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CAPÍTULO 1 – O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO COMO FUNDAMENTO DA PESQUISA

1.1 APROXIMAÇÕES DA ONTOLOGIA CRÍTICA PARA O OBJETO DE PESQUISA

Esta sessão tem como objetivo explicar os pressupostos teórico- metodológicos que sustentam esta pesquisa, cujo objeto de estudo é a formação continuada do professor alfabetizador no Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). Interessa compreender as concepções de formação, de ensino, de desenvolvimento e de aprendizagem, bem como seus nexos e desdobramentos.

Segundo Meksenas (2002), pesquisar é investigar, produzir e reconstruir conhecimento, é a atitude política de um ser ativo e participante do mundo, a ação de um indivíduo que pretende se superar e pode transformar o processo e o resultado do ensino. Entendemos que uma pesquisa mediante a análise baseada na compreensão da teoria marxista, da teoria histórico-cultural e da ontologia crítica impulsiona e provoca ações críticas diante da organização capitalista. Defendemos, conforme Lukács (2012b), que a produção e a reprodução da vida têm caráter dialético, ou seja, estão relacionadas ao desenvolvimento processual e às múltiplas determinações. Nossa concepção filosófica justifica nossa escolha do método, que norteia, direciona e organiza esta pesquisa32.

Ao estudar as bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem é possível compreender em Lukács (1978a), como Marx esboçou uma nova ontologia, histórico-materialista, que supera o idealismo lógico-ontológico ou as deduções lógicas. Dessa maneira, o autor analisa a realidade material e concebe a história como produto da ação humana coletiva, e indica o ser objetivo como ponto de partida. Afinal,

todo existente deve ser sempre objetivo, ou seja, deve ser sempre parte (movente e movida) de um complexo concreto: Isso conduz a duas consequências fundamentais. Em primeiro lugar, o ser em seu conjunto é visto como um processo histórico; em segundo, as categorias não são tidas como enunciados sobre algo que é ou que se torna, mas sim como formas moventes e movidas da própria matéria: ‘formas do existir, determinações da existência’ (LUKÁCS, 1978a, p. 2).

32 A palavra método vem de méthodos, que, segundo Meksenas (2002, p. 73), “é

composto por duas outras palavras gregas: metá, que significa buscar, perseguir, procurar, e odós, caminho, passagem, rota”.

O homem, ser social, integra e diferencia-se da natureza, atuando sobre esta, interagindo, modificando-a e modificando a si mesmo. O homem incorpora as experiências e os conhecimentos produzidos e transmitidos por outros homens, conserva o patrimônio e o legado histórico produzido socialmente, e não reinicia no processo de conhecimento de seus anteriores. Diferentemente da relação entre o homem e a natureza, a relação entre os animais e a natureza é caracterizada por ser biologicamente determinada, limitada ao imediato e baseada na adaptação ao meio – o animal busca a satisfação de necessidades básicas de sobrevivência e produz para si mesmo conforme sua espécie. A experiência dos animais é mantida, reproduzida e determinada, principalmente, pelo código genético.

Segundo Lukács (1978a), o homem é um ser que dá respostas, cria soluções. Toda atividade humana surge para resolver um problema, uma necessidade provocada, é o produto de uma pergunta, de uma generalização e das possibilidades de efetivar a vontade, sendo o “ato de responder [...] o elemento ontologicamente primário nesse complexo dinâmico” (LUKÁCS, 1978a, p. 6). O carecimento material movimenta o processo de reprodução e o complexo do trabalho, pois, com base nas necessidades, o homem busca mediações e alternativas possíveis e concretas para a satisfação de tais necessidades, que também são criadas dentro de uma cadeia de mediações. A satisfação das necessidades humanas demanda um domínio das forças da natureza que possibilita o desenvolvimento das próprias capacidades humanas.

Nas palavras do autor, o processo de produção da existência humana é permanente – com muitas transformações – histórico e social. Nesse movimento, o homem modifica-se, cria necessidades, artefatos, instrumentos e formas de elaborar ideias, coloca finalidades, planeja e adquire consciência, incorpora novas criações e interações. Reelabora caminhos para satisfazer suas necessidades, adaptando-se à natureza a fim de satisfazer suas necessidades, que são transformadas e também são expressão das relações sociais e das relações entre o homem e o meio. A atividade humana envolve formas de organização como a divisão do trabalho e determina as formas de relações sociais. O homem produz sua vida por meio do trabalho e pelas relações de trabalho, sustenta a base econômica da sociedade, determinada pelas formas políticas, jurídicas e ideológicas; por isso, a sociedade é analisada com base no processo de produção do homem.

A transformação dessa base implica a transformação das diversas e diferentes formas produzidas baseadas nela, criando novos modos de produção da existência, organização política e social. No processo de

complexificação, as condições econômicas provocam o conflito entre classes, e a contradição dessas relações e interesses antagônicos reflete a possibilidade de transformação.

Os antagonismos, as produções e as transformações do momento histórico são transpostos às ideias científicas, quer dizer, o homem propõe explicar racionalmente os fenômenos e reflete na atividade metódica, isso significa que o método também reflete as condições históricas concretas da temporalidade histórica em que o conhecimento é elaborado. Transforma-se no curso da História e é historicamente determinado, reflete as necessidades ao mesmo tempo em que interfere sobre as necessidades.

A proposta das teorias e os critérios de aceitação refletem aspectos do próprio método, que, segundo Kopnin (1978), é um meio para obter determinados resultados no conhecimento das leis objetivas na prática. A concepção implica uma forma de compreender a realidade e um novo modo de atuação para a apropriação e a transformação do conhecimento. Lukács (1978a) salienta que as mudanças da ciência pressupõem novas possibilidades da ação humana, pois ampliam o campo das alternativas concretas, aperfeiçoam a posição teleológica e interferem sobre a realidade quando efetivam o pôr teleológico.

Existe uma dinâmica interna na própria ciência, suas produções e produções determinam novos conhecimentos, e o método está sujeito às interferências da ciência. Conforme Marx (2008), para a compreensão real da sociedade e das relações econômicas, é necessária a apreensão das relações históricas, políticas e ideológicas. A totalidade das relações de produção estrutura a economia da sociedade, e o modo de produção da vida constitui o processo da vida social, política e espiritual: “não é a consciência dos homens que determina o seu ser; mas ao contrário, é o seu ser social que determina sua consciência” (MARX, 2008, p. 47). Quando a estrutura da sociedade (a economia – as forças produtivas e as relações do processo de trabalho para a produção da vida humana) modifica-se, a superestrutura (a ideologia – leis, ideias, política, religião) também se modifica em um movimento dialético.

Segundo Marx (2008)33, a matéria existe independentemente da

consciência, as ideias traduzem na consciência o significado e o sentido

33 Marx recupera: de Hegel a dialética, distanciando-se da perspectiva idealista;

de Feuerbach, elementos da concepção materialista de homem; dos economistas clássicos (principalmente Ricardo e Smith), noções como a de valor trabalho; dos socialistas utópicos (entre os quais Owen, Fourier e Saint Simon), o propósito de

da matéria, e o homem faz do trabalho o objeto de sua vontade e consciência. Pelo trabalho (a atividade vital, prática e consciente), ele produz os instrumentos e as maneiras para adquirir os meios de subsistência para produzir e reproduzir-se, defrontando-se com suas produções, sendo dependente das condições materiais de sua produção.

A base da sociedade é o trabalho e os seus múltiplos desdobramentos e, a partir do estudo das categorias, podemos buscar a compreensão da sociedade, da história e da constituição do homem, entre outros estudos de fenômenos da realidade. As transformações sociais ocorrem nas contradições, antagonismos e conflitos, em um movimento que não é linear, e é consequência das contradições criadas pelas ações dos homens. De acordo com Lukács (1978a, p. 15), “o progresso econômico objetivo aparece sempre sob a forma de novos conflitos sociais”.

Portanto, as contradições, cada vez mais complexificadas, provocam o distanciamento do homem dos resultados primitivos do trabalho. A tendência é diminuir o tempo de trabalho socialmente necessário à reprodução dos homens e tornar o processo de produção e reprodução cada vez mais social e complexificado. Mas, ao mesmo tempo, com o recuo das barreiras naturais, a vida social não se desvincula da base dos processos naturais, já que os aspectos biológicos também são partes de momentos sociais.

Como menciona Lukács (1978a), todo acontecimento social é causal e decorrente de posições teleológicas individuais. A teleologia, sempre e somente posta pelo homem, produz objetos que não poderiam ser produzidos pela natureza, e o desenvolvimento da sociedade faz com que as necessidades deixem de ser espontâneas e passem a ser criadas: o modo de manifestação das necessidades passa a ser aquele de induzir os homens a tomarem (ou não) determinadas decisões teleológicas. A discrepância entre as posições teleológicas e seus efeitos causais aumenta com o crescimento das sociedades, revelando tendências materiais no processo de reprodução da sociedade.

Conforme Lukács (1978a), a práxis social tem um caráter contraditório: ela é uma decisão de um indivíduo singular entre um campo de alternativas, contudo, também é uma decisão impulsionada por necessidades reais que pressionam o indivíduo a decidir sob determinada orientação. Nesse sentido, outro autor, Cheptulin (2004), explica que as

conhecer cientificamente a sociedade e as possibilidades de transformação (ANDERY, 2006).

categorias são o reflexo dos aspectos, das ligações e das relações universais reais e, ao mesmo tempo, produtos da consciência, da atividade cognitiva dos homens.

As leis que regem o gênero humano são construídas ao longo da história, são leis humanas, e a atuação do homem como ser individual é também social, pois é a atuação do homem genérico.

Como mencionamos, a criação e a transformação das necessidades humanas implicam um movimento que ocorre em direções opostas e expressa as condições objetivas do momento histórico e as contradições do momento. Dessa forma, as tendências do desenvolvimento econômico são determinantes para a transformação externa e interna do ser social, que é produto das causalidades da sociedade e das atividades humanas.

A essência humana é mutável, constitui-se com a história, e o homem apropria-se da essência de forma universal, relacionando-se com o mundo. De acordo com Marx (1983), o real está em movimento e é contraditório, e todo fenômeno social não está isolado, é sim, constituído por movimentos contraditórios que levam a outros fenômenos, a uma síntese, que contém novas contradições. Consequentemente, o movimento deve ser apreendido com base na premissa de que os processos econômico-sociais são contraditórios. Lukács (1978a, p. 15- 16), baseando-se em Marx, esclarece que a

tarefa de uma ontologia materialista tornada histórica é, ao contrário, descobrir a gênese, o crescimento, as contradições no interior do desenvolvimento unitário; é mostrar que o homem, como simultaneamente produtor e produto da sociedade, realiza em seu ser-homem algo mais elevado que ser simplesmente exemplar de um gênero abstrato, que o gênero – nesse nível ontológico, no nível do ser social desenvolvido – não é mais uma mera generalização à qual os vários exemplares se liguem "mudamente"; é mostrar que esses, ao contrário, elevam-se até o ponto de adquirirem uma voz cada vez mais claramente articulada, até alcançarem a síntese ontológico- social de sua singularidade, convertida em individualidade, com o gênero humano, convertido neles, por sua vez, em algo consciente de si. Com essa compreensão, a tarefa da ciência é desvendar o movimento contraditório, duplo e de oposições recíprocas, desvelar a

essência manifestada na aparência dos fenômenos e buscar extinguir a confusão entre aparência e essência. Isso significa, entre outros aspectos, analisar a lógica, a coincidência e a diferença, aprofundar a compreensão do fenômeno por meio de um método que revele a aparência (suas determinações e percepções) e compreenda o existente.

Kopnin (1978, p. 58), por sua vez, ressalta que “o materialismo dialético não concebe a apreensão das leis da realidade objetiva fora da generalização dos resultados dos diversos campos da ciência”. Contudo, a filosofia marxista problematiza, em todas as categorias, a relação do ser com o pensamento, a começar pela matéria, que aqui é concebida como “todos os fenômenos, coisas e processos que existem fora e independentemente da consciência” (KOPNIN, 1978, p. 60). O referido autor esclarece que todo conceito é entendido na relação do ser com o pensamento, ou de outro modo, na relação com a consciência social, e acrescenta que

a relação do pensamento com o ser é o ponto de partida de todas as categorias filosóficas do materialismo dialético, ponto que desempenha simultaneamente a função quer de ontologia, quer de gnosiologia, não de maneira como se existissem isoladamente sistemas de categorias ontológicas e gnosiológicas, mas de forma que todas as categorias do materialismo dialético sejam ao mesmo tempo ontológicas (no sentido de que têm conteúdos tomados ao mundo objetivo, ao ser) e gnosiológicas (de vez que nelas se resolve o problema da relação do pensamento com o ser e elas mesmas são um degrau no movimento do conhecimento) (KOPNIN, 1978, p. 60-61).

O mundo objetivo e suas leis interessam ao estudo porque é na relação entre eles que o homem satisfaz necessidades sociais. Ademais, a formação e o desenvolvimento da consciência objetivam-se na relação com o mundo exterior e, estando objetivados no sujeito, interferem no mundo objetivo. Cada vez mais o sujeito cria novas objetivações e complexifica as relações objetivas, que interferem na objetividade e subjetividade do mundo e de si mesmo. Trata-se de um movimento do pensamento e da realidade.

Assim, Andery et al. (2006), com base em Marx, destacam como aspecto fundamental do materialismo histórico dialético, que a análise do concreto do fenômeno reconstrói o pensamento, tornando-o um abstrato

a ser recolocado na realidade e em sua totalidade como concreto pensado e produto humano da apropriação do conhecimento. O conhecimento proposto por Marx é uma ferramenta, principalmente para os trabalhadores, para a luta de classes e é comprometido com a transformação concreta do mundo e para a extinção da exploração de uns sobre outros.

A dialética é um método para a apreensão do fenômeno, para a análise da realidade e a reprodução da lógica dos conceitos que expressam a realidade. Conforme Lukács (2012b), o pensamento é a base do processo de desenvolvimento e constitui o ser e a realidade. Nesse complexo dinâmico, o ato de responder, e também o conceito, é primário, e as coisas somente são o que são porque o homem realiza a atividade de conceituar, manifestando o ser do fenômeno. De outro modo, Lukács (2012b) aponta que as categorias mais simples são entendidas na relação com as “categorias mais complexas”, que superam por incorporação as mais simples.

Kopnin (1978) destaca em Marx a unidade entre abstrato-concreto e lógico-histórico e salienta a identidade e o caráter universal entre a dialética, a lógica e a teoria do conhecimento, que determinam a essência e as particularidades específicas da dialética materialista. Neste caráter está a coincidência entre as leis do pensamento e as leis do ser obtidas na atividade. As leis do mundo, ao serem apreendidas, convertem-se em leis do pensamento, que representam o mundo objetivo e, mediante o estudo do conhecimento, revelam as leis do objeto.

No marxismo, há na dialética subjetiva o movimento da atividade do pensamento e da atividade histórica do homem, que

[...] se processa e é dirigida por leis objetivas. O momento da dialética geral do sujeito e do objeto vem a ser a relação das leis e formas do pensamento com a realidade objetiva que fora dele se encontra (KOPNIN, 1978, p. 51).

Kopnin (1978) elenca a unicidade entre sujeito e objeto e, diante disso, o princípio do reflexo não é considerado em si mesmo, pelo contrário, as especificidades do pensamento são consideradas pela concepção dialética e o reflexo compreendido como processo de aprofundamento na essência das coisas, não à cópia da realidade: “A compreensão da dialética do processo de reflexo permite conhecer mais a fundo a unidade entre as leis do pensamento e as leis do ser” (KOPNIN, 1978, p. 52).

A dialética revela as leis dos movimentos e dos processos, e dirige o processo do pensamento segundo leis objetivas. O pensamento concretizado cria um novo mundo de objetos e relações; mas segue as leis existentes na realidade objetiva, as quais o sujeito interpreta e as transforma em leis e formas de pensamento. A especificidade do materialismo sustenta a generalização da experiência do conhecimento e da prática, considerando fundamental o conhecimento das leis universais, da natureza e da sociedade. Como já elencado nesse texto o conhecimento das categorias mais complexas é o ponto de partida para a compreensão das categorias mais simples, mas, o processo de transformação, como evidencia Lukács (1978a), só pode ser analisado post festum, depois de o fato ter acontecido.

A lógica do pensamento é entendida na sua relação no processo de espelhamento com a realidade, por isso, para conhecer o objeto, é preciso abrangê-lo, estudar seus aspectos, relações e mediações, tomá-lo em seu movimento. O conhecimento científico implica a descoberta do novo e a demonstração de construção teórica anterior. Kopnin (1978), com base nos conceitos de Lenin, evidencia que a verdade constitui-se pelo conjunto dos aspectos do fenômeno da realidade e das relações entre elas, como as transições e as contradições. Os conceitos apresentam-se como reflexos do mundo objetivo e, para “representar a dialética objetiva de modo pleno e profundo, as formas de pensamento devem, por si mesmas, ser dialéticas – móveis, flexíveis, inter-relacionadas” (KOPNIN, 1978, p. 84).

A categoria é compreendida na relação entre o ser e o pensamento e, simultaneamente, a lógica dialética estuda o conteúdo mental, as próprias formas de conhecimento, “se interessa pelos conceitos, juízos, deduções, teorias, hipóteses, etc., justamente enquanto formas de cognição da natureza objetiva das coisas e suas relações” (KOPNIN, 1978, p. 85-86). O processo de conhecimento da realidade objetiva, a prática humana, as categorias universais e suas leis interessam ao estudo porque é na relação entre eles que o homem produz e reproduz a vida.

Segundo Cheptulim (2004, p. 140), as categorias “não são apenas graus do desenvolvimento da consciência, mas também graus do desenvolvimento da prática social dos homens, de suas relações entre eles e deles com a natureza”. Portanto, as categorias (que são significadas pelo homem ao mesmo tempo em que predominantemente o determinam) se expressam nos meios de trabalho e nas formas da atividade humana, no movimento da consciência, que tem por base a natureza da essência que forma o conteúdo da lógica dialética. A lógica e a teoria do conhecimento são deduzidas do desenvolvimento da vida natural e espiritual; por

exemplo, a categoria alfabetização estabelece ligações e relações, formando a estrutura da atividade do pensamento dos homens, manifestada pela ordem lógica do conhecimento (aqui tratada como lógica dialética) e pelas formas universais do movimento do pensamento – relembrando, segundo Lukács (1978a), o homem e a realidade social só podem ser compreendidos no processo histórico e toda categoria existente é movente e movida

A forma de como se captura a realidade (expressa em categorias analíticas pelo processo do pensamento) surge e se desenvolve como análise da estrutura do movimento do pensamento que revela as leis do conhecimento e, nessa dialética, é possível relacionar o movimento da objetividade do conteúdo dos conceitos e as teorias da ciência para compreender a realidade objetiva.

A dialética materialista, segundo Kosik (1995), como método de investigação, pressupõe o conhecimento real e histórico do objeto, a análise da sua forma de desenvolvimento e a investigação da coerência ou a determinação dessas formas de desenvolvimento. A lógica dialética mostra-nos que há uma relação entre concreto e abstrato, e pela abstração ocorre a ascensão do abstrato ao concreto por meio da negação de igualar a imediaticidade, o aparente ou o evidente com a realidade objetiva. Contudo, na filosofia materialista, a práxis não pode ser definida com a separação entre prática/práxis e teoria:

A praxis na sua essência e universalidade é a revelação do segredo do homem como ser ontocriativo, como ser que cria a realidade (humano-social) e que, portanto, compreende a realidade (humana e não-humana, a realidade na sua totalidade). A praxis do homem não é atividade prática contraposta à teoria; é determinação da existência humana como elaboração da realidade (KOSIK, 2002, p. 222, grifo do autor).

Portanto, segundo o autor, a práxis está na atividade objetiva e, do mesmo modo, na formação da subjetividade humana, e por isso “cria” a realidade, o homem e a história, em todas as manifestações, articulando- se com o todo e determinando a totalidade. Igualmente, “no processo ontocriativo da práxis humana se baseiam as possibilidades de uma ontologia, isto é, de uma compreensão do ser” (KOSIK, 1995, p. 225).

Nesse sentido, Kopnin (1978) elenca o início do método de análise para compreender o ser, considerando o processo de conhecimento da

realidade objetiva do pensamento. De outro modo, ele evidencia o conhecimento originado no movimento entre o sujeito e objeto, conforme as leis e formas da realidade objetiva, elaboradas no processo histórico que criam resultados no pensamento. Podemos pensar tal ideia relativamente à alfabetização e tomar essa categoria, para exemplificar, em um aspecto, o movimento do método na busca por compreendê-la.

Para tal fim, consideramos imprescindível, ao falar de alfabetização, explicitar uma concepção de linguagem, isto é, ao procurar compreender o que significa alfabetizar, não podemos deixar de abordar