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1.3. Língua

1.3.3 Aquisição/ Aprendizagem de uma Língua Materna

Uma criança nasce e desde os seus primeiros dias de vida encontra-se em permanente situação “ comunicativa “, em primeiro lugar tendo perto a mãe que a estimula assim como o espaço familiar onde se insere. Como é que a criança adquire a linguagem nesse meio? Tem sido uma pergunta feita por muitos linguistas, teóricos e psicólogos.

Segundo Vygotsky (1979) a aquisição da LM dá-se quando os aspectos primitivos da fala e os aspectos mais complexos do domínio gramatical começam por ser percepcionados pela criança de uma forma inconsciente. Pois uma criança para falar não precisa ter consciência dos aspectos gramaticais que estão envolvidos no seu discurso. Em relação a uma LE todo o processo é aprendido de uma forma consciente. E a produção de um discurso numa LE exige da criança um esforço para aprender a componente gramatical assim como os vários domínios da língua. O importante será destacar que o êxito nesta aprendizagem

depende, em larga medida da maturidade da criança na sua própria língua, e o seu empenho no sentido se interiorizar a estrutura de uma LE. A aquisição/ aprendizagem de uma LM é determinada pelo contexto, familiar, social onde a criança está inserida, sem olvidarmos a componente física.

Na aquisição e desenvolvimento de uma LM há factos que são normais em qualquer criança independentemente do seu país de nascença (sem se levar em conta aquelas que sofreram anomalias patologias e impediram o seu desenvolvimento físico e mental). As crianças adquirem a LM nos primeiros anos de vida, assimilando assim todo um sistema linguístico que se diz complexo.

Segundo Jones (1984), as manifestações da linguagem traduzem-se nos primeiros meses de vida em sons e palreio, e são idênticas em todas as crianças. Só mais tarde é que elas começam a assimilar os sons e as cadeias fónicas das línguas das comunidades que se inserem, começando aí a surgir algumas diferenças. Para este autor as crianças portadoras de línguas europeias adquirem, em primeiro lugar, os nomes para designar os objectos do seu mundo; as crianças portadoras de dialectos índios assimilam com primeiras palavras os verbos de acção. O aspecto que une estas duas formas de aquisição da linguagem é a necessidade de comunicar com os que fazem parte do seu mundo.

Segundo Krashen (1989), a aquisição da língua é processada de uma forma inconsciente; a sua apreensão dá-se pela exposição natural da criança à mesma. Aprendizagem da língua, por sua vez é processada de forma consciente; a sua assimilação depende do estudo dos seus diferentes aspectos formais. Este autor defende que os conhecimentos que a criança ganha de uma forma consciente servirão o propósito único de controlar a linguagem e nunca se transformarão em verdadeira aquisição.

Littlewood (1984) defende que o termo “aquisição deve ser utilizado relativamente aos aspectos subconscientes da assimilação de uma língua, e o termo” aprendizagem” deve ser aplicado aos aspectos conscientes.

Na visão de Sim-Sim (1995) ao falar-se de aquisição da linguagem está-se a referir ao “processo da apropriação subconsciente de um sistema linguístico, via exposição, sem que para tal seja necessário um mecanismo formal de ensino”. Em muitas situações confundem-se estes dois conceitos – aquisição e aprendizagem. Ambos conduzem à apropriação de conhecimento, e torna-se importante que seja diferenciada: aprendizagem é o “processo por meio do qual, e através da experiência ou da prática, de forma mais ou menos consciente, se instalam modificações no desempenho do sujeito”. Ao contrário da aquisição, a aprendizagem envolve a consciencialização do conhecimento a aprender e uma explicitação e análise de quem ensina.”Segundo Sim-Sim (1998:28), pode-se estabelecer ligações entre a aquisição e a apreensão de uma língua que resulta da exposição do falante à mesma, e entre a aprendizagem e a assimilação da língua baseada no estudo dos seus aspectos formais, como exemplos: aquisição da linguagem oral e aprendizagem da linguagem escrita, ou de uma LE. Existe uma grande interação entre estes dois tipos de processos. Os resultados obtidos por aquisição são mais fluentes e automáticos, enquanto os resultados da aprendizagem reflectem níveis superiores de consciencialização na apreensão do conhecimento. De facto, mais facilmente explicamos como aprendemos a ler do que como começámos a falar.

A aquisição da LM é natural e espontânea por parte da criança que não precisa de ensino. Esta aquisição implica a assimilação de regras específicas da língua no que diz respeito à forma, ao conteúdo e ao uso da língua. No que diz respeito à forma, as regras assimiladas dizem respeito aos sons e respectivas combinações (fonologia), à formação e estrutura interna das palavras (morfologia) e à organização das palavras em frase (sintaxe). As regras referentes ao

conteúdo (semântica) servem o significado das palavras. Finalmente, as regras de uso (pragmática) visam a adequação de comunicação, Sim-Sim (1998).

Muitas teorias defendem pontos de vista diferentes em relação à aquisição/ aprendizagem de uma LM. Segundo a teoria behaviorista tudo o que sabemos inclusivamente a linguagem é o resultado da experiência e da aprendizagem. “ As

crianças ganham mestria do comportamento verbal através da interacção com o ambiente, imitando o que observam à sua volta. O papel do meio, particularmente o dos país, é julgado determinante na estabilização do comportamento linguístico da criança, o que significa que o desenvolvimento da linguagem depende exclusivamente de variáveis ambientais, sendo determinado pela prática ou exercício e não pela programação genética.”Sim-Sim (1998).

Com base na teoria inatista, a criança desenvolve-se não porque aprende um conjunto de respostas, mas porque herdou uma organização mental que lhe permite detectar no meio a que é exposta as regularizações que conduzem às regras do conhecimento, qualquer que ele seja. A aquisição da linguagem é explicada por uma capacidade específica, geneticamente determinada, uma espécie de núcleo fixo inato. O desenvolvimento é resultado da maturação neurológica, logo idêntica em todas as crianças.

Segundo Chomsky, citado por Sim-Sim (1998), a criança ao nascer traz consigo a capacidade inata para a aquisição da sua LM.Com base na observação, (re) constrói para si própria a gramática da língua a que é exposta.

De acordo com a teoria cognitivista a aquisição da linguagem se processa através de um sistema complexo de processos interactivos (de acomodação/ assimilação) que permite manipular, codificar e produzir informação. Assim sendo perante uma informação linguística fornecida pelo meio, o cérebro a assimila às estruturas já existentes, enquanto que simultaneamente acomoda essas

estruturas para permitir a inclusão de uma informação linguística nova. Segundo esta teoria a aquisição da linguagem depende das aquisições cognitivistas (da inteligência).

Na visão de Sim-Sim, Duarte & Ferraz (1997) a criança nos primeiros meses de vida faz uma aquisição de ordem fonológica, que tem o seu início através de simples palreio e riso (por volta dos dois-três meses de idade) que se vai complexificando até chegar à produção de sílabas e entoação das primeiras palavras (isso por volta dos nove-catorze meses). Mais tarde com mais ou menos três anos de idade, ela revela produção do domínio articulatório, reconhece os sons da sua LM e, por volta dos 4 – 5 anos, a criança adquire todos os sons da sua língua. O campo vocabular da criança se vai desenvolvendo assim como a compreensão lexical e sintáctica e é nesta fase (dos 5 -6 anos) que a criança entra para a escola e ali a aquisição da linguagem atinge níveis significativos pois fica exposta a contextos mais alargados que favorecem o enriquecimento linguístico da criança. Ali se dá a aprendizagem da escrita que favorece uma reflexão sobre o conhecimento já adquirido e lhe possibilita o conhecimento de novas estruturas linguísticas.

De tudo o que se têm dito deve-se levar em conta que a aquisição da linguagem é um processo contínuo tendo o seu início na infância e prolongando- se ao longo de toda a vida do ser humano. O uso que cada falante faz da língua reflecte o conhecimento linguístico que vai assimilando sob a influência de condições ligadas à personalidade, à inteligência, ao meio social e à cultura do falante.