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Plano Setorial para os Recursos do Mar

No documento Estudos da Dimensão Territorial do PPA (páginas 14-0)

2.2 Arcabouço Legal Nacional

2.2.3 Plano Setorial para os Recursos do Mar

A PNRM se consubstancia em planos e em programas plurianuais e anuais decorrentes, setoriais e comuns, elaborados e coordenados pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), e que se desdobram em ações específicas, os quais são os documentos básicos de trabalho.

A implementação das atividades relativas aos recursos do mar se dá de forma descentralizada, por meio de diversos agentes, no âmbito de vários ministérios, estados, municípios, instituições de ensino e pesquisa, comunidade científica e iniciativa privada, de acordo com as suas respectivas competências e em consonância com as diretrizes estabelecidas na PNRM. Ao buscar o uso sustentável dos recursos do mar, a PNRM leva em consideração a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81).

2.2.3 Plano Setorial para os Recursos do Mar

O Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM), com vigência de quatro anos, constitui um desdobramento da PNRM. O planejamento de todas as atividades relacionadas com os recursos do mar, nos diversos organismos envolvidos com esta área, deve guardar conformidade com as diretrizes do PSRM.

O PSRM atual, o sexto de uma série iniciada em 1982, vigorará no período de 2004 a 2007. O objetivo geral do PSRM é de conhecer e a avaliar as potencialidades dos recursos vivos e não-vivos das áreas marinhas sob jurisdição nacional e adjacentes, visando à gestão e uso sustentável desses recursos, e à distribuição justa e eqüitativa dos benefícios derivados dessa utilização.

3 RECURSOS MINERAIS

Os recursos minerais da plataforma continental brasileira apresentam grande interesse sócio-econômico, podendo movimentar a economia e gerar empregos a curto e médio prazo. Os recursos minerais da Área internacional têm importância político-estratégica e compreendem aqueles cuja identificação e requisição para exploração garante uma ampliação da soberania nacional, em especial em áreas situadas no oceano Atlântico Sul e Equatorial.

3.1 PLATAFORMA CONTINENTAL

Os recursos minerais conhecidos nessa região incluem granulados litoclásticos (areias e cascalho), granulados bioclásticos (carbonatos), placeres (ouro, diamante, platina, cromita, ilmenita, rutilo, zircão, etc), fosforitas, evaporitos, enxofre e carvão. Petróleo e gás não são considerados neste estudo.

3.1.1 Granulados Litoclásticos

Granulados litoclásticos marinhos são as areias e cascalhos, originados do continente, depositados na plataforma continental e retrabalhados pela ação conjunta das ondas e correntes marinhas. Constituem importantes insumos minerais para uso industrial e para obras de engenharia costeira. No Brasil o conhecimento sobre estes recursos marinhos ainda é muito regional e os poucos projetos com utilização efetiva de granulados marinhos são para regeneração de praias em áreas metropolitanas com problemas de erosão costeira acentuada. As empresas produtoras de cimento certamente têm interesse em contar com novas opções para áreas de extração, já que as jazidas de areia situadas no continente encontram-se sob fortes restrições por parte dos órgãos de controle ambiental.

3.1.2 Granulados Bioclásticos

Os granulados bioclásticos marinhos, no Brasil, são formados principalmente por algas calcárias. Apenas as formas livres das algas calcárias são viáveis para a exploração econômica. As algas calcárias são compostas basicamente por carbonato de cálcio e carbonato de magnésio e mais de 20 oligoelementos, presentes em quantidades variáveis. São utilizadas para diversas aplicações:

agricultura (maior volume), potabilização de águas para consumo, indústria de cosméticos, dietética, implantes em cirurgia óssea, nutrição animal e tratamento da água em lagos. A plataforma continental brasileira representa, a nível global, a maior extensão coberta por sedimentos carbonáticos.

3.1.3 Placeres

Placeres são acumulações sedimentares formadas pela concentração mecânica de minerais detríticos de valor econômico, incluindo diversos bens metálicos ou pedras preciosas. Os principais placeres marinhos situam-se nas praias atuais, constituindo-se principalmente de ilmenita, zircão, cassiterita, ouro e diamantes.

Importantes extrações dos minerais ilmenita, zircão, rutilo e monazita, ocorrem na Austrália, Sri Lanka, Índia e também no Brasil, no litoral norte do Rio de Janeiro.

3.1.4 Fosforita

O fósforo natural, na forma de rochas fosfáticas, é largamente utilizado na fabricação de fertilizantes fosfatados, além de ser também matéria prima de produtos químicos e farmacêuticos. As atuais reservas são suficientes para o abastecimento em nível mundial em longo prazo. Entretanto, o fósforo é um elemento essencial para a produção agrícola e, por este motivo, tem elevadíssima demanda. Alguns estudos preliminares mostram que a fosforita é bem mais abundante na margem continental brasileira do que inicialmente se pensava.

3.1.5 Evaporitos

Os depósitos evaporíticos da plataforma continental brasileira são constituídos de anidrita, gipsita, salgema e sais de potássio e magnésio. Os domas presentes poderão se constituir em bens economicamente interessantes, em virtude das profundidades relativamente rasas, tanto das respectivas lâminas d'água como dos topos dos domas, alguns quase aflorantes no piso marinho. Além disto, não estão muito afastados da costa e situam-se próximos de grande mercado consumidor do sudeste e sul do Brasil, além dos países componentes do MERCOSUL.

3.1.6 Enxofre

Toda bacia evaporítica portadora de hidrocarbonetos é altamente favorável para depósitos de enxofre. Portanto, é provável que existam depósitos substanciais de enxofre na margem continental brasileira, devido à ampla bacia evaporítica, contendo sequências sedimentares comprovadamente portadoras de hidrocarbonetos.

O Brasil importa em tomo de 81,5% do enxofre consumido. Sabe-se também que este elemento é considerado estratégico e que a maior parte produção mundial provém das bacias sedimentares. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar entre os produtores de enxofre e parte da sua produção é oriunda das rochas capeadoras de dois domos, presentes na plataforma continental. Em termos de prioridade e importância, no que concerne aos recursos do mar, o enxofre é o bem mineral que se segue aos hidrocarbonetos, caso realmente existam depósitos comerciais nas rochas capeadoras dos domos fronteiros à foz do Rio Doce, ou em outros jazimentos do tipo estratiforme.

3.1.7 Carvão

O carvão é encontrado sob as plataformas continentais de alguns países, como a Inglaterra, Japão, Canadá e Austrália, geralmente constituindo extensões de jazidas dos continentes adjacentes. A recente decisão governamental de direcionar investimentos para o setor energético com base em termoelétricas deverá ter reflexos no surgimento de um novo ciclo de crescimento do setor mineral, especialmente na mineração do carvão.

3.1.8 Hidratos de Gás

Os hidratos de gás constituem fontes quase inesgotáveis de energia, mas até o presente momento não existe uma tecnologia desenvolvida para explorar estes recursos. A ocorrência de Hidratos de Gás na plataforma continental brasileira é conhecida em algumas regiões.

3.2 ÁREA INTERNACIONAL DO OCEANO

Entre os recursos minerais da Área internacional encontram-se nódulos polimetálicos e crostas cobaltíferas, sulfetos polimetálicos e hidratos de gás.

3.2.1 Nódulos Polimetálicos

Os nódulos polimetálicos, ou nódulos de manganês, são concreções ricas em metais de valor econômico, tais como o manganês, cobre, níquel e cobalto. Eles ocorrem geralmente a grandes profundidades, em tomo de 4.000m. Embora os nódulos do Atlântico não atinjam, geralmente, os teores em metais encontrados nos do Pacífico, várias ocorrências de nódulos polimetálicos são conhecidas em

3.2.2 Crostas Cobaltíferas

Crostas cobaltíferas ocorrem em pavimentos de espessura superior a 2,5 metros, principalmente em montes submarinos. A principal importância destas crostas é a presença de cobalto, níquel, cobre, manganês além de cádmio e molibdênio. As profundidades de ocorrência de crostas variam de 400 a 4000 metros, porém as mais enriquecidas em cobalto encontram-se geralmente entre 800 e 2200 metros na zona de mínimo de oxigênio. Crostas cobaltíferas foram amostradas em montes submarinos da costa leste brasileira e foram amplamente estudas na Elevação do Rio Grande, situada em áreas adjacentes à plataforma continental brasileira. No entanto, estudos mais aprofundados sobre o potencial mineral deste recurso mineral nunca foram feitos no Brasil.

3.2.3 Sulfetos Polimetálicos

A exploração de depósitos de sulfetos polimetálicos e dos recursos biotecnológicos associados, provenientes do assoalho oceânico, é conduzido por inúmeras instituições acadêmicas e governamentais ao redor do mundo. Os depósitos de sulfetos polimetálicos freqüentemente contêm altas concentrações de cobre (calcopirita), zinco (esfalerita) e alumínio (galena), além de ouro e prata.

No Atlântico sul estes recursos foram pouco estudados, mas podem estar presentes ao longo das cordilheiras meso-oceânicas e nas proximidades do Arquipélago São Pedro e São Paulo, que faz parte da zona econômica exclusiva do Brasil. Apesar da importância, esses recursos não têm sido objeto de estudo aprofundado ou de aproveitamento em escala industrial no Brasil.

3.2.4 Áreas de Interesse de Pesquisa Mineral para o Brasil no Atlântico

A presença do Brasil no Atlântico Sul é uma questão que pode ser auxiliada pela requisição de áreas de mineração oceânica situadas além do limite exterior da plataforma continental brasileira. Um programa desse tipo, além de produzir as informações necessárias para preparar a posição do Brasil junto à Autoridade Internacional do Leito Marinho e marcar sua presença no Atlântico Sul, poderia também reforçar o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC), o qual é coordenado pelo Ministério das Minas e Energia no âmbito da Comissão Interministerial para os cordilheira mesoceânica e, conseqüentemente, a possibilidade de ocorrências de sulfetos polimetálicos. A ocorrência de sulfetos polimetálicos nas proximidades desta região é conhecida na literatura geológica internacional.

A segunda região inclui a zona econômica exclusiva e plataforma continental da Ilha da Trindade e regiões oceânicas adjacentes. Este parece ser um bom ponto de partida para a pesquisa de nódulos polimetálicos. A terceira região compreende a Elevação do Rio Grande. Este é sem dúvida o lugar onde a pesquisa de crostas cobaltíferas deveria começar, sem esquecer todos os montes submarinos que ocorrem na margem central brasileira e também os montes submarinos da Cadeia Vitória-Trindade.

Figura 3.- Regiões de interesse para a pesquisa de recurso minerais marinhos em áreas internacionais adjacentes à plataforma continental jurídica brasileira (retângulos vermelhos).

4 RECURSOS VIVOS

Do ponto de vista socioeconômico, os recursos vivos marinhos compreendem principalmente aqueles originários da pesca ou da maricultura de peixes, crustáceos e moluscos. Outros recursos vivos, não tradicionais, são os componentes bioativos produzidos pela biodiversidade marinha e, também, aqueles resultantes da combinação da fisiografia costeira regional com a alta diversidade biológica marinha, os quais podemos denominar de paisagens costeiras.

4.1 PESCA E MARICULTURA

A produção mundial anual de pescado, segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), encontra-se em torno de 130 milhões de toneladas, das quais cerca de 90 milhões são oriundas de captura e 40 milhões de aqüicultura. A demanda internacional de pescado, mantendo-se o atual consumo per capita da ordem de 15 kg/ano, acarretará um déficit de 15 milhões de toneladas/ano até 2010. O consumo médio per capita de pescado no Brasil ainda é considerado baixo, estando em torno de 7,8 kg/hab/ano.

O Brasil produz cerca de 500 mil toneladas/ano pela pesca marítima, o que representa 0,5% da produção mundial. Além disso, mais de 90% desse total provêm de capturas de espécies tradicionais, realizadas em áreas costeiras. Em relação às espécies oceânicas, como os atuns e afins, excluindo-se o bonito listrado, cuja ocorrência é mais costeira, a produção nacional alcança cerca de 25 mil toneladas/ano, ou o equivalente a cerca de apenas 4% do total produzido no Oceano Atlântico.

Esta posição ocupada pelo país no cenário da pesca oceânica não se justifica, uma vez que o mesmo encontra-se estrategicamente bem situado em relação às

vantagem comparativa, em relação a outras nações com maior tradição pesqueira. Enquanto embarcações operando a partir de portos brasileiros alcançam as áreas de ocorrência dos cardumes depois de poucas horas de navegação, as frotas de países como Japão, Taiwan, Coréia, Espanha, Portugal, entre outros, são obrigados a viajar milhares de quilômetros para atingir as mesmas áreas de pesca.

No que se refere a aquicultura, dos cerca de 40 milhões de toneladas/ano produzidas no mundo, o Brasil responde hoje por cerca de 270.000 toneladas/ano, correspondendo a menos de 0,7 %, um terço das quais provêm da maricultura. Nos últimos anos a aqüicultura tem sido apontada como um dos caminhos mais eficientes para a redução do déficit entre a demanda e a oferta de pescado no mercado mundial devido, principalmente, aos problemas de diminuição dos estoques pesqueiros, causados pela sobre-explotação dos recursos ou pela degradação de áreas essenciais para o desenvolvimento das espécies.

De acordo com as projeções do International Food Policy Research Institute (IFRPI), a produção de pescado pela aqüicultura poderá alcançar, em 2020, 69,5 milhões de toneladas/ano. Neste contexto, o Brasil apresenta excepcionais condições para a expansão da atividade, devido à sua privilegiada extensão de linha de costa, ao seu mar territorial e à sua ZEE, com 2,5 milhões de hectares de áreas estuarinas que poderiam ser aproveitados. O clima tropical, em quase toda extensão territorial, favorece o desenvolvimento das principais espécies alvo da aqüicultura. A Figura 4 mostra a evolução da produção nacional de pescado, entre 1998 e 2004, pela pesca marinha, pela pesca continental e pela aqüicultura.

Em relação à pesca marinha, do montante de cerca de 500 mil toneladas capturadas em 2004, 18,7% foram oriundas da região norte, 29,1% do nordeste, 21,7% do sudeste, e 30,4% do sul. Os 5 principais estados produtores, em ordem de importância, com as suas respectivas participações percentuais, foram: Santa

Catarina (22,6%), Pará (17,8%), Rio de Janeiro (13,7%), Bahia (8,9%) e Rio Grande do Sul (7,5%).

Trabalho recente de cadastramento da frota pesqueira marítima realizado pela SEAP/PR e IBAMA registrou 63.868 embarcações, das quais 41.838 movidas a remo e/ou a vela (65,5%), 20.287 motorizadas com casco de madeira (31,8%) e apenas 433 motorizadas com casco de aço, podendo-se inferir que a frota pesqueira encontrada na costa brasileira é eminentemente artesanal. A Bahia, com 10.142 embarcações, o Maranhão com 9.139 e o Ceará com 7.431 embarcações concentram mais de 41,8% da frota pesqueira marinha brasileira.

Figura 4 - Evolução da produção nacional de pescado, entre 1998 e 2004, pela pesca marinha, pela pesca continental e pela aqüicultura (Fonte: IBAMA/ DIFAP/ CGREP (2005)).

Em relação à maricultura, as regiões nordeste (79,5%) e sul (19,2%) respondem pela quase totalidade da produção. No caso da costa nordeste, a produção é quase que exclusivamente de camarões marinhos (Litopenaeus vannamei), principalmente nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará, enquanto que na

uma menor participação do camarão marinho (27,0%), com destaque para o Estado de Santa Catarina.

Em parte devido ao crescimento da carcinicultura, a partir de 1998, juntamente com a produção de atuns e afins decorrente da pesca oceânica, a balança comercial de pescado do País saiu de uma situação deficitária, em mais de US$

300 milhões, em 1998, para um superávit próximo a US$ 200 milhões, em 2004.

Os principais importadores da produção nacional de pescado são os Estados Unidos, a Espanha e a França.

4.2 OUTROS RECURSOS VIVOS

A interpretação do que entendemos por recursos vivos pode ser ampliada em busca de alternativas de renda para a economia costeira. A produção pesqueira é uma parcela da exploração dos recursos vivos. Estes últimos são, na verdade um reflexo direto dos recursos genéticos de um país. No Brasil, a diversidade e complexidade dos habitats marinhos é notória. Aqui ocorrem todos os principais ecossistemas costeiros, tais como praias arenosas, costões rochosos, manguezais, estuários, lagoas costeiras, recifes de algas calcáreas, recifes de corais endêmicos, ilhas e bancos oceânicos, e o único atol do Atlântico Sul (Rocas). Temos o maior estuário (Amazonas, PA), a maior praia (Cassino, RS) e a maior lagoa costeira do mundo (Lagoa dos Patos, RS). Essa complexidade fisiográfica abriga um estoque genético de valor incalculável, ainda pouco explorado.

Recursos vivos também são os componentes bioativos produzidos pela biodiversidade marinha. A Biotecnologia, considerada uma das fronteiras científicas, tecnológicas e industriais do século XXI, pode ser definida como a aplicação de princípios científicos e das engenharias no processamento de materiais por agentes biológicos. Além disso, é um dos ramos da ciência aplicada que mais se desenvolve, sendo particularmente promissora no Brasil devido à

diversidade de habitats marinhos. O mar é, ainda, uma fonte inexplorada de substâncias bioativas produzidas principalmente por algas, invertebrados sésseis (esponjas, ascídias, por exemplo) e bactérias, com potencial na industria médico-farmacológica, cosmética e de alimentos. Como exemplo, podemos mencionar iniciativas ainda experimentais de cultivos de macroalgas para extração de carrageninas, e agar, de algas vermelhas e exploração sustentável de bancos da macroalga Laminaria abyssalis na plataforma externa do Espírito Santo. De modo geral, entretanto, o estoque genético da biodiversidade marinha como fonte potencial de substâncias bioativas ainda está aquém de ser avaliado no mar brasileiro, apesar das evidências convincentes de que a exploração desses recursos pode impactar positivamente a sócio-economia do país.

Em macroescala, a fisiografia regional e a alta diversidade biológica aquática e terrestre do litoral brasileiro dão origem a paisagens costeiras de valor inestimável para o turismo sazonal e o desenvolvimento imobiliário, ambos ocorrendo ao longo da costa brasileira, mas, infelizmente, nem sempre atendendo a um planejamento sócioambiental adequado. O desrespeito aos valores históricos, culturais e ambientais é sintomático, com algumas exceções. Obras irregulares, poluição urbana e industrial, contaminação crônica de combustíveis náuticos e substâncias químicas agroindustriais, desmatamento de matas ciliares para plantio de cana de açúcar, urbanização irregular, complexos hoteleiros e carcinocultura substituindo ecossistemas costeiros importantes para a saúde dos ecossistemas costeiros adjacentes são apenas alguns exemplos de mau uso do espaço da zona costeira brasileira que devem ser analisados e reavaliados.

Outro recurso vivo não convencional é a produção de organismos animais e vegetais para aquariofilia. Esse mercado movimenta anualmente cerca de 30 bilhões de dólares mundialmente. Apesar dos seus quase 8000 km de costa e de possuir uma diversidade enorme de paisagens costeiras e ecossistemas marinhos, o Brasil ainda explora muito pouco esse recurso. Entretanto, a exploração desses organismos pode ser extremamente impactante do ponto de

ecossistemas de corais. Tal prática não sustentável pode ser substituída pela produção tecnológica adequada de organismos de interesse para a aquariofilia comercial, gerando empregos e riquezas para as comunidades costeiras.

5 CIÊNCIA E TECNOLOGIA

A Ciência e a Tecnologia Marinhas (C&TM) são essenciais para o entendimento do funcionamento dos oceanos e de como eles variam com o tempo, para melhorar as previsões climáticas e de tempo, para gerenciar de forma sustentável os recursos marinhos, bem como para encontrar novas utilizações e aplicações para esses recursos.

Em linhas gerais, a C&TM enfoca a pesquisa básica e aplicada que objetiva avançar no conhecimento dos processos físicos, químicos, geológicos e biológicos dos oceanos e regiões costeiras, incluindo suas interações com os sistemas terrestres, hidrológicos e atmosféricos. A preocupação sempre presente nas atividades de C&TM é identificar e propor soluções para a eliminação dos impactos negativos dos oceanos e regiões costeiras sobre a sociedade e do homem sobre esses ambientes marinhos. Toda atividade de pesquisa em C&TM é cada vez mais dependente do desenvolvimento de metodologias, de veículos e de instrumentos que possibilitem acesso eficiente, eficaz, rápido e de baixo custo ao meio ambiente marinho.

A C&TM está diretamente relacionada ao aproveitamento sustentável dos recursos marinhos, minerais e vivos, conforme foi discutido nos dois capítulos anteriores. Entretanto, há outras áreas igualmente promissoras de pesquisas, com fortes vínculos sócio-econômico-ambientais e que, na verdade, estão indiretamente relacionadas à exploração sustentável dos recursos marinhos.

Estas últimas serão abordadas neste capítulo.

5.1 AMBIENTE E CLIMA

A maior parte da costa brasileira é banhada por águas relativamente quentes, ocupando áreas tropicais e subtropicais do Oceano Atlântico. Grandes variações

em latitudes equatoriais , intertropicais e temperadas. Em função dessa grande variabilidade, há uma ampla diversidade de ecossistemas costeiros, de plataforma continental e de áreas oceânicas contíguas.

As atividades de C&TM relacionadas às interações entre as mudanças climáticas e o meio marinho são ainda incipientes, pontuais e descontínuas no Brasil.

Estudos têm indicado que, nos últimos 100 anos, o nível médio do mar tem aumentado mais do que 10 cm e que isso pode estar relacionado ao aumento da temperatura média global. Previsões apontam para uma elevação maior do nível do mar nas próximas décadas, pondo em risco as regiões costeiras do litoral brasileiro. Essas previsões apontam para a possibilidade de aumento da erosão costeira e das inundações por ressacas, bem como de intensificação das intrusões marinhas nos reservatórios de água do subsolo.

No Oceano Atlântico são observados dois modos importantes de variabilidade interanual (períodos de alguns poucos anos) e decadal. O primeiro, conhecido também como modo equatorial, é semelhante ao que acontece no Oceano Pacífico durante o fenômeno El Nino – Oscilação do Sul (ENOS). O segundo,

No Oceano Atlântico são observados dois modos importantes de variabilidade interanual (períodos de alguns poucos anos) e decadal. O primeiro, conhecido também como modo equatorial, é semelhante ao que acontece no Oceano Pacífico durante o fenômeno El Nino – Oscilação do Sul (ENOS). O segundo,

No documento Estudos da Dimensão Territorial do PPA (páginas 14-0)

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