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Apropriações espaciais na Cidade de Buenos Aires: Estudo e levantamento das estratégias de construção

do território pelos agentes de cultura da cidade.

Jhonata Jefferson Fernandes Introdução

Este trabalho apresenta os elementos que constituem minhas considerações analíticas sobre o processo de consolidação de estratégias sócio espaciais atreladas ao cotidiano dos habitantes da cidade de Buenos Aires, Argentina. Este artigo traz como proposta central a problematização dos usos do território da cidade de Buenos Aires pelos atores invisíveis que compõem o circuito cultural alternativo. Em linhas gerais, compreendendo como circuito cultural alternativo, as formas de fazer cultura que se estabelecem à margem da indústria cultura da cidade. O teatro, a música e a dança, são alguns dos exemplos de expressão, componente essencial para o reconhecimento coletivo, este, que está correlacionado diretamente com a “identificação” entre as pessoas neste circuito alternativo.

O sentimento comum criado a partir destas relações de identidade fortalece o norteamento das ações coletivas destes atores. Neste sentido, a marginalização sofrida se converte em elemento de identificação coletiva, símbolo de caráter “resistente”.

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É a ressignificação de modelos sociais hegemônicos, construindo o questionamento dos processos cabíveis ao negócio, mero produto mercantil, gerenciado pela indústria cultural. É a crítica despertada entre os ensaios comuns de pessoas que participam de forma correlacionadas ao uso do território.

A normatização (leis, campanhas, projetos, agências reguladoras e etc.) da política de defesa da propriedade, advinda das mentes de negócios capitalistas, se soma na equação reprodutiva da indústria cultural sistemática, sendo as concepções e externalizações espaciais, sejam elas de cunho intelectuais, direitos autorais e questões sobre a produção da cultura. Tal normatização adquirida pelo Estado como fonte de regulação e beneficiamento de setores específicos, se faz clara.

É a forma que a instituição do setor público adquiriu neste viés, partindo do recorte analítico dos usos territoriais.

Portanto se posicionar em caráter autoexcludente como forma de resistência é estratégia que se faz inerentes a inúmeras formas de produção, reprodução e apropriação do espaço, refletindo nas ações dos agentes envolvidos.

A juventude se soma, ocupa e constrói formas reprodutivas socioespaciais, apropriando-se de concepções próprias que evidenciam elementos da contradição cotidiana da metrópole. O reconhecimento comum destas contradições clareia a consciência coletiva tomando posicionamentos e pautas organizadas.

195 Para Lefebvre, a estrutura do espaço organizado não é uma estrutura autônoma com suas próprias leis de funcionamento e transformação, nem tampouco uma mera expressão da estrutura de classes emergindo das relações de produção. Ela é um componente, dialeticamente definido, das relações gerais de produção, que são simultaneamente sociais e espaciais. Entretanto, as relações (espaciais) de produção não são dissociadas das relações (sociais de produção), mas sim dialeticamente inseparáveis, num materialismo histórico- geográfico. ” ( apud Revista Espinhaço, 2013 2(1): 41-51) É dessa forma que o entendimento de que as relações socioespaciais constroem cotidianamente o território, assim ressignificando este e tornando “útil”. A forma concebida ao espaço urbano é realizada através de diversos elementos de uso exclusivo de atores específicos e inerentes ao capital. A ocupação de espaços especulativos, inerentes ao capital imobiliário, por movimentos culturais surge, portanto, como exemplo de “suspiro humano” que se apropria do território e expressa claramente e necessariamente a individualidade nos espaços urbanos. A cidade autônoma de Buenos Aires, representa em estatísticas populacionais cerca de um décimo da população nacional. Os fluxos de pessoas nesta capital são enormes, calcula-se em torno de dez milhões de visitas turísticas nacionais e internacionais tendo como destino as atrações da capital Argentina. Estes fluxos não se expressam somente em número populacionais, a fluxo de capitais, informação etc., agregam fatores centrais na compreensão das múltiplas estratégias de uso deste território.

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O caso dos fluxos de capitais advindos do turismo nos entornos do estádio La Bombonera, estádio da década de quarenta, que tem representatividade sacralizada, é um santuário para a torcida do time de futebol Boca Junior's. Este bairro, é composto majoritariamente por população proprietária de poucos capitais financeiros. A quantidade de cortiços revela as situações precárias de habitação. É um bairro popular, que têm como paixão coletiva, símbolo de identificação comum, o time do Boca Junior's. A simbologia do “Boca” se faz divina no imaginário coletivo do bairro, se assemelha a um sentimento bairrista.

A espacialização destes fatores culturais, transita entre as formas de “fazer” cultura, como modalidade comercial, relação financeira. Iniciativas locais, atraem capitais que fomentam o circuito cultural local, porém os investimentos no ramo cultural debruçam-se no nicho turístico, onde os fluxos dos capitais estrangeiros representam quantias expressivas. Tal relação de convivência conjunta entre forma de resistência cultural e indústria da cultura, exemplifica as relações de competição por influência no desenrolar da construção do cotidiana. Nessa relação de mão dupla, as construções espaciais sintetizam, João B. M. T. Filho, neste sentido, escreve que:

… o espaço social intervém no modo de produção, ele também muda conforme mudam os modos de produção (e as sociedades). O conceito de espaço reúne o mental e o cultural, o social e o histórico, segundo a lógica da simultaneidade: justaposição na inteligência e na junção material de elementos. (Revista Espinhaço, 2013 2(1): 41-51)

197 Figura 1: Turista em pose para foto com uma dançarina de tango. Geralmente os

turistas são abordados por artistas, que cobram por registro fotográfico.

A forma de apropriação com que os agentes “fazedores” de cultura caracterizam estratégias perceptivas sobre o espaço é também uma prática real de “reforma” que estes agentes culturais reproduzem.

A ocupação de espaços físicos para a prática de formas culturais, música, teatro, dança e etc, evidencia aspectos resistentes e latentes a juventude da metrópole que se auto-organiza, nos aspectos ligados a movimentação social em si, quanto aos aspectos relacionados a construção física do espaço. Ocupar imóveis como manobra de consolidação de espaços físicas, buscando uma estruturação real, traz a claridade parte do

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posicionamento de combate as práticas capitalistas reproduzidas no modelo de construção urbano.

O grande número de instituições culturais governamentais na cidade de Buenos Aires é percebido ao contabilizamos, minimamente nove instituições entre, elas a Orquestra Nacional, Coro Polifônico Nacional, Teatro Cervantes, Museus de Belas Artes, Arte Decorativo, de Gravações, Arte Oriental, Biblioteca Nacional, Fundo Nacional das Artes, Instituto Nacional de Cinematografia e Artes Visuais.

Sendo assim, podemos apontar a influência expressiva do capital hegemônico em questões práticas concernentes ao espaço: construção de imóveis, repartição de investimentos, divisão do trabalho, dos capitais fundiário, comercial e financeiro (LEFEBVRE, 2006).

Por todo ello, la ciudad no sólo debe ser lo que es em tanto ciudade, si no que además debe representar al modelo cultural y simbólico de la Nácion Argentina. Buenos Aires es la primeira imagen que proyecta el país, es la via de entrada más importante de sus visitantes del exterior… (PLAN

ESTRATÉGICO DE CULTURA DE LA CIUDAD DE BUENOS AIRES, 2001, p. 2).

Essa é a imagem mercadoria que a gestão da cidade de Buenos Aires constrói sobre os interesses da publicidade. É assim que os processos de espacialização se direcionam às propostas de consolidação de uma “modelo”, “marca”, incentivando as negociações e investimentos. Relações conflitantes inerentes ao cotidiano da grande metrópole de Buenos Aires são inerentes, o uso de espaços como o metrô para manifestações musicais, por exemplo, nos revela as facetas que este espaço

199 elaborado para o serviço público de transporte ferroviário, seja, apropriado e concebido conforme as relações interpessoais dos indivíduos com o seu entorno.

A alienação da vida cotidiana também se reproduz entre os habitantes, seres pulsantes da cidade. O cotidiano alienante de mão dupla, consome a consciência sobre a concepção do espaço, abrindo brechas espaço-temporais. Tal processo se dá de maneira dupla já que o mesmo se desenrola nas esferas mais íntimas e privadas do cotidiano até os setores hegemônicos mais complexos. Como exemplo, o músico que faz sua canção nas estações de trem, o trabalhador e o engenheiro chefe da empresa de trens, constituem maneiras particulares de relacionamento construtivo e cotidiano com um espaço em comum, porém suas concepções sobre este espaço se dão de formas distintas umas das outras. No documento “Plan Estratégico de Cultura de La Ciudad de Buenos Aires”, elaborado pela Secretária de Cultura da mesma cidade, traz dados relevantes a porcentagem da parcela destinada a pasta de cultura do governo local, tal estatística gira em torno 4,17%, sendo o valor destinado a cultura de montante de $145.990.459 para o ano de 2001.

É neste sentido, que em linhas gerais, a apropriação e construção espacial na cidade de Buenos Aires se dá entre elementos inúmeros e adversos que perpassam esferas verticais e horizontais. Todas as formas aqui ressaltadas de apropriação e uso do espaço, se fazem constantes nos processos de consolidação do espaço. É a dinâmica socioespacial que