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reproduzissem, em forma de desenho, as atividades que elas conseguissem associar. Nesse processo, acreditava que o ideal mesmo era tentar fazer com que os alunos registrassem, ao término de cada atividade apresentada, ou ao final de cada aula, pois assim teria possibilidade da construção de um registro completo com todas as atividades trabalhadas.

Contudo, suas ações avaliativas foram adentrando no cotidiano muito além dos momentos a elas dedicados explicitamente. Não havia, por parte da professora Lilian, uma preocupação única com os resultados finais alcançados, mas, sim, em conhecer o progresso dos alunos balizados nos objetivos pretendidos e apresentados à escola (os quais apresentaremos a seguir). Porém, durante momentos de agitação extrema da turma, a professora utilizava a avaliação como forma ameaçadora, na tentativa de diminuir o caos instalado, evidenciando o tipo de entendimento que perpassava o imaginário das crianças, na medida em que a turma ficava quieta.

Assim, na atividade para avaliação planejada para o dia 4 de março, pudemos perceber que esse imaginário se confirma no fazer cotidiano. Entretanto, a professora Lilian criou mecanismos de uso que lhe permitiram, dentro do espaço da escola, reduzir os efeitos desse imaginário. Para a escola, era obrigatório o preenchimento de uma ficha individual, referente a cada aluno, na qual ficava registrada a verificação do rendimento escolar de acordo com os objetivos e competências a serem alcançados pelas disciplinas. Perspectiva que não escapava do caráter burocrático que certas tarefas escolares assumem, sem um compromisso com as possibilidades reais de efetivação ou com as singularidades de cada situação.

Nessa tentativa, a avaliação foi dividida em dois momentos: no primeiro momento, faríamos, juntamente com os alunos, uma análise das aulas de forma geral, e, no segundo momento, as crianças fariam registro, em forma de desenho, da atividade que mais gostaram de conhecer durante o trimestre.

Para o primeiro momento da avaliação, como forma de analisar as aulas, a professora Lilian, junto com os alunos, retomou os objetivos da ficha avaliativa, lembrando que estavam estudando as brincadeiras infantis, incluindo, além de brincadeiras, jogos e brinquedos:

‘Vocês lembram qual era o conteúdo que a gente está aprendendo? O que a gente está estudando em Educação Física?’ (PROFESSORA LILIAN). Um

dos alunos respondeu, em meio ao silêncio da turma: ‘Brincadeiras infantis’. A professora Lilian prosseguiu: ‘Isso: brincadeiras infantis. Considerando,

brincadeiras, jogos e brinquedos [escrevendo no quadro]. Dentro desse tema, desse conteúdo, e nós já falamos, é uma temática diferente do que aprende em sala de aula. Esse foi o conteúdo que a gente se propôs a estudar e a conhecer nesse trimestre’ (PROFESSORA LILIAN). [...]

Explicitando a ficha avaliativa da Educação Física, a professora esclarece os objetivos a turma: ‘Participa das brincadeiras e atividades desenvolvidas

nas aulas. Participa? Se o aluno participa, eu vou lá e ponho A: alcançou o objetivo. Tem os outros itens: entende que os jogos e brincadeiras são respostas a determinados estímulos ou necessidades humanas? Identifica jogos e brincadeiras como forma de compreender e apreender o mundo? Recria outras práticas corporais, um novo jogo, uma nova regra? Isso nós fomos construindo no dia a dia das nossas aulas. Nas aulas de análise do quadro, na pesquisa da biblioteca, enfim, na nossa vivência do dia a dia, nas nossas conversas. E dá para o professor dentro dessa ficha avaliar direitinho o que vocês aprenderam sobre jogos e brincadeiras, dentro dos objetivos que foram traçados. Então essa é a parte específica feita para jogos e brincadeiras. Mas tem a outro parte que são as atitudes de vocês durante as aulas. Como ficou essa classificação de vocês durante as aulas. Participa das atividades envolvidas? Sabe ouvir, sabe falar no momento certo da aula? Isso são atitudes que nós avaliamos, tanto na Educação Física como nas outras matérias, porque, às vezes, um aluno, dentro de sala de aula, sabe ouvir, mas na Educação Física não sabe. Pode ser que em cada lugar vocês ajam de uma forma diferente. Essa questão da organização da aula, está falando aqui também: como vocês percebem que uma boa organização melhora as nossas aulas? Estão chegando à quadra e aproximando ao professor para começar a aula? Ou estão dispersos, cada um vai para um lado? Em relação à percepção do tempo, conforme organizamos a aula a gente ganha mais tempo? Se a aula estiver bem organizada, a gente ganha mais tempo? A aula fica maior ou menor? Se a gente chega aqui, gasta uns cinco minutos ou dez dentro da sala, mais dez minutos para organizar, se a aula é de 50 restam apenas 30 minutos [...]. A gente gasta muito tempo com outras coisas: conversa, chamar a atenção toda hora, etc. Então vamos ver... Levanta a mão quem acha que está participando, na maioria das vezes, das aulas. Levanta a mão quem acha que participa às vezes das aulas, de acordo com o interesse. Levanta a mão quem faz a aula com desejo, com gosto. Quem faz a aula desanimado, com pouco vontade? Ou nem faz?’ (PROFESSORA LILIAN, DIÁRIO DE

CAMPO, 19-5-2009).

As crianças responderam aos questionamentos de forma objetiva para colaborar com a avaliação. A tentativa de diálogos, incentivados pela professora, favoreceu entender que as dinâmicas estabelecidas nas aulas foram suficientes para a avaliação. Contudo, a professora ainda ressaltou para a turma que o ideal seria ter feito uma avaliação ao final de cada aula, mas não deu tempo, e questionou os alunos se havia alguma sugestão a fazer: “E vocês, quais as sugestões que dariam: precisa mudar alguma coisa? O que foi bom e o que não foi?” (PROFESSORA LILIAN, 19-5-2009). Porém, apenas um aluno opinou, sugerindo que as regras das

atividades fossem mais bem fixadas no início da aula e que deveriam ser imprescindíveis que elas fossem respeitadas para o bom andamento da brincadeira.

Para o segundo momento da avaliação, a professora Lilian indicou que cada aluno fizesse um desenho de uma das brincadeiras que havíamos vivenciado durante o trimestre. Além do desenho, as crianças deveriam também escrever o nome das atividades. A única limitação feita à turma foi que não poderia ser desenhado o futebol. A professora ajudou as crianças que não lembravam os nomes das atividades recorrendo ao uso do cartaz brincadeiras

infantis.

Como podemos notar nas Fotos 22 e 23, os registros foram feitos de acordo com as interpretações de cada aluno a respeito dos jogos e brincadeiras. Por isso, ocorreu de uma mesma atividade ser representada de formas diferenciadas. As imagens, no caso, representam as duas brincadeiras distintas, pega-rabo e cabeça pega o rabo, respectivamente, apesar de seus nomes parecidos.

Apesar da avaliação, que caracterizaria o término do trimestre, ainda demos continuidade ao conteúdo Jogos e brincadeiras por mais duas semanas. Nesse tempo, centramo-nos em finalizar as atividades que já estavam planejadas. Assim, trabalhamos no sentido da produção de jogos e brincadeiras, dando ênfase às situações ocorridas em nosso cotidiano.

Com esse propósito, no dia 25 de maio de 2009, separamos alguns jornais e selecionamos algumas reportagens que trouxessem assuntos cotidianos frequentes,