• Nenhum resultado encontrado

APROXIMAÇÃO AOS SUJEITOS DA PEQUISA DE CAMPO

OS RECURSOS DIDÁTICOS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA DO ESPÍRITO SANTO

1- APROXIMAÇÃO AOS SUJEITOS DA PEQUISA DE CAMPO

Como já dissemos no capítulo I, nossa pesquisa é parte integrante de dois projetos que vêm sendo desenvolvidos numa parceria UFES/IPE. O primeiro deles é de extensão universitária e tem por objetivo a formação continuada dos educadores que atuam nas escolas indígenas Tupinikim e Guarani do município de Aracruz-ES. O segundo é o da pesquisa, compomos o projeto “A Pedagogia do Texto revisitada: aportes teóricos e práticos”. Tanto um projeto quanto o outro têm como sujeitos participantes os envolvidos na educação escolar indígena do ES.

Em 2004 a população indígena do Espírito Santo foi quantificada num total de 2.595 habitantes, distribuídos em aldeias, conforme quadro abaixo:

QUADRO 3 - Número de famílias e habitantes por aldeia indígena de Aracruz/ES

Povo Aldeia Nº de famílias Nº de habitantes

TUPINIKIM Caieiras Velha 245 962

Comboios 81 431

Irajá 84 368

Pau Brasil 76 348

Sub Total 486 2.109

GUARANI Boa Esperança 20 74

Três Palmeiras 26 136

Piraqueaçu 07 27

Sub Total 53 237

Total 539 2.595

Fonte: FUNAI – 1º semestre 2004

Há, nessas aldeias, práticas institucionalizadas de educação escolar, o que é um direito constitucional garantido. Os educadores que atuam nas escolas das aldeias são, em sua grande maioria, índios que desde 1994 vêm se dedicando ao estudo na área da educação. Eles são funcionários da secretaria municipal de Aracruz/ES e como tais, atuam na educação infantil e no ensino fundamental (1ª à 4ª séries)25.

O quadro abaixo demonstra dados relativos à educação escolar indígena no ano de 2004.

QUADRO 4 – Dados relativos à educação escolar indígena em 2004

Aldeia Etapas da Educação Básica Nº de alunos

Caieiras Velhas Educação Infantil e 1ª à 4ª do Ensino Fundamental 143

Comboios Educação Infantil e 1ª à 4ª do Ensino Fundamental 89

Irajá Educação Infantil e 1ª à 4ª do Ensino Fundamental 56

Pau Brasil Educação Infantil e 1ª à 4ª do Ensino Fundamental 52

Boa Esperança 1ª à 4ª do Ensino Fundamental 20

Três Palmeiras 1ª à 4ª do Ensino Fundamental 26

Fonte: Secretaria Municipal de Educação – Aracruz/ES

No ano de 2004, a educação escolar indígena contou com 7 escolas distribuídas em 6 aldeias. Nelas, atuavam 24 educadores que atendiam um total de 386 alunos.

A educação escolar indígena brasileira vem tendo, nas últimas décadas, um atendimento diferenciado garantido pela legislação vigente. Inclusive com relação à especificidade da língua materna. Segundo o artigo 210, inciso II, “O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.” (Constituição Federal de 1988).

Esse direito é assegurado no município de Aracruz/ES pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com a secretaria estadual de educação (SEDU). Outras instituições como o Instituto de Pesquisa em Educação (IPE), a Pastoral Indigenista, também contribuem para que o direito à educação se cumpra de forma efetiva.

Pelo Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/2001), a educação indígena é uma das modalidades existentes dentre outras como a educação especial; a educação de jovens e adultos, etc. Sobre essa modalidade, encontramos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) dois artigos que especificaram o que vem a ser educação escolar indígena.

O artigo 78 se refere à oferta de uma educação diferenciada: bilíngüe e intercultural. Neste artigo, fica claro que a recuperação da memória histórica das comunidades e povos indígenas deve ser um objetivo da educação:

Art. 78 – O sistema de ensino da União, com a colaboração das agencias federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngüe e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:

I – proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;

Já o artigo 79 detalha sobre o apoio da União a programas específicos de ensino. São listados, neste artigo, os objetivos de um programa próprio para a educação indígena.

Art. 79 – A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa.

§ 1º - O programa serão planejados com audiência das comunidades indígenas.

§ 2º - Os programas a que se refere este artigo, incluídos no Plano Nacional de Educação, terão os seguintes objetivos:

I – fortalecer as praticas sócio-culturais e a língua materna de cada comunidade indígena;

II – manter programas de formação de pessoas especializadas, destinado à educação nas comunidades indígenas;

II – desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades;

IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático especifico e diferenciado.

Toda essa legislação veio amparar a realização de uma educação diferenciada a estes povos. Conhecê-la se torna necessário tanto para os indígenas quanto para aqueles que se dedicam a acompanhar essa modalidade educacional.

Para os índios - educadores, pais e o cacique da aldeia - a educação escolar é fundamental na medida em que contribui para resgatar a cultura de seu povo. Essa busca e crença em uma educação diferenciada que contribua para o resgate e manutenção da cultura é constante entre os indígenas, como pode ser comprovado em três livros publicados com esse fim: Resgatando a memória e a tradição Tupinikim (1996); Os Tupinikim e Guarani contam... (1999); Os Tupinikim e os Guarani na luta pela terra (2000).

A prática escolar da educação escolar indígena do Espírito Santo é orientada por um currículo diferenciado, no qual, os conteúdos de cada disciplina são trabalhados interdisciplinarmente por meio de problemáticas. Estas são “[...] um conjunto de problemas que devem ser analisados no processo educativo e que permite dar significado ao ensino-aprendizagem. [...]” (MUGRABI, 2004b). No Anexo B está o documento que define as problemáticas, ele foi elaborado pelos educadores indígenas em conjunto com representantes das instituições parceiras (IPE, SEMED/Aracruz, SEDU).