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Artesanato

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Capítulo III – COMUNICAÇÃO E CULTURA NO QUILOMBO DA FAZENDA

3. Aspectos comunicacionais da transmissão dos saberes e fazeres culturais do

3.2. Artesanato

O artesanato com finalidade comercial é uma atividade recente no Quilombo da Fazenda, embora sua prática remonte ao tempo de formação do quilombo para suprir as necessidades do dia-a-dia em relação aos utensílios para as atividades domésticas, da pesca e do trabalho nas roças.

Figura nº 18 - Loja de artesanato do Quilombo da Fazenda.

Figura nº 19 - Artigos de artesanato produzidos no Quilombo da Fazenda.

O Sr. Ginacil, nosso entrevistado, conta de que maneira teve os primeiros contatos com a fabricação de balaios:

...ele [Sr. Francisco, avô da esposa do Sr. Ginacil] começou a me ensinar artesanato, ele fazia uns balaios grandes, eu nunca tinha visto isso também, pra botar farinha, colocava cará, mandioca e levava na vila dos pescadores onde eu morava pra trocar por peixe, e lá trocava as bananas verdes por peixe, enchia os cestos de volta com peixe e vinha embora.

Eu comecei a ficar curioso com aquilo, e ele quando tinha várias encomendas, ele dizia vou tirar cipó em tal lugar, ele falava o nome das matas que eu não conhecia e eu ia junto, eu sempre tava atrás dele, me ensinou no mato o nome das árvores, o nome de tal mato, pra que servia isso pra que servia aquilo, eu comecei a adquirir muito conhecimento acompanhando ele nas trilha, nas cachoeiras, nome de árvore, nome de planta, depois disso aí eu comecei a querer aprender o tal do balaio,[ ...] as pessoas faziam encomenda pra ele e não tinha como ele colher o material, eu ia e tirava o material pra ele, e ele não queria ficar muito tempo abaixado e ele começou a me ensinar como fazer pra levar as encomendas pras pessoas.

E eu comecei a produzir, e nossa ele ficava mais feliz ainda, [...] e eu adquiri muita experiência, então eu aprendi a fazer aqueles balaios, levava e quando eu vinha com o peixe, nossa peixe fresco... E desse começo do balaio eu comecei a criar outras coisas, abajur, e ele gostava, aí que ele pirava, nossa você tem o dom pra isso e começou a me incentivar e eu comecei a produzir todo tipo de artesanato do princípio que ele tinha me ensinado, e eu conseguia montar peças diferentes pra vender na rua.

O artesão Ginacil vê o artesanato, hoje, no Quilombo da Fazenda, como uma possibilidade de trabalho e renda para os membros da comunidade quilombola, e continua sua explanação sobre o artesanato dizendo:

Hoje graças à Deus tem, uma casa de artesanato, nós temos uma biblioteca, um escritório, temos o telecentro e está sendo utilizada a cozinha que era da escola para receber grupos e algumas coisas, além do ponto de cultura que foi uma benção para a comunidade, mas isso graças a nós da comunidade, só temos a agradecer...

A gente construiu o ponto da casa de artesanato, algumas senhoras de dentro da comunidade não tinham mais como trabalhar, não podiam ir para a roça, só cuidava ali das galinhas quando dava, não tinha mais aquele projeto de vida, não se sentiam úteis, e com a construção da casa e as oficinas, começaram a participar e hoje elas se sentem útil, como a Dona Maria que não tinha mais coisa pra fazer e hoje se sente útil e ainda gera uma renda. Isso faz bem demais, quando eu chegar a ficar bem velhinho eu quero me sentir útil.

A nossa casa de artesanato, se fosse com coisas industriais que é vendido em São Paulo, ninguém iria querer comprar, aqui é de palha é de cipó e coisa do lugar, tem história...

Dona Lucia quando fala do ponto de cultura e de outras manifestações folclóricas no Quilombo da Fazenda faz referência ao artesanato:

Nós ganhamos o ponto de cultura e a moça que veio fez bastante artesanato, oficina de artesanato, oficina de dança, tem um grupo de crianças chamado “Ô de casa”, já teve os tambores, a dança do coco, então devagarzinho. O projeto acabou, mas ficou bastante artesanato, você vai lá em cima ver, a menina ensinou artesanato, o Itesp vem e trás bastante curso sobre isso, a dança do coco que vem com os tambores, agora tem um grupo chamado “Ô de casa” que é bem antiga também, a dança da fita, do tamanco, tá voltando aos pouquinhos, seu Bidico que trabalha aqui gosta de dançar ciranda, quer dizer vai voltando aos poucos, para as crianças e pra gente dançar também. Mas aos poucos, porque se perdeu muito, e aos poucos você vai trazendo aquilo que era feito antigamente.

A gente precisa se organizar melhor... Tenho uma irmã que trabalha com artesanato. Na fazenda tem bastante gente trabalhando com artesanato, tem a Dona Carmem

Percebemos nas entrevistas o entusiasmo quanto ao artesanato que veio a tornar- se uma fonte de renda e atividades para muitos integrantes da comunidade do Quilombo da Fazenda. Encontramos na casa de artesanato vários tipos de balaios com diferentes tamanhos, galinhas de palha para acondicionamento de ovos, descanso de panelas, toalhas e tapetes bordados, todos bem acabados e de muito bom gosto. De acordo com Cristina Schmidt (2008, p.150), as manifestações culturais, nas últimas décadas, adquiriram valor comercial atraindo consumidores de vários perfis, e alcançaram valor comunicacional nos meios acadêmicos.

Os aspectos folkcomunicacionais na transmissão dos saberes e fazeres culturais apresentados pelos entrevistados da comunidade do Quilombo da Fazenda são repletos de informações folclóricas, culturais, além de difusores das práticas sociais comuns às comunidades tradicionais.

4. A cultura alimentar tradicional ressignificada pelas práticas culinárias atuais no

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