 2012).

No que à distribuição de conteúdos diz respeito, Carr (2011), considera que direccionar os conteúdos para aplicações móveis é a melhor forma de acompanhar a evolução tecnológica, sem esquecer a disponibilização de conteúdos para agregadores de diferentes fontes noticiosas. Para este autor, esta opção é altamente viável pois, para além de permitir uma redução do peso das páginas web, as aplicações podem ser sustentadas por publicidade, são constantemente actualizadas e oferecem um conjunto de ferramentas e funcionalidades online que conferem outras possibilidades aos consumidores.

Entre o excesso informativo e a emergência de uma sociedade informada por máquinas inteligentes e constituídas como uma extensão da mente humana, vemos que o campo jornalístico – ainda que conservador – não se coloca à parte do cenário. Pelo contrário, algumas das mais importantes marcas jornalísticas globais – The New York Times, The Guardian, BBC, Reuters, entre outras, buscam aproximações a esse mundo semântico, pulverizado por apps e plataformas (Corrêa e Bertocchi, 2012: 135)

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