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Aquisição e desenvolvimento da leitura

No documento Vera Lúcia Orlandi Cunha (páginas 54-57)

REVISÃO DA LITERATURA

2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Sistema de escrita

2.5 Aquisição e desenvolvimento da leitura

Antes da alfabetização, a criança já tem desenvolvidas muitas habilidades que são necessárias para a aquisição da leitura e da escrita, o que significa, na teoria do processamento da informação, que já possui muitas unidades no seu sistema de reconhecimento auditivo e no seu sistema de produção e compreensão da fala. São informações incompletas, mas utilizáveis, dos componentes do processamento de informação comuns à audição, à fala e à escrita. A criança, por meio do processo de alfabetização, desenvolverá os sistemas de reconhecimento e de produção da linguagem escrita integrando-os àqueles que já possui para a produção da linguagem oral (BARRERA; MALUF, 2003; CAPELLINI, 2003; PINHEIRO, 1994).

A leitura envolve uma variedade de processos que se inicia na identificação visual das letras e vai até a compreensão do conteúdo e do contexto da palavra escrita. A maior parte dos modelos psicolingüísticos de leitura descreve pelo menos três níveis envolvidos nessa atividade: análise ortográfica das formas visuais das palavras; processo fonológico associado com os sons da língua; e análise semântica do significado das palavras e frases (KATZIR et al, 2005).

As teorias que estudam os processos cognitivos envolvidos na aquisição da leitura e escrita, mediante a abordagem do processamento da informação, dividem esse processo em estágios ou fases de acordo com seus autores, conforme descrito por Santos e Navas (2004, p. 9-11):

Marsh, Friedman, Welsh e Desberg (1981) dividiram o desenvolvimento da leitura e escrita em quatro estágios, baseados na teoria de desenvolvimento intelectual de Piaget: adivinhação lingüística, aproximação visual, decodificação seqüencial e decodificação hierárquica.

- Adivinhação lingüística: no início da alfabetização, há a aquisição de um número reduzido de palavras que podem ser reconhecidas visualmente como se fossem desenhos, não havendo semelhança com a palavra impressa.

- Aproximação visual: ocorre ainda no primeiro ano da alfabetização. Há o reconhecimento de algumas características gráficas da palavra, com a tentativa de

ler palavras isoladas desconhecidas produzindo palavras (entre aquelas que já conhece visualmente) que tenham similaridade visual com a palavra desconhecida. A criança utiliza pistas gráficas que podem ser desde o tamanho da palavra até a letra inicial.

- Decodificação seqüencial: ocorre por volta dos sete anos. Caracteriza-se pela aquisição de regras simples de correspondência fonema-grafema, levando ao desenvolvimento de estratégias de decodificação para a leitura de palavras novas.

- Decodificação hierárquica: ocorre entre oito e dez anos. É caracterizada pela capacidade de usar regras contextuais para a decodificação de um novo estímulo. No final desse estágio, inicia-se o uso de estratégias alternativas de decodificação, como analogias com palavras conhecidas, ocorrendo uma evolução quantitativa e não mais qualitativa.

Para Seymour e MacGregor (1984) e Frith (1985), o desenvolvimento da leitura e escrita ocorre em três etapas: logográfica, alfabética e ortográfica.

- Logográfico: envolve um sistema elementar de reconhecimento da palavra, sendo referido como léxico logográfico. Este tem a função de reconhecer palavras que pertencem ao vocabulário de visão, podendo basear-se em características parciais como letras, grupos de letras, posição das letras e comprimento das palavras, dando acesso direto à memória semântica, a qual intermedia o acesso à pronúncia.

- Alfabético: nesse estágio, é iniciado o processo de associação fonema- grafema, com a capacidade de decodificar palavras novas e escrever palavras simples. A criança se dá conta de que a correspondência letra-som pode ser útil no reconhecimento de palavras e inicia a aquisição do conhecimento do princípio alfabético, que requer consciência fonológica, ou seja, a consciência dos sons que compõem a fala. Primeiro ela adquire as regras mais simples (decodificação seqüencial), depois as regras contextuais (decodificação hierárquica). Há a formação de um léxico alfabético, utilizado inicialmente para a identificação de grafemas individuais. O processo visual neste estágio é analítico, ocorrendo da esquerda para a direita, com o acesso ao significado ocorrendo pela rota fonológica.

- Ortográfico: há uma evolução do léxico alfabético para o léxico ortográfico, sendo internalizado um modelo sofisticado de ortografia. Este estágio é caracterizado pelo uso de seqüências de letras e padrões de ortografia para o reconhecimento visual das palavras. São estabelecidas as relações entre os

grafemas, possibilitando a escrita de palavras irregulares. O estabelecimento de um léxico ortográfico para a produção da escrita está na dependência de um léxico ortográfico bem desenvolvido na leitura. Por sua vez, a formação de níveis mais avançados de leitura depende do desenvolvimento de uma estrutura central chamada de estrutura ortográfica, que é formada gradativamente por uma unidade central básica até partes mais complexas, requerendo um código grafêmico pré- processado, em que as posições das letras e de grupos de consoantes e de vogais são especificadas.

Para Santos e Navas (2004), no entanto, a maioria das teorias de estágios não explica como um conhecimento tão pequeno se torna tão grande. Quando cada estágio é descrito, é focalizado somente o tipo de conhecimento que a criança necessita para se tornar proficiente, mas não são explicados quais mecanismos são subjacentes às mudanças da proficiência da leitura.

Segundo essas autoras, na tentativa de explicar esses mecanismos, Share e Stanovich (1995) criaram a teoria da hipótese do auto-ensinamento, em que explicam que as funções de decodificação fonológica funcionam como mecanismos de auto-ensinamento, permitindo a aquisição das representações ortográficas necessárias para que o reconhecimento visual da palavra seja rápido e acurado, como também uma ortografia proficiente. A decodificação fonológica permite que uma palavra não-familiar seja reconhecida e, assim, vão se desenvolvendo as representações ortográficas das palavras.

Para Santos (2003), a verdadeira leitura produtiva, habilidade para ler palavras novas e desconhecidas, vem somente com o aumento do conhecimento de como a ortografia se relaciona com a fonologia, o que requer atenção às seqüências de letras e às seqüências de fonemas associadas a essas letras. O domínio do princípio alfabético é necessário para conseguir identificar a grande maioria das palavras conhecidas, sendo indispensável para a identificação de palavras novas.

Para Scliar-Cabral (2003), a utilização do sistema alfabético, apesar de representar uma grande economia, gera uma grande dificuldade quando a criança é alfabetizada, porque ela percebe sua fala como um contínuo, tendo dificuldades em compreender que uma ou mais letras não se referem a uma sílaba e sim a uma unidade menor, o fonema. Para essa autora, nos sistemas alfabéticos, somente o conhecimento da língua escrita permitirá a distância para perceber conscientemente que a sílaba pode ser desmembrada em unidades menores. Segundo ela, no

sistema alfabético do português do Brasil, algumas regras precisam ser levadas em consideração durante o processo de decodificação de leitura. Essas regras foram classificadas por ela em quatro subgrupos: regras de correspondência grafo- fonêmica independente de contexto; regras de correspondência grafo-fonêmica dependentes do contexto grafêmico; regras dependentes da metalinguagem e/ou do contexto textual morfossintático e semântico; e três valores para o grafema “x”.

No documento Vera Lúcia Orlandi Cunha (páginas 54-57)