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Aprovisionamento em situações de crise e planeamento civil de emergência

Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP)

Referência:

AUTOR: Hélder Muteia – Representante da FAO em Portugal e junto da CPLP

TÍTULO: Os desafios da Alimentação Mundial

TIPO DE DOCUMENTO: Apresentação no ciclo de conferências “VIDA ECONÓMICA”, sob o tema do «PDR2020 e Empreendedorismo Agrícola»: Reserva Estratégica Alimentar: um conceito estratégico para a economia por- tuguesa

LOCALIZAÇÃO DO DOCUMENTO: http://conferenciasve.pt/sites/default/files/desafios_da_alimentacao_mun- dial.pptx

IDIOMA: Português

NÚMERO DE PÁGINAS: 25

DATA DE EDIÇÃO: 18 de novembro de 2015

Palavras-chave: Agricultura

Principais constatações / destaques / con-

clusões:

A atual situação em que vivemos, assente numa agricultura integrada no espaço europeu, permite  que existam à nossa disposição todos os alimen- tos fundamentais para assegurar a nossa subsistên- cia. Contudo, não dispensa que estejamos prepa- rados para situações em que esta realidade possa ser posta em causa, sendo tal facto desencadeado, normalmente, por situações de crise. O papel de

preparar tais cenários incumbe também ao Planea- mento Civil de Emergência, conceito com que pou- cos estarão familiarizados.

Existem reconhecidamente dois tipos de situações de crise para as quais se impõe uma reflexão e con- sequente planeamento de ações: as de carácter estrutural e as de carácter conjuntural ou pontual. Para o enquadramento do primeiro tipo de situa- ção de crise – de carácter estrutural –, o represen- tante da FAO em Portugal e junto da CPLP, fez recen- temente uma apresentação sobre este tema, onde

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apontava para os seguintes impactos genéricos dos sistemas alimentares modernos:

Maior produção alimentar do que em qualquer outro momento na história

Má distribuição (falta para uns, excesso para outros)

Maior pressão sobre os recursos naturais (água, solo e biodiversidade)

Alargamento da cadeia de valor (agroindústria)

1/3 dos alimentos produzidos é desperdiçado Sobre estas matérias, valerá a pena equacionar, tal como faz a FAO, o que se passa no mundo, nomea- damente em países em desenvolvimento, onde importa referir que a experiência diz que quando existem carências de alimentos, não é evidente que o excesso produzido noutras regiões venha a col- matar tais deficiências, sendo necessária uma desa- gregação mais fina para uma análise correta das políticas a seguir. Importa portanto desencadear mecanismos que, tanto à escala mundial como europeia possam garantir, tanto em quantidade como em qualidade, a disponibilidade dos alimen- tos às populações, com os graus de exigência tão diversos de acordo com as situações específicas de cada caso, sendo evidente que a prioridade dada a cada um daqueles parâmetros é variável de acordo com o desenvolvimento de cada região.

De facto, a evolução conceptual da agricultura sus- tentável  que é desta forma descrita pela FAO, evi-

dencia bem os caminhos distintos que existem ainda por percorrer pelas diferentes agriculturas existentes no mundo:

Comentários:

A experiência da Europa será diferente, nomeada- mente numa União Europeia que tem uma Política Agrícola Comum (PAC) que começou por integrar preocupações de garantir a segurança do abas- tecimento alimentar, tendo posteriormente infle- tido – no final dos anos 80 e começo dos anos 90 do século passado -, centrando-se agora priorita- riamente noutras áreas de intervenção, mais inte- gradas no processo evolutivo descrito pela FAO em fases mais avançadas.

Estando Portugal integrado neste espaço europeu, será normal que as preocupações existentes este- jam alinhadas com as da PAC vigente, assentes em questões estruturais e multidisciplinares do papel da agricultura.

No entanto, os desafios de carácter conjuntural são permanentes. Alguns com fortes impactos nos normais abastecimentos, pelo é sobre cenários deste tipo que o Planeamento Civil de Emergência tem trabalhado, tanto decorrentes de intervenção humana como decorrentes de catástrofes naturais. Nesta matéria, a principal fonte de doutrina exte- rior é a NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Recentemente, por ocasião do Acordo de Lisboa de 2010, a NATO assumiu um novo Conceito Estratégico, intitulado ”Compromisso ativo, Defesa moderna”, vendo reforçada a sua componente de intervenção não militar. Embora a NATO seja per- cebida pela maioria das pessoas como uma orga- nização estritamente militar, engloba de facto uma estrutura civil – o Planeamento Civil de Emergên- cia –, que se viu reforçado face às lições da história mais recentes, em funções tais como:

Apoio civil às operações militares; Macro

Micro

Técnicas agrícolas

Cadeia de valor Planeamento e políticas

multifuncionais Gestão das terras Agro-ecologia Agricultura inteligente face ao clima Permacultura Gestão sustentável das terras Agricultura biológica Agricultura de conservação

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Apoio às operações de resposta a crises;

Apoio às autoridades nacionais  em situações de emergência civil;

Apoio às autoridades nacionais em proteção às populações contra o efeito de armas de destrui- ção massiva;

Cooperação com os Parceiros.

Como se pode verificar, as funções são de tal modo abrangentes que naquelas definições cabem múlti- plos tipos de ações. Para tal, a NATO dispõe de uma estrutura específica, que engloba vários grupos de trabalho especializados, um dos quais se dedica a questões ligadas à saúde, agricultura e alimenta- ção, que adota como funções principais as seguin- tes:

Assegurar a planificação conjunta civil-militar necessária a uma capacidade de resposta da NATO a situações de crise;

Assegurar o seguimento e avaliação dos setores da medicina, saúde, abastecimentos, agricultura e água, bem como de acordos relativos a estes setores;

Rever periodicamente objetivos e assegurar for- mação de peritos nacionais;

Apoiar as atividades de Planeamento Civil de Emergência.

À escala nacional, estas questões colocam-se natu- ralmente de acordo com a matriz europeia exis- tente, e têm sido alvo de evolução recente, sobre- tudo no que diz respeito ao modelo institucional  de acompanhamento. Em Portugal toda esta estrutura, hoje centrada na Autoridade Nacional de Proteção Civil, foi até há pouco tempo acompanhada e coor- denada pelo entretanto extinto Conselho Nacional de Planeamento Civil de Emergência (CNPCE), que era composto por várias comissões especializadas autónomas, onde se incluía uma relativa à agri- cultura e alimentação (Comissão de Planeamento de Emergência da Agricultura), estando hoje essas competências inseridas no Gabinete de Planea- mento, Políticas e Administração Geral.

Independentemente do modelo organizacional, as principais preocupações permanecem. Prendem-se com a resiliência em situações de crise desenca- deadas por fatores naturais ou humanos, para os quais periodicamente se desenvolvem exercícios, com cenários que se procuram ser o mais próximo possível dos que possam vir a acontecer. De igual forma, a proteção de infraestruturas consideradas como críticas, a forma de garantir o regular abas- tecimento à população em dietas específicas para situações de crise, bem como os aspetos operacio- nais para resposta segura a situações em que os sistemas de ligação normais sejam afetados, cons- tituem áreas de trabalho do Planeamento Civil de Emergência.

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Instrumentos de política para boas práticas agrícolas