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CARACTERÍSTICAS DO CORPO DISCENTE DO IFES

CAPÍTULO 1 – A REDE IFES: CONCEPÇÕES PEDAGÓGICAS E

1.5 CARACTERÍSTICAS DO CORPO DISCENTE DO IFES

A formação da juventude trabalhadora brasileira que deveria inserir-se nos espaços dos institutos ainda não consegue chegar a esses locais que ficam restritos ao adolescente e jovem detentor de condições sociais, econômicas e educativas mais elevadas. Um espaço que antes era destinado à formação daqueles que necessitavam ser inseridos no mercado de trabalho, agora se presta a atender a uma parcela de educandos que, não, necessariamente, precisam iniciar suas atividades laborais em seu tempo juvenil.

Tratando-se de pensar acerca da formação da juventude para o trabalho, livros e teses que foram lidos como referências e autores como FRIGOTTO (2006), BRANCO (2005), MOURA (2006), SOUZA (2003) não retratam a realidade de jovens atendida especificamente pelo Instituto Federal do estado do Espírito Santo em alguns cursos técnicos integrados. Os textos lidos se referem sempre a perfis de jovens que são, em sua maioria, moradores de periferias dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo ou Minas Gerais, que apresentam grandes necessidades educativas e formativas para o trabalho. As pesquisas que retratariam a juventude capixaba ainda são poucas, principalmente no que elucidaria questões relacionadas às necessidades existentes dessa camada populacional.

Como define MOURA (2006), os sujeitos que foram pesquisados sobre a formação para o trabalho em espaços como os do sistema S (Sesi, Senai e Senac) são entendidos como provenientes de classes menos favorecidas:

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...a maioria dos jovens participantes destas ações de formação são provenientes de classes ou estratos sociais menos favorecidos e estão envolvidos numa rede de problemas sociais que vão da família, passam pela escola e atingem as suas tênues, recém- iniciadas ou por vezes interrompidas biografias profissionais, e que, portanto apresentam maiores dificuldades de absorção de saberes e de inserção social. (MOURA, 2006, p. 37)

Os estudantes dos Sistemas S ou do Ensino Médio Regular de escolas públicas estaduais são aqueles e aquelas que trazem uma preocupação social e necessitam ser olhados pelos gestores públicos com maior cuidado. A esses (e, em verdade, a todos os jovens de nosso país) deveriam ser oferecidas oportunidades de ingresso em escolas de qualidade (públicas ou privadas) que lhes possibilitassem uma inserção no mercado de trabalho com maior qualificação.

Nesse sentido, se não houver providências, perpetuar-se-á o ciclo de imersão desses jovens em empregos medíocres que não propiciam um planejamento de vida que vislumbre maiores conquistas e distanciamento do ciclo de dificuldades e pobreza em que viveram ou vivem. As redes de problemas sociais continuarão a existir e a arrastar esses jovens para a marginalidade, subempregos, criminalidades, drogas e tantas outras formas de interrupção de uma caminhada profissional e pessoal.

Esses jovens de classes menos favorecidas, dos estados pesquisados pelos referidos autores, começam a se inserir no mercado de trabalho, geralmente por meio de subempregos, no próprio bairro ou localidades próximas. Em pequenas lan houses, padarias, mercearias e comércio do bairro, os jovens identificam oportunidades de sua inserção no mercado de trabalho lícito, por meio do qual podem arrecadar uma renda (mesmo que precária) que propicie compras de bens de consumo, de coisas necessárias para eles (como roupas, tênis, bonés, mp3) ou ajude nas necessidades básicas familiares (como alimentação, pagamento de contas).

Também para esses jovens é oferecida a infeliz oportunidade de trabalho no mercado ilícito das drogas, vendas de armas, prostituição, que podem trazer uma rentabilidade maior do que a dos empregos no comércio. Mas, infelizmente, com a renda, com os lucros e dinheiro,

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vêm os riscos de agressões físicas, violências e morte, como vemos muitas vezes em nossos jornais10.

No livro Juventude e elos com o mundo do trabalho, escrito por SOARES (2010), é retratado um estudo com adolescentes e jovens de algumas comunidades do Rio de Janeiro, demonstrando que os jovens possuem uma grande preocupação com a inserção rápida no mercado de trabalho (lícito ou não) para ajudar na complementação da renda familiar.

Para muitos, a necessidade de trabalhar é mais urgente do que a de completar seus estudos. Os jovens veem a escola como um espaço para adquirir conhecimentos, entretanto a prioridade em se inserir nos mercados de trabalho paralelos é maior, haja vista o número de adolescentes e jovens que não concluem sua formação de nível médio para se dedicarem a um serviço temporário, um subemprego ou bico.

Alguns desses jovens, por meios de programas como Pró-Jovem, de iniciativa pública, e outros vistos nas iniciativas privadas que incentivam o Menor Aprendiz, recebem uma bolsa para que se mantenham estudando e trabalhando em algumas empresas de médio e pequeno porte. Entretanto, mesmo nesses programas, vê-se uma evasão do jovem e adolescente quando este consegue outro trabalho que lhe seja mais rentável.

O desencantamento com a escola e com os estudos também influencia essas desistências. O Ensino Médio Regular ainda não sabe qual é a sua função política, social, cultural e cidadã. Muitas escolas seguem o padrão de ensino voltado para habilitar o educando a passar no vestibular e enchem os alunos de conteúdos descontextualizados da realidade desse adolescente e jovem que não se vê representado na escola e dela se afasta.

Em uma pesquisa realizada nas escolas estaduais de Minas Gerais, fornecida pelo Instituto Unibanco (2011), foi identificado que o principal motivo de evasão dos alunos das escolas

10 O Programa Conexões Urbanas, de José Junior, traz informações sobre a perspectiva dos jovens de comunidades cariocas com relação a trabalho, renda e tráfico de drogas. Os entrevistados são traficantes dessas comunidades que retratam, em seu discurso, justamente a falta de oportunidade de trabalho e a procura pelo tráfico como fonte de renda mais rentável e rápida. Ver vídeo disponibilizado anexo ao trabalho, em DVD, ou no link da internet http://www.youtube.com/watch?v=1aIAzaxgX58.

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se deve à inserção do educando no mundo do trabalho. A conquista do emprego é mais relevante do que a permanência nos bancos escolares.

Na escola, o fator desmotivador são as repetências, o desinteresse pela escola e seus conteúdos, a falta de atenção às necessidades do adolescente e jovem, o sucateamento de algumas escolas. Em Minas Gerais, relativamente à desistência no ensino médio, a pesquisa revela que, de cada 100 jovens, 25 abandonam as escolas antes de completar seus estudos. Isso representa 25% de jovens fora das salas de aula. Em uma turma de 40 alunos, somente 30 concluíram, possivelmente, seus estudos.

No contexto do Espírito Santo, provavelmente essas realidades também devem ser observadas nas escolas públicas estaduais de Ensino Médio Regular. Contudo, no Instituto Federal, a evasão nos cursos integrados, mesmo sendo presente, ainda não é tão assustadora como a dos 25% nas escolas estaduais de Minas Gerais. O instituto não possui esses dados concretos sobre a evasão dos educandos, mas, de acordo com a pedagoga da escola, em uma turma de 32 alunos, por exemplo, 28 estudantes se formam. Isso significa desistência na casa dos 12,5%, que também é um número a ser considerado, haja vista o grande investimento nos institutos federais do Brasil e a crescente vontade de expandir a rede IFES demonstrada pelo governo federal11.

No Instituto Federal do Espírito Santo, a desistência dos alunos dos cursos integrados está mais voltada para a questão da não identificação do educando com a formação profissional que está recebendo do que para a necessidade de trabalhar a fim de ajudar nos rendimentos familiares. Muitos dos educandos são oriundos de famílias de classe média, média alta e alta e têm, no contexto familiar, o apoio à continuidade dos estudos em nível universitário e de especializações, mestrados e doutorados.

11 Em discursos de campanha eleitoral de 2010, os dois então candidatos a presidente da República, Dilma Rousseff e José Serra, apresentaram como uma das plataformas importantes na área educacional o aumento da rede IFES em todo o Brasil. O intuito é suprir a necessidade de mão de obra qualificada exigida pelo setor industrial brasileiro.

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Os pais dos educandos que ingressam no instituto incentivam seus filhos a realizar sua formação nessa instituição, não tanto pela questão de obter um diploma de técnico em algo, porém mais pelo valor, tradição e qualidade da educação que acredita receber na instituição. Ver a conquista de seus filhos, ao conseguirem passar no processo de seleção, traz a pretensa e valorizada certeza de que esse é o primeiro passo no caminho para a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Ser contemplado com uma vaga no Instituto Federal requer desses jovens muito estudo e dedicação. Essa dedicação chega a ter significados similares aos de um vestibular, pois a concorrência existente para o ingresso, principalmente no campus Vitória, é grande, atingindo níveis de cursos universitários disponíveis no estado de Espírito Santo. A tabela 1 abaixo faz um demonstrativo da relação de alunos/vagas nos cursos integrados do Instituto Federal, por meio da qual podemos verificar justamente a questão quantitativa da disparidade entre o pouco número de vagas ofertadas pela instituição e a grande quantidade de jovens que tentam nela ingressar12:

Tabela 1 – Relação candidato/vaga por curso em 2011.

Nome do curso

Nível Turno Número de

candidatos

Número de vagas

Candidato/ vaga

Estradas Técnico Integrado com Ensino Médio

Vespertino 381 38 10,03

Eletrotécnica Técnico Integrado com Ensino Médio

Matutino 527 32 16,47

Eletrotécnica Técnico Integrado com Ensino Médio

Vespertino 425 32 13,28

Edificações Técnico Integrado com Ensino Médio

Matutino 1395 40 34,88

Mecânica Técnico Integrado com Ensino Médio

Matutino 749 38 19,71

TOTAL 3477 180 19,31

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O curso mais concorrido, que seria o de Edificações no turno matutino, teve um índice de 34,88 candidatos/vagas. Essa relação candidato/vaga chega a ser maior do que a do vestibular de Direito na UFES, que representou 30,5 candidatos/vaga13. Isso demonstra que a conquista de uma vaga no Ifes é um feito hercúleo para os adolescentes e jovens do estado.

Nesse contexto, identificamos que, para ter acesso a essa instituição de ensino, certamente esses educandos necessitariam de conhecimentos estruturados, com bases sólidas que, muitas vezes, não conseguimos identificar em nossas escolas públicas de ensino fundamental.

O Ministério da Educação (MEC) demonstra uma grande preocupação com a qualidade da educação recebida pelos seus alunos do ensino fundamental brasileiro. Para avaliar a qualidade dos conhecimentos recebidos, as escolas de ensino fundamental passam por provas avaliativas, como o Prova Brasil, e também se inserem em verificações de qualidade educacional, passando por testes internacionais, como o Programa Internacional de Avaliação dos alunos (PISA), que ocorre cada três anos e avalia capacidades de leitura, compreensão, matemática e ciências. Com base nesses recursos avaliativos, o Brasil ainda não consegue atingir bons resultados internacionalmente. No PISA, o Brasil está ranqueado no 53º lugar, atrás de países como o Chile (44º), o Uruguai (47º), Trinidad e Tobago (51º) e a Colômbia (52º)14.

Nessa perspectiva, surge a dúvida: será que os alunos oriundos do Ensino Fundamental Municipal estariam aptos para concorrer às disputadas vagas que o instituto disponibiliza nos seus cursos de formação integrada? E para esse acesso seria necessário fazer cursos preparatórios? Os institutos visam a formar os futuros técnicos do Brasil. Será que, no Espírito Santo, o instituto está cumprindo essa função?

13 Dados colhidos em 2011 sobre relação candidatos/vaga da UFES disponível em: http://www.ccv.ufes.br/ 14

Dados encontrados no site do Inep ou em http://www1.folha.uol.com.br/saber/841804-brasil-fica-em-53- lugar-em-prova-internacional-que-avalia-capacidade-de-leitura.shtml

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Para esclarecer tais questões, foi realizada uma breve coleta de dados quantitativos acerca das características dos educandos que ingressam no instituto em Vitória e estão no 1º ano dos cursos integrados ao ensino médio, no intuito de verificar quais seriam os perfis e intencionalidades desses estudantes na instituição.

Delimitando algumas características que auxiliam na construção de um perfil dos educandos do Ifes, foi realizado um levantamento de dados, no início do ano letivo de 2012, com 113 alunos ingressos no 1º ano dos cursos integrados de Eletrotécnica matutino e vespertino, Mecânica matutino e Edificações matutino. Esses alunos responderam a questões relacionadas à sua faixa etária, ao gênero, a alunos provenientes de escola pública ou privada, à frequência aos pré-técnicos para conseguir ingressar no Ifes, ao número de educandos que pretendem trabalhar como técnicos e aos fatores que os motivaram a ingressar no Ifes. No Ifes, o maior número de educandos é de faixa etária entre 15 e 16 anos. Poucos são os alunos com idade maior ou menor que os números apresentados. No total, são 92,9% de alunos na faixa etária de 15 a 16 anos, contrapondo-se aos 7,1% de alunos com 14, 17 ou 18 anos. Na tabela 2 abaixo, temos a classificação etária dos estudantes dos cursos técnicos integrados:

Tabela 2 – Dados da faixa etária dos alunos ingressos 2011.

FAIXA ETÁRIA IDADE CURSOS Eletrotécnica Matutino Eletrotécnica Vespertino Mecânica Matutino Edificações Matutino TOTAL* 14 1 1 0 0 2 15 16 10 16 10 52 16 8 16 12 17 53 17 0 3 2 0 5 18 0 0 0 1 1 TOTAL 25 30 30 28 113

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O fenômeno da distorção idade/série aparente em muitas escolas públicas do ensino médio, produto das reprovações imputadas aos educandos no ensino fundamental, não se apresenta no Ifes. O processo seletivo acirrado a que esses educandos são submetidos para ingressar no instituto acaba anulando os casos de estudantes com históricos de reprovação anterior.

O insucesso dos alunos das escolas públicas de ensino fundamental no processo seletivo para ingresso no Ifes pode ser constatado pelo número ínfimo de estudantes oriundos dessa esfera, identificados pelos dados. Como demonstra a tabela 3 abaixo, do total de alunos entrevistados somente 11,5% são egressos de escolas públicas. Dos 13 egressos de escolas públicas, 8 fizeram algum curso preparatório para entrar na instituição.

Tabela 3 – Dados de alunos egressos de escolas públicas e privadas.

ALUNOS EGRESSOS

CURSO PARTICULAR PÚBLICA

Eletrotécnica Matutino 23 2

Eletrotécnica Vespertino 25 5

Mecânica Matutino 28 2

Edificações Matutino 24 4

TOTAL 100 13

Esse dado revela a dificuldade dos educandos das escolas públicas de ensino fundamental de ingressar nos institutos e constata a necessidade de uma reavaliação dos instrumentais utilizados para o ingresso dos educandos nesses espaços educacionais. Uma vez que se entende que esse local também é um espaço de educação pública, porém de qualidade, ele não deveria ser celeiro somente de educandos oriundos de escolas particulares. Justamente por ser público, não deveriam apartar dele aqueles que também precisam de um ensino público de qualidade, mas abrir o espaço viabilizando um acesso mais igualitário de todos a uma escola que deveria ser para todos.

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A questão da necessidade de fazer um curso preparatório que aumentaria, na opinião dos alunos, a probabilidade de sucesso nas avaliações seletivas não seria um desprivilégio somente dos educandos oriundos das escolas públicas; 76,1% de alunos entrevistados, também de escolas particulares, frequentaram algum cursinho antes de se submeter à seleção. Esse fato demonstra que são muitos os bancos ocupados nos cursos preparatórios por aqueles que são aprovados no Ifes e também por outros tantos que não passam na seleção, independentemente de se tratar de egressos de escolas públicas ou não. Um dinheiro investido pelos pais que, necessariamente, não deveria ser despendido se houvesse uma educação inicial de qualidade e uma seleção mais igualitária de ingresso. Isso resulta ou da insegurança dos educandos com relação aos conteúdos adquiridos nas escolas particulares; ou da exigência dos pais; ou da preocupação exacerbada em aprender macetes para a realização das provas; ou ainda de outros fatores.

Tabela 4 – Dados dos alunos que frequentaram cursos preparatórios para a prova do Ifes.

Alunos que fizeram Pré-Ifes para ingressar no instituto.

CURSO SIM NÃO

Eletrotécnica Matutino 19 6

Eletrotécnica Vespertino 23 7

Mecânica Matutino 25 5

Edificações Matutino 19 9

TOTAL 86 27

Na questão de gênero, observamos que a predominância existente é a de alunos do sexo masculino em detrimento do sexo feminino. Durante a coleta de informação dos quatro cursos integrados, observou-se que três deles apresentam um maior percentual de alunos do gênero masculino. O Curso de Eletrotécnica, no período matutino, possui 84% de meninos e, no turno vespertino, 76,6%. No Curso de Mecânica 76,6% também são meninos. O Curso de Edificações é o único que demonstra uma disparidade com relação aos dados

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apresentados. Na sala de aula, enquanto o percentual de meninos é de 25%, o de meninas estudando no mesmo espaço é de 75%.

Uma hipótese para esse fator diferencial pode ser a maior relação do Curso de Edificações com os cursos superiores de Arquitetura, Engenharia Civil, Design de Interiores e Urbanismo, que apresentam um maior número de estudantes do gênero feminino. Com esses dados sobre gênero, constata-se que a predominância dos meninos estudantes nos cursos técnicos integrados é em virtude da percepção social persistente de que as formações técnicas estão destinadas aos homens que apresentam maiores condições físicas e psíquicas de trabalhar nos campos industriais e tecnológicos. As ciências exatas estariam destinadas aos homens, enquanto as ciências humanas poderiam ser um melhor local para as mulheres apresentarem seus conhecimentos e exercerem seus trabalhos (haja vista o maior número de professores homens lecionando também nas disciplinas técnicas da escola).

Ainda foi levantada uma questão relacionada ao pretenso futuro desse técnico que está sendo formado pelo Ifes. O questionário trouxe a seguinte pergunta para os educandos: Você pretende trabalhar como técnico depois de concluir seus estudos no Ifes? A resposta a essa indagação traz um dado que deve ser considerado e refletido pelos gestores do Ifes sobre o perfil do aluno que ingressa na instituição, pensando em alterações emergenciais no processo seletivo.

Apesar de o percentual apresentado ter sido de 58,4% de alunos que responderam sim, que pretendem trabalhar como técnicos após a sua formação no Ifes, é considerável o percentual expressivo de 41,6% de alunos que não pretendem trabalhar nas respectivas formações técnicas. Partindo dessa constatação, conclui-se que mais de 40% dos recursos, esforços, capacitação de docentes, infraestrutura, expectativas governamentais, qualidade de ensino, todos destinados a formar um técnico para atuar num mercado de trabalho aquecido e necessitado desses profissionais, são dispensados para jovens que não vão exercer sua função. Estão sendo formados técnicos demandados pelo mercado que não querem fazer parte deste.

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Tabela 5 – Dado quantitativo relacionado a alunos que pretendem trabalhar na qualidade de técnico.

Número de alunos que pretendem trabalhar na qualidade de técnico.

CURSO SIM NÃO

Eletrotécnica Matutino 7 18

Eletrotécnica Vespertino 19 11

Mecânica Matutino 18 12

Edificações Matutino 22 6

TOTAL 66 47

Muitos alunos do Ifes pensam inicialmente em concluir o ensino superior para depois buscar o mercado de trabalho, haja vista alguns dados relacionados aos fatores motivacionais que levaram o aluno a querer estudar no Ifes.

Os fatores motivacionais foram delimitados com base em algumas hipóteses, tais como influência da família, qualidade de ensino do Ifes, necessidade de conseguir um emprego, vontade de fazer não só um bom curso técnico, como também um bom ensino médio.

Entre essas opções assinaladas, a questão da qualidade de ensino do Ifes foi a que mais recebeu votos em todos os cursos. Identifica-se que os educandos têm grande estima pela instituição e consideram o espaço como um local onde se receberá uma formação de qualidade que poderá dar subsídios para continuar os estudos com êxito. Essa constatação não é em razão de um imaginário criado em torno da instituição, mas parte de dados estatísticos quanto ao sucesso dos educandos do Ifes nas provas do Enem e na inserção deles nas universidades federais e estaduais do Brasil. Dentro do ranking capixaba das escolas públicas de ensino médio, o Ifes ficou em primeiro lugar, com as maiores médias de todas as escolas.15

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Tabela 6 – Dado relacionado aos fatores motivacionais em estudar no Ifes.

Por que optou por estudar no Ifes?

Motivo Cursos Eletrotécnica Matutino Eletrotécnica Vespertino Mecânica Matutino Edificações Matutino TOTAL Influência da família 16 17 16 16 65 Qualidade do ensino do Ifes 22 25 27 26 100 Necessidade de conseguir emprego 2 4 5 2 13 Vontade de fazer um bom curso técnico

6 10 15 18 49

Vontade de fazer um bom ensino médio

14 18 17 23 72

Outros 5 6 6 1 18

O segundo maior fator motivacional assinalado foi a vontade de fazer um bom ensino médio. A constatação desse dado mostra que as reverberações da separação entre ensino médio e ensino técnico, proposta pelo Decreto 2.208, de 1997, quando os então centros federais se tornaram referência para o ensino médio regular, ainda persistem para os educandos. Mesmo com a revogação desse decreto em 2004 pelo Decreto 5.154, que