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CAPÍTULO 1 – O MATERIALISMO HISTÓRICO DIALÉTICO COMO FUNDAMENTO DA PESQUISA

1.2 CONCEPÇÃO DE FORMAÇÃO HUMANA

Para compreendermos o fenômeno “formação continuada do professor alfabetizador”, que é produto das relações sociais da sociabilidade capitalista, precisamos conhecer o contexto histórico-social no qual ela está inserida. Em continuação a abordagem metodológica para a apreensão do objeto de estudo, buscaremos, agora, fundamentadas nas análises de Marx e Lukács (2013), contextualizar brevemente a gênese das relações sociais, a começar pelo trabalho que originou as demais formas de atividades humanas e relações sociais. Não nos deteremos profundamente ao tema por não ser este o propósito do estudo, mas o consideramos de extrema importância para dar continuidade às explanações seguintes e alertamos que esse exercício poderá deixar lacunas, pois o trabalho concreto em sua forma mais elementar é uma análise post festum extremamente complicada.

Abordaremos neste item alguns aspectos que nos permitem compreender que a economia, a produção da vida, propulsiona novas posições e novas complexificações do ser que, ao tornar-se cada vez mais social, complexifica suas faculdades humanas. Ao mesmo tempo, a sociedade é um complexo que interage com uma rede de outros diversos e diferentes complexos heterogêneos, indissociáveis e articulados. Todos os atos teleológicos que movimentam esses complexos são resultados de processos teleológicos anteriores e de atividade humana realizada – como o ensino, a aprendizagem, o formar e o formar-se – que contém em sua essência categorias do processo de trabalho. Temos, como alguns dos intuitos, compreender os fenômenos e as categorias relacionadas com a formação continuada do professor alfabetizador, ou, de outra forma, compreender os nexos causais que evidenciam a contradição e a complexidade da categoria formação, que é histórica e não está descolada da economia.

Então, a abordagem sobre o processo de trabalho na sua forma inicial permite-nos compreender um pouco mais os complexos sociais que surgiram posteriormente (após, inclusive, da divisão do trabalho), ou seja, a legalidade das formas mais complexas e, estando na esfera da reprodução social, a educação, a escola e as políticas educacionais. Lukács (2013, p. 42), antes de expor a nova categoria do ser, o ser social, recupera o materialismo histórico dialético e explica que

[...] primeiro decompor, pela via analítico- abstrativa, o novo complexo do ser, para poder, então, a partir desse fundamento, retornar (ou

avançar rumo) ao complexo do ser social, não somente enquanto dado e, portanto, simplesmente representado, mas agora também compreendido na sua totalidade real.

Conforme o autor, a base na ontologia materialista dialética firma a consistência do materialismo histórico como ciência. Evidenciar o ser como prioridade ontológica proporciona os fundamentos ontológicos para a compreensão do desenvolvimento histórico da atividade vital humana, o trabalho, e das outras atividades mais complexas que surgem na medida em que as relações humanas tornam-se cada vez mais sociais (LUKÁCS, 2013, p. 196).

Buscaremos trazer à luz alguns modos das forças motrizes do desenvolvimento histórico-social, fazendo uma alusão do quadro geral desse desenvolvimento e de sua conexão universal com a problemática tratada nesta pesquisa. Será também um instrumento que nos auxiliará a pensar a sociedade atual e suas necessidades, e os pores teleológicos existentes na formação do professor, na atividade de ensino e até mesmo subjacente nas políticas públicas da educação.

O trabalho ocupa extrema importância na gênese do ser social, nasce em meio à luta pela sobrevivência humana, e seus estágios são resultados da atividade do homem. Lukács (2013, p. 44) explica que

somente o trabalho tem, como sua essência ontológica, um claro caráter intermediário: ele é, essencialmente, uma inter-relação entre homem (sociedade) e natureza, tanto inorgânica (utensílio, matéria-prima, objeto do trabalho, etc.) como orgânica, inter-relação que pode até estar situada em pontos determinados da série a que nos referimos, mas antes de tudo assinala a transição, no homem que trabalha, do ser meramente biológico ao ser social. Com razão, diz Marx: “Como criador de valores de uso, como trabalho útil, o trabalho é, assim, uma condição de existência do homem, independente de todas as formas sociais, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre homem e natureza e, portanto, da vida humana”.

Lembramos que inicialmente trazemos o conceito, segundo Lukács (2013), do trabalho como fundante do ser social; as formas mais

complexas do trabalho e das atividades que surgiram a partir dele serão tratadas nas próximas seções, nas especificidades da nossa pesquisa. O trabalho, esta atividade vital humana, foi fundamental para o surgimento e o desenvolvimento de uma nova forma de ser – o ser social – e, por isso, é a categoria de base para a compreensão das posições teleológicas – que é uma das características fundamentais do trabalho – e dos demais complexos sociais, ou seja, o germe de todas as determinações do ser social. O trabalho útil ou trabalho concreto, conforme Marx (1983), é a mediação entre homem e natureza; com ele e por ele, o homem reconhece além do que é posto e desenvolve seu psiquismo e a capacidade de refletir, com a força de trabalho cria os valores de uso, os meios para a subsistência, e reproduz o gênero humano.

De acordo com Lukács (2013), a transição da animalidade ao ser social, o salto ontológico do animal ao homem, implica um processo lento e uma mudança radical da qualidade e da estrutura do ser, não é meramente biológico. Ao longo do processo do trabalho, as causas são determinadas pela estrutura social e não pelas determinações biológicas, o homem encontra problemas ou casualidades, prevê idealmente e cria um resultado que já existia em mente. No trabalho, realiza-se o pôr

teleológico, originando a objetividade e o grau mais elevado do ser, a

nova espécie de ser da qual sobressai a consciência como não mais um epifenômeno: o ser social.

O homem, além de buscar a satisfação de suas necessidades, cria a necessidade de a existência ter um sentido; assim, no ato de pôr, cujo caráter é ontológico, a consciência inicia o processo teleológico. Marx e Lukács esclarecem que a teleologia como categoria operante surge no processo do trabalho e coexiste com a causalidade, isso significa que toda teleologia, além de ter finalidade, tem conhecimento de causa. A coexistência dinâmica entre teleologia e causalidade e seus princípios heterogêneos é explicada por Lukács (2013) tomando por base Nicolai Hartmann (1882-1950)36, que separa o processo do trabalho em dois atos:

o pôr do fim e a investigação dos meios.

O pôr do fim nasce de uma necessidade humano-social e busca satisfazê-la, opera com o caráter de possibilidade e sempre transforma a consciência; porém,

36 Além de N. Hartmann, Lukács utiliza as análises dos trabalhos de Aristóteles e

Hegel; em virtude da sistematização do tema, destacamos apenas a divisão analítica feita por Hartmann.

[...] a possibilidade de realização ou fracasso do pôr do fim depende absolutamente de até qual ponto se tenha, na investigação dos meios, conseguido transformar a causalidade natural em uma causalidade – falando em termos ontológicos – posta (LUKÁCS, 2013, p. 56).

O fim regula e domina os meios, mas, embora não seja possível compreender todas as propriedades do objeto, a investigação dos meios garante o desenvolvimento ulterior do trabalho e, por conseguinte, o conhecimento dos meios pode ser mais importante que o pôr do fim. A satisfação das necessidades promove o desenvolvimento da continuidade social; no entanto,

[...] qualquer experiência e utilização de conexões causais, vale dizer, qualquer pôr de uma causalidade real, sempre figura no trabalho como meio para um único fim, mas tem objetivamente a propriedade de ser aplicável a outro, até a um fim que imediatamente é por completo heterogêneo (LUKÁCS, 2013, p. 60).

Para a finalidade tornar-se real, o conhecimento precisa ser apropriado de modo adequado a atingir a finalidade posta. Quando há erro dos nexos causais da realidade, ou o objeto não foi apreendido corretamente, o pôr teleológico não é efetivado e o processo ou o produto do trabalho não chegam ao fim posto e a causalidade posta, terminam apenas como uma posição. Todavia, na preparação dos meios está a pesquisa da natureza, a seriedade de que os resultados dos processos de trabalho possam desenvolver-se e ser concretizados. Neste momento está, também, o domínio do homem sobre a natureza, sua contribuição para o desenvolvimento da humanidade e a sua submissão à posição da finalidade (do fim). O homem

[...] só pode dominar as leis da realidade material, tomando conhecimento delas, reconhecendo-as como incondicionalmente dominantes, mas descobrindo proporções, combinações, etc., com o auxílio das quais, de sua efetivação legal, também pode surgir algo qualitativamente distinto daquilo que aconteceria em seu funcionamento existente em si sem essa interposição do pôr teleológico (LUKÁCS, 2013, p. 406-407).

Inclusive, o meio é constituído por atos cognitivos reais, e o fim da posição da causalidade pode ser objetivamente aplicável a outra finalidade. Assim, a investigação dos meios é constituída por atos cognitivos reais e contém a gênese da ciência, o pôr da causalidade real contém um nível maior de abstração do que a consciência prática, e as generalizações no processo de trabalho podem ser convertidas em fundamentos científicos.

Como produto do trabalho, a consciência humana ultrapassa a adaptação ao meio ambiente, impulsiona e orienta o processo de humanização, e está no pôr do fim, na investigação dos meios e no pôr teleológico. Demonstradas na práxis, as realizações advindas do trabalho integram a realidade como nova forma de objetividade e não como derivação da natureza. Nos pores teleológicos está a finalidade concretizada, mas, de acordo com Lukács (2013), as realizações das possibilidades reais só são possíveis porque antes de serem convertidas em ações prático-materiais são fixados os norteamentos, para a devida realização, no pensamento do homem que executa o trabalho:

A novidade ontológica dessa interposição na gênese do ser social consiste, portanto, em que, na consciência do homem, surge uma imagem correspondente à realidade objetiva, cuja análise mais minuciosa, cuja aplicação cada vez mais diferenciada à realidade, é que possibilitam a práxis material, a realização dos pores teleológicos. Essa imagem, esse espelhamento da realidade na consciência dos homens, adquiriu, portanto, uma autonomia imediata na consciência, defronta-se com esta como objeto próprio e peculiar, mediante o qual pode surgir uma análise tão indispensável, uma comparação contínua dos seus resultados com a própria realidade. O pôr teleológico exige, desse modo, certo distanciamento da realidade por parte da consciência, um pôr da relação do homem (da consciência) com a realidade: como relação sujeito-objeto (LUKÁCS, 2013, p. 407).

Sobre as manifestações e expressões da consciência, Lukács (2013) evidencia que constituem no complexo do trabalho dois atos heterogêneos e indissociáveis, a interdependência entre o espelhamento e o correlato pôr das cadeias causais. Ambos fazem parte da base da

peculiaridade do ser social e são condição para o meio e o fim do trabalho. O espelhamento atua em direção ao controle e ao aperfeiçoamento da generalização, a experiência ou os atos do espelhamento fixam a generalização e criam princípios para outras ciências, mesmo que essa intenção não esteja inicialmente no pôr do fim:

Isso mostra que a consciência relativa às tarefas, ao mundo, ao próprio sujeito, brota da reprodução da própria existência (e, junto com esta, daquela do ser do gênero), como instrumento indispensável de tal reprodução. Essa consciência se torna certamente sempre mais difusa, sempre mais autônoma, e no entanto, continua ineliminavelmente, embora através de muitas mediações, em última análise, um instrumento da reprodução do próprio homem (LUKÁCS, 2013, p. 87).

Segundo Lukács (2013), com o espelhamento, tem-se a condição decisiva para as cadeias causais, para o pôr nexos causais, e a ação da consciência provoca a separação entre o sujeito e o objeto. Nessa relação, o sujeito figura os objetos, observa e reproduz o mundo objetivo, forma o mundo conceitual que retroage sobre a representação, que é sempre influenciada pela sociedade e sua imagem; por mais que o ser social pretenda ter um aspecto fiel do real, não é uma cópia objetiva ou simples reflexo da realidade, a imagem é fixada no homem como objeto da consciência. O objeto independe dos sujeitos e, nessa interação, entre opostos, o sujeito que escolhe é ser social e tem um ser que independe dele, é capaz de observar e de reproduzir o ser-em-si observado.

Conforme Lukács (2013), o ser social separa-se do seu ambiente, distanciando-se do objeto, confrontando-o e subdividindo-se em dois momentos heterogêneos e opostos: o ser e o seu reflexo na consciência. O reflexo determinado pelo objeto não elimina a dualidade e, ao separar- se da realidade, dirigindo-se à totalidade do objeto, busca a apreensão do ser-em-si do objeto. Nesse processo de objetivação e de distanciamento, a reprodução da realidade é determinada pelos pores do fim, pela reprodução da vida; assim, o espelhamento é o oposto do ser, a transição do não ser para o ser social (a realização do salto qualitativo no desenvolvimento humano), bem como para novas objetividades e para a reprodução do ser social. O aumento da distância entre sujeito e objeto permite a maior complexificação do objeto, embora a consciência que reflete adquira o caráter de possibilidade.

O espelhamento constitui dinamicamente a alternativa e a escolha de uma alternativa. “A alternativa, que também é um ato de consciência, é, pois, a categoria mediadora com cuja ajuda o espelhamento da realidade se torna veículo do pôr de um ente” (LUKÁCS, 2012, p. 73). Assim sendo, com as transformações do pôr teleológico, a barreira natural tende a retroceder, e a alternativa, com base nos erros e acertos da decisão alternativa, inicia a decisão e uma cadeia de novas alternativas, devendo sempre ser concreta. Lukács (2013, p. 76) esclarece que

para entender bem as coisas não se pode esquecer que a alternativa, qualquer lado que seja vista, somente pode ser uma alternativa concreta: a decisão de um homem concreto (ou de um grupo de homens) a respeito das melhores condições de realização concretas de um pôr concreto do fim. Isso quer dizer que nenhuma alternativa (e nenhuma cadeia de alternativas) no trabalho pode se referir à realidade em geral, mas é uma escolha concreta entre caminhos cujo fim (em última análise, a satisfação da necessidade) foi produzido não pelo sujeito que decide, mas pelo ser social no qual ele vive e opera.

Desse modo, o pôr teleológico, no qual o projeto é resultado das cadeias alternativas, é sempre possibilidade criada pela decisão em alternativa, e o campo das alternativas é determinado pelo complexo do ser que existe independente do sujeito. Os pores teleológicos podem, inclusive, tornar-se reflexo condicionado, não deixando de ter a origem no espelhamento e na alternativa orientada pelo pôr do fim – a atividade da consciência pode transformar os pores teleológicos em reflexos condicionados fixos, que, fixados por experiências acumuladas, podem ser modificados por outros pores fixos ou revogáveis.

Em outro aspecto, em tal relação, as cadeias causais devem se transformar em realidade posta e, mesmo que não eliminem todas as possibilidades das propriedades do objeto, têm como objetivo submeter as causalidades naturais e ser a passagem da possibilidade à realidade, ou, da potência a um ente. Caso contrário, permanece um não existe mesmo se obtiver um espelhamento correto da realidade e poder vir a ser, em outra relação, um existente. Portanto, o processo social da realidade no processo de trabalho determina as possibilidades e nas alternativas, e, no momento da decisão e da escolha, está a consciência humana e o conhecimento. A ação de conhecer, esse caráter cognitivo, é, de acordo

com Lukács (2013), o conteúdo ontológico essencial da alternativa, no qual o homem, diante das necessidades e satisfações imediatas, introduz o trabalho como mediação na cadeia de alternativa. A consciência permite que o homem crie o autodomínio, do instinto e do puramente emocional, possibilitando o maior espelhamento objetivo e a compreensão concreta do objeto. Similarmente, o homem adapta-se e cria a adaptação das circunstâncias não criadas pela natureza, estabelece pores, teóricos e práticos.

O homem faz escolhas com base em alternativas concretas e, no reflexo e em sua elaboração na consciência (na observação e experiência), são identificadas as propriedades do objeto que o tornam adequadas ou não para uma finalidade. A consciência surge como instrumento indispensável da reprodução do sujeito e

[...] tendo se originado no trabalho, para o trabalho e mediante o trabalho – a consciência do homem intervém em sua atividade de autorreprodução. Podendo pôr as coisas assim: a independência do espelhamento do mundo externo e interno na consciência humana é um pressuposto indispensável para o nascimento e desenvolvimento ascendente do trabalho (LUKÁCS, 2013, p. 87).

Consequentemente, na alternativa do processo de trabalho está o que Lukács (2013) chamou de germe da liberdade. Um dos pressupostos de Lukács para chegar a essa questão vital é abordar a dupla relação de vínculo e dependência entre teoria e práxis, aliás “não existe nenhum problema humano que não tenha sido, em última análise, desencadeado e que não se encontre profundamente determinado pela práxis real da vida social” (LUKÁCS, 2013, p. 119).

Todavia, a práxis só é possível com o pôr teleológico do sujeito, trata-se de um processo cognitivo que age sobre o natural ou sobre a espontaneidade biológica e intenciona o reflexo da realidade objetiva. Para a realização do trabalho, o sujeito singular precisa capturar a realidade objetiva e escolher o mais adequadamente possível os fins e os meios. Nesse processo, encontram-se a ação determinante sobre o sujeito humano e o salto no desenvolvimento – a adaptação do homem transforma-se em consciência e desdobra-se às circunstâncias escolhidas pelo próprio homem –; nesse processo, o homem inicia e efetiva as posições, acumula experiências, elimina e conserva movimentos. Ao

firmar as posições teleológicas, cada vez mais objetivas e com conhecimento, o homem determina sua práxis, que é fundada na totalidade social e orientada para esta, justificando, em toda a práxis, o critério para a teoria. A experiência, nesse sentido, tem em vista a generalização, pois permite o julgamento de valor em nível de generalização, no qual a representação é influenciada pela sociedade e influente na práxis social.

Em virtude disso, o homem atua sobre as relações causais para realizar o fim que só será efetivo se conduzir a realização do que deve- ser; sendo assim, o pôr do fim movimenta toda a cadeia causal (já que é o ato decisivo do ser), o fim chega à consciência antes da realização, e o agir é conduzido pelo dever-ser do fim. Conforme Lukács (2013, p. 98- 99), o dever-ser caracteriza a práxis, e

o momento determinante imediato de qualquer ação intencionada que vise à realização deve por isso ser já esse dever-ser, uma vez que qualquer passo em direção à realização é determinado verificando se e como ele favorece a obtenção do fim. O sentido da determinação inverte-se deste modo: na determinidade normal biológica, causal, portanto tanto nos homens quanto nos animais, surge um desdobramento causal do qual é sempre inevitavelmente o passado que determina o presente. Também a adaptação dos seres vivos a um ambiente transformado decorre da necessidade causal, na medida em que as propriedades produzidas no organismo por seu passado reagem a tal transformação, conservando-se ou destruindo- se. O pôr de um fim inverte, como já vimos, esse andamento: o fim vem (na consciência) antes da sua realização e, no processo que orienta cada passo, cada movimento é guiado pelo pôr do fim (pelo futuro). Sob esse aspecto, o significado da causalidade posta consiste no fato de que os elos causais, as cadeias causais etc., são escolhidos, postos em movimento, abandonados ao seu próprio movimento, para favorecer a realização do fim estabelecido desde o início.

O que decide o ato do sujeito é o pôr teleológico, por isso o que os determina é o dever-ser da práxis (vale ressaltar que, entre teleologia e causalidade, a teleologia assume o momento predominante), cuja essência

ontológica no trabalho atua sobre o sujeito que trabalha, determinando o comportamento no trabalho e na relação ao próprio sujeito do processo de trabalho. Nesse aspecto, o fim consciente é posto antes da realização, e todos os movimentos são guiados à posição do fim futuro, a saber, o espelhamento correto da realidade é efetivado quando conduz à realização do que deve-ser, e toda decisão, alternativa e meios podem ser avaliados a partir da finalidade da realização. Conforme Lukács (2013), o trabalho pode ter êxito quando sua base estiver na objetividade, e a subjetividade desempenhar um papel apenas auxiliar, isto é, as capacidades mobilizadas do homem são orientadas pela objetividade do processo e para a transformação do objeto e

disso se segue que o comportamento concreto do trabalho é, para o trabalho, de modo primário, o fator decisivo; o que acontece no interior do próprio sujeito não tem por que exercer necessariamente uma influência sobre este. Certamente já vimos que o dever-ser do trabalho desperta e promove certas qualidades dos homens que mais tarde serão de grande importância para as