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Cultura popular

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Capítulo I – COMUNIDADE, CULTURA E IDENTIDADE

2. Cultura, identidade e comunicação

2.2. Cultura popular

Jorge González em “Sociologia de las culturas subalternas” (1990, p. 13-15) considera que toda cultura tem uma íntima relação com as estruturas sociais e focaliza a discussão sobre os termos “cultura” e “popular”.

González (1990, p. 66) afirma que a cultura popular, deve ser entendida não só pelo seu conteúdo, práticas e desempenhos, porém como uma competência cultural, como uma série de modos de produção e percepções simbólicas próprias do povo.

A definição de cultura, no entendimento de Franz Boas, (apud GONZÁLEZ, 1990, p. 27-28):

A cultura, inclui todas as manifestações e hábitos sociais de uma comunidade, as reações do indivíduo, na medida em que forem afetados pelos costumes do grupo em que vive e dos produtos das atividades humanas, na medida em que são determinadas por esses costumes. Popular na visão de (GONZÁLEZ, 1990, p. 78)

não é um conceito abstrato, “popular”, “subalterno”, “dominado” constituem relações históricas e sociais da condição de subordinação e de dominação dos grupos marginalizados, tendo em vista que a subordinação – historicamente produzida – é caráter central do popular. González (1990, P.79) afirma que para um estudo da sociologia das culturas populares não está restrito às particularidades das culturas marginalizadas, folclóricas ou tradicionais, mas constituem processos de estruturação, consolidação e desestruturação ou crise da hegemonia de um bloco histórico...”

Hall, em “A diáspora” (2011, p.232) entende que a cultura popular está associada às questões da tradição e às formas tradicionais de vida. A cultura popular é o terreno onde as transformações são operadas. Por cultura entende-se o terreno das práticas, representações, linguagens e costumes concretos de qualquer sociedade historicamente específica (HALL, 2011, p.313).

Em “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade” (2003, p.50), Hall considera que as culturas nacionais são compostas pelas instituições culturais, símbolos e representações, a construção de sentidos que estão contidos nas estórias que são contadas sobre a nação, suas memórias que conectam seu presente com seu passado.

Renato Ortiz em “A moderna tradição brasileira” (2006, p. 38) nos lembra que é pela Escola de Frankfurt que o tema sociedade e cultura de massa ganha destaque nesse momento de fortalecimento da indústria cultural no Brasil, através de revistas como

Tempo Brasileiro com um número especial sobre comunicação e cultura de massa, e a Revista de Civilização Brasileira.

Renato Ortiz (2006, p. 15) considera que na década de 1940 já há a presença de atividades vinculadas a cultura popular de massa no Brasil, porém esse tipo de cultura passa a ser objeto de maior atenção nos idos dos anos 1960.

É somente em 1966 que vamos encontrar um primeiro artigo de Ferreira Gullar sobre a estética na sociedade de massa. Seguindo as reflexões da Escola de Frankfurt, o autor busca ampliar o quadro de compreensão da problemática cultural entre nós.

Ainda para Ortiz (2012, p.127-128) a temática do popular e do nacional é sempre presente quando se fala de cultura brasileira. O autor caracteriza o brasileiro como homem sincrético, produto do cruzamento de culturas distintas (branca, negra e ameríndia); o brasileiro (no sentido de povo) seria constituído por um elemento popular originário da miscigenação cultural, considera ainda:

Identidade nacional e cultura popular se associam ainda aos movimentos políticos e intelectuais nos anos 1950 e 1960 e que se propõem redefinir a problemática brasileira em termos de oposição ao colonialismo. [...] O movimento modernista, que busca nos anos 1920 uma identidade brasileira, se prolonga em Mário de Andrade em seus estudos sobre o folclore, e na sua tentativa de criar um Departamento de Cultura, que entre outros aspectos se volta para a cultura popular. Roberto DaMatta em O que faz o Brasil, Brasil? (1986, p.17) diz que:

A construção de uma identidade social, então, como a construção de uma sociedade, é feita de afirmativas e de negativas diante de certas questões. Tome uma lista de tudo o que você considera importante – leis, ideias relativas à família, casamento e sexualidade; dinheiro; poder político; religião; artes; comida e prazer em geral – e com ela você poderá saber quem é quem. [...] Descobrindo como as pessoas se posicionam e atualizam as “coisas” desta lista, você fará um “inventário” de identidades sociais e de sociedades. [...] Porque, para mim, a palavra cultura exprime precisamente um estilo, um modo e um jeito, repito, de fazer coisas.

A cultura popular e o folclore, no entender de Ortiz (2012, p. 105) devem ser preservados considerando-se que a cultura é a tradição e a identidade e o folclore deve ser protegido da contaminação profana do mundo moderno. “O popular é concebido como beauté du mort, ele é reificado e objetivado enquanto memória nacional. [...] ‘Popular’ é cultura, a massa é ‘técnica’”.

Alceu Maynard de Araújo, em “Cultura popular brasileira” (1973a, p. 9) delimita as áreas culturais considerando os padrões culturais tipificadores relacionados aos fatos folclóricos. Dessa forma, o fato folclórico como fenômeno cultural, traz em seu bojo características do popular, do anônimo e do tradicional, transmitindo, via de regra pela oralidade, as suas variadas manifestações.

Para Maynard (1973b, p. 14) área cultural é o espaço geográfico onde grupos apresentam condições semelhantes de cultura, com valores comuns e constantes, onde

há características próprias de uma determinada cultura, mesmo que diferente de outra cultura mesmo que vizinha.

Néstor Garcia Canclini, em “Culturas Híbridas” (2011, p. 22) considera que o “popular” corre menor risco de intenção do que de transformação. Para o autor nunca houve tantos artesãos, ou artistas populares; seus produtos têm características tradicionais e modernas, atraindo turistas e consumidores urbanos que veem nesses bens folclóricos características únicas e personalizadas, não encontradas nos bens industrializados.

Ecléa Bosi (1977, p. 53-55) Considera que a definição de cultura popular não é uma tarefa simples, fundamentada em autores como Gramsci; Oswaldo Elias Xidieh e Florestan Fernandes, a autora conclui que:

o folclore consiste em uma ‘educação informal’ que se dá ao lado da sistemática; uma educação que orienta e revigora comportamentos, faz participar de crenças e valores, perpetua um universo simbólico”. Se as condições da vida social que garantem a sua persistência são ameaçadas, também o folclore entra em crise. Mas, ainda assim, pode oferecer amparo cultural e emocional à população que vem da roça e deve integrar-se no meio urbano.

Quando a cultura popular entra em crise, quando se empobrece e desagrega, ‘os prejuízos que daí advém afetam a segurança subjetiva do homem que se reduz de seu papel de criador e renovador da cultura para o de consumidor’.

Na cultura popular, novo e arcaico se entrelaçam: os elementos mais abstratos do folclore podem persistir através dos tempos e muito além da situação em que se formaram.

Percebe-se bem a situação descrita por Bosi quando nos deparamos na metrópole com elementos vindos de comunidades tradicionais, onde na comunidade de origem esse integrante representava algumas vezes uma autoridade em determinada manifestação folclórica. Na cidade grande fica deslocado, voltado exclusivamente à atividade para seu sustento, devido à dificuldade de comunicação, não encontrando ressonância para sua própria cultura, gerando falta de integração com o novo meio, comprometendo a identidade, provocando o esquecimento da cultura e de suas tradições e valores ancestrais.

No entanto, na medida em que existe a oportunidade de exercer algum tipo de manifestação com utilização de elementos folclóricos, esses representantes de comunidades tradicionais despontam demonstrando seus valores e sua cultura.

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