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Arquitectura, Urbanismo e Sustentabilidade

Segundo Mourão & Pedro (2005), actualmente o ser humano depara-se com o seu habitat urbano num estado de insustentabilidade, causado pela constante utilização dos recursos do Planeta, aliada à consequente degradação das condições ambientais, o que nos proporciona dificuldades de adaptação ao habitat que nós próprios criámos.

31 Como já referido, as preocupações relacionadas com a insustentabilidade do desenvolvimento, tomaram dimensão global desde os anos 70, mas foi no início da década de 1980 que Lester Brown15

Segundo Andrade & Romero (2004), o urbanismo sustentável é uma nova disciplina, articuladora de uma aproximação ao desenho urbano com uma visão integrada e unificada. A partir do novo paradigma da sustentabilidade, dever-se-á estabelecer uma nova dialéctica entre planeamento estratégico e o desenho urbano.

apresentou o conceito de cidade sustentável, como sendo aquela capaz de satisfazer as suas necessidades, sem comprometer as hipóteses de sobrevivência das gerações futuras (Andrade & Romero, 2004).

Uma implantação pensada e integrada com a vegetação, aliada a um desenho arquitectónico bem conseguido, envolvido por vegetação, poderá estar na base da sustentabilidade do edificado (Andrade & Romero, 2004).

O tema da arquitectura sustentável tem vindo a ser difundido actualmente com diversas

definições, todas elas com o mesmo objectivo, de aliar a qualidade arquitectónica formal e funcional ao conforto dos utentes, tendo em conta o impacto que tal edificação causa no meio ambiente. De uma forma geral, preocupa-se em propor o desenvolvimento de novos modelos de combate aos principais impactos causados pela expansão urbana, através de materiais e estratégias de construção ecológicas, sem renunciar á tecnologia de ponta, nas exigências do usuário, desafiando a criatividade do arquitecto para o uso de soluções arquitectónicas arrojadas e de qualidade (Fittipaldi, 2008).

2.4.1. A sustentabilidade do edificado em Portugal e o contributo dos Jardins Verticais

Actualmente, Portugal depara-se com inúmeros problemas de sustentabilidade, no seu edificado, onde se destaca o elevado consumo de água, e deficiências no seu tratamento, a

15 Lester Russel Brown (Estados Unidos da América 1934) – analista ambiental, considerado um dos pioneiros

ambientalistas, fundador de algumas instituições sem fins lucrativos como forma de defesa do ambiente Figura 20 - A arquitectura da actualidade dever-se-á preocupar com o conforto do ocupante, mas sobretudo com o impacto do edificado no meio

32 gestão dos seus resíduos ou os gastos de energia, onde os Jardins Verticais poderiam contribuir para a sua redução (Mourão & Pedro, 2005):

• Relativamente á média da União europeia, Portugal era em 2001 o segundo país a consumir mais água per capita e o que menor quantidade de águas residuais tratava, ainda com a agravante do descuido com a protecção dos solos, águas subterrâneas e protecção ambiental;

• A gestão dos resíduos também merece reparo. As despesas com os mesmos por parte dos municípios tem vindo a aumentar, no entanto de 4 800 toneladas de resíduos produzidos, apenas 240 mil são recicladas;

• Se por um lado, Portugal é exemplar no que confere ao consumo energético, sendo o mais baixo da União Europeia per capita, também em parte devido aos elevados níveis de conforto bioclimático do clima português, por outro lado, peca pelo facto de depender energeticamente de outros países.

• No nosso país há falta de informação, divulgação e apoio ao uso da vegetação no edificado, uma vez que estes dariam um forte contributo no conforto e na redução energética dos edifícios.

O ser humano deverá questionar-se acerca dos actuais problemas de sustentabilidade da construção e, perante eles, não poderá ficar indiferente, devendo adoptar modelos e formas mais sustentáveis. A correcta ocupação do solo, a eficiência energética, a correcta gestão dos resíduos, as condições de conforto e saúde, entre outros, deverão ser tidos em atenção, no momento de interferir com o normal procedimento da Natureza. A tabela 5 indica alguns princípios ou procedimentos, explicando as suas práticas arquitectónicas (Madureira, 2005; Mourão & Pedro, 2005):

Tabela 5 - Alguns princípios e práticas para a sustentabilidade do edifício (Adaptado de: Mourão & Pedro, 2005)

Princípios Praticas arquitectónicas

Ocupação racional do solo

e respeito pela Natureza

Ocupar o solo de forma sustentável, implica o respeito pelas suas vulnerabilidades em vez de as agravar ainda mais. Deverá ser evitada a implantação de novas áreas residenciais em áreas de risco, tais como leitos de cheia ou faixas costeiras instáveis. Numa eventual substituição de solo vegetal por edificado, o mesmo deverá ser compensado, e os jardins verticais poderão ser uma solução. Deverão ser postas em causa estratégias tais como:

33 • Densificação e reabilitação;

• Boa orientação da implantação; • Previsão do microclima urbano;

• Envolvência do edificado com a natureza.

Eficiência e autonomia energética

A eficiência energética dos edifícios deverá ser melhorada através da adequada utilização das suas formas, espaço e materiais. Com um correcto empreendimento destes termos será possível obter reduções significativas do uso de energia, minimizando dessa forma a emissão de gases com efeito de estufa e permitindo uma maior autonomia energética. Para alcançar estes benefícios deverão ser tomadas algumas medidas como por exemplo:

• Redução das necessidades de energia;

• Recorrer a fontes de energia renováveis e locais;

• Usar materiais de isolamento térmico eficientes. O uso de vegetação como revestimento de fachadas poderá ser um deles.

Gestão do ciclo hidrológico

A água é um bem precioso e indispensável à sobrevivência do ser humano. Dai que a gestão do seu ciclo em meio urbano dependa em grande parte das características das infra-estruturas urbanas. Assim, estas características não deverão ser negligenciadas. Para um maior equilíbrio hidrológico contribuirão as seguintes questões:

• Aumento da retenção e infiltração natural; • Recolha e aproveitamento das águas pluviais; • Separação e tratamento de águas residuais;

• Redução do consumo e desperdício de águas potáveis.

Gestão de resíduos e materiais

Estima-se que 50% das matérias-primas extraídas do solo, são utilizadas para a construção e mais de metade do lixo produzido provém deste sector. Para o contributo da redução destes impactos podem ser adoptadas algumas estratégias como:

34 • Diminuição dos resíduos energéticos;

• Uso de revestimentos ecológicos e naturais como a vegetação.

Adequação ao modo de habitar

Aproximadamente na década de 80, a forma de vida da sociedade sofreu constantes mutações, decorrentes de factores como as melhorias das condições dos materiais, diversificação das formas e coabitação, informatização crescente nos espaços habitacionais, difusão de novos valores éticos e ambientais. Um edifício ambientalmente sustentável deverá adequar-se aos modos de vivência dos ocupantes evitando a sua insatisfação. Portanto, deverão ser adoptadas algumas medidas como:

• Satisfação das necessidades e aspirações dos ocupantes; • Potenciar bons comportamentos ambientais;

• Uso de propriedades naturais como as plantas, como element arquitectura.

Condições de conforto e saúde

Todos os edifícios, assim como áreas residenciais, devem pretender ser ambientalmente sustentáveis e proporcionar condições de conforto e saúde aos ocupantes. Para tal dever-se-ão ter em consideração as seguintes estratégias:

• Assegurar a qualidade do ambiente interior; • Minimizar o consumo de recursos não renováveis.

Modulação e Flexibilização

Na construção de edifícios devem ser adoptadas estratégias que permitam reduzir o impacto ambiental nomeadamente:

• Adopção de sistemas construtivos modulares;

• Implementação de soluções flexíveis e rentáveis como os elementos verdes anexados ao edificado.

Tendo em conta a carência de espaço verde nas cidades e a sua importância para a qualidade de vida da humanidade, os Jardins Verticais assumem um papel importante, assumindo-se como compensação às áreas ocupadas pelo edificado. Ainda que de uma forma discreta, já há memória destes desde o período clássico (Heneine, 2008).

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