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Art 21.º, n.º 7 do regime jurídico do contrato de locação financeira

Outra figura afim da inversão do contencioso encontra-se no seio do regime jurídico do contrato de locação financeira. O Decreto-Lei n.º 149/95, de 24 de Junho, alterado (na última vez) pelo Decreto-Lei n.º 30/2008, de 25 de Fevereiro, que prevê o regime jurídico do contrato de locação financeira, consagrou no seu art.º 21.º, n.º 7 a

74 Para PAULO RAMOS DE FARIA há uma distinção a fazer quando o procedimento cautelar é prévio à ação principal ou incidental da mesma. Segundo este autor, quando o procedimento cautelar é preliminar à ação, as partes têm que anuir a antecipação do juízo sobre a causa principal, pois só assim, diz o autor, o art. 16.º do RPCE respeita a Constituição. Para o autor, o pedido que o Tribunal pode apreciar é o pedido formulado no procedimento cautelar, sendo que, nestes casos, o autor não pede para apreciar definitivamente a questão ou resolver definitivamente o litígio. Além do mais, o Tribunal também não conhece, nos procedimentos cautelares instaurados como preliminares à ação principal, o pedido que seria formulado nesta última, pois muitas das vezes os pedidos são diferentes como é o caso das providências cautelares de arresto e arrolamento, in FARIA, Paulo Ramos. Regime

Processual Civil Experimental Comentado, ob. cit. , p. 223.

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possibilidade de antecipação do juízo sobre a causa principal sobre a entrega do bem locado. Determina o n.º 1 do referido artigo que “[s]e, findo o contrato por resolução ou

pelo decurso do prazo sem ter sido exercido o direito de compra, o locatário não proceder à entrega do bem ao locador, pode este, após o pedido de cancelamento do registo da locação financeira, a efectuar por via electrónica sempre que as condições técnicas o permitam, requerer ao tribunal providência cautelar consistente na sua entrega imediata ao requerente”. Acrescentando no seu n.º 7 que “ [d]ecretada a providência cautelar, o tribunal ouve as partes e antecipa o juízo sobre a causa principal, excepto quando não tenham sido trazidos ao procedimento, nos termos do n.º 2, os elementos necessários à resolução definitiva do caso” (sublinhado nosso).

Com efeito, trata-se de outra forma de extinguir a obrigatoriedade de intentar uma ação principal, seguida de um procedimento cautelar, que tinha por efeito evitar a caducidade da providência cautelar decretada. Evita-se assim, a existência de duas ações que tinham o mesmo objeto.

Desde logo salta-nos à vista que, neste, só depois de decretada a providência cautelar é que o juiz efetua um juízo de prognose, compondo definitivamente a lide, caso esteja perante os elementos necessários a essa operação e depois de ouvidas as partes.

Aqui já sabemos qual o sentido da providência cautelar. Ao contrário dos mecanismos abordados anteriormente, neste já sabemos o sentido da providência cautelar, efetivamente por esta já ter sido decretada. Enquanto os outros mecanismos poderão ser utilizados quer no caso de procedência ou improcedência da ação, este só poderá ser utilizado nos casos de procedência da providência cautelar, dado que só depois de decretada a providência é que o juiz poderá antecipar o juízo sobre a causa principal.76

Com efeito, neste mecanismo, mais não se trata do que perante a providência cautelar decretada aferir se estão presentes os elementos essenciais à resolução definitiva da causa, e se estiverem, decidir definitivamente, por forma a poupar contencioso inútil e entregar o bem locado o mais rapidamente possível ao seu locador. Se não estiverem presentes os elementos essenciais, não haverá convolação, pois a

76 ELIZABETH FERNANDEZ considera que este mecanismo aproximar-se-ia mais de um processo urgente de natureza definitiva com duas fases (o decretamento da providência da entrega do bem seguida da decisão definitiva do litígio) do que de um procedimento cautelar, in FERNANDEZ, Elizabeth. “Entre a Urgência e a Inutilidade da Tutela Definitiva.” Cadernos de Direito

decisão definitiva será remetida para uma decisão autónoma em sede de uma ação principal.

2.3.1. Requisitos da antecipação do juízo sobre a causa principal

De uma leitura simples à norma do art. 21.º do Regime Jurídico do Contrato de Locação Financeira podemos retirar três requisitos: o decretamento prévio da providência cautelar; a existência dos elementos necessários à resolução definitiva do caso; e a audição das partes.

1) Decretamento prévio da providência cautelar

Ao contrário dos mecanismos de antecipação do juízo sobre a causa principal previstos nos arts. 121.º do CPTA, e no já revogado art. 16.º do RPCE, o regime jurídico do contrato de locação financeira prevê a possibilidade de antecipação do juízo definitivo apenas e só depois de decretada a providência cautelar de entrega do locado.

Com efeito, a grande diferença entre a antecipação do juízo sobre a causa principal prevista no art. 21.º do RJLF e as outras possibilidades de antecipação da tutela definitiva satisfativa, acima enunciadas, prende-se com o facto de o art. 21.º do RJLF exigir, para antecipar o juízo sobre a causa principal, que a decisão do procedimento cautelar já tenha sido tomada e que esta seja no sentido do decretamento

da providência.77 Enquanto nas outras possibilidades de antecipação do juízo de mérito

pressupõem uma simultaneidade do momento da decisão do procedimento cautelar e da decisão de antecipação do juízo sobre a causa principal.

2) Elementos necessários à resolução definitiva do caso

Perante este pressuposto, as questões que nos surgem são as mesmas que surgiram para os mecanismos de antecipação do juízo sobre a causa principal acima descritos, pelo que igualmente remetemos a nossa exposição para o ponto 2.1.1, alínea 3).

77 No mesmo sentido Rui Pinto Duarte in DUARTE, Rui Pinto. “O contrato de Locação Financeira - Uma Síntese.” THEMIS, Ano

3) Audição das partes

Note-se que, à semelhança dos outros mecanismos de antecipação do juízo sobre a causa principal, este mecanismo previsto no seio do regime jurídico do contrato de locação financeira não exige a concordância das partes, mas tão-só que mesmas sejam ouvidas, pelo que igualmente remetemos a nossa exposição para o ponto 2.1.1 alínea 4).