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A práxis urbana dos excluídos dentro da metrópole de Buenos Aires.

Felipe Lara Falcão Introdução

A cidade de Buenos Aires, declarada capital federal em 1880 é a metrópole mais importante do país, ocupa uma extensão territorial de 200 Km2, com uma população de 2.890.151 pessoas, distribuídas em 15 distritos, sendo que há uma densidade de 15.000 habitantes por quilometro quadrado, segundo dados do Diagnóstico do Déficit habitacional de Buenos Aires, ano de 2013, com base em dados do Censo de 2010. Os setores populares têm desenvolvido, já há algum tempo, formas e práticas urbanas, em que as estratégias de habitação informais como, as vilas, ocupações de imóveis, assentamentos, espalhados pela capital argentina, Buenos Aires, estão cada vez mais crescentes e presentes na paisagem urbana da metrópole.

O fenômeno das ocupações de prédios abandonados, criação e recriação de, favelas e assentamentos informais que ocorrem na metrópole argentina, pode ser facilmente verificado em outras metrópoles, como as de: Caracas, São Paulo, Bogotá, Lima, entre outras, nesse tipo de análise, há variados trabalhos dentro da geografia urbana que aqui não serão trabalhados. Nesse sentido, pretendemos neste texto, apontar como se deu o crescimento dos assentamentos urbanos na capital argentina e quais

185 as práticas urbanas de gestão autônoma realizadas pelos setores populares que não possuem o seu direito à cidade atendido pelo aparelho do Estado, ou seja, ao espaço urbano, provido de oportunidades igualitárias e disponibilidade, entre as classes sociais, de acesso ao emprego, às infraestruturas, como (transporte público, lazer, educação, saúde, etc.)

Portanto, uma outra questão, precisa ser posta ao leitor no sentido de se refletir acerca da práxis urbana dos mais pobres, em cidades como a de Buenos Aires, ou seja, como e quando se deu o crescimento dos assentamentos informais (assentamientos) e que tipo de segregação orientada pelos agentes públicos e privados ocasionou este fator, para responder a tal questionamento, precisamos rever alguns conceitos e categorias da geografia urbana que tentam explicar o crescimento e a morfologia das aglomerações metropolitanas do atual período, caracterizado pela globalização da economia e pelo pensamento único.

As metrópoles modernas na economia globalizada

Durante as décadas de 1970 e 1980 muitas foram as teorias e os conceitos criados para se entender as metrópoles latino-americanas, em que se buscava entender como se daria a centralidade das metrópoles, à partir do momento, que estas se projetassem no mercado internacional ou, dito de outra forma, na globalização nascente e, que só foi possível, através das crescentes e aperfeiçoadas tecnologias da informação, logo, se acreditava, talvez, que a expansão metropolitana das metrópoles estaria

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diretamente relacionada à sua forma de inserção na economia globalizada, nesse sentido, muitos autores e teóricos criaram denominações, que mesmo em menor medida, estão presente no vocabulário de pesquisados e geógrafos da atualidade, como: “Cidade Informacional” de Castells, “Cidade Global” de Saskia Sassen, “Cidade Pós-Moderna”, por Amêndola, “Metrópole Desconectada”, por Geddes, entre muitas outras definições que tentam de certo modo, explicar essa nova forma de criação e reformulação das metrópoles mundiais, em vista de sua iminente inserção no meio que (SANTOS, 1994) caracteriza como, técnico- científico e informacional e que surge, através da evolução das técnicas de informação, comunicação, etc....surgidas e aprimoradas à partir do pós- guerra.

Em se tratando, da nova morfologia urbana que surge nas cidades latino-americanas, (MATTOS, 2005) atribui às novas relações econômicas transfronteiriças requeridas pela geografia inscrita na economia globalizada, uma transformação das metrópoles, pois estas passam a fazer parte de um esquema do “tipo eixos e redes” (hubs & networks). Logo, concordamos com Mattos, citando (VELTZ, 1996, p 61) que “as metrópoles modernas não são mais sistemas autocentrados, mas poderosos entrecruzamentos de múltiplas redes. ”

As metrópoles modernas atuam como ilhas regionais preocupadas com sua relação com outras metrópoles internacionais de mesmo peso, seja, econômico, político ou social, disto surgem os diversos rankings mundiais de melhores ou piores cidades para se fazer negócio, os

187 mais caros ou menos caros metro/quadrados para se comprar, cidade com maior disponibilidade deste ou daquele tipo de serviço, a mais segura e, a menos e, assim por diante. Os parâmetros internacionais de hierarquia urbana, centralidade, urbanização, integração física, etc, afim, de se adequar aos parâmetros internacionais do que, deve vir a ser, uma metrópole, independentemente de sua localização, cultura, história, injeta- se conforme um modelo único e um pensamento único que tantos geógrafos, cientistas sociais criticam há tempos, assim Buenos Aires, dentro dessa lógica não escapa da cartilha imposta pelo mercado internacional, ou seja, os ditames do atual momento histórico, dito globalizado e que não conhece fronteiras, segundo os entusiastas neoliberais que atuam para reduzir os territórios, todos eles, à relação de valor para a reprodução do capital.

Segregação dentro da metrópole: a nova hierarquia imposta pela ditadura

Segundo (CARMAN, 2004) duas leis fizeram com que os setores populares, aqui tratados como, excluídos do direito à cidade, tivessem sua forma de ocupar a cidade de maneira digna, impedida. Trata-se das leis que legislam sobre aluguéis (1977) e a modificação do código de planejamento urbano (1977) ambas criaram, portanto, sérias restrições ao acesso à moradia urbana, caracterizando, portanto, uma forma de segregação espacial que resultou em uma metrópole, cada vez mais,

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fragmentada em bairros, vilas, assentamentos, etc. A primeira lei, segundo a autora, que versa sobre a relação inquilino-proprietário trouxe, a primeira fragmentação, pois após o término dos contratos, muitos se viram desalojados e passaram a viver em casas de amigos, pensões, hotéis ou em favelas, as chamadas (villas miseria) a segunda lei, também excludente, elevou o preço dos imóveis e passou-se, a privilegiar a construção de imóveis para os mais abastados, dos estratos superiores da classe média portenã ou da classe média internacional. Além, desses dois fatores, precisamos colocar em pauta as expropriações para a construção de autopistas, para a revitalização de espaços verdes, realocação industrial, fenômeno este, muito bem conhecido pelos paulistanos que viveram na década de 1970.

A morfologia urbana de Buenos Aires no atual período

Para (MATTOS, 2005) as metrópoles latino-americanas possuem uma nítida tendência ao espraiamento, fenômeno análogo das cidades norte-americanas, o que ampliaria a metropolização. Para o autor, o modelo que agora se intensifica, é o modelo de Los Angeles, em que os automóveis e as tecnologias da informação desempenham papel chave na expansão dos territórios e das práticas urbanas, o que faz com que as cidades pensadas conforme seus fluxos de matéria e informação deixem de fora, os setores populares. Nessa linha de raciocínio, concordamos em conjunto com Mattos, quando (VAINER, 2000) atribui aos novos gestores urbanos, público e privados, a tarefa de vender a cidade como

189 uma mercadoria a ser vendida em um mercado internacional, cada vez mais competitivo e exigente, porém, para isso, haveria por parte dos gestores a tarefa de se atuar no imaginário dos que residem na cidade para que estes, aprovem projetos urbanísticos e de gestão para que a “cidade pátria” possa ser referência no mercado internacional de cidades que ofertam serviços requeridos pelo capital, agora internacional e presente em todos os lugares.

Déficit habitacional: um problema em comum na América Latina? As carências de habitação digna e com preço justo podem ser encontradas em qualquer metrópole latino-americana, por isso classificamos este item, com o título, um problema comum, pois tanto os argentinos, quanto os moradores de qualquer metrópole latina padecem da falta de moradia. Em Buenos Aires, este tipo de fato social segue crescendo e os conflitos entre o Estado e os setores das camadas sociais mais desfavorecidas também. Analisando através de uma perspectiva temporal e socioterritorial, ou seja, que se inscreve dentro do território, a metrópole de Buenos Aires, desde a década de 1970, sofre com a forte segregação social dentro de seu território o que proporcionou, uma fragmentação e, um espraiamento das classe mais pobres para as periferias da cidade, porém com fortes mazelas sociais, além desse fator, tratado neste texto, não devemos nos esquecer do papel dos fluxos migratórios dos argentinos das diversas partes do país, em direção à capital, o que acaba por intensificar o processo de expansão da metrópole para suas

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áreas de entorno. No entanto, neste trabalho nos fixaremos na evolução, abaixo exemplificada, através da cartografia do agravamento de carência de habitat na região metropolitana.

Expansão de família em villas e assentamentos na zona metropolitana de Buenos Aires

191 Considerações Finais

Muitos são os estudos publicados e financiados dentro da América Latina sobre a inserção da América Latina na economia internacional, fortemente desregulada e com problemas histórico-culturais comuns, nossas veias continuam abertas e a sangrar, ou ainda não conhecemos os resultados da expansão metropolitana desordenado e que não considera a dimensão social, quando busca gerir a cidade. Este trabalho procurou demonstrar como a metrópoles argentina, Buenos Aires, possui e padece dos mesmos problemas que muitas outras metrópoles possuem. O déficit habitacional, a presença de (villas miseria) e a proliferação de habitações informais em uma cidade que cresceram e tiveram um forte processo de segregação socioespacial.

Referências Bibliográficas

CARMAN, María “la ciudad visible y la ciudad invisible: el surgimiento de las casas tomadas en Buenos Aires” Población y Sociedad N10/11, 2003-2004; Disponível em: http://www.poblacionysociedad.org.ar/archivos/12/P&S-12-13-art02- carman.pdf; Acesso em: 10/10/2014.

Instituto de Vivienda: Déficit habitacional; Série de Informes Situación Habitacional CABA, disponível em: http://www.buenosaires.gob.ar/institutodevivienda/serie-de-informes- situacion-habitacional-caba Acesso em: 10/12/2014.

MATTOS, de A. Carlos “Crescimento Metropolitano na América Latina, Los Angeles como referência? In: Economia e Território; Organizadores: Mario Borges Lemos; Clébio Campolina Diniz; Belo Horizonte, Editora da UFMG, 2005.

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SANTOS, Milton. “A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção” Milton Santos. - 4. ed. 2. reimpr. - São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. - (Coleção Milton Santos; 1)

Web sites consultados http://www.ign.gob.ar http: // buenosaires.gob.ar

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Apropriações espaciais na Cidade de Buenos Aires: