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Capítulo I. Reflexões Preliminares sobre a Problemática Habitacional

1. Considerações sobre a situação habitacional

1.4. Aproximação do objeto de estudo: os assentamentos precários como uma das

A Região Metropolitana de Campinas foi instituída em 2000 pela lei estadual complementar nº 870. É composta atualmente por 20 municípios: Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d'Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Vinhedo e Valinhos. Morungaba foi o último município a ser incorporado, com a provação do Projeto de Lei nº 02/2014.

FIGURA 1- REGIÃO METROPOLITANA DE CAMPINAS (RMC)

Fonte: BREDARIOL, Márcio, 2014

Esta região, a partir de 1970, segundo os estudos do Baeninger (2001), caracteriza-se como polo de atração populacional no Estado de São Paulo e, também, como um dos principais lugares receptores das atividades industriais, com a “realocação de plantas industriais” da Região Metropolitana de São Paulo. Nesse estudo a autora identificou, também, que grande parte dos migrantes com destino à Região Metropolitana de Campinas (RMC) chegava, inicialmente, no município de Campinas e, depois, em busca de melhores condições de trabalho e acesso à moradia passava a residir nos municípios limítrofes.

A autora, analisando dados estatísticos sobre os fluxos migratórios, constatou que o município de Campinas serviu de etapa intermediária entre a

procedência e a direção final dos migrantes que chegavam à esta região metropolitana. Para ela, este aumento populacional, resultante do processo de metropolização, ocorreu em conjunto com o crescimento da renda na RMC, porém, segundo estudos do Plano Municipal de Habitação do Município de Campinas (2011), este crescimento foi acompanhado por enormes desigualdades socioespaciais, concretizadas nas múltiplas ocupações irregulares.

Para que se pudesse entender a situação habitacional na RMC, a Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp) e a Emplasa produziram um diagnóstico para o Plano Metropolitano de Habitação de Interesse Social, com dados referentes ao déficit habitacional. Basearam-se em estudos do CEM/Cebrap; em informações publicadas pela Fundação João Pinheiro, nos dados do IBGE, especialmente a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD-2005) e em outros dados apresentados pelos municípios18.

Confrontando os dados das diversas fontes consultadas, o estudo identificou que assentamentos informais e irregulares, como favelas e loteamentos irregulares, representam a maior situação de déficit na RMC (67,84%). Segundo os dados apresentados pelos municípios, há 97.808 unidades habitacionais nesta situação, sendo 30.092 delas em favelas e 67.716 em loteamentos irregulares. A Fundação João Pinheiro, de acordo com a EMPLASA, apontou a existência de 39.635 domicílios de famílias entre zero e cinco salários mínimos com carência de infraestrutura.

Outro aspecto importante apresentado no Plano refere-se ao alto crescimento populacional ocorrido na maioria dos municípios nos últimos 30 anos. Abrigam as faixas populacionais de menor renda, havendo, por este motivo, maior disputa por domicílios vagos, com enorme potencial para a precarização da moradia,

18

A metodologia utilizada pelo CEM/Cebrap foi comparar as características sociais e demográficas dos aglomerados subnormais com os demais setores, identificando o que denominam de “assentamentos precários”. No Plano Metropolitano de Habitação elaborado evidencia-se que a proposta destes Institutos representa um avanço em relação à pesquisa da Fundação João Pinheiro, uma vez que aprimora a contabilização dos aglomerados subnormais, que possui lacunas devido a utilização da pesquisa realizada pelo IBGE. Por outro lado, não dialoga com parâmetros contabilizados pela Fundação João Pinheiro, como os componentes do déficit habitacional ou da inadequação dos domicílios. Além disso, considerando que as informações organizadas pela Fundação João Pinheiro estão baseadas em dados que já podem estar ultrapassados, os números devem ser considerados cuidadosamente pois, podem refletir, quando comparados, algumas inconsistências que deverão ser relativizadas, quando da definição de quantitativos de promoção habitacional. Com estas observações, destacamos a importância da produção desses dados referentes à situação habitacional feita pela própria RMC em parceria com o Ceprap.

formação de assentamentos informais e loteamentos irregulares. As exceções, neste caso, acontecem em Vinhedo, Valinhos, Nova Odessa e Americana.

Em relação as políticas públicas, na escala municipal, o estudo da EMPLASA aponta a necessidade dos municípios realizarem mais ações para a regularização fundiária, visando a consolidação das ocupações existentes e a provisão habitacional para recebimento das famílias cujas necessidades ambientais e situação de risco não permitam a permanência no local.

O estudo enfatiza que a configuração da problemática habitacional é diferenciada em cada município e que tais peculiaridades devem ser tratadas nos planos locais de habitação. Ou seja, a problemática regional não é homogênea, exigindo diferentes ações e propostas de acordo com as características e especificidades.

Em Hortolândia, por exemplo, o Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) identificou com maior precisão a situação habitacional, apresentando dados para o cálculo real do déficit habitacional da cidade, o que possibilitou o planejamento para provisão habitacional e regularização das áreas irregulares.

Estes dados trazem maior grau de veracidade quando comparados com os quantitativos dos demais estudos já mencionados. Por isso ressaltamos a importância da consulta de dados primários fornecidos pelos próprios municípios, evitando assim distorções.

O PLHIS de Hortolândia identificou 41 ocupações, além disso, apresentou dados importantes para entendimento da situação habitacional, trazendo informações sobre o número de famílias, situação documental da área, se é pública ou privada, se passível para regularização, se possui APP ou área de risco e quais melhorias habitacionais devem ser realizadas para consolidação destas ocupações19.

Dentre este total estão compreendidas as glebas objeto de nossa pesquisa (denominada pela CDHU como Hortolândia A1 e A2). São ocupações que, antes da urbanização, apresentavam condições inadequadas de habitabilidade e com crescimento populacional resultante da exclusão social de pessoas provenientes da Região Metropolitana de Campinas e do interior de outros estados

19

O dado atualizado em 2013 apresentado pelo município identifica 11.996 moradias distribuídas nas 41 ocupações em Hortolândia.

brasileiros que, sem acesso à habitação, encontram, neste lugar, uma possibilidade de morar, mesmo que em situação de ilegalidade.