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Lista de Abreviaturas e Siglas

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 INDÚSTRIA A 145 1 Sistemas de iluminação

2.1.1 ARQUITETURA INDUSTRIAL NA INGLATERRA

A estrutura das fábricas como conhecemos hoje é fruto de uma concepção de espaços de produção que teve início no século XVIII.

De acordo com Pevsner (1958) e Castro (2002) até o século XVII predominava a produção artesanal, realizada nas casas dos próprios artesãos, que trabalhavam com seus aprendizes produzindo pequenas quantidades de produtos, para atender, quase que exclusivamente às necessidades da família e de poucos clientes. As construções eram em madeira e pedra e não havia uma divisão clara entre os espaços destinados à produção e a moradia em si (Fig. 2.1). Neste período a energia utilizada era a eólica e a roda d’água.

Figura 2.1: Fábrica e residência numa única edificação. Fonte: PEVSNER, 1958.

Para Benévolo (2009) ao longo do século XVII, a acelerada mecanização promovida pela navegação acarretou mudanças na produção artesanal, principalmente no que diz respeito ao volume de produtos, com reflexos na organização da produção e, conseqüentemente, nos locais onde se dava a mesma. Mesmo com a produção ainda ocorrendo na casa dos trabalhadores, já

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se notava agora uma preocupação com o excedente. As casas já apresentavam divisões entre moradia e fábrica, com depósitos para materiais e ferramentas, dormitórios e locais para hospedar operários e aprendizes.

Na Inglaterra, a partir da primeira metade do século XVIII, já era significativo o número de edificações destinadas exclusivamente para a fabricação de bens, separadas das habitações. Os avanços tecnológicos - como as novas técnicas de fiação dos precursores do tear mecânico (Fig. 2.2 e 2.3) - que exigiam força motriz mais constante direcionavam o deslocamento das fábricas para locais mais próximos aos leitos dos rios para o aproveitamento das quedas d’água (Fig. 2.4).

Figuras 2.2 e 2.3: Máquina de tecer de Cartwright (1786), o primeiro tear mecânico e a máquina de tecer de Horrock (1830). Fonte: BEHLING & BEHLING, 2002.

Figura 2.4: Força motriz gerada pelos homens na manufatura francesa, 1783. Fonte: CASTRO, 2002.

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Um exemplo de construção desse período é a Fábrica de Seda Lumbe, em Derby (Reino Unido), construída em 1717, que contava com a força motriz de uma roda d’água de 7 metros de diâmetro e maquinário operado por 300 trabalhadores (Fig. 2.5). Segundo Pevsner (1958), esta fábrica, com 33 metros de comprimento e 5 pavimentos serviu de modelo durante várias décadas para a construção de outras fábricas, sendo considerado o edifício estruturalmente mais avançado do mundo.

Figura 2.5: Fábrica de Seda Lumbe, em Derby, 1717. Fonte: CASTRO, 2002.

As fábricas eram projetadas e construídas pelos construtores, também conhecidos na época por artífices. Os projetos eram baseados nas suas experiências, a partir de métodos empíricos, sem padrões e ajuda de projetistas. Estes edifícios eram caracterizados pelas paredes de alvenaria com estruturas de madeira e uma grande extensão de aberturas de janelas.

As fábricas antigas, que sofreram ampliações, eram agora inadequadas às novas estruturas de produção. De acordo com Camarotto (1998), o edifício industrial, construído para abrigar exclusivamente a produção de bens foi estabelecido definitivamente a partir do fim do século XVIII. No século XIX, os arquitetos começaram a se preocupar com a relação entre questões sociais e funcionais na concepção do edifício industrial, principalmente nas estruturas

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e no tratamento, na disposição das funções da fábrica e no conforto ambiental. Segundo Linters (1986) o edifício industrial deveria ser construído para um propósito específico e atender este propósito com o menor esforço possível, e da maneira mais adequada. A forma deveria ser definida pela função do edifício, assim como as dimensões deveriam ser estabelecidas pelas tarefas a serem ali desenvolvidas.

Devido à tipologia das edificações industriais na primeira fase da Revolução Industrial, construídas em alvenaria de tijolos e estrutura em madeira, a ocorrência de incêndios tornou-se comum. Tal fato acelerou a busca por sistemas construtivos menos propensos à combustão. Segundo Bradley (1999), a madeira não foi mais empregada na construção civil e passou-se a adotar medidas de detecção de incêndios e sua supressão.

O uso do ferro aliado às melhorias nas técnicas de produção do vidro impulsionou o desenvolvimento do edifício fabril, transformando a linguagem arquitetônica deste período (CASTRO, 2002). Benévolo (2009) ressalta que o uso conjugado do ferro e do vidro trouxe transparência e leveza à arquitetura, não constituindo apenas uma nova técnica construtiva, mas dando à historia da arquitetura uma nova espacialidade com maior amplidão, fluidez e luminosidade.

Como agora os edifícios industriais possuíam grandes dimensões, a questão da iluminação interna era um dos maiores desafios. A luz natural era captada através de sistemas de iluminação zenital incorporados na cobertura, da inserção de aberturas e da substituição de telhas por lâminas de vidro (Fig. 2.6). Conforme Castro (2002) consolida-se assim um paradigma para a nova tipologia arquitetônica com amplas naves sem interferência estrutural, ventilação e iluminação natural e modulação construtiva.

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Figura 2.6: Fábrica de seda Michels & Cie, Neubabelsberg - Alemanha, 1912. Fonte: DÍAZ, 2007.

Bradley (1999) ressalta que a necessidade de uma boa iluminação para o trabalho a ser desenvolvido fez com que o edifício industrial se adaptasse, influenciando suas dimensões. A mudança na altura do pé-direito, que agora passa a ser mais alto, permitiu a inserção de um mezanino. As janelas passaram a ser altas e amplas e o comprimento e a largura do edifício fabril eram limitados pela restrição de distribuição de energia. Estas novas adaptações elevaram o custo das construções.

Castro (2002) relata que as indústrias têxteis, que incorporaram a máquina a vapor e o sistema de eixos e polias, exigiam espaços amplos e contínuos, de 5 a 7 pavimentos, com térreo reservado às atividades de preparação da fiação. Estes edifícios com vários pavimentos poderiam ter, no máximo, duas vezes o pé-direito como profundidade para permitir a iluminação lateral adequada. Deste modo, surgem os edifícios altos e estreitos, que caracterizam a tipologia industrial de meados do século XIX ao início do XX, com alvenaria de tijolos no fechamento exterior e com grandes superfícies envidraçadas (Fig. 2.7). A circulação vertical e as áreas de serviço passam a ser agrupadas de modo a invadir o espaço de trabalho o mínimo possível (BRADLEY, 1999).

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Figura 2.7: Fábrica de botões em Paris – edifício estreito e em vários pavimentos com grandes janelas laterais para permitir a iluminação da área de trabalho. Fonte: Castro, 2002.

Para Bradley (1999) a necessidade de luz em áreas de trabalho ocupadas por homens e máquinas é outro fator dominante. Ao longo do tempo, em espaços de produção relativamente estreitos do século XIX, bancadas lineares foram colocadas nas paredes da periferia, ou perpendiculares a elas, ao lado das janelas. As funções que demandavam melhores condições de iluminação deveriam ficar nestas bancadas e as operações que não demandavam tanta precisão e combinação de cores, mais distantes da fonte de luz natural. O autor ressalta ainda que o compartimento central do edifício fabril - normalmente dividido por duas fileiras de colunas em três compartimentos - era utilizado para o armazenamento de peças e produtos e como corredor de transporte, por apresentar condições inferiores de iluminação (Fig. 2.8).

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Figura 2.8: Mason & Hamlin Organ Co., Massachusetts, sugere como o espaço interior dos edifícios eram utilizados - os postos de trabalho eram situados próximos às janelas para maior aproveitamento da iluminação natural direta e

o corredor central era usado para o transporte. Fonte: BRADLEY, 1999.

As fábricas que apresentavam apenas um pavimento utilizavam o recurso da iluminação zenital para garantir iluminação adequada ao espaço de produção. As peças estruturais de madeira são substituídas por perfis metálicos, diminuindo os riscos de incêndios e a caixilharia também passa a ser confeccionada em ferro fundido.

De modo geral, nos séculos XVIII e XIX a tipologia dos edifícios industriais é traduzida por caixas compactas em alvenaria de tijolos emboçados ou aparentes, geralmente estreitas e altas, com vários pavimentos e muitas janelas distribuídas pelas fachadas (BRADLEY, 1999), estrutura interna em ferro distribuída uniformemente pelo espaço através de grelha reticulada e externamente destacavam as altas e delgadas chaminés que chegavam a até 50 metros de altura (Fig. 2.9) (CASTRO, 2002).

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Figura 2.9: Hayden, Gere & Co., Massachusetts, 1874. Espaço industrial com três andares para abrigar a fundição de bronze. Fonte: BRADLEY, 1999.

Na primeira metade do século XIX, o aumento da produção do ferro e o barateamento do produto fizeram com que a arquitetura do ferro fosse dominada - pelo emprego em larga escala - pelo ferro fundido utilizado principalmente em colunas, dada a sua grande resistência à compressão. A parte exterior do edifício continuava, no entanto, a ser feita de alvenaria e raras vezes o ferro se mostrou na fachada (KUHL, 1998 e BEHLING & BEHLING, 2002).

Para Linters (1986), as estruturas em ferro foram criadas sob a influência das necessidades sociais e econômicas aliadas à perícia técnica e cientifica exigida, gerando com isso, uma evolução nas construções do século XIX (Fig. 2.10).

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Figura 2.10: Fábrica de telhas Litoral, Bélgica. Fonte: LINTERS, (1986).

De acordo com Behling & Behling (2002) o primeiro edifício com estrutura metálica foi o moinho de grãos da Companhia Marshall, Benyon & Bage em Ditherington, próximo a Shrewsbury, Inglaterra, construído em 1796 (Fig. 2.11 a 2.14). Esta fábrica inglesa serviu como modelo para os edifícios com estrutura metálica construídos um século mais tarde. Sua flexibilidade original, entretanto, se viu limitada pelos sistemas de energia empregados. Toda a fábrica era acionada por uma única máquina que convertia a energia em movimento mecânico.

Figuras 2.11 e 2.12: Moinho de grãos da Companhia Marshall, Benyon & Bageem 1976 na Inglaterra. Fonte: BEHLING & BEHLING, 2002.

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Figuras 2.13 e 2.14: Moinho de grãos da Companhia Marshall, Benyon & Bageem 1976 na Inglaterra. Fonte: BEHLING & BEHLING, 2002.

Condições de umidade e poeira eram comuns nas fábricas, que conviviam com altas taxas de mortalidade. No final do século XVIII e início do século XIX as péssimas condições de trabalho na Inglaterra começaram a causar preocupações, que levaram a uma nova legislação que regulamentava a jornada de trabalho, salário mínimo, higiene e conforto ambiental. Neste período o edifício industrial era um galpão fechado, tradicional, com uso de linhas retas, poucas inclinações, grandes portas e pequenas janelas. Os novos edifícios industriais construídos a partir da nova legislação ganharam novas características, que mudaram e influenciaram os distritos industriais.

Segundo Oliveira (2007) um catálogo publicado em 1905, pela Factory Insurance Association nos Estados Unidos anunciava a “vitória” da planta de edifício industrial. Este catálogo trazia plantas de fábricas, com elevados níveis de proteção contra incêndio que veiculava as vantagens da fábrica horizontal, do espaço sem divisórias que travassem os jatos de água, e sem os sótãos (onde o combate é normalmente difícil), dos tetos planos e dos grandes vãos, da supressão do ornamento, freqüentemente feitos com materiais inflamáveis. Os industriais que recorriam ao catálogo buscavam a redução dos gastos com seguros, e mais do

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que anunciar uma ruptura metodológica, o catálogo contribuiu para a transferência do problema industrial para os engenheiros.

Nesta época, quando o arquiteto era convidado para realizar alguma intervenção, sua atuação deveria ser restrita ao disfarce da fachada do edifício. A grande maioria das fábricas construídas na primeira metade do século XIX foi resultado da cooperação entre industriais e construtores, sem a participação do arquiteto.

Uma nova e moderna imagem do edifício industrial ocorre com o surgimento do concreto armado como material construtivo que abriga novas possibilidades expressivas, como maior rapidez na execução dos elementos básicos, escala diferente de proporções, iluminação e ventilação etc. As maciças paredes são substituídas por delgados pilares, dispostos com liberdade, as divisões passam a ser leves e independentes da estrutura (DIAZ, 2007).

Entretanto, a maioria das edificações industriais contemporâneas apresenta-se como pavilhões indiferenciados. Cada vez mais os engenheiros industriais enfatizam que a planta deve ser gerada para atender aos requisitos gerais ao invés de responder às necessidades particulares de qualquer empresa (BRADLEY, 1999).

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