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APROPRIADA À ABORDAGEM DE ENFERMAGEM DESENVOLVIDA EM MINHA PRÁTICA ASSISTENCIAL

A estrutura aqui apresentada, foi elaborada com base portanto, em fundamentos teórico-metodológicos escolhidos para esta prática com enxertos de outros interesses da proposta para apropriar uma prática assistencial para clientes em UTI, bem como em alguns conceitos e pressupostos da teoria de enfermagem humanística ou fenomenológica, conforme Paterson & Zderad. Entretanto, meus valores, crenças e experiência profissional, bem como a leitura de vários autores que utilizaram a fenomenologia como abordagem para compreender melhor a experiência humana, influenciaram a leitura da original proposta por Paterson & Zderad e me conduziram a fazer a inserção da referência a significados envolvidos com a tecnologia como um dos eixos de interrelação numa conceitualização de interesse para as experiências de enfermagem com clientes em UTIs.

Desse modo, a prática assistencial que ora re-leio para expor a minha compreensão a novas compreensões parte de crenças com as quais comungo, e estas, guardam vinculações com teorizações de Paterson & Zderad que despertam pelo valor para o processo de enfermagem que vivi com clientes em UTIs. A estas crenças se acrescentam aquelas minhas próprias, sobretudo quanto ao significado da tecnologia para a enfermagem enquanto um diálogo vivido com os referidos clientes. Algumas dessas

crenças estão expostas a seguir como uma declaração de uma tendência do meu modo de pensar, sentir e agir diante das experiências de enfermagem. São elas:

-O ser humano tem particularidades próprias, únicas, por isso para evoluir precisa conhecer o significado de sua experiência de vida com a finalidade de atingir o maior grau possível de bem-estar e mais-ser.

-O ser humano tem a possibilidade de realizar escolhas conscientes e responsáveis quando atribui significado às suas experiências de vida.

-A abordagem humanística de enfermagem é vivida e compartilhada a partir do compreensão dos significados das experiências de vida de enfermeiros e clientes.

-A tecnologia de saúde na abordagem humanística de enfermagem, significa veículo para interrelação com o cliente.

-O propósito da abordagem humanística de enfermagem é buscar a possibilidade de promoção do ser humano através da intersubjetividade para compreender a experiência de vida e poder auxiliar o indivíduo a decidir sobre sua trajetória no mundo e com o mundo para atingir o bem- estar e "mais-ser", ou seja, sua humanização.

-O enfermeiro ao reconhecer e utilizar um crescente preparo para alcançar seu auto-conhecimento, a partir de si mesmo, pode ampliar sua perspectiva, passando a ter uma sensibilidade maior à experiência humana.

Ao expor as crenças que compõem essa tendência do meu modo profissional de ser, sentir, pensar e agir, certamente aí se encontram implícitos alguns conceitos que emergiram e imergiram durante o processo de enfermagem desenvolvido nessa experiência de prática assistencial com clientes em UTI.

Neste ponto, apresento a descrição de alguns relatos que no conjunto das situações evidenciam como os conceitos se mostraram no processo de enfermagem a partir da metodologia utilizada para apreender e compreender significados ao descrever situações de enfermagem vividas, dialógicamente, com os clientes.

ENFERMAGEM : Abordagem profissional centrada na intersubjetividade

humana, vivida, compartilhada, cuja intencionalidade é a busca e o conhecimento de si

mesmo e do outro, para o alcance do "mais-ser", ou seja, da mais humanização,

através da compreensão do significado de experiências de vida e busca de potenciais..

A enfermagem, no contexto desta abordagem, "... vai além da competência técnica, é mais que um relacionamento unidirecional enfermeiro-cliente. Em vez disso, ela se mostra como a busca de uma relação transacional que se responsabiliza em investigar e cuja expressão demanda a conceituação baseada na consciência existencial de si e do outro." (Paterson & Zderad, 1988, p. 3). Ao assistir um cliente em situação crítica, a enfermeira vivência uma experiência que é única não somente do ponto de vista da condição desafiante para o cliente em si, mas também do ponto de vista do que significa para ela enfrentar a situação desafiante de cada cliente. Ao relacionar-se com o cliente, construindo o diálogo em intersubjetividade, compartilha este encontro enquanto um momento existencial, buscando o que esta experiência é para cada um, em seu significado.

Nesta prática assistencial referida fundamentalmente no conceito de Enfermagem ora descrito, foi possível perceber que o conhecimento de enfermagem passa pelo conhecimento intencional de mim mesma, mas também e principalmente, atinge o conhecimento do outro , e que o trabalho de enfermagem se configura em um processo que está muito além do cunho meramente formal e objetivo de uma profissão, e, ainda, que acima de tudo está centrado na intersubjetividade enfermeira-cliente. O compartilhar com as experiências de vida dos clientes de UTI foi tão expressivo em

A utilização de objetos que a um primeiro olhar podem parecer, aos outros, menos expressivos, na verdade para os clientes correspondem a uma ligação que ainda pode ser mantida com o mundo do lado de fora do hospital e a preservação do seu mundo interno, interior. Ao reconhecermos na ambiência um espaço que possui elementos que podem possibilitar o "mais-ser", e utilizá-los para tal, na verdade estamos propiciando condições mais terapêuticas. A consideração atenciosa do espaço interno em cada ser humano, como no caso de Dionísio, sua crença, suas memórias, seus afetos, é uma marca de ocupação da intersubjetividade que se manifesta por valorizar aquilo que o cliente imprime significado e busca desvendar que significado se exprime através do encontro, do diálogo, das perguntas e respostas autenticamente vivenciadas com os clientes. Uma proposta que possibilita o mais-ser de ambos os envolvidos, cliente e profissional constrói a base da relação de mais-humanização na prática assistencial de enfermagem..

SER HUMANO: Presentificação do ser-no-mundo, singular e

peculiarizado pela busca e conhecimento de si e dos outros, para atingir não só o bem-

estar, mas o "mais-ser”, através da relação em ambiência.

O ser humano nesta abordagem foi cuidado como aquele que se encontrava internado na UTI por apresentar real ou potencial desequilíbrio orgânico que lhe ameaçava a vida, tendo o seu "bem-estar" afetado. O ser humano na UTI vivência a experiência de internação, enquanto momento de sua história de vida, atribuindo-lhe inúmeros significados, de acordo com suas experiências passadas; embora vivencie uma experiência que coloca em risco a sua própria vida, ele também tem expectativas e projetos para o seu futuro. Através da relação consigo mesmo e com os outros seres humanos este ser humano evolui, influenciando e sendo influenciado pela ambiência.

"MAIS-SER": Processo humano construído através do relacionamento consigo mesmo e com os outros, abrindo-se à promoção, para tomar-se o seu viver

manifestado mais humanamente possível, de modo a, em uma particular situação de

vida, explicitar o maior grau possível dessa humanização.

Nesta proposta, o "mais-ser" é tido como o maior potencial humano a ser alcançado pelo cliente mesmo na situação crítica de saúde em que se possa encontrar; isto faz ver que embora o cliente seja influenciado pela doença, não é delimitado somente por ela. Uma determinada experiência na vida do ser humano, no caso a situação que o levou à internação em UTI, não limita a sua capacidade humana, no seu sentido mais amplo, de expressar-se, sentir medo, esperança, solidão. Ao contrário, sua capacidade humana é exaltada em experiências dessa natureza.

HUMANIZAÇAO E a proposta e ação concreta intencionalmente

orientada na assistência de enfermagem para o "bem-estar e o "mais-ser" do ser

humano.

A humanização, no contexto de aplicação desta abordagem, refere-se ao envolvimento existencial do enfermeiro com o ser humano em situação grave de saúde 4 ^ em UTI, onde ambos vivenciam e compartilham a experiência, reconhecendo suas singularidades e construindo mutuamente diálogo na intersubjetividade.

RECOMPOSIÇÃO DA TRILHA PERCORRIDA EM DIREÇÃO Ã