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Estudos da Dimensão Territorial do PPA

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Academic year: 2022

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Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

Ciência, Tecnologia e Inovação

Estudos da Dimensão Territorial do PPA

Estudos prospectivos setoriais e temáticos

Mar e Ambientes Costeiros Nota Técnica

Belmiro Mendes de Castro Filho Fabio Hazin Kaiser de Sousa

Brasília, DF Dezembro, 2006

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SUMARIO

1 Introdução...4

2 Aspectos Legais ...6

2.1 Arcabouço Legal Internacional ...6

2.1.1 Mar Territorial e Zona Contígua ...6

2.1.2 Zona Econômica Exclusiva (ZEE) ...7

2.1.3 Plataforma Continental ...7

2.1.4 Área Internacional dos Oceanos ...8

2.1.5 Proteção e Preservação do Meio Ambiente Marinho ...9

2.2 Arcabouço Legal Nacional ...10

2.2.1 O espaço marinho brasileiro ...10

2.2.2 Política Nacional para os Recursos do Mar ...12

2.2.3 Plano Setorial para os Recursos do Mar ...13

2.2.4 Legislação Mineral ...20

3 Recursos Minerais...14

3.1 Plataforma Continental ...14

3.1.1 Granulados litoclásticos ...14

3.1.2 Granulados bioclásticos ... ...15

3.1.3 Placeres ...15

3.1.4 Fosforita ...15

3.1.5 Evaporitos ...16

3.1.6 Enxofre ...16

3.1.7 Carvão ...17

3.1.8 Hidratos de gás ...17

3.2 Área Internacional dos Oceanos ...17

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3.2.1 Nódulos polimetálicos ...17

3.2.2 Crostas cobaltíferas ...18

3.2.3 Sulfetos polimetálicos ...18

3.2.4 Áreas de interesse de pesquisa mineral para o Brasil no Atlântico sul e Equatorial ...19

4 Recursos Vivos...21

4.1 Pesca e Maricultura ...21

4.2 Outros Recursos Vivos ...24

5 Ciência e Tecnologia ...27

5.1 Ambiente e Clima ...27

5.2 Ecossistemas Costeiros e Oceânicos ...29

5.3 Poluição Marinha ...30

5.4 Tecnologia do Mar ...32

5.5 Oceanografia Operacional ...33

5.6 Energia ...34

6 Conclusões ...35

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1 INTRODUÇÃO

O Brasil possui cerca de 8.000 km de litoral e pode chegar a ter controle jurisdicional sobre uma área marinha de 4.500.000 km2, ou mais da metade da área do território brasileiro emerso, que é de 8.500.000 km2. Assim, o componente mar e ambientes costeiros deve necessariamente ser parte integrante de qualquer estudo sobre a dimensão territorial brasileira.

Os oceanos cobrem cerca de 71% da superfície da Terra e contêm ecossistemas primordiais para a vida no nosso planeta. Constituem-se, ainda, em fonte muito rica e diversificada de recursos vivos e não-vivos, fornecendo proteínas para alimentação humana, direta e indiretamente, e ampla gama de minerais. O transporte de calor associado aos movimentos das massas de água afeta diretamente o clima da Terra.

Três das cinco maiores cidades brasileiras são litorâneas, sendo que a maior, São Paulo, encontra-se a menos de 80 km do mar. Mais da metade da população brasileira vive a menos de 200 km da costa. Conseqüentemente, a interação do homem com o mar em nosso território suscita um grande número de oportunidades econômicas, sociais e de integração, mas coloca também uma quantidade de problemas ambientais. As características geográficas e de ocupação territorial conferem ao Brasil uma posição estratégica privilegiada em termos da explotação sustentável dos recursos do mar, incluindo não só a pesca, o transporte, o lazer e a segurança, mas também a explotação mineral.

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Todavia, para que a explotação seja sustentável é indispensável o conhecimento dos processos oceânicos e dos recursos marinhos, o que só pode ser atingido através da pesquisa científica e tecnológica. Torna-se igualmente importante a formação de pessoal e a divulgação desse conhecimento nos mais diferentes níveis da sociedade, a fim de gerar uma consciência ambiental sobre o uso do mar e de seus recursos.

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O presente trabalho faz parte do estudo denominado Mar e Ambientes Costeiros, desenvolvido pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) por solicitação do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE) da Presidência da Republica. O objetivo específico deste trabalho é subsidiar o Estudo da Dimensão Territorial do PPA também desenvolvido pelo CGEE. Neste, abordaremos os temas Recursos Minerais, Recursos Vivos, e Ciência e Tecnologia.

O trabalho foi dividido em quatro capítulos principais, além deste de introdução. O primeiro, Capítulo 2, apresenta o arcabouço legal internacional e nacional do espaço marinho brasileiro. O Capítulo 3 apresenta os principais recursos minerais conhecidos no espaço marinho brasileiro e discute sua importância sócio- econômica e político-estratégica. O Capítulo 4 contém descrição dos recursos vivos e de formas sustentáveis de aproveitamento dos mesmos. O Capítulo 5 apresenta as atividades de Ciência e Tecnologia (C&T) necessárias para validar uma ocupação e apropriação sustentável dos recursos marinhos de interesse para o Brasil, bem como discute a importância do Atlântico Sul e Equatorial para o clima do Brasil.

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2 ASPECTOS LEGAIS

2.1 ARCABOUÇO LEGAL INTERNACIONAL

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos Marinhos (CNUDM) foi estabelecida em dezembro de 1982 e entrou em vigor em julho de 1994. Ela estabelece direitos e deveres sobre várias zonas dos oceanos e regulamenta todas as atividades relacionadas aos mesmos. Segundo a CNUDM, o Estado costeiro tem direito a um mar territorial, uma zona contígua, uma zona econômica exclusiva, ou uma plataforma continental, sobre as quais tem direitos e jurisdição específica. A CNUDM também especifica certos deveres e obrigações do Estado costeiro em cada uma das zonas. Essas devem ser medidas a partir das linhas de base, que normalmente são a marca mais baixa deixada pela água ao longo da linha da costa. Águas interiores às linhas de base são águas internas do Estado costeiro.

2.1.1 Mar Territorial e Zona Contígua

O mar territorial não pode exceder 12 milhas náuticas a partir das linhas de base.

Com algumas exceções, relacionadas à navegação, o Estado costeiro é soberano sobre seu mar territorial, incluindo os recursos ali contidos, vivos e não vivos.

Os Estados costeiros podem estabelecer uma zona contígua que não se estenda mais que 24 milhas náuticas da linha de base. As obrigações do Estado costeiro sobre a zona contígua incluem (a) certificar-se de que as leis e regulamentos fiscais, de imigração e sanitárias não sejam desobedecidas dentro de seu território ou mar territorial e (b) punir infrações a qualquer uma das leis ou regulamentos acima citados, cometidos no seu território ou mar territorial.

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2.1.2 Zona Econômica Exclusiva (ZEE)

Além do mar territorial, os Estados devem estabelecer uma zona econômica exclusiva (ZEE) que não se estenda além de 200 milhas náuticas das linhas de base. A ZEE está sujeita a regime legal específico, de acordo com o qual o Estado costeiro tem direitos de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos naturais, vivos ou não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar e seu subsolo. Além disso, o Estado costeiro tem jurisdição para regulamentar pesquisas científicas marinhas, direito exclusivo de construir e de autorizar e regulamentar a construção, operação e utilização de ilhas artificiais, instalações e estruturas, e proteção e preservação do ambiente marinho.

2.1.3 Plataforma Continental

A plataforma continental de um Estado costeiro compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem além do seu mar territorial em toda a extensão do prolongamento natural do seu território terrestre até a borda exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas náuticas das linhas de base nos casos em que a borda externa da margem continental não atinja essa distância. A margem continental é constituída pela plataforma continental, pelo talude e pela elevação continental. Não compreende nem os grandes fundos oceânicos, com suas cristas oceânicas, nem o seu subsolo. Enquanto a plataforma continental geológica pode se estender até a borda exterior da margem continental, a CNUDM preceitua certos critérios para o estabelecimento dos limites externos, onde essa se estende além de 200 milhas náuticas, e os confina a um limite de 350 milhas náuticas das linhas de base, ou para 100 milhas náuticas da isóbata de 2500 metros. Nos locais onde a margem continental se estende até 200 milhas náuticas, ou menos, o limite externo da plataforma continental coincide com aquele da ZEE.

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Quando a plataforma continental de um estado costeiro é estendida além das 200 milhas náuticas, utilizando os critérios estabelecidos pela CNUDN, esta plataforma passa a ser denominada de “plataforma continental jurídica”. O Estado costeiro exerce direitos de soberania para exploração e aproveitamento dos recursos naturais sobre a plataforma continental jurídica. Esses direitos são exclusivos: se o Estado costeiro não explorar e aproveitar os recursos minerais, ninguém mais poderá empreender atividades sem o expresso consentimento deste.

Os recursos da plataforma continental abrangem minerais e outros recursos não vivos do leito e do subsolo, além dos organismos vivos pertencentes a espécies sedentárias, isto é, organismos que em estágio coletor são imóveis, ou incapazes de se locomover, exceto por constante contato físico com o leito ou o subsolo. Os direitos do Estado costeiro sobre a plataforma continental não afetam o status legal da massa líquida ou do espaço aéreo sobrejacente.

2.1.4 Área Internacional dos Oceanos

A área além da plataforma continental jurídica é referida na CNUDM como a

“Área”. A Área abrage o fundo e assoalho oceânico e o subsolo desse, além dos limites da jurisdição nacional. Isso é definido pela Parte XI da CNUDM e pelo Acordo de Implementação da Parte XI da CNUDM (Acordo). Segundo o artigo 2 do Acordo, os preceitos desse e da Parte XI da AUTORIDADE devem ser interpretados e aplicados juntos como um único instrumento. No caso de alguma discrepância entre o Acordo e a Parte XI, os preceitos do Acordo devem prevalecer.

A CNUDM dita que a Área e seus recursos são patrimônio comum à humanidade.

A CNUDM também estabelece uma organização internacional autônoma, a Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (Autoridade), através da qual os Estados-membros devem se organizar e controlar as atividades na Área. Nos

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termos da regulamentação em vigor, cada contratante tem o direito a uma área de exploração que não deve exceder 75.000 quilômetros quadrados.

Até o presente momento, oito agências governamentais submeteram à Autoridade seus planos de trabalho para exploração de nódulos polimetálicos. Desta forma, quase 2.000.000 km2 de áreas de exploração (equivalentes a mais de 23% da superfície do território brasileiro), situadas nos oceanos Pacífico e Índico, foram atribuídos a estas agências e à Autoridade para que esta possa conduzir suas próprias atividades de exploração.

Atualmente, a Autoridade está em vias de elaboração de regras e regulamentos internacionais para a exploração de sulfetos polimetálicos e de crostas cobaltíferas que ocorrem na área internacional. Logo que a Autoridade concluir a elaboração destes regulamentos, outras áreas de mineração também poderão ser requisitadas por dezenas de paises que já se lançaram em atividades de prospecção desses recursos. As áreas requisitadas poderão incluir regiões promissoras situadas no Atlântico Sul, em frente à plataforma continental jurídica brasileira.

2.1.5 Proteção e Preservação do Meio Ambiente Marinho

Abaixo da CNUDM, os Estados têm direitos de soberania para aproveitar recursos minerais, de acordo com o dever de proteger e preservar o ambiente marinho. Os organismos marinhos estão associados tanto aos depósitos minerais marinhos quanto a todas as demais regiões do oceano.

A respeito dos organismos marinhos e da questão relativa à diversidade biológica, os preceitos da Convenção sobre Diversidade Biológica precisam ser levados em conta. Os objetivos da Convenção sobre Diversidade Biológica são a conservação

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da diversidade biológica, o uso sustentável dos seus componentes e a divisão justa e igual dos benefícios acerca da utilização de recursos genéticos.

A CNUDM requer que a Autoridade Internacional de Fundos Marinhos tome as medidas necessárias a respeito das atividades na Área a fim de prover efetiva proteção ao ambiente marinho das atividades que possam causar danos, incluindo a interferência no balanço ecológico marinho.

2.2 ARCABOUÇO LEGAL NACIONAL

2.2.1 O Espaço Marinho Brasileiro

A zona econômica exclusiva brasileira, além de estender-se por toda a costa, engloba áreas situadas ao redor de Fernando de Noronha, Trindade e Martins Vaz, Atol das Rocas e São Pedro São Paulo, totalizando 3.500.000 km2 (Figura 1).

O Programa de Levantamento da Plataforma Continental Brasileira (LEPLAC) permitiu ao Brasil apresentar uma proposta às Nações Unidas para estender sua plataforma continental em aproximadamente 1.000.000 km2. Assim que as Nações Unidas deliberarem sobre essa extensão, a soberania do país estender- se-á sobre uma zona econômica exclusiva e plataforma continental com área aproximada de 4.500.000 km2, a qual representa mais da metade da área do território brasileiro emerso, que é de 8.500.000 km2 (Figura 1).

Apesar da expressiva dimensão, a zona econômica exclusiva e plataforma continental brasileira não têm sido objeto de pesquisa sistemática, com exceção de petróleo e gás e de alguns recursos vivos. Dessa forma, até o presente momento, mais de 4.500.000 km2 de território permanecem praticamente

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inexplorados quanto à potencialidade de seus recursos e, conseqüentemente, não têm contribuído para o desenvolvimento sustentado do País.

Figura 1 – Localização da zona econômica exclusiva e da extensão da plataforma continental brasileira. Os limites exteriores da extensão da plataforma continental foram submetidos em 2004

para deliberação na ONU.

O Brasil, assim como todos os Estados partes da CNUDM, têm o direito de explorar os recursos minerais da “Área”. Sob o ponto de vista econômico e estratégico, o Brasil tem o interesse de conhecer e avaliar os recursos minerais adjacentes à sua plataforma continental e de requisitar à Autoridade Internacional dos Leitos Marinhos a permissão para explorá-los. No entanto, nenhum estudo sistemático, consistente, e aprofundado foi realizado por parte do Brasil neste sentido (Figura 2).

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Figura 2 - Atlântico Sul e Equatorial mostrando a localização das diferentes zonas econômicas exclusivas (linhas amarelas) e a extensão da plataforma continental brasileira (linhas brancas).

2.2.2 Política Nacional para os Recursos do Mar

No contexto brasileiro, a exploração de recursos marinhos da plataforma continental brasileira e áreas oceânicas adjacentes enquadra-se na área de atuação da Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) e do Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM).

A Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) tem por finalidade fixar as medidas essenciais tanto à promoção da integração do Mar Territorial, da Plataforma Continental e da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), ao espaço brasileiro, quanto ao uso sustentável dos recursos do mar, compreendidos os recursos vivos e não-vivos da coluna d’água, fundo, e substrato marinho que apresentem interesse para o desenvolvimento econômico e social do País.

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A PNRM se consubstancia em planos e em programas plurianuais e anuais decorrentes, setoriais e comuns, elaborados e coordenados pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), e que se desdobram em ações específicas, os quais são os documentos básicos de trabalho.

A implementação das atividades relativas aos recursos do mar se dá de forma descentralizada, por meio de diversos agentes, no âmbito de vários ministérios, estados, municípios, instituições de ensino e pesquisa, comunidade científica e iniciativa privada, de acordo com as suas respectivas competências e em consonância com as diretrizes estabelecidas na PNRM. Ao buscar o uso sustentável dos recursos do mar, a PNRM leva em consideração a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81).

2.2.3 Plano Setorial para os Recursos do Mar

O Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM), com vigência de quatro anos, constitui um desdobramento da PNRM. O planejamento de todas as atividades relacionadas com os recursos do mar, nos diversos organismos envolvidos com esta área, deve guardar conformidade com as diretrizes do PSRM.

O PSRM atual, o sexto de uma série iniciada em 1982, vigorará no período de 2004 a 2007. O objetivo geral do PSRM é de conhecer e a avaliar as potencialidades dos recursos vivos e não-vivos das áreas marinhas sob jurisdição nacional e adjacentes, visando à gestão e uso sustentável desses recursos, e à distribuição justa e eqüitativa dos benefícios derivados dessa utilização.

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3 RECURSOS MINERAIS

Os recursos minerais da plataforma continental brasileira apresentam grande interesse sócio-econômico, podendo movimentar a economia e gerar empregos a curto e médio prazo. Os recursos minerais da Área internacional têm importância político-estratégica e compreendem aqueles cuja identificação e requisição para exploração garante uma ampliação da soberania nacional, em especial em áreas situadas no oceano Atlântico Sul e Equatorial.

3.1 PLATAFORMA CONTINENTAL

Os recursos minerais conhecidos nessa região incluem granulados litoclásticos (areias e cascalho), granulados bioclásticos (carbonatos), placeres (ouro, diamante, platina, cromita, ilmenita, rutilo, zircão, etc), fosforitas, evaporitos, enxofre e carvão. Petróleo e gás não são considerados neste estudo.

3.1.1 Granulados Litoclásticos

Granulados litoclásticos marinhos são as areias e cascalhos, originados do continente, depositados na plataforma continental e retrabalhados pela ação conjunta das ondas e correntes marinhas. Constituem importantes insumos minerais para uso industrial e para obras de engenharia costeira. No Brasil o conhecimento sobre estes recursos marinhos ainda é muito regional e os poucos projetos com utilização efetiva de granulados marinhos são para regeneração de praias em áreas metropolitanas com problemas de erosão costeira acentuada. As empresas produtoras de cimento certamente têm interesse em contar com novas opções para áreas de extração, já que as jazidas de areia situadas no continente encontram-se sob fortes restrições por parte dos órgãos de controle ambiental.

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3.1.2 Granulados Bioclásticos

Os granulados bioclásticos marinhos, no Brasil, são formados principalmente por algas calcárias. Apenas as formas livres das algas calcárias são viáveis para a exploração econômica. As algas calcárias são compostas basicamente por carbonato de cálcio e carbonato de magnésio e mais de 20 oligoelementos, presentes em quantidades variáveis. São utilizadas para diversas aplicações:

agricultura (maior volume), potabilização de águas para consumo, indústria de cosméticos, dietética, implantes em cirurgia óssea, nutrição animal e tratamento da água em lagos. A plataforma continental brasileira representa, a nível global, a maior extensão coberta por sedimentos carbonáticos.

3.1.3 Placeres

Placeres são acumulações sedimentares formadas pela concentração mecânica de minerais detríticos de valor econômico, incluindo diversos bens metálicos ou pedras preciosas. Os principais placeres marinhos situam-se nas praias atuais, constituindo-se principalmente de ilmenita, zircão, cassiterita, ouro e diamantes.

Importantes extrações dos minerais ilmenita, zircão, rutilo e monazita, ocorrem na Austrália, Sri Lanka, Índia e também no Brasil, no litoral norte do Rio de Janeiro.

3.1.4 Fosforita

O fósforo natural, na forma de rochas fosfáticas, é largamente utilizado na fabricação de fertilizantes fosfatados, além de ser também matéria prima de produtos químicos e farmacêuticos. As atuais reservas são suficientes para o abastecimento em nível mundial em longo prazo. Entretanto, o fósforo é um elemento essencial para a produção agrícola e, por este motivo, tem elevadíssima demanda. Alguns estudos preliminares mostram que a fosforita é bem mais abundante na margem continental brasileira do que inicialmente se pensava.

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3.1.5 Evaporitos

Os depósitos evaporíticos da plataforma continental brasileira são constituídos de anidrita, gipsita, salgema e sais de potássio e magnésio. Os domas presentes poderão se constituir em bens economicamente interessantes, em virtude das profundidades relativamente rasas, tanto das respectivas lâminas d'água como dos topos dos domas, alguns quase aflorantes no piso marinho. Além disto, não estão muito afastados da costa e situam-se próximos de grande mercado consumidor do sudeste e sul do Brasil, além dos países componentes do MERCOSUL.

3.1.6 Enxofre

Toda bacia evaporítica portadora de hidrocarbonetos é altamente favorável para depósitos de enxofre. Portanto, é provável que existam depósitos substanciais de enxofre na margem continental brasileira, devido à ampla bacia evaporítica, contendo sequências sedimentares comprovadamente portadoras de hidrocarbonetos.

O Brasil importa em tomo de 81,5% do enxofre consumido. Sabe-se também que este elemento é considerado estratégico e que a maior parte produção mundial provém das bacias sedimentares. Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar entre os produtores de enxofre e parte da sua produção é oriunda das rochas capeadoras de dois domos, presentes na plataforma continental. Em termos de prioridade e importância, no que concerne aos recursos do mar, o enxofre é o bem mineral que se segue aos hidrocarbonetos, caso realmente existam depósitos comerciais nas rochas capeadoras dos domos fronteiros à foz do Rio Doce, ou em outros jazimentos do tipo estratiforme.

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3.1.7 Carvão

O carvão é encontrado sob as plataformas continentais de alguns países, como a Inglaterra, Japão, Canadá e Austrália, geralmente constituindo extensões de jazidas dos continentes adjacentes. A recente decisão governamental de direcionar investimentos para o setor energético com base em termoelétricas deverá ter reflexos no surgimento de um novo ciclo de crescimento do setor mineral, especialmente na mineração do carvão.

3.1.8 Hidratos de Gás

Os hidratos de gás constituem fontes quase inesgotáveis de energia, mas até o presente momento não existe uma tecnologia desenvolvida para explorar estes recursos. A ocorrência de Hidratos de Gás na plataforma continental brasileira é conhecida em algumas regiões.

3.2 ÁREA INTERNACIONAL DO OCEANO

Entre os recursos minerais da Área internacional encontram-se nódulos polimetálicos e crostas cobaltíferas, sulfetos polimetálicos e hidratos de gás.

3.2.1 Nódulos Polimetálicos

Os nódulos polimetálicos, ou nódulos de manganês, são concreções ricas em metais de valor econômico, tais como o manganês, cobre, níquel e cobalto. Eles ocorrem geralmente a grandes profundidades, em tomo de 4.000m. Embora os nódulos do Atlântico não atinjam, geralmente, os teores em metais encontrados nos do Pacífico, várias ocorrências de nódulos polimetálicos são conhecidas em

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3.2.2 Crostas Cobaltíferas

Crostas cobaltíferas ocorrem em pavimentos de espessura superior a 2,5 metros, principalmente em montes submarinos. A principal importância destas crostas é a presença de cobalto, níquel, cobre, manganês além de cádmio e molibdênio. As profundidades de ocorrência de crostas variam de 400 a 4000 metros, porém as mais enriquecidas em cobalto encontram-se geralmente entre 800 e 2200 metros na zona de mínimo de oxigênio. Crostas cobaltíferas foram amostradas em montes submarinos da costa leste brasileira e foram amplamente estudas na Elevação do Rio Grande, situada em áreas adjacentes à plataforma continental brasileira. No entanto, estudos mais aprofundados sobre o potencial mineral deste recurso mineral nunca foram feitos no Brasil.

3.2.3 Sulfetos Polimetálicos

A exploração de depósitos de sulfetos polimetálicos e dos recursos biotecnológicos associados, provenientes do assoalho oceânico, é conduzido por inúmeras instituições acadêmicas e governamentais ao redor do mundo. Os depósitos de sulfetos polimetálicos freqüentemente contêm altas concentrações de cobre (calcopirita), zinco (esfalerita) e alumínio (galena), além de ouro e prata.

No Atlântico sul estes recursos foram pouco estudados, mas podem estar presentes ao longo das cordilheiras meso-oceânicas e nas proximidades do Arquipélago São Pedro e São Paulo, que faz parte da zona econômica exclusiva do Brasil. Apesar da importância, esses recursos não têm sido objeto de estudo aprofundado ou de aproveitamento em escala industrial no Brasil.

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3.2.4 Áreas de Interesse de Pesquisa Mineral para o Brasil no Atlântico

A presença do Brasil no Atlântico Sul é uma questão que pode ser auxiliada pela requisição de áreas de mineração oceânica situadas além do limite exterior da plataforma continental brasileira. Um programa desse tipo, além de produzir as informações necessárias para preparar a posição do Brasil junto à Autoridade Internacional do Leito Marinho e marcar sua presença no Atlântico Sul, poderia também reforçar o Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental Jurídica Brasileira (REMPLAC), o qual é coordenado pelo Ministério das Minas e Energia no âmbito da Comissão Interministerial para os Recursos de Mar (CIRM).

Sob o ponto de vista geológico, três diferentes regiões podem ser vistas como ponto de partida para a pesquisa de recursos minerais em oceano profundo (Figura 3). A primeira seria a região da zona econômica exclusiva e plataforma continental do Arquipélago São Pedro-São Paulo, que é parte do território brasileiro. Esta região é o único lugar sob a jurisdição brasileira onde existe cordilheira mesoceânica e, conseqüentemente, a possibilidade de ocorrências de sulfetos polimetálicos. A ocorrência de sulfetos polimetálicos nas proximidades desta região é conhecida na literatura geológica internacional.

A segunda região inclui a zona econômica exclusiva e plataforma continental da Ilha da Trindade e regiões oceânicas adjacentes. Este parece ser um bom ponto de partida para a pesquisa de nódulos polimetálicos. A terceira região compreende a Elevação do Rio Grande. Este é sem dúvida o lugar onde a pesquisa de crostas cobaltíferas deveria começar, sem esquecer todos os montes submarinos que ocorrem na margem central brasileira e também os montes submarinos da Cadeia Vitória-Trindade.

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Figura 3.- Regiões de interesse para a pesquisa de recurso minerais marinhos em áreas internacionais adjacentes à plataforma continental jurídica brasileira (retângulos vermelhos).

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4 RECURSOS VIVOS

Do ponto de vista socioeconômico, os recursos vivos marinhos compreendem principalmente aqueles originários da pesca ou da maricultura de peixes, crustáceos e moluscos. Outros recursos vivos, não tradicionais, são os componentes bioativos produzidos pela biodiversidade marinha e, também, aqueles resultantes da combinação da fisiografia costeira regional com a alta diversidade biológica marinha, os quais podemos denominar de paisagens costeiras.

4.1 PESCA E MARICULTURA

A produção mundial anual de pescado, segundo a FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations), encontra-se em torno de 130 milhões de toneladas, das quais cerca de 90 milhões são oriundas de captura e 40 milhões de aqüicultura. A demanda internacional de pescado, mantendo-se o atual consumo per capita da ordem de 15 kg/ano, acarretará um déficit de 15 milhões de toneladas/ano até 2010. O consumo médio per capita de pescado no Brasil ainda é considerado baixo, estando em torno de 7,8 kg/hab/ano.

O Brasil produz cerca de 500 mil toneladas/ano pela pesca marítima, o que representa 0,5% da produção mundial. Além disso, mais de 90% desse total provêm de capturas de espécies tradicionais, realizadas em áreas costeiras. Em relação às espécies oceânicas, como os atuns e afins, excluindo-se o bonito listrado, cuja ocorrência é mais costeira, a produção nacional alcança cerca de 25 mil toneladas/ano, ou o equivalente a cerca de apenas 4% do total produzido no Oceano Atlântico.

Esta posição ocupada pelo país no cenário da pesca oceânica não se justifica, uma vez que o mesmo encontra-se estrategicamente bem situado em relação às

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vantagem comparativa, em relação a outras nações com maior tradição pesqueira. Enquanto embarcações operando a partir de portos brasileiros alcançam as áreas de ocorrência dos cardumes depois de poucas horas de navegação, as frotas de países como Japão, Taiwan, Coréia, Espanha, Portugal, entre outros, são obrigados a viajar milhares de quilômetros para atingir as mesmas áreas de pesca.

No que se refere a aquicultura, dos cerca de 40 milhões de toneladas/ano produzidas no mundo, o Brasil responde hoje por cerca de 270.000 toneladas/ano, correspondendo a menos de 0,7 %, um terço das quais provêm da maricultura. Nos últimos anos a aqüicultura tem sido apontada como um dos caminhos mais eficientes para a redução do déficit entre a demanda e a oferta de pescado no mercado mundial devido, principalmente, aos problemas de diminuição dos estoques pesqueiros, causados pela sobre-explotação dos recursos ou pela degradação de áreas essenciais para o desenvolvimento das espécies.

De acordo com as projeções do International Food Policy Research Institute (IFRPI), a produção de pescado pela aqüicultura poderá alcançar, em 2020, 69,5 milhões de toneladas/ano. Neste contexto, o Brasil apresenta excepcionais condições para a expansão da atividade, devido à sua privilegiada extensão de linha de costa, ao seu mar territorial e à sua ZEE, com 2,5 milhões de hectares de áreas estuarinas que poderiam ser aproveitados. O clima tropical, em quase toda extensão territorial, favorece o desenvolvimento das principais espécies alvo da aqüicultura. A Figura 4 mostra a evolução da produção nacional de pescado, entre 1998 e 2004, pela pesca marinha, pela pesca continental e pela aqüicultura.

Em relação à pesca marinha, do montante de cerca de 500 mil toneladas capturadas em 2004, 18,7% foram oriundas da região norte, 29,1% do nordeste, 21,7% do sudeste, e 30,4% do sul. Os 5 principais estados produtores, em ordem de importância, com as suas respectivas participações percentuais, foram: Santa

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Catarina (22,6%), Pará (17,8%), Rio de Janeiro (13,7%), Bahia (8,9%) e Rio Grande do Sul (7,5%).

Trabalho recente de cadastramento da frota pesqueira marítima realizado pela SEAP/PR e IBAMA registrou 63.868 embarcações, das quais 41.838 movidas a remo e/ou a vela (65,5%), 20.287 motorizadas com casco de madeira (31,8%) e apenas 433 motorizadas com casco de aço, podendo-se inferir que a frota pesqueira encontrada na costa brasileira é eminentemente artesanal. A Bahia, com 10.142 embarcações, o Maranhão com 9.139 e o Ceará com 7.431 embarcações concentram mais de 41,8% da frota pesqueira marinha brasileira.

Figura 4 - Evolução da produção nacional de pescado, entre 1998 e 2004, pela pesca marinha, pela pesca continental e pela aqüicultura (Fonte: IBAMA/ DIFAP/ CGREP (2005)).

Em relação à maricultura, as regiões nordeste (79,5%) e sul (19,2%) respondem pela quase totalidade da produção. No caso da costa nordeste, a produção é quase que exclusivamente de camarões marinhos (Litopenaeus vannamei), principalmente nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará, enquanto que na

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uma menor participação do camarão marinho (27,0%), com destaque para o Estado de Santa Catarina.

Em parte devido ao crescimento da carcinicultura, a partir de 1998, juntamente com a produção de atuns e afins decorrente da pesca oceânica, a balança comercial de pescado do País saiu de uma situação deficitária, em mais de US$

300 milhões, em 1998, para um superávit próximo a US$ 200 milhões, em 2004.

Os principais importadores da produção nacional de pescado são os Estados Unidos, a Espanha e a França.

4.2 OUTROS RECURSOS VIVOS

A interpretação do que entendemos por recursos vivos pode ser ampliada em busca de alternativas de renda para a economia costeira. A produção pesqueira é uma parcela da exploração dos recursos vivos. Estes últimos são, na verdade um reflexo direto dos recursos genéticos de um país. No Brasil, a diversidade e complexidade dos habitats marinhos é notória. Aqui ocorrem todos os principais ecossistemas costeiros, tais como praias arenosas, costões rochosos, manguezais, estuários, lagoas costeiras, recifes de algas calcáreas, recifes de corais endêmicos, ilhas e bancos oceânicos, e o único atol do Atlântico Sul (Rocas). Temos o maior estuário (Amazonas, PA), a maior praia (Cassino, RS) e a maior lagoa costeira do mundo (Lagoa dos Patos, RS). Essa complexidade fisiográfica abriga um estoque genético de valor incalculável, ainda pouco explorado.

Recursos vivos também são os componentes bioativos produzidos pela biodiversidade marinha. A Biotecnologia, considerada uma das fronteiras científicas, tecnológicas e industriais do século XXI, pode ser definida como a aplicação de princípios científicos e das engenharias no processamento de materiais por agentes biológicos. Além disso, é um dos ramos da ciência aplicada que mais se desenvolve, sendo particularmente promissora no Brasil devido à

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diversidade de habitats marinhos. O mar é, ainda, uma fonte inexplorada de substâncias bioativas produzidas principalmente por algas, invertebrados sésseis (esponjas, ascídias, por exemplo) e bactérias, com potencial na industria médico- farmacológica, cosmética e de alimentos. Como exemplo, podemos mencionar iniciativas ainda experimentais de cultivos de macroalgas para extração de carrageninas, e agar, de algas vermelhas e exploração sustentável de bancos da macroalga Laminaria abyssalis na plataforma externa do Espírito Santo. De modo geral, entretanto, o estoque genético da biodiversidade marinha como fonte potencial de substâncias bioativas ainda está aquém de ser avaliado no mar brasileiro, apesar das evidências convincentes de que a exploração desses recursos pode impactar positivamente a sócio-economia do país.

Em macroescala, a fisiografia regional e a alta diversidade biológica aquática e terrestre do litoral brasileiro dão origem a paisagens costeiras de valor inestimável para o turismo sazonal e o desenvolvimento imobiliário, ambos ocorrendo ao longo da costa brasileira, mas, infelizmente, nem sempre atendendo a um planejamento sócioambiental adequado. O desrespeito aos valores históricos, culturais e ambientais é sintomático, com algumas exceções. Obras irregulares, poluição urbana e industrial, contaminação crônica de combustíveis náuticos e substâncias químicas agroindustriais, desmatamento de matas ciliares para plantio de cana de açúcar, urbanização irregular, complexos hoteleiros e carcinocultura substituindo ecossistemas costeiros importantes para a saúde dos ecossistemas costeiros adjacentes são apenas alguns exemplos de mau uso do espaço da zona costeira brasileira que devem ser analisados e reavaliados.

Outro recurso vivo não convencional é a produção de organismos animais e vegetais para aquariofilia. Esse mercado movimenta anualmente cerca de 30 bilhões de dólares mundialmente. Apesar dos seus quase 8000 km de costa e de possuir uma diversidade enorme de paisagens costeiras e ecossistemas marinhos, o Brasil ainda explora muito pouco esse recurso. Entretanto, a exploração desses organismos pode ser extremamente impactante do ponto de

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ecossistemas de corais. Tal prática não sustentável pode ser substituída pela produção tecnológica adequada de organismos de interesse para a aquariofilia comercial, gerando empregos e riquezas para as comunidades costeiras.

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5 CIÊNCIA E TECNOLOGIA

A Ciência e a Tecnologia Marinhas (C&TM) são essenciais para o entendimento do funcionamento dos oceanos e de como eles variam com o tempo, para melhorar as previsões climáticas e de tempo, para gerenciar de forma sustentável os recursos marinhos, bem como para encontrar novas utilizações e aplicações para esses recursos.

Em linhas gerais, a C&TM enfoca a pesquisa básica e aplicada que objetiva avançar no conhecimento dos processos físicos, químicos, geológicos e biológicos dos oceanos e regiões costeiras, incluindo suas interações com os sistemas terrestres, hidrológicos e atmosféricos. A preocupação sempre presente nas atividades de C&TM é identificar e propor soluções para a eliminação dos impactos negativos dos oceanos e regiões costeiras sobre a sociedade e do homem sobre esses ambientes marinhos. Toda atividade de pesquisa em C&TM é cada vez mais dependente do desenvolvimento de metodologias, de veículos e de instrumentos que possibilitem acesso eficiente, eficaz, rápido e de baixo custo ao meio ambiente marinho.

A C&TM está diretamente relacionada ao aproveitamento sustentável dos recursos marinhos, minerais e vivos, conforme foi discutido nos dois capítulos anteriores. Entretanto, há outras áreas igualmente promissoras de pesquisas, com fortes vínculos sócio-econômico-ambientais e que, na verdade, estão indiretamente relacionadas à exploração sustentável dos recursos marinhos.

Estas últimas serão abordadas neste capítulo.

5.1 AMBIENTE E CLIMA

A maior parte da costa brasileira é banhada por águas relativamente quentes, ocupando áreas tropicais e subtropicais do Oceano Atlântico. Grandes variações

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em latitudes equatoriais , intertropicais e temperadas. Em função dessa grande variabilidade, há uma ampla diversidade de ecossistemas costeiros, de plataforma continental e de áreas oceânicas contíguas.

As atividades de C&TM relacionadas às interações entre as mudanças climáticas e o meio marinho são ainda incipientes, pontuais e descontínuas no Brasil.

Estudos têm indicado que, nos últimos 100 anos, o nível médio do mar tem aumentado mais do que 10 cm e que isso pode estar relacionado ao aumento da temperatura média global. Previsões apontam para uma elevação maior do nível do mar nas próximas décadas, pondo em risco as regiões costeiras do litoral brasileiro. Essas previsões apontam para a possibilidade de aumento da erosão costeira e das inundações por ressacas, bem como de intensificação das intrusões marinhas nos reservatórios de água do subsolo.

No Oceano Atlântico são observados dois modos importantes de variabilidade interanual (períodos de alguns poucos anos) e decadal. O primeiro, conhecido também como modo equatorial, é semelhante ao que acontece no Oceano Pacífico durante o fenômeno El Nino – Oscilação do Sul (ENOS). O segundo, conhecido também como modo dipolo, consiste na variação inter-hemisférica da temperatura da superfície do mar em escala aproximadamente decadal. Esse último modo tem sido associado aos eventos de seca extrema na região nordeste do Brasil. Estudos visando melhor entendimento desses dois modos de variabilidade do Atlântico, sob o ponto de vista observacional e teórico, conduzirão a um melhor entendimento dos mecanismos físicos atuantes, abrindo assim possibilidades para previsão dos mesmos.

As investigações em C&TM relacionadas a ambiente e clima poderiam auxiliar na solução de problemas existentes no Brasil, tais como: (1) secas/inundações nas regiões nordeste e sul/sudeste, (2) erosão e recuperação de zonas costeiras, (3) dificuldades de previsão de clima e tempo no território e águas jurisdicionais

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brasileiras, (4) dificuldade de previsão do estoque pesqueiro e (5) dificuldade de previsão dos recursos hídricos para geração de energia.

5.2 ECOSSISTEMAS COSTEIROS E OCEÂNICOS

No Brasil, o conhecimento da diversidade, estrutura e funcionamento dos ecossistemas marinho tem ainda muito a ser pesquisado, principalmente de forma contínua e integrada, visando uma integração dos mesmos ao desenvolvimento sócio-econômico sustentável do país.

A região norte sofre influência oceânica da Corrente Norte do Brasil, quente e oligotrófica, e da pluma estuarina do Rio Amazonas. A elevada carga de material particulado em suspensão, oriunda da Bacia Amazônica e dos sistemas estuarinos do Maranhão, origina fundos ricos em matéria orgânica, oferecendo boas condições de alimento para peixes de fundo e camarões, explotados pela pesca artesanal e industrial.

Os habitats marinhos da região nordeste caracterizam-se pela grande diversidade biológica, típica de áreas tropicais, com abundância de recifes de coral e de algas calcárias. Na costa predominam praias arenosas interrompidas por falésias e arrecifes de arenito. São freqüentes os pequenos sistemas estuarinos-lagunares margeados por manguezais. Impactos ambientais são causados pela ocupação urbana, turismo, obras costeiras e por atividades não sustentáveis de pesca predatória, mineração e destruição de manguezais para carcinocultura.

As características hidrográficas da região central são semelhantes às da região nordeste, porém com maior variação sazonal de temperatura. Na altura de Caravelas, sul da Bahia, predominam os Bancos de Abrolhos, com fundos de algas calcárias e recifes de coral. A influência da Corrente do Brasil, quente e

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pequena largura da plataforma continental em quase toda sua extensão, com exceção para os Bancos de Abrolhos e Royal Charlote. Na costa predominam praias arenosas interrompidas por estuários e baías margeadas por manguezais.

O turismo e a pesca artesanal são importantes fontes de renda para as comunidades litorâneas.

As regiões sudeste e sul abrigam habitats marinhos diversos, sujeitos à forte variabilidade sazonal da temperatura e da salinidade da água do mar devida ao afastamento ou aproximação da Corrente do Brasil das áreas costeiras. Na parte norte e central, a intrusão de águas oceânicas ricas em nutrientes em direção à costa determina as características dos ecossistemas. Na parte sul, a variabilidade é acentuada devido à proximidade da confluência entre as Correntes do Brasil e das Malvinas e da drenagem continental oriunda da Lagoa dos Patos e do Rio da Prata. Na costa são encontradas praias arenosas, restingas e lagoas costeiras de médio e grande porte, costões rochosos, manguezais e baías.

O estudo multidisciplinar, integrado, orientado para o aproveitamento sustentável dessa ampla e rica diversidade de ecossistemas trará conhecimentos necessários para orientar políticas e normatizações que evitem: (1) ameaças à biodiversidade da costa brasileira, (2) degradação do potencial de produção pesqueira, (3) conflitos entre a maricultura e as demais atividades sócio-econômicas, (4) aproveitamento não sustentável dos recursos minerais e (5) impactos naturais e antrópicos na zona costeira.

5.3 POLUIÇÃO MARINHA

As águas costeiras representam recursos nacionais valiosíssimos do ponto de vista sócio-econômico. Entretanto, elas sofrem impacto cumulativo de uma grande variedade de poluentes, oriundos de áreas próximas ou remotas, transportados pelas correntes marinhas e também pelos ventos na atmosfera. As águas degradadas causam problemas ecológicos e de saúde, além de interferências

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com repercussões sócio-econômicas devido à falta de balneabilidade de praias, diminuição das atividades turísticas e de recreação e custos adicionais para manutenção de um ambiente limpo e saudável para os brasileiros.

Pesquisas direcionadas para a identificação dos poluentes, entendimento dos processos químico-físico-geológicos associados à dispersão desses poluentes, bem como avaliação e monitoramento das regiões costeiras, auxiliarão nas tomadas de decisões que resultarão em águas costeiras mais limpas e saudáveis, tanto para o homem quanto para os habitats que suportam a vida e os recursos marinhos. As implicações sócio-econômicas dessa melhora dos padrões de qualidade das águas costeiras são diretas e imediatas.

Nesta seção podemos incluir, ainda, a contaminação biológica, como aquela causada pela água de lastro, por exemplo. Estudos demonstraram que muitas espécies de bactérias, plantas e animais sobrevivem nas água de lastro e nos sedimentos transportados pelos navios. A eventual descarga da água de lastro e dos sedimentos nos portos de chegada pode introduzir organismos marinhos exóticos e nocivos ao ecossistema local, bem como agentes patogênicos. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) vem trabalhando para atender aos compromissos do Brasil com a Convenção da Organização Marítima Internacional (IMO). Em estudo exploratório, a ANVISA detectou a presença de bactérias marinhas cultiváveis em 71% das amostras de água de lastro analisadas, além de vibrios (31%), coliformes fecais (13%), Esterichia coli (5%), enterococos fecais (22%), entre outros.

O mexilhão-dourado é um pequeno molusco originário da China, que chegou à América do Sul nas águas de lastro dos navios mercantes, invadiu a bacia Paraná-Paraguai e que põe em risco os usos múltiplos dos recursos hídricos. A ausência de predadores e parasitas que controlem sua população faz com que se alastre pelas bacias hidrográficas brasileiras. Em 1991 foi encontrado na foz do

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rio da Prata, e hoje está presente no Pantanal e avança pelas usinas hidrelétricas brasileiras na bacia do rio Paraná.

5.4 TECNOLOGIA DO MAR

As atividades econômicas e de proteção ambiental no mar exigem um forte apoio tecnológico para o desenvolvimento sustentado. A tecnologia submarina avançou rapidamente no Brasil nas últimas décadas, diretamente relacionada à exploração e produção de petróleo e gás no mar. Tal desenvolvimento permitiu consolidar na indústria do petróleo a imagem do Brasil como líder na produção em águas profundas.

Outra área da tecnologia marinha importante para o Brasil a médio e longo prazo é o desenvolvimento de instrumentos e veículos para monitoramento e medições.

Internacionalmente, as Ciências do Mar caminham para o estabelecimento de monitoramento (medições contínuas) dos processos costeiros e oceânicos, tal como as estações meteorológicas realizam rotineiramente com a atmosfera.

Praticamente não há instrumentos autônomos para medições contínuas de parâmetros marinhos fabricados no Brasil. Considerando a demanda por esse tipo de instrumentação originada na extensão de nossa costa e das águas jurisdicionais brasileiras, bem como possibilidades de exportação para a América Latina, é possível que empresas nacionais encontrem nichos nesse mercado de alta tecnologia.

Submersíveis para operações de pesquisas em grandes profundidades, tripulados ou autônomos, também têm sido utilizados com cada vez maior freqüência, principalmente por países que detêm essa tecnologia. Os veículos autônomos, lançados de navios ou mesmo a partir de praias, têm possibilitado a amostragem dos processos marinhos em escalas espaciais e temporais antes inviáveis.

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5.5 OCEANOGRAFIA OPERACIONAL

Da mesma forma que a meteorologia nas últimas décadas, a oceanografia tende a estabelecer-se como ciência operacional. Isto é, uma ciência onde dados de monitoramento dos mais diversos processos costeiros e oceânicos serão coletados rotineiramente por uma ampla rede de estações autônomas. Após edição e análise, esses dados serão assimilados em modelos matemáticos para previsão do estado do mar, isto é, previsão de ondas, correntes, temperatura, salinidade, concentração de clorofila, entre outros. Os benefícios de tal forma de operação são imediatos para indústrias como a de exploração de petróleo e gás, de outros recursos minerais, de pesca e maricultura, e do turismo. Além disso, a confiabilidade das previsões de tempo e clima aumentará significativamente.

Mesmo atividades sobre o continente podem beneficiar-se da oceanografia operacional, destacando-se a agricultura, pecuária, produção de energia hidroelétrica, transportes e defesa civil.

O monitoramento das condições oceânicas e costeiras envolve não apenas os equipamentos e instrumentos descritos na seção anterior, mas também o monitoramento remoto por satélite. O Brasil já detém razoável capacitação técnica na área de recepção e processamento de dados de satélite. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) também opera um conjunto de satélites ambientais projetados e construídos no País, que já vêm sendo utilizados na recepção de dados oceânicos coletados por plataformas derivantes e fixas.

A modelagem matemática dos processos físicos, químicos e biológicos exige a interação de centros especializados, com pessoal altamente qualificado e grande capacidade computacional, tanto em velocidade de processamento quanto em capacidade de armazenamento. Iniciativas desse tipo no Brasil são ainda incipientes, mas devem ser reforçadas e incrementadas nos próximos 10 anos.

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5.6 ENERGIA

Tecnologias limpas para a geração de energia a partir dos oceanos têm sido exploradas em duas concepções distintas: a que utiliza as diferenças de temperatura vertical através da coluna de água e a que emprega o movimento periódico das ondas. Ambas as concepções têm potencial de utilização na costa brasileira. Estudos mais detalhados sobre a viabilidade econômica de tais empreendimentos se fazem necessários para programas de pesquisa direcionados à geração de energia alternativa baseados nas propriedades físicas da água do mar.

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6 CONCLUSÕES

A ocupação, utilização e aproveitamento sustentável das águas jurisdicionais brasileiras, bem como da Área internacional do Oceano Atlântico, são concretizadas por uma vasta gama de atividades políticas, sociais, econômicas, científicas e militares Neste trabalho procuramos destacar algumas dessas atividades, principalmente aquelas relacionadas ao aproveitamento sustentável dos recursos minerais e dos recursos vivos, bem como a parte de ciência e tecnologia associada. Não abordamos diretamente assuntos políticos ou militares, pois outros grupos ou foros são mais apropriados para tal empreitada. Mesmo toda a exploração de petróleo e gás em águas marinhas não foi tratada, propositalmente, pois já é uma realidade estabelecida no Brasil com altíssimo conteúdo científico e tecnológico e extremamente importante retorno econômico, social, político e estratégico.

O elenco de atividades apresentado neste trabalho requer formas elaboradas e eficientes de interação entre os atores interessados, principalmente governo, nos níveis federal, estadual e municipal, agências de fomento ao desenvolvimento industrial, científico e tecnológico, indústria e comércio, instituições de pesquisa e universidades. Iniciativas pontuais existem no País para muitas das atividades mencionadas, mas na maior parte dos casos há uma tendência para trabalhos desarticulados e isolados.

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A priorização de alguns temas e áreas geográficas possibilitará a indução para estruturação de redes virtuais que envolvam todos os atores necessários para a consecução do objetivo principal de aproveitamento sustentável dos recursos marinhos. Essas redes temáticas necessitam de coordenação centralizada e apoio financeiro contínuo para tornaram-se eficientes e produtivas e, dessa maneira, poderem atender às necessidades sócio-econômicas e estratégicas do Brasil no Atlântico Sul e Equatorial.

Referências

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