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CAPÍTULO 1 – A REDE IFES: CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS E

2.3 O ENSINO DE ARTE NO IFES – ATIVIDADES EXTRACURRICULARES E A

2.3.4 Artes Visuais

O ensino das artes visuais, especificamente, tem sua representatividade garantida na obrigatoriedade de a disciplina ser ministrada nas turmas de ensino médio regular ou ensino médio integrado. Anteriormente, o artesanato era trabalhado por meio das oficinas de

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confecção de móveis, carpintaria, sapataria que exploravam algumas habilidades relacionadas ao fazer na atividade artística. A preocupação se volta, com maior prioridade, para a produção e confecção de tais objetos, e a compreensão de referenciais da história da arte não é priorizada.

As oficinas, realizadas nas décadas 1920, 1930 e 1940 possibilitavam o desenvolvimento das habilidades manuais dos educandos em detrimento das reflexões sobre a arte, seus principais precursores e sua influência na história da humanidade. Nesse período também se identifica o ensino do desenho nas unidades da escola. O ensino do desenho era voltado para a concepção de projetos (exemplo modelos de aviões produzidos no instituto) e direcionava as habilidades para o desenho geométrico, técnico, arquitetônico ou mecânico. O desenho, assim como as oficinas, também estava voltado para a projeção de um objeto a ser produzido.

O professor Álvaro Conde (1898-1986), ex-aluno da escola, é citado como referência desse período no ensino do desenho. Algumas de suas pinturas foram expostas pela instituição. O artista plástico capixaba Haroldo Boechat também é ex-aluno do instituto e trabalhou como cartunista, ilustrador e pintor. Provavelmente outros talentos das artes visuais podem ter sido fruto da escola; entretanto, não há um registro deles.

Desde a década de 1940 até os dias atuais, a presença do ensino do desenho ainda é forte na instituição. Todos os cursos técnicos integrados ao ensino médio possuem em sua matriz curricular atividades relacionadas aos desenhos técnicos. Entretanto, essas disciplinas de desenho não estão vinculadas ao ensino da arte, que tem uma carga horária específica dedicada aos conteúdos, principalmente, ao de história da arte.

Na década de 1990, com a inserção da arte de forma obrigatória no currículo, o ensino da arte fica garantido aos estudantes. Em determinado momento, pensa-se que, por ser obrigatório o ensino da arte, este estaria contemplado por meio de sua carga horária obrigatória, e essa aquisição traria uma estabilidade para o exercício da arte na instituição.

Em contrapartida, essa disciplinarização da arte traz consigo também o entendimento de que, se já está contemplada no currículo, não é necessário que sejam disponibilizados

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espaços de oficinas para outras linguagens artísticas, como teatro ou dança. As oficinas de produção de bens também são reduzidas até que sejam eliminadas e as aulas de Artes ficam limitadas ao espaço da sala de aula e de uma sala de Artes. Cabe ao professor de Artes lecionar, prioritariamente, de acordo com a matriz curricular, a história da arte. E, caso queira, pode explorar outras linguagens artísticas.

Desse modo, a experimentação de outras linguagens artísticas, ainda não contempladas na escola, fica a cargo da prática e da disponibilidade do docente que, assumindo a cadeira de Artes, mesmo com os referenciais da matriz curricular, pode ou não exercitar essas experimentações. Caso ele não tenha domínio das diversas linguagens, ou não queira se arriscar a trabalhar com elas, não tem por obrigação se aventurar nesses caminhos. A sua atuação pode se limitar a questões conteudistas e voltadas para a história da arte somente, sem o exercício da prática, sem a pluralidade das linguagens da arte e sem a experimentação estética dela.

Os primeiros professores a assumir essa disciplina passaram pelos momentos de transição entre os Decretos 2.208/97 e 5.154/08, os quais previam a desintegração do ensino médio e, posteriormente, a integração deste com o ensino técnico. O relato da professora de arte efetiva da instituição traz a descrição de como era ministrada a aula de arte:

No início das atividades de arte no ensino médio nós tínhamos 14 turmas de 2º ano, seriam duas aulas por semana e nessas duas aulas foi direcionado que se trabalhasse conteúdos de História da Arte e, dentro desses, nós professores juntamente com os alunos escolheríamos um tema para realizar uma mostra com os talentos que os alunos iriam desenvolvendo. O planejamento com história da arte foi priorizado porque os alunos que eram do ensino médio estavam sendo preparados para entrarem na universidade. Muitos deles iriam precisar destes conteúdos que poderiam cair nas provas. Então se trabalhava história da arte e no final de cada bimestre se estudava a arte em toas as suas linguagens, teatro, música, pintura, dança dentre outros e nós íamos desenvolvendo trabalhos e de acordo com os talentos e as aptidões de cada turma os alunos formavam grupos, pesquisando e montavam suas apresentações para a mostra orientados por nós professores. (Professora de Artes)

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A única professora de Artes efetiva na unidade de Vitória conta, em sua entrevista, que existe uma preocupação com os conteúdos da História da Arte a serem trabalhados, pois o pensamento reducionista do vestibular também rondava o imaginário dos alunos que necessitavam dos conhecimentos históricos para conseguir realizar as avaliações. Essa demanda é característica das turmas do ensino médio que, quando desintegrado, priorizava os conhecimentos propedêuticos. Com o advento da integração, entretanto, poucas foram as alterações no currículo da disciplina Artes, pois os mesmos conteúdos ainda são propostos, porém numa carga horária ainda menor.

Existe também uma predisposição da docente em inserir outras linguagens artísticas na disciplina Artes viabilizando assim uma maior experimentação dos educandos. Essa disponibilidade é caracterizada pelo conhecimento prévio que a professora possui de linguagens, como teatro e dança, ofertando assim subsídios para poder trabalhar as diferentes linguagens. Contudo, a questão do pouco tempo para realizar as atividades ainda é um dos problemas a serem pensados na elaboração da matriz curricular.

O processo de execução das aulas é dividido pela professora em dois momentos, e se observa no discurso dela uma percepção generalista da escola de ensino da arte voltado para um lazer:

Geralmente nós desenvolvíamos duas aulas teóricas e na semana seguinte duas aulas práticas na sala de artes. Se era sobre teatro que nós estávamos tratando nós fazíamos alguns jogos teatrais, se fosse artes visuais nós fazíamos trabalhos com desenho, escultura, gravura, pintura sempre de acordo com as demandas dos alunos. Eu via que artes na escola servia para divertir, para lazer, porque há um momento que os alunos estão tão cheios de tanta informação, a exigência é tão grande na qualificação técnica que a arte seria para divertir, para relaxar. Eu ouvi muitas vezes as pessoas dizendo que se querem relaxar deveriam ir para a sala de artes. Mas eu acho que a formação técnica não pode estar desassociada da formação humana, nós temos que nos preocupar com a formação como um todo e acho que a visão da escola técnica está mudando para um pensamento de juntar estes duas formações. (Professora de Artes)

Esse processo de entendimento da disciplina Artes como um lazer, um divertimento é característico do laisses faire, que se preocupa somente com a expressão em detrimento da compreensão, contextualização da arte. A compreensão do lazer relacionado ao ensino da

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arte remete a uma percepção encoberta, oculta, de que, em verdade, a escola necessitaria repensar seu status tecnicista e possibilitar aos seus educandos (e até mesmo professores e gestores) esse momento de aprendizagem por vias não conteudistas, coercitivas, relacionadas somente a notas a serem conquistadas.

O discurso expressa o explícito e o implícito mostrando que existe a necessidade de desenvolver uma educação mais humanizada, bem como repensar as estratégias de ensino que priorizem também o prazer em aprender, a educação estética e a sensibilidade.

Em meio a esse contexto, verifica-se que o ensino de artes visuais na instituição é obrigatório e compõe a grade curricular das atividades do curso técnico integrado ao ensino médio. Existe uma preocupação de oportunizar, durante o pequeno tempo de contato do aluno com a disciplina, a experimentação de outras linguagens artísticas. Contudo, ainda são aparentes as necessidades de repensar a carga horária da disciplina, o conteúdo, a apreciação da arte, a educação estética, o prazer em aprender e a valorização dessas outras aprendizagens que são tão fundamentais quanto os conteúdos técnicos.