• Nenhum resultado encontrado

Articulações da Racionalização Econômica para assegurar o ter.

Segundo Capítulo

2. Articulações da Racionalização Econômica para assegurar o ter.

Na esteira do envolvimento do Mito com o Conhecimento Técnico-Científico, buscaremos identificar o lugar do Racional, como principio organizativo, em conflito com as interfaces apelativas do Irracional Mítico, configuradas nos discursos que medeiam as relações comunicativas contemporâneas. Desse modo, mesmo correndo o risco de amputar o movimento dialético de compreensão da realidade, insistimos em focalizar a análise no Mito na Técnica, como fontes de modelação do Pensamento Contemporâneo.

O Mito, em destaque na organização da sociedade contemporânea, assume configurações autônomas e distintas dos princípios que lhe deram origem, nas grandes narrativas homéricas e nas cosmologias greco-romanas. Para efeitos de análise, no que diz respeito às implicações míticas nos processos comunicativos contemporâneos,

tomaremos o Mito como participante da mesma lógica que conduz o desenvolvimento e a aplicação da Racionalidade Técnica e Tecnológica que respalda o que se convencionou chamar de “Modernização”.

A primeira referência que adotaremos terá como indicador o estudo de Cruz (1998).i Essa autora abordou a implicação dos instrumentos técnicos e tecnológicos nas condições atuais de produção, destacando como aspecto relevante da questão o papel político e social desses instrumentos, os quais, segundo a autora, não devem ser vistos como meros auxiliares do trabalho humano, mas fundamentalmente, como resultado do Movimento de Racionalização no mundo do trabalho.i

(...) O caráter revolucionário dos processos de produção industrial na era moderna, é sem dúvida o sucesso e a mediação exercida pelas máquinas, pelos instrumentos que na sua lógica não são somente auxiliares do trabalho humano, mas são resultados do movimento de racionalização do mundo do trabalho que no processo, descobre que a racionalidade dos processos operatórios ou técnicos, realiza de maneira integrada a organização do trabalho. (Cruz 1998, p.59).

A autora acima referida discutiu os impactos da Racionalidade Tecnológica na Contemporaneidade, apontando como fator significativo das mudanças no mundo do trabalho a formação das Redes e a descoberta dos métodos de Racionalização da Comunicação.

A ênfase dada pela autora encontra-se dirigida para a influência das descobertas da Ciência e da Tecnologia nos processos produtivos, dentro de um contexto de importância discutível, no qual as atuais transformações nas relações de produção provocaram não apenas a revolução dos métodos de trabalho, mas sobretudo, o modo de pensar o trabalho.

No que diz respeito às implicações dos conhecimentos da Ciência, da Técnica e da Tecnologia, configurados como imprescindíveis no contexto da Modernização, as análises de Cruz (1998) nos oferecem indicativos de que os “avanços tecnológicos” provocaram um amplo panorama de deterioração no que se refere à capacidade de trabalho e ao desenvolvimento das forças produtivas. Como exemplo, a autora cita a relação entre a diminuição da jornada de trabalho e o aumento da exploração dos trabalhadores.

No contexto da reorganização dos processos produtivos, a autora ressalta, como mudanças, a necessidade de mão-de-obra especializada, antes direcionada para realizar as atividades mecânicas e repetitivas condicionadas a movimentos das máquinas, e, hoje, reorganizada em torno de informações e ações que se encontram interligadas aos sistemas por redes de comunicação. Desse modo, os sistemas passaram a unificar as vias de acesso aos diferentes níveis do trabalho e da organização social, em uma única direção (Cf.Cruz: 1998, p.59-60).

Além disso, Cruz (1998) procurou evidenciar em suas análises os impactos da Racionalidade Tecnológica na Contemporaneidade. No seu estudo, encontramos traços do Movimento de Racionalização Econômica, o qual se desenvolveu articulado com os Conhecimentos técnicos, científicos e tecnológicos, apresentados ao conjunto da sociedade como fenômeno de dimensões revolucionárias.

Nesse contexto, a perspectiva revolucionária foi difundida pelos processos técnicos e tecnológicos. Estes, além de gerar grandes contradições no contexto de reorganização do social e do cultural, imprimiram um forte ritmo para a implementação da Modernização Econômica, transformando ambientes e cenários que não foram pensados e preparados para tal.

Como a dinâmica principal é definida por estratégias respaldadas em interesses econômicos e financeiros, o jogo projetado como “Revolução” Técnica e Tecnológica tornou-se vital para a sobrevivência dos sistemas nas Sociedades Contemporâneas. Desse modo, sólidos e tradicionais sistemas, para não serem totalmente descartados, se esforçam para redefinir suas estratégias de produção e comunicação, a fim de adequar-se às novas exigências do mercado.

Vê-se, portanto, que a lógica da Modernização assume, como primeira necessidade, a reorganização dos sistemas que compõem o cenário econômico, para depois projetar a reestruturação dos sistemas responsáveis pelas funções básicas na sociedade. Assim, a lógica que redefine os parâmetros normativos para dinamizar o mundo social tem seus princípios previamente definidos no mundo do trabalho.

(...) a revolução dos processos produtivos se realiza de modo integrado porque ela religa estruturalmente todas as instituições do mundo do trabalho a sociedade em geral, embora nós reconheçamos que eles guardam uma autonomia na sua ação e no seu funcionamento. Esta ligação é vital para a sobrevivência do sistema, o que já dizemos que isso exige dar uma direção única tanto ao nível do trabalho, como da organização da vida em sociedade.i

Cruz (1998) estendeu suas análises para apreender e compreender impactos da Racionalidade Tecnológica na Educação, em específico, a brasileira. A autora abordou a questão demonstrando que foi, e ainda o é, através das orientações políticas, sociais, culturais e educacionais que a sociedade brasileira contemporânea assimilou, e continua assimilando, o discurso da Modernização Social. Para ela, tal discurso é organizado e apresentado ao coletivo social, muito próximo da lógica do Capital Financeiro Internacional.

A referida autora trabalhou com a idéia de que a dinâmica e os instrumentos que movem o processo de elaboração e execução das políticas sociais, culturais e educacionais brasileiras, estão em sintonia com o Modelo de Desenvolvimento Econômico, posto em prática pelas elites financeiras internacionais, através do discurso da necessidade de Modernização.i

O estudo acima citado torna-se relevante, hoje, por contextualizar o modelo de educação atualmente adotado pela sociedade brasileira, visando a inserção na Modernização. Em sua abordagem, Cruz (1998) focalizou o perigo do discurso técnico- científico, usado como instrumento ideológico, para justificar e legitimar ações políticas que não atendem às necessidades da maioria.

Para a referida autora a questão do poder político perpassa todas as instâncias responsáveis pela sistematização do saber formal. No entender da autora,

(...) não concerne aos meios e as formas de utilização dos instrumentos e/ou equipamentos e máquinas, ensinar, mas o funcionamento e a alimentação das redes de comunicação que se operam sistematicamente de modo diferenciado, autônomo, mas articuladas como sistemas que guardam em si a mesma matriz.(...) [esta] matriz é, para nós, semelhante a matriz do macro-sistema econômico, que procura formas de reprodução em todos os setores da vida ativa, como a política, a cultura, a educação, usando ideologias como relações dotadas de signos e símbolos comunicacionais. O debate deverá se concentrar no modo como cada sociedade absorve os modelos de desenvolvimento e responde as necessidades da população face as exigências deste mesmo modelo (Cruz1: 998, p. 62)

Desse modo, tomando por base a importância da Educação brasileira, no papel de reguladora da ascensão social dos indivíduos ao mundo do trabalho, surge a preocupação de que, o sistema de caráter harmonizador – como é o caso da Educação – poderá desenvolver- se em desarmonia com o social, caso limite-se a seguir apenas as determinações e exigências da lógica da Modernização pré-definidas pelo Sistema Econômico.

Nessa direção, Cruz (1998) nos recorda que os representantes dos sistemas de um modo geral, ficam entre as exigências internas da população e as exigências externas das agências financiadoras. A autora deixa claro que a ação articulada e integrada dos sistemas

de produção obriga os trabalhadores a submeterem-se a regras que favorecem o acúmulo do capital nas mãos de poucos investidores, provocando a exploração da maioria da população (Cf. Cruz 1998, p.63).

No entender dessa autora, a assimilação da lógica da Racionalização Econômica, inserida na Modernização, faz com que a população ativa reaja de modo organizado, ou não, aos métodos e mecanismos políticos do poder que representam e se colocam como garantias de implantação dos planos dos investidores.

Nesse sentido, os direcionamentos oferecidos pela autora nos possibilitam fazer uma inferência, em que o processo modernizador – agindo através da Racionalização das esferas políticas e econômicas – é visto como parte de numa cadeia de relações com as esferas, econômica, política, social e cultural e, conseqüentemente, com o sistema educacional, por encontrar-se interligado aos outros sistemas.

Dito de outro modo, o contexto no qual ocorrem as mudanças sociais, em níveis do saber (da Ciência) e do saber-fazer (da Técnica), está relacionado a decisões que são tomadas na esfera do poder (político e econômico) e comunicadas (pelo discurso ideológico) a fim de legitimar o ter (bens de consumo e supérfluos, geradores de satisfação pessoal).i

A autora supracitada nos lembra ainda que a Ciência e a Técnica são consideradas, pelo mercado de trabalho, como mercadoria, uma dimensão valorativa que demonstra o papel e a importância que essas esferas do conhecimento assumiram nas relações econômicas contemporâneas. O fator preocupante dessa dimensão está na sua composição mítica, repassando para as relações culturais e sociais a Técnica e a Ciência como detentoras de um valor especial: o de um trabalho mágico (Cruz: 1998, p.65).

(...) O trabalho especializado assume característica importante, não só porque contribui para uma melhor realização do trabalho, por ganhar tempo, aumentar a produção e os lucro, mas também, porque serve para distinguir e classificar os quadros nas diferentes esferas e/ou fases da produção, divisão do trabalho, que é reproduzida na sociedade de um modo geral. Portanto, a mercadoria, que aparece no mercado, é resultado do trabalho do cérebro humano que realiza, através de interações coletivas, e se materializa para se tornar coisa. A forma encontrada para esconder a verdade objetiva do mundo do trabalho, que é primeiro o trabalho humano realizado ao mesmo tempo por vários trabalhadores espalhados no mundo, é através da educação, a qual realiza um trabalho fundamental tendo em vista a reprodução dessa estrutura (Cruz: 1998, p.66).

Complementando a interpretação de Cruz (1998), encontramos Axelos (1991)i, o qual, através de sua obra, Metamorfoses, afirma que é possível identificar a Técnica Científica como a maior força de nossa época. Isto a torna responsável pelo constante processo de transformação e evolução do mundo, do homem e das coisas. Para o autor, é pela participação efetiva da Tecno-Ciência que ocorre o amplo processo produtivo, e, ao mesmo tempo, destrutivo, dos seres e das coisas.

Axelos (1991) põe em xeque a cômoda visão unilateral da Técnica Científica como potência transformadora, deslocando-a do eixo do puro saber, onde se apresenta como uma “desinteressada” busca teórica, pautada na “ingênua” manipulação dos resultados, para fins úteis e práticos. O esforço de Axelos (1991) encontra-se direcionado para o profundo envolvimento teórico-prático da Racionalidade Técnica e Científica, vinculado a um saber-fazer capaz de penetrar e confundir-se com o mais íntimo das fantasias no imaginário dos indivíduos.

A perspectiva acima descrita levou o referido autor a tomar, conceitualmente, Tecnologia como um modo de sentir, apreender, dizer e fazer, sob a influência direta da Ciência, através da técnica metódica e de suas espetaculares descobertas. Na visão de Axelos (1991), a Técnica Científica não se reduz ao calculável, ao manipulável, por isso ele a colocou inscrita no próprio movimento do Mito no mundo.

(...) Nós temos o mito a técnica como duas forças, dois canais de entrada e saída que apesar de manterem uma relação íntima entre si, essa relação não se dá de forma inversamente proporcional: o florescimento do mito não reflete mais que massivamente o desenvolvimento da técnica, a técnica por sua vez, mais sofisticada, não leva em conta elementos míticos que trabalhem sua ignorância. As conquistas técnicas mais avançadas são, em uma certa maneira, prefigurada mitologicamente, mas a mitologia, ela mesma, é trabalhada no interior de forças e aspirações tecnicistas. Mito e técnica se separam e se juntam à luz do logos e de suas "logias” i

O movimento pretendido por Axelos (1991) atende a uma configuração cíclica, fundada na noção de tempo contínuo, de natureza construtiva e destrutiva, que renova, constantemente, a face moderna e contemporânea do que lhe dá suporte e aceitabilidade, ou seja, o Mito o Logos.

Noutra linha de raciocínio, mas também próximo a Axelos (1991) e a Cruz (1998), encontramos Barthes (2001) preocupado com os detalhes que configuram a linguagem e a comunicação do Mito. Para ele, este é um sistema de comunicação, uma mensagem, uma fala que exige condições especiais para que, enquanto linguagem, se transforme em Mito. i

mensagem, como tal, pode não ser somente oral, podendo assumir formatos os mais diversos, seja por meio de escritas, seja por meio de representações. Na interpretação de Barthes (2001), o discurso escrito, a fotografia, o cinema, a reportagem, o esporte, os espetáculos, a publicidade, tudo pode servir de suporte à fala mítica. Por outro lado, o autor deixa claro que o Mito não pode definir-se nem pelo seu objeto, nem pela sua matéria. (Cf. Barthes 2001, p.131).

A partir do pressuposto acima apresentado, podemos entender, com Barthes (2001), que o objeto do Mito assumiu uma dimensão ampla e extensiva. Nesse sentido, as informações desse autor, tomadas como subsídio interpretativo da linguagem mítica, nos remetem ao entendimento de que qualquer coisa pode constituir-se em Mito, desde que participe de um discurso e esteja suscetível a julgamentoi, o que dá sustentação para outra tese de Barthes (2001): a de que o Mito pode ser apreendido através de sua fala.

Neste momento da abordagem, assumimos nossas lacunas de informação e (de)formação, e pedimos licença aos estudiosos da Semiologia, para seguir com as idéias de Barthes (2001), e fazer uma breve imersão conceitual nos intrincados caminhos da Semiologia. Temos claro que tal imersão não se dará na perspectiva de aprofundamento, mas apenas em nível circunstancial, ou seja, como tentativa de aproximação teórica aos aspectos formais do Mito enquanto fala.

À guisa de informações complementares, seguiremos adotando as estratégias de Barthes (2001), para apreender as inserções do Mito nas relações de comunicação do Homem no mundo. i Pois, segundo esse autor, o Mito participa do esquema semiológico que integra as dimensões do significante, do significado e do signo, mas assume características de um sistema semiológico secundário.

A justificativa que o referido autor nos oferece com suas análises é a de que a construção do Mito ocorre a partir de uma cadeia semiológica já existente. Ou seja, as matérias-primas da fala mítica (língua propriamente dita, fotografia, pintura, cartaz, rito, objeto etc.), por mais diferentes que sejam, desde o momento em que são captadas pelo Mito, reduzem-se à pura função de significante. O Mito vê nelas apenas uma mesma matéria-prima. A sua unidade provém do fato de serem todas reduzidas ao simples estatuto de linguagem (Cf. Barthes: 2001, p.136).

Na verdade, ao que nos parece, Barthes (2001) quer nos chamar a atenção para o fato de que, no Mito, existem dois sistemas semiológicos, um deles deslocado em relação ao outro: um sistema 1ingüístico - a língua (ou os modos de representação que lhe são assimilados) -, ao qual denominou de linguagem-objeto,i e outro, representando o próprio Mito, para o qual o autor atribui a função de metalinguagem.i

Desse modo, Barthes (2001) reforçou sua divisão semiológica do Mito, afirmando que o significante é o termo que sofre alterações no sistema e pode ser encarado, no Mito, sob dois pontos de vista: como termo final do sistema lingüístico (no plano da língua), ou como termo inicial do sistema mítico (o próprio Mito). Para o autor, os outros dois termos - o significado e o signo - continuam sem sofrer ambigüidades: aquele seria o conceito e este, a correlação dos dois primeiros.

As informações acima nos levam a acreditar que estamos diante de uma configuração interpretativa da linguagem mítica, cujo significante apresenta-se de maneira ambígua: é, simultaneamente, sentido e forma, pleno de um lado, vazio do outro. Enquanto sentido, o significante postula uma leitura prévia: apreende-se pelos olhos, identifica-se com uma realidade sensorial (ao contrário do significante lingüístico, que é de ordem

puramente psíquica).

Como signo lingüístico, o sentido do Mito tem um valor próprio, faz parte de uma História: no sentido, já está constituída uma significação, que pode facilmente bastar-se a si própria, se o Mito não a tomasse e não a transformasse subitamente numa forma vazia, parasita. Na interpretação de Barthes (2001), o sentido mítico já está completo, postula um saber, um passado, uma memória, uma ordem comparativa de fatos, de idéias, de decisões (Cf. Barthes 2001, p. 139).

Aos olhos desse autor, parece não haver lugar para se pensar a irracionalidade mítica. Onde e como ela aparece e se realiza no mito. Nessa perspectiva, Barthes (2001), afirma que, quando reduzido o sentido mítico à sua forma, o Mito esvazia-se, empobrece- se, a história evapora-se e permanece apenas a letra.

Com isso, na dimensão semiológica do discurso, efetua-se uma permutação paradoxal das operações de leitura, uma regressão anormal do sentido à forma, do signo lingüístico ao significante mítico. Para Barthes (2001), a forma não suprime o sentido, empobrece-o apenas, afasta-o, conservando-o à sua disposição. Desse modo, o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, que alimenta a forma do Mito.

(...) O sentido passa a ser para a forma como uma reserva instantânea de história, como uma riqueza submissa, que é possível aproximar e afastar numa espécie de alternância rápida: é necessário que a cada momento a forma possa reencontrar raízes no sentido, e aí se alimentar; e, sobretudo, é necessário que ela possa se esconder nele. É este interessante jogo de esconde-esconde entre o sentido e a forma que define o mito. A forma do mito não é um símbolo. i

que dá forma conceitual à linguagem mítica. Para ele, a história se funda enquanto forma, e se constitui como conceito. Conceito, que, por sua vez, comporta a dupla função de ser histórico e intencional na narrativa mítica. Nas palavras do autor, o conceito restabelece a cadeia de causas e efeitos, de motivações e de intenções. Ao contrário da forma, que o esvazia de significado, o conceito, nas narrativas míticas, não é absolutamente abstrato, mas está repleto de situações concretas. Assim, através do conceito, toda uma história nova é implantada no Mito. (Cf. Barthes 2001, p.140)

Na possibilidade de desvio da Racionalidade, que fundamenta o projeto comunicativo Mito-Homem-Mundo, visando a uma significação lógico-interpretativa do mundo, o referido autor não esquece de ressaltar que, ao passar do sentido à forma, a imagem mítica perde parte do seu saber: torna-se disponível para o saber conceitual. Daí que o saber contido no conceito mítico pode ser tomado como um saber confuso, constituído por associações moles e ilimitadas.

O autor em questão reforçou a necessidade de abordarmos o Mito levando em conta o caráter aberto do seu conteúdo explicativo. Abertura que o faz constituído de uma essência que não é pura abstração purificada, mas resultado de uma condensação informal, instável, nebulosa, cuja unidade e coerência provêm, sobretudo, da sua função histórica.

Vimos, pois, em breves recortes, Cruz (1998), Axelos (1991) e Barthes (2001) nos darem mostras da intrincada teia que recobre e compõe o Pensamento Contemporâneo, tendo como principais recursos o Mito a Técnica. Ao que nos parece, hoje, a Técnica, a Ciência e o Mito representam o modo predominante do pensar contemporâneo, em forma e conteúdo intrinsecamente articulados com os processos e produtos da Tecnologia,

constituindo-se em categorias, onipresente e onipotente, de um modelo de interpretação da realidade.

Assim, o atual processo de Modernização, longe de representar simplesmente uma via unilateral do processo efetivo de criticidade e dessacralização do mundo, apresenta-se como via de composição e assimilação de um conteúdo ideológico dentro de um cenário psicologicamente acomodado a uma Racionalidade Instrumental. Isso nos leva a pensar na hipótese de estarmos participando de um contexto histórico no qual predomina a reinvenção do Mito-Tecno-Lógico, com a participação efetiva da Técnica e da Ciência no dinâmico fluxo do ciclo Mito-Logos.

Voltando a Axelos (1991), é ele quem nos oferece pistas que poderão nos ajudar a refletir melhor sobre as bases que fundamentam a reinvenção do Mito-Tecno-Lógico na Contemporaneidade.

(...) se um certo logos funda e comporta toda a técnica e, se toda técnica engendra do logos, que por sua vez responde nela, nenhuma atividade contemplativa ou teórica vem antes que