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Em 2008, o grupo Diários Associados implanta em Pernambuco o jornal Aqui PE. Neste momento, o subcampo do jornalismo impresso era ocupado pelas disputas entre Jornal do

Commercio, Diario de Pernambuco e Folha de Pernambuco. Com um viés mais "cômico" e "sensacional", o Aqui PE surge com o objetivo de ser acessível, como afirma o editor do jornal, "à classe C, D e até um pouco da E também" (informação verbal)28.

As disputas internas ao campo jornalístico vão funcionar no mesmo sentido de impacto de quando a segunda Folha de Pernambuco começou a funcionar no Estado: é um jornal dito "popular" que pretende chamar a atenção através dos cadernos de polícia e de esportes, o que de alguma forma acirraria a disputa com a Folha de Pernambuco. E, o que aconteceu no início da Folha de Pernambuco vai se repetir: o veículo torna-se um sucesso comercial: "Rapidamente começou a ter um reconhecimento em termos de venda e com o tempo acabou pegando também um pouco do público B e até A" (informação verbal)29. O impacto do Aqui PE no campo foi em vários sentidos e atingiu todos os veículos:

Roubou anunciantes nossos, tirou anunciantes do Diario e chegou a preocupar sim. Hoje em dia está muito clara a linha da gente, então não preocupa tanto. Chegou a preocupar porque eu me lembro até que quando o Aqui PE surgiu, como o nosso jornal era um jornal mais popular e de polícia, eu era editora do Grande Recife e em um final de semana eu perdi 7 repórteres para o Aqui PE. Era um atrás do outro me ligando (informação verbal)30.

Ainda em 2008, durante a fase inicial do jornal, todo o conteúdo era feito pela redação. Na época, a redação era formada por um editor, três editores assistentes, três diagramadores, três estagiários e quatro repórteres (informação verbal) 31 . Embora não houvesse uma restrição de troca de matérias entre o Diario de Pernambuco e o Aqui PE, acontece, alguns anos depois, um enxugamento (a equipe de repórteres vai ser formada apenas por estagiários) e o jornal passa a utilizar-se do material do Diario:

Só que aí como houve essa... Na verdade não foi nem uma questão de corte, mas uma questão de interseção dos veículos. (...) Ao invés de ter uma perda de qualidade, houve um ganho, porque a equipe do Diario é muito maior e a gente tem a liberdade de utilizar o material deles. O que a gente faz mais é aproveitar, por exemplo, o conteúdo do site. Os estagiários fazem os

28 Entrevista concedida à pesquisadora pelo editor do Aqui PE Rafael Antunes, Recife, Dezembro de

2015.

29 Idem.

30 Entrevista concedida à pesquisadora pela ex-editora do caderno de Cidades da Folha de

Pernambuco, Márcia Alves, Recife, Novembro de 2015

31 Entrevista concedida à pesquisadora pelo editor do Aqui PE Rafael Antunes, Recife, Dezembro de

conteúdos das seções Tempero da Gente, Craque da Comunidade, por exemplo e uma matéria especial que sai no fim de semana (informação verbal)32.

Haverá aqui, portanto, uma relação interessante. Apesar de fazer uso dos conteúdos do Diario de Pernambuco - como veremos na análise da cobertura, as adequações são, além do espaço (as matérias são mais curtas) feitas principalmente em títulos, subtítulos e legendas para tentar uma aproximação ao tom mais cômico que o jornal tenta proporcionar. Assim, mesmo que tenha um número reduzido de seções diárias, a maioria dos textos é mera reprodução do conteúdo que seria destinado ao público do Diario de Pernambuco. Entre os cadernos, o Aqui PE traz o Geral (notícias do Brasil e do mundo, concursos e empregos), Polícia, Alô! Alô! (espaço para leitores/as e notícias locais), Superesportes e Te contei (celebridades, programação de TV, cinema, horóscopo e entretenimento).

Tanto por utilizar-se do conteúdo dos jornais, quanto por ser um veículo que traz o formato de tabloide sensacionalista, há uma negação dos agentes do campo em relação ao Aqui PE. Durante o período das entrevistas, por exemplo, ao falar sobre os veículos impressos de comunicação, jornalistas, editores/as e fotógrafos/as do Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco e Diario de Pernambuco falavam destes três veículos e raramente o Aqui PE foi citado. A relação mais interessante aqui é a disputa entre Folha de Pernambuco e o Aqui PE. Enquanto a Folha de Pernambuco tinha, como público, dominantes e dominados da classe dominada, o Aqui PE trazia, como foco, a fração dominada da classe dominada. E este é um fator fundamental para pensar o que Neveu (2006), como já falamos acima, chama de "sociologia de leitores". No subcampo, do ponto de vista do capital econômico, o Aqui PE torna-se o jornal mais lido do Estado. Já entre os pares, o jornal não tem legitimidade: "O Aqui PE ainda é um jornal de uma linha que não era a linha da Folha de antes, sabe? No Aqui PE você vê manchetes horríveis." (informação verbal)33; "Eu não pautava o Aqui PE porque ele é um grande catálogo de sensacionalismos, né?" (informação verbal)34. A maioria das falas que negam o veículo gira em torno de uma visão sobre um formato de jornalismo que deveria tratar de forma mais séria os assuntos diários e que não reconhece, nos jornais

32 Entrevista concedida à pesquisadora pelo editor do Aqui PE Rafael Antunes, Recife, Dezembro de

2015.

33 Entrevista concedida à pesquisadora pela ex-editora do caderno de Cidades da Folha de

Pernambuco, Márcia Alves, Recife, Novembro de 2015

34 Entrevista concedida à pesquisadora pela ex-assessora do Fórum LGBT de Pernambuco, Natália

populares, uma proposição que possa fazer jus às definições propostas pelos pares sobre o que seria o jornalismo.