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CAPÍTULO III – METODOLOGIA

3.2. Aptidão física relacionada à saúde

3.2.1. Composição corporal (antropometria)

Os parâmetros antropométricos considerados foram o peso (kg), a altura (m) e o PC (cm), sendo os dois primeiros utilizados no cálculo do IMC (IMC=peso/altura2). O peso foi medido descalço e com a menor quantidade de roupa possível, utilizando a balança digital SECA 702 (Seca Corporation, Hamburg, Germany). A avaliação da altura foi realizada em posição antropométrica e descalço, com o estadiómetro SECA 220 (Seca Corporation, Hamburg, Germany) acoplado à referida balança, sendo o resultado considerado no final da inspiração profunda (Heyward &Wagner, 2004). Em relação ao PC, a sua avaliação foi efetuada cumprindo os procedimentos definidos por Callaway et al. (1988), tendo sido utilizada a fita antropométrica Rosscraft (Rosscraft Inovation Incorporated, Canadá). A medição foi realizada com o indivíduo em posição antropométrica e o resultado considerado no final da expiração normal. Foram realizadas pelo menos duas medições para cada um destes parâmetros, sendo considerados os limites de tolerância definidos por Sobral (1985) (0,2 kg para o peso, 2 milímetros (mm) para a altura e 1 cm para o PC) e considerado o valor médio.

O excesso de peso aceitável ou patológico, com base na utilização do IMC, obedeceu aos critérios estabelecidos por Cole et al. (2000), ilustrados no Quadro 2 para cada um dos géneros.

Quadro 3.2 – Classificação do excesso de peso aceitável e patológico (obesidade) com base na utilização do

índice de massa corporal (IMC) e dos critérios estabelecidos por Cole et al. (2000).

Idade (anos) IMC entre 25 kg/m2 e 29,9 kg/m2 ________________________________________ IMC≥ 30 kg/m2 _________________________________________

Género Masculino Género Feminino Género Masculino Género Feminino

10 19,8 19,9 24,0 24,1 10,5 20,2 20,3 24,6 24,8 11 20,6 20,7 25,1 25,4 11,5 20,9 21,2 25,6 26,1 12 21,2 21,7 26,0 26,7 12,5 21,6 22,1 26,4 27,2

Em relação ao PC, a sua classificação obedeceu às orientações estabelecidas pela

International Diabetes Federation (2007), estando os valores de corte para cada um dos

géneros e em função da idade ilustrados no Quadro 3.3.

Quadro 3.3 – Classificação do perímetro da cintura de acordo com os critérios da International Diabetes

Federation (2007).

Idade Género Masculino Género Feminino

10 Anos 77,7 75,5

11 Anos 81,1 78,3

12 Anos 84,5 81,2

As avaliações antropométricas foram precedidas de um treino com supervisão especializada e objeto da determinação dos erros técnicos de medida intra-avaliador (absolutos e relativos), sendo observadas as medições em duplicado destas variáveis em 4 rapazes e 4 raparigas com 10-12 anos (Anexo 9) e tendo em consideração a metodologia definida por Norton & Olds (2000). As recolhas efetuadas no ano letivo 2010-2011 estiveram a cargo de dois avaliadores, sendo apresentados no Quadro 3.4, os erros técnicos de medida obtidos.

Quadro 3.4- Erros técnicos das medidas obtidas numa subamostra de 8 adolescentes (10-12 anos: 4 raparigas e 4

rapazes)

Avaliadores Variáveis Erro Técnico de Medida Absoluto – ETM (absoluto)

Erro Técnico de Medida Relativo – ETM (relativo, %)

1 Peso (kg) 0 0 Altura (m) 0 0 Perímetro da Cintura (cm) 0,32 0,50 2 Peso (kg) 0 0 Altura (m) 0,01 0,68 Perímetro da Cintura (cm) 0,80 1,25 3 Peso (kg) 0 0 Altura (m) 0 0 Perímetro da Cintura (cm) 0,11 0,19

O erro técnico de medida (ETM) absoluto foi obtido pela fórmula ETM (absoluto)= (d2/2n)0,5, sendo d2 o somatório dos quadrados da diferença entre cada par de medidas replicadas e n, o número de comparações. Para o cálculo do erro técnico de medição relativo – ETM (relativo, %) procedeu-se à divisão do erro técnico de medida absoluto pelo valor médio da variável, multiplicando posteriormente por 100. Os dados expressos no Quadro 3.4 para cada um dos avaliadores, revelaram valores aceitáveis (inferiores a 1,5%) para um avaliador iniciante (Norton & Olds, 2000; Perini, Oliveira, Ornellas, & Oliveira, 2005).

3.2.2. Aptidão aeróbia

A aptidão aeróbia foi avaliada através do teste do vaivém da Bateria de Testes FitnessGram, cumprindo as orientações definidas no respetivo manual (NES, 2002). O objetivo deste teste é percorrer a máxima distância possível numa direção e na oposta (20 m), com uma velocidade que vai crescendo a cada minuto. Assim sendo, o aluno terá que percorrer uma distância de 20 m respeitando a cadência imposta pelo CD. Depois de percorrer 5 percursos e ao fim de cada minuto ouvem-se 3 sinais sonoros, assinalando que a velocidade vai aumentar. O aluno tem que tocar a linha ao sinal sonoro, mas se chegar antes do mesmo, deverá esperar para correr em sentido contrário. O máximo do tempo da prova é de 21 minutos, o que equivale a 21 patamares de esforço.

É contabilizado o número de percursos realizado pelo adolescente. A primeira vez que não conseguir tocar a linha ao sinal sonoro ainda poderá continuar em prova, sendo a mesma interrompida se essa situação se repetir. No Quadro 3.5 é indicado o número de percursos a ser efetuado por raparigas e rapazes, no sentido dos mesmos serem classificados como estando dentro da zona saudável de aptidão física (NES, 2002).

Para a realização desta avaliação foi utilizado um espaço plano com aproximadamente 22 m de comprimento, um computador portátil, um CD com o teste, uma ficha de registo por cada aluno (Anexo 4), uma fita métrica (destinada à medição da distância entre as linhas) e sinalizadores para delimitar o terreno. É de salientar que antes da realização dos testes de aptidão aeróbia e muscular foi realizado um aquecimento de 10 minutos, ilustrado no Anexo 5.

Quadro 3.5 - Valores de aptidão aeróbia para a zona saudável de aptidão física (NES, 2002).

Idade Teste de Vaivém (número de percursos)

Raparigas Rapazes

10 anos 15 – 41 23 – 61

11 anos 15 – 41 23 – 72

12 anos 23 – 41 23 – 72

A fiabilidade do teste anteriormente mencionado foi testada em 20 alunos americanos com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos, sendo 12 do género masculino e 8 do género feminino. Foram alcançados valores de 0,65 para os adolescentes do género masculino e 0,51 para os do género feminino, sendo a sua reprodutibilidade obtida através de duas sessões do teste, aplicadas com um intervalo de uma semana entre si. Foi obtido um coeficiente de 0,93 (Lui, Plowman, & Looney, 1992).

3.2.3. Aptidão muscular

A aptidão muscular foi avaliada através da Bateria de Testes de Fitnessgram, mais propriamente o Teste senta e alcança e o Teste de Abdominais. O Teste Senta e Alcança avalia a flexibilidade dos músculos posteriores da coxa e tem como objetivo alcançar a distância especificada na Zona Saudável de Fexibilidade para o lado direito e para o lado esquerdo do corpo. Neste teste, o aluno deve permancecer descalço, sentar-se e estender uma

perna, com a planta do pé em contacto com a caixa, enquanto o outro joelho fica fletido com a planta do pé assente do chão. Com as palmas das mãos viradas para baixo e sobrepostas, o aluno flete o corpo 4 vezes, mantendo as mãos sobre a régua, mantendo a posição na quarta tentativa durante pelo menos 1 segundo. O teste é depois realizado do outro lado. A tentativa deve ser repetida se as mãos não estão juntas ou se o joelho flectir e é permitido o movimento do joelho que está flectido para o lado. Regista-se a distância alcançada em cm, com um máximo de 30 cm, para evitar a hiperflexão da zona lombar (NES, 2000).

No que diz respeito à apreciação da força e resistência abdominal, foi aplicado o Teste de Abdominais, definido na manual do FitnessGram (NES, 2000), procurando o executante completar o maior número possível de execuções, num máximo de 75, utilizando uma cadência própria. Partindo na posição de decúbito dorsal, com os joelhos fletidos (140º), os pés totalmente apoiados no solo e os braços estendidos (palmas das mãos para baixo), o executante realizava a flexão anterior do tronco, deslizando os dedos até à extremidade mais distante da referência (definida pela faixa de contraplado utilizada). Regressava depois à posição incial, apoiando a cabeça nas mãos do colega, executando todo o movimento de forma lenta e controlada e cumprindo a cadência estabelecida de 20 repetições por minuto (1 por cada 3 segundos). O teste terminava ao fim de 75 repetições ou por impossibilidade do executante em lhe dar continuidade, sendo que a primeira repetição mal executada não era contabilizada e, à segunda, o teste era interrompido (NES, 2002).

Para o teste de abdominais foram utilizadas 7 faixas de contraplado, 7 colchões de ginástica retangulares, fita cola para prender as faixas aos colchões, um computador portátil, um CD com a cadência estabelecida e uma grelha de registo (Anexo 6). No que diz respeito ao teste sentar e alcançar foi utilizada uma caixa de flexibilidade e uma grelha de registo (Anexo 6).

Quadro 3.6 - Valores de aptidão muscular para a zona saudável de aptidão física (NES, 2002).

Idade Teste de Abdominais

(número de repetições)

Teste Sentar e Alcançar (cm)

Raparigas Rapazes Raparigas Rapazes

10 anos 12 – 26 12 – 24 23 20

11 anos 15 – 29 15 – 28 25,5 20

No que diz respeito à reprodutibilidade do teste de abdominais, esta é documentada num estudo realizado por Anderson et al (1997) citado por Plowman (2008) in Welk & Meredith (2008), onde participaram 236 crianças (107 rapazes e 129 raparigas) dos 6 aos 10 anos e em que foi obtido um coeficiente de correlação intraclasse de 0,70.

Num estudo realizado por Figueiredo et al. (2011), em 175 adolescentes portugueses de ambos os sexos, os autores identificaram um valor de correlação intraclasse de 0,96 (0,95- 0,97).

Já para o teste senta e alcança, foi realizado um estudo por Patterson et al. (1996), citado por Plowman (2008) in Welk & Meredith (2008), envolvendo 88 adolescentes dos 11 aos 15 anos, dos quais 42 eram rapazes e 46 raparigas. O coeficiente de correlação intraclasse teve um valor de 0,99 para ambos os lados avaliados.

3.3. Atividade física habitual

A avaliação da AFH foi realizada com o BQHPA (Anexo 3), sendo apreciadas as dimensões de AFE, AFD e AFL.

A precisão deste instrumento de medição da AF está documentada em dois estudos desenvolvidos em adolescentes Portugueses (Cardoso, 2000; Henriques, 2000). No primeiro, desenvolvido com jovens entre os 10 e os 17 anos, o autor analisou as correlações encontradas para cada índice de AF por ano de escolaridade, documentando valores superiores a 0,80 para um período de replicação da avaliação de um mês (entre 0,81 e 0,89 para a AFE, entre 0,80 e 0,87 para a AFD e entre 0,83 e 0,84 para a AFL). No estudo de Cardoso (2000), realizado com adolescentes entre os 10 e os 18 anos, são registados coeficientes de correlação intraclasse entre 0,78 e 0,90 para os vários índices de AF (0,81 para a AFE, 0,87 para a AFD, 0,79 para a AFL) e de 0,89 para a AF total.

Os adolescentes implicados neste estudo procederam ao preenchimento do questionário no final da realização de todos os testes da aptidão física. O processo foi conduzido com a supervisão das investigadoras, tendo sido explicado o preenchimento do questionário e esclarecidas as dúvidas levantadas pelos alunos.

3.4. Qualidade de vida relacionada à saúde

A QVRS foi avaliada através do questionário Kidscreen 27, incluindo uma versão para as crianças/adolescentes (Anexo 7), entre os 8 e os 18 anos, e outra para os seus cuidadores (Anexo 8). Trata-se de um questionário de autopreenchimento, tendo como período de referência a última semana e cuja pontuação obedece a uma codificação própria. Envolve um total de 27 itens agrupados em 5 dimensões: (1) Bem-estar físico, espelha o nível de AF, energia e aptidão das crianças e adolescentes; (2) Bem-estar psicológico, revela sentimentos e emoções positivas como a felicidade, a alegria e boa disposição; (3) Autonomia e relação com

os pais, avalia o nível de autonomia de crianças/adolescentes, olhando para a oportunidade

dada à criança/adolescente para definir o seu tempo social e de lazer, e explora a qualidade da interação entre a criança/adolescente e os pais, incluindo sentimentos de amor, compreensão e suporte destes últimos; (4) Suporte social e grupo de pares, analisa as relações sociais com amigos/pares e se a crianças/adolescente se sente aceite e apoiado por eles; (5) Ambiente

escolar, examina a perceção da criança/adolescente e a sua capacidade cognitiva para

aprender e se concentrar e os seus sentimentos relativamente à escola, incluindo o relacionamento com os seus professores (Gaspar et al., 2005; Gaspar & Matos, 2008).

O Kidscreen 27 – versão adolescentes foi aplicado no final da avaliação da aptidão física. Todo o processo foi supervisionado pela investigadora, para que eles pudessem tirar dúvidas sempre que as mesmas surgissem. A versão dirigida aos pais/cuidadores foi distribuída pelos mesmos e tratada posteriormente.

A validade deste teste é documentada por Robitail et al (2007), resultando de um estudo conduzido em 22827 crianças e adolescentes de 13 países europeus, com idades compreendidas entre os 8 e os 18 anos. O alpha de Cronbach obtido situou-se entre 0,78 – 0,84, demonstrando uma elevada consistência interna.

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