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SUMÁRIO

10. ARBORIZAÇÃO URBANA

Para este trabalho, a arborização torna-se importante para os estudos de sombreamento, na medida em que, as árvores plantadas nos lotes devem estar inseridas dentro da volumetria do ES, da mesma forma, a implantação da vegetação pública é essencial, pela sua relação com as edificações térreas ou assobradadas, bem como pelo atendimento à sua função urbana.

A arborização urbana, junto com o crescimento das cidades, foi implementada desordenadamente, sem o planejamento adequado, sem levar em consideração a proximidade com as edificações e as consequências do sombreamento causadas pela colocação aleatória dos maciços arbóreos nas vias públicas, com problemas para a infraestrutura urbana. O rápido crescimento urbano provocou uma significativa redução na qualidade ambiental das cidades, afetando diretamente a qualidade de vida da população urbana.

105 Abreu e Labaki (2010) ponderam que:

Nos últimos anos, a preocupação com a arborização urbana e seus benefícios no ambiente construído vem sendo reduzida tanto em áreas a serem loteadas como naquelas já consolidadas. Os novos empreendimentos urbanísticos nem sempre vislumbram locais adequados para o plantio de indivíduos arbóreos. Em outros casos, as árvores são retiradas para dar lugar às vias a fim de resolver os problemas de mobilidade urbana causado pelo aumento da circulação de veículos.

As mudanças climáticas nas cidades têm como causa principal a expansão urbana acelerada, pela ocupação das áreas rurais e verdes com a pavimentação de ruas e construção de edificações; ao observar a importância da vegetação no controle da radiação solar incidente como reguladora das mudanças torna-se significativo para qualificar e quantificar a influência da vegetação nos parâmetros ambientais como a temperatura do ar e a umidade relativa, conhecimento que permite obter diretrizes para elaboração de planos e projetos visando a melhoria do conforto térmico urbano (ABREU e LABAKI, 2011)

Mascaró, Giacomin e Cuadros (2007) afirmam que:

Um bom projeto de arquitetura urbana subtropical úmida leva em consideração a possibilidade de conseguir a dispersão térmica, suficiente e necessária, aproveitando a presença de vegetação e suas características de sombreamento e amenização da temperatura no verão e de transmitância termoluminosa no inverno. Isto porque no inverno, quando é mais necessária a radiação solar, mais débil é seu efeito sobre o plano horizontal, o Sol está mais baixo; no verão o Sol está mais alto sendo mais prejudiciais seus efeitos.

Mascaró e Mascaró (2002, p. 13) afirmam que a vegetação deve ser tratada em todos os seus aspectos: do jardim privado até o público; da proximidade dos edifícios ou das áreas verdes urbanas, perto da natureza. A escala de atuações, a variedade e riqueza dos recursos empregados e a simbioses da complexidade- ambiguidade ajudam a definir a qualidade da paisagem. A arborização vem caracterizar a paisagem de ruas, praças e parques, personalizando, assim, o ambiente dos bairros e da cidade. Os vários benefícios da arborização das ruas e

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avenidas estão condicionados à qualidade do seu planejamento, que deve, sim, levar em consideração as condições do ambiente, pois qualquer planta só adquire pleno desenvolvimento em clima apropriado, caso contrário, poderá ter alterações no porte, floração e frutificação.

Obviamente, a arborização não traz apenas benefícios, ela também provoca problemas e conflitos, sobretudo quando há o confronto de árvores inadequadas com outros equipamentos urbanos: fiações elétricas (aéreas ou subterrâneas), encanamentos, calhas, muros, postes de iluminação etc. Nos meses de chuva intensa e de ventos, vemos a queda de árvores, em partes ou inteiras, noticiada pela mídia sobre imóveis, veículos, ruas, calçadas e pessoas, danificando postes de energia e outros equipamentos públicos, prejudicando a mobilidade urbana. E, apesar destes fatos acontecerem constantemente, pouco é feito para resolver o problema. Os departamentos de parques e jardins de muitos municípios não aprovam podas e, muito menos, corte de árvores, perpetuando o problema.

Não se pode deixar de considerar e refletir sobre o uso potencial de energia solar em edificações urbanas, quando constantemente restringida pela presença de árvores já desenvolvidas no entorno dos edifícios; na permeabilidade solar das copas das árvores, em ambientes urbanos, que não depende somente da morfologia própria das espécies - forma, dimensões, saúde etc. - mas também porque está fortemente condicionada pela localização da árvore, particularmente com relação às edificações ou a outras árvores.

Nos bairros, áreas urbanas de baixa densidade, o acesso solar é diretamente condicionado pela presença de árvores, devido à altura das edificações, pois, a maioria tem dois pavimentos, e a vegetação acaba por ser até mais alta do que as edificações, sombreando-as totalmente, em alguns casos. No caso de densidades mais altas, por conta dos edifícios altos, as copas das árvores acabam modificando as condições de insolação da "base” (três andares inferiores) e de dois níveis acima desses andares.

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Quando a rua tem árvores de grande porte que se igualam à altura dos edifícios, o sombreamento da vegetação é mais significativo, reduzindo a importância dos efeitos da geometria e da orientação do recinto urbano, diminuindo a assimetria das sombras decorrentes da orientação do eixo da rua. Para Mascaró e Mascaró (2002, pg. 33), a cidade deve ser sombreada durante o período quente, limitando-se a incidência dos raios solares em, pelo menos, dois terços das áreas dos caminhos de pedestres, praças e estacionamentos. Quando escolhida corretamente a espécie arbórea, a vegetação urbana, eficientemente proporcionará o sombreamento adequado da insolação de verão, e deve permitir a passagem da radiação solar no inverno. Pode-se aproveitar o fenômeno de queda das folhas (caducidade) nas espécies decíduas, considerando a posição do sol, para propiciar sombreamento no verão e aquecimento no inverno.

Desde o ano 2000, com a finalidade de orientar profissionais e a população em geral para projetar a arborização urbana, surgiram, em alguns Estados e municípios, leis, guias e manuais de normas técnicas sobre a arborização urbana: um dos primeiros, publicado em 2000, o manual de arborização e poda da RGE – Rio Grande Energia, propõe um projeto de arborização planejada para visualizar uma cidade de forma integrada e dinâmica; outro guia recomenda que a arborização e as redes de distribuição ocupem lados distintos das vias públicas (COELBA, 2002).

Em 2007, a Secretaria de Defesa do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Piracicaba publicou o Manual de Normas Técnicas de Arborização Urbana, que recomenda, para a elaboração do projeto de arborização, o respeito aos valores culturais ambientais e à memoria da cidade. De acordo com a CPFL (2002):

A preocupação reside na crescente expansão e complexidade das malhas urbanas que impõem o adequado planejamento e a correta implementação da arborização viária; as áreas verdes tornam-se, cada vez mais, essenciais ao planejamento urbano, cumprindo funções importantes de paisagismo, de estética, de plástica, de higiene e de beleza cênica; além disso, a presença de árvores nas cidades interfere no lado psíquico do homem,

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atenuando o sentimento de opressão, proporcionando sensação de bem-estar, de felicidade e alegria.

Ainda, de acordo com este manual, as árvores plantadas nas proximidades dos edifícios estabilizam a temperatura interna dessas construções, possibilitando o menor uso de condicionadores de ar e, consequentemente, reduzindo o consumo de energia elétrica. O manual exibe uma preocupação com a localização das árvores em relação às sombras projetadas, de acordo com a sua orientação junto às edificações. O manual, também, indica corretamente a implantação das árvores nas calçadas com relação às edificações e à rua onde se encontram, de acordo com a posição do Sol. O plantio de árvores próximo a residências deve, sempre que possível, levar em consideração a futura projeção da sombra da árvore.

Mascaró e Mascaró (2002, pg. 38) fornecem algumas recomendações sobre o sombreamento urbano, como limitar a incidência dos raios solares em, pelo menos, dois terços da área de circulação de pedestres, praças e estacionamentos no período quente; limitar a incidência da radiação solar no período quente em, pelo menos, dois terços dos locais de recreação infantil; garantir a insolação dos locais de recreio infantil, por pelo menos quatro horas, durante o período frio. Ainda, os autores recomendam que, se deve garantir a insolação das fachadas norte, leste e oeste pelo menos durante duas horas no inverno, quando o Sol está próximo ao meio dia, em, no mínimo, metade dos compartimentos considerados principais pelos códigos de obras. De acordo com os pesquisadores, as formas de uso da vegetação devem variar com o tipo de clima local; o recinto urbano onde serão plantadas; o seu tipo, porte e idade; a manutenção necessária para cada espécie; as formas de associação dos vegetais e também com relação às edificações próximas e ao espaço urbano onde serão inseridas.

Para viabilizar a implementação da arborização nas calçadas, alegando densidade arbórea mínima, há governos municipais que estimulam o plantio de

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pelo menos uma árvore na frente de cada lote, com a dedução de um valor no IPTU, por árvore plantada.

Devem ser gerados os envelopes solares sobre os espaços públicos: ruas, praças e outros, para verificar se a implantação da arborização urbana está adequada, se há garantias de acesso ao sol às edificações contíguas.

O Direito Urbanístico, assim como o Direito Ambiental, preocupa-se com os espaços verdes nas cidades, procurando preservar as áreas existentes em detrimento de eventuais construções; e, pelo zoneamento, tenta-se impedir ou reduzir as áreas edificantes, disciplinando os espaços e preservando o meio ambiente. A arborização das vias públicas não é exatamente uma área verde, mas cumpre com a finalidade do equilíbrio ambiental, da ornamentação urbana e do sombreamento eficaz no sistema viário urbano. Existe legislação de exigência de plantio nas vias públicas, como o da Lei 6766/79, de parcelamento do solo, e outras municipais, mais recentes, que dispõem sobre a criação de calçadas verdes, de campanhas de incentivo à arborização de ruas, de manutenção e conservação da vegetação pública, de poda e corte de árvores.

111 IV. MATERIAIS E MÉTODOS

Este capítulo apresenta a proposta metodológica do trabalho, e descreve, inicialmente, o município de Campinas, que foi adotado para o estudo de caso pelas facilidades de obtenção de dados necessários à simulação dos ensaios, e pela vivência e conhecimento do autor deste trabalho no município, e depois, do bairro da Nova Campinas, escolhido para este estudo porque se encontra nas imediações do centro da cidade e sofre pressões para a mudança de uso do solo com adensamento e verticalização; é descrita a exposição de suas origens, sua infraestrutura, espaços públicos, bem como o relato especial dos motivos que levaram o bairro à aprovação da preservação de seu traçado urbanístico e arborização, pelo tombamento do CONDEPACC; e do seu cancelamento pela Prefeitura Municipal de Campinas.

Compreende, também, a descrição das áreas de estudo constituídas por cinco quarteirões do bairro da Nova Campinas, selecionados por terem características diferenciadas pela topografia, orientação, formato e pelos usos: residenciais, com alterações para comerciais, de prestação de serviços e mistos; quarteirões estes, onde são desenvolvidas as simulações de adensamento e verticalização.

Foi efetuado o levantamento de dados, realizado junto aos órgãos públicos e junto ao LABINURB - Laboratório de Investigações Urbanas da Unicamp, imprescindível para o diagnóstico, assim como o levantamento fotográfico das ruas envoltórias dos quarteirões e respectivas edificações, o que conduziu a uma satisfatória compreensão do existente e deu condições para preparar a geração dos ESs para as respectivas análises.

Para as simulações foi adotado o software Rhinoceros que lida com figuras tridimensionais, com comandos de sombreamento, e, sobretudo, por permitir a geração automática dos ESs com os aplicativos Grasshopper e Diva, superando outros softwares como o AutoCad, 3Ds, Revit, Google SketchUp etc., que não comportam esta possibilidade. Neste ambiente foram desenhados os terrenos com

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suas edificações, e posteriormente foram gerados os ESs, para as análises correspondentes.

Em seguida foram realizadas as simulações com a introdução dos módulos construtivos de aproveitamento (com explicação mais detalhada na página XX) dentro dos volumes dos ESs, e obtidos os resultados decorrentes destas novas volumetrias com os novos parâmetros de taxas de ocupação, coeficientes de aproveitamento, altura das edificações e densidades, foram apresentados em tabelas resumidas que permitiram as análises pertinentes.