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As motivações para realizar essa investigação emergiram de um processo que vem sendo construído desde a graduação em Enfermagem na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), quando passei a refletir sobre as questões de gênero e a atenção direcionada às mulheres. Tais implicações intensificaram-se a partir da composição do Núcleo de Estudos sobre Mulheres, Gênero e Políticas Públicas (NEMGeP) do Departamento de Enfermagem da UFSM, no ano de 2009, que vem desenvolvendo estudos e ações de prevenção e enfrentamento à violência contra as mulheres, pesquisa, extensão e ativismo social na perspectiva de gênero. Ainda em 2009, a partir de atividade do estágio supervisionado da graduação, participei da construção da primeira estruturação do fluxo de atendimento às mulheres em situação de violência de Santa Maria e mais recentemente da construção de materiais de educação continuada para profissionais de saúde, na Secretaria de Município da Saúde de Santa Maria-RS (SMS).

Os resultados do Trabalho de Conclusão de Curso da graduação instigaram-me sobre situações de violência vivenciadas por mulheres nas quais elas apresentaram sintomas físicos, bem como violência psicológica e submissão feminina (CORTES, et al., 2010). Como enfermeira do Programa de Residência Multiprofissional Integrada da UFSM (2010-2012), identifiquei demandas de cuidado que emergiram de situações de violência contra as mulheres, as quais, geralmente, não eram percebidas pelos profissionais de saúde. Além disso, foi possível vivenciar o trabalho em equipe multiprofissional, no qual realizávamos ações de cuidado articulado junto aos serviços de saúde mental do município, o que implicou no

trabalho de conclusão de especialização ser realizado com profissionais de saúde da Atenção Primária sobre a rede de atendimento a usuários de álcool e outras drogas (CORTES et al., 2014).

A partir da inserção no GP-PEFAS, na linha de pesquisa: Políticas e práticas de cuidado na saúde da mulher- vivências em aleitamento materno e violência, foi possível ampliar o conhecimento em pesquisa na temática, e também realizando ações de extensão em parceria com os dois grupos. Neste contexto, durante o mestrado em enfermagem pela UFSM (2012-2014) desenvolvi dissertação sobre a intencionalidade da ação de cuidar de mulheres em situação de violência de enfermeiras de serviços de saúde de Santa Maria-RS (CORTES, 2014), cujos resultados, apontaram que o cuidado é desenvolvido permeado por ações de cuidado físico e biológico (procedimentos e técnicas de enfermagem) e ações como diálogo, escuta, orientações, encaminhamentos, e articulações em equipe. Os encaminhamentos refletem que as profissionais esperam o apoio, o suporte, a continuidade do cuidado, a fim de que as mulheres possam construir uma perspectiva de vida sem violência. Igualmente, reconhecem a necessidade do cuidado multiprofissional e articulado com outros serviços e têm expectativas que exista uma rede. No entanto, referem dificuldade no acompanhamento e implementação da “referência e contra referência” entre os serviços. Nesse sentido, entende- se que há necessidade de maior mobilização para que exista esse encaminhamento, ou transferência de cuidados (CORTES, et al., 2015; CORTES, PADOIN, 2016) .

No âmbito da extensão universitária participo da organização e desenvolvimento de ações educativas de prevenção e enfrentamento à VCM, na comunidade acadêmica e local por meio da publicação de textos, entrevistas e debates na mídia; construção de material educativo, audiências públicas, marchas, dentre outras. Essas atividades estão vinculadas a projetos de extensão de prevenção à VCM, integradas à Campanha “16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres”, promovidas pelo NEMGeP e PEFAS desde 2009 até o corrente ano; bem como em projetos e organização de eventos relativos ao Dia Internacional da Mulher. Desde 2011 integro o projeto: “Espaço NEMGeP no rádio: a saúde das mulheres para além do biológico”. Participei em 2012 do projeto “Compartilhando saberes sobre a violência contra as mulheres: os profissionais que deliberam na delegacia e a academia”.

No âmbito dos movimentos sociais de mulheres atualmente integro o Fórum de Mulheres de Santa Maria. Além disso, a partir de vivências como professora substituta no Curso de Enfermagem da UFSM identifiquei a necessidade premente de realizar discussões, reflexões, produção e consolidação do conhecimento acerca da temática VCM e do trabalho em rede, uma vez que ainda representa uma lacuna a ser superada na formação discente.

Essa trajetória contribuiu significativamente para instigar minhas inquietações acerca dessa temática, bem como o papel da enfermeira frente ao cuidado de mulheres em situação de violência. Assim, justifico a necessidade de buscar aprofundamentos teóricos e conceituais para que se obtenha conhecimentos junto aos demais profissionais da equipe de saúde e para que seja possível implementar mudanças nas práticas assistenciais com essas mulheres.

Considerando este contexto, essa proposta de pesquisa se insere nas produções do Grupo de Pesquisa Cuidado à Saúde das Pessoas, Famílias e Sociedade (GP-PEFAS), na linha de pesquisa: Políticas e práticas de cuidado na saúde da mulher-vivências em aleitamento materno e violência e tem como declaração guia, ou pressuposto teórico, que subsidia o seu desenvolvimento: a continuidade da atenção às mulheres em situação de violência é viabilizada pela articulação comunicativa entre profissionais dos serviços de atendimento. Neste sentido, formula-se como objeto de estudo, a continuidade do atendimento às mulheres em situação de violência, no município de Santa Maria-RS. Para tanto, tem-se como questão de pesquisa: Como estabelecer a articulação comunicativa entre profissionais dos serviços de atenção às mulheres em situação de violência com vistas à formação da rede? Pretende-se responder a motivações e inquietações no que se refere à problemática da violência contra mulheres na perspectiva do olhar da saúde a partir dos seguintes objetivos:

1.2.1 Objetivo Geral

Construir coletivamente instrumentos para viabilizar a articulação comunicativa entre profissionais de serviços de atendimento às mulheres em situação de violência para a construção do trabalho em rede.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Conhecer as potencialidades e dificuldades da prática profissional para a composição da rede de atendimento às mulheres em situação de violência;

b) Desenvolver momentos educativos com profissionais visando à articulação do atendimento em rede de mulheres em situação de violência no município de Santa Maria;

c) Conduzir a (re)construção de um fluxograma da rede de atendimento às mulheres em situação de violência;

d) Conduzir a construção conjunta de um instrumento para viabilizar a articulação comunicativa entre os serviços com vistas a otimizar a atenção em rede às mulheres em situação de violência.

A importância deste estudo ser realizado por uma enfermeira está no sentido de que essa profissional e equipe de enfermagem, muitas vezes, realizam o primeiro contato com estas mulheres, assim necessitam dispor de conhecimento acerca do trabalho articulado e em rede. A partir da minha experiência em equipe multiprofissional, apreendi que o papel da enfermeira como articuladora e facilitadora das trocas dentro da equipe de saúde possibilitam desenvolver estratégias de ações de cuidado que visem à integralidade. Dessa forma, considero que para realizar um cuidado de enfermagem que vise à integralidade há necessidade de articular ações com os demais profissionais de saúde e criar estratégias para o cuidado em rede, a fim de que essas possam subsidiar o desenvolvimento de habilidades para a atenção interdisciplinar e intersetorial que visem ao enfrentamento da violência e o entendimento dessa como uma demanda das mulheres e uma questão de saúde pública. Espera-se com esta pesquisa o desenvolvimento de conhecimentos e ações que possam impactar e oferecer subsídios para reflexões e articulações dos profissionais envolvidos nos serviços de atendimento às mulheres em situação de violência, a fim de melhorar e inovar o cotidiano de práticas assistenciais, por meio de estratégias de comunicação, construídas coletivamente, e que possibilitem a articulação dos diferentes serviços.

33 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS DO TERMO REDE E SUAS