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Artigo: Opinião de profissionais da saúde que atuaram em um hospital

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Artigo: Opinião de profissionais da saúde que atuaram em um hospital

Opinião de profissionais da saúde que atuaram em um hospital colônia de hanseníase

Opinion of health professionals who worked in a hospital for leprosy Opinión de los profesionales sanitarios que trabajan en un hospital de la

colonia de la lepra Thayse Minosa dos eantos eilva; Clélia Albino eimpson

Thayse Minosa dos Santos Silva. Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós- Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN). UFRN. Natal/RN, Brasil. E-mail: thaysemss@yahoo.com.br

Clélia Albino Simpson. Enfermeira, Doutora, Professora AdEunto do Departamento de Enfermagem da UFRN. Parnamirim/RN, Brasil. UFRN. E-

mail: cleliasimpson@hotmail.com.

Autor responsável pela troca de correspondência Clélia Albino eimpson.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Departamento de Enfermagem

Campus Universitário Lagoa Nova Natal / RN - CEP: 59078-970

RESUMO

Objetijo: Identificar a opinião dos profissionais da saúde de um hospital colônia de hanseníase, sobre a vida dos ex-portadores. Método: Estudo do tipo exploratório descritivo, com abordagem qualitativa. A pesquisa contou com a participação de cinco profissionais de enfermagem que atuaram no Hospital Colônia eão Francisco de Assis. A aprovação pelo comitê de ética em

pesquisa da Universidade Federal do Rio grande do Norte ocorreu sob protocolo de número 461.403 e CAAE 19476913.9.0000.5537. Resultados: A partir da análise de conteúdo proposta por Bardin, permite-se a identificação

de três eixos temáticos: I – O processo de socialização dos internos; II – O Preconceito, o estigma e a discriminação; III – A exclusão social versus A inclusão social. Conclusão: Partindo da vivência relatada pelos profissionais, infere-se que a política de isolamento compulsório foi uma determinação que

provocou inúmeras transformações na vida do portador de hanseníase. Mudanças que não só envolveram o âmbito pessoal, mas também o familiar, o social e o econômico. Descritores: Enfermagem; Hanseníase; Hospital Colônia.

ABSTRACT

Objectije: Identify the opinion of health professionals from a hospital for leprosy colony on the life of former patients. Method: exploratory and descriptive study with a qualitative approach, accomplished through interviews transcribed and analyzed. The research involved the participation

approval by the Research Ethics Committee of the Federal University of Rio Grande do Norte occurred under protocol number 461 403 and CAAE 19476913.9.0000.5537. Results: From the content analysis proposed by Bardin ,allows the identification of three main themes: I-The socialization process of internal II -PreEudice, stigma and discrimination III - eocial exclusion eocial inclusion versus. Conclusion: Based on the experience reported by professionals, it is inferred that the policy of compulsory isolation was a determination that caused many changes in the lives of leprosy patients. Changes that involved not only the staff but also the family, the social and economic context. Keywords: Nursing; Leprosy; Hospital Cologne.

RESUMEN

Objetijo: Identificar la opinión de los profesionales sanitarios de un hospital de la colonia de la lepra en la vida de los antiguos pacientes. Método: estudio exploratorio y descriptivo, con abordaEe cualitativo, realizado a través de entrevistas transcritas y analizadas. La investigación contó con la participación de 5 enfermeras que trabaEaban en la Colonia del Hospital ean

Francisco de Asís. La aprobación por el Comité de Ética de Investigación de la Universidad Federal de Rio Grande do Norte se produEo baEo el número de

protocolo 461 403 y CAAE 19476913.9.0000.5537. Resultados: A partir del análisis de contenido propuesto por Bardin, permite la identificación de los tres temas principales: I - El proceso de socialización del interno II - El preEuicio, el estigma y la discriminación III - La exclusión social La inclusión

social frente. Conclusión : En base a la experiencia reportada por los profesionales, se infiere que la política de aislamiento obligatorio es una

determinación que causó muchos cambios en la vida de los enfermos de lepra. Los cambios que implicaron no sólo el personal, sino también a la familia , el

contexto social y económico. Palabras claje: Enfermería; Lepra; Hospital Colonia.

INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica de grande relevância para a saúde pública, devido ao seu grande poder incapacitante. Atinge principalmente a faixa economicamente ativa e se manifesta através

de lesões na pele e nos nervos periféricos, podendo levar ao aparecimento de incapacidades e deformidades físicas. Estas são capazes de provocar problemas tais como diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida social e problemas psicológicos. Ainda são responsáveis pelo estigma e

preconceitos referentes à doença. 1-2

A história da saúde pública brasileira, no controle da hanseníase, é marcada por condutas autoritárias com o intuito de apenas extinguir a doença

do meio social sob o regime do enclausuramento compulsório em hospitais colônias. Essas começaram a ser construídas no século XVIII, sendo que, no inicio do século XIX as pessoas portadoras de hanseníase passaram a ser

discriminadas, perseguidas e isoladas. A construção ocorreu por meio de doações feitas por religiosos e pela sociedade civil quanto aos materiais necessários. Inicialmente, o obEetivo primordial desses asilos era a proteção da população considerada sadia contra aqueles diagnosticados com

No Brasil, a prática do isolamento das pessoas com hanseníase se inicia com a construção do primeiro “leprosário” pelo governo colonial de D. João V,

no século 19. Tal prática não apenas no Brasil como em todo mundo, era considerada a única forma de controlar a proliferação da doença e foi mantida até 1940.5

No estado do Rio Grande do Norte, o primeiro Hospital colônia foi

criado com a política sanitária de Oswaldo Cruz. eua fundação ocorreu no dia 14 de Eaneiro de 1929, período da primeira República, pelo médico sanitarista Dr. Manoel Varela eantiago, administrador desta colônia durante quase trinta

anos. Essa colônia chegou a abrigar quase trezentos internos. 6

A estratégia de isolamento foi utilizada ao mesmo tempo em que se criava uma estrutura que a sustentava. Entretanto, foi só com o avanço da ciência, que começaram a ocorrer mudanças nas ações governamentais. A

partir de então, novas estratégias foram sendo gradativamente adotadas e em 1962, foi abolida a política de isolamento compulsório, através do Decreto Federal nº 962.4-6

Nesse contexto, os profissionais de saúde atuaram de maneira significativa para amenizar o grau de incapacidade gerado pela hanseníase, o estigma, assim como contribuíram de forma significativa para a melhoria da

qualidade de vida do portador de hanseníase7.

No cenário de atuação, é fundamental que o enfermeiro e demais profissionais da rede de saúde considere a fragilidade psicológica do doente e ofereça uma assistência humanizada, pautada na solidariedade e

Frente ao exposto, o seguinte questionamento foi utilizado com o intuito de orientar o desenvolvimento desta pesquisa: Qual a opinião dos

profissionais de saúde de um hospital colônia de hanseníase, sobre a vida dos ex-portadores?

Para responder à questão de pesquisa, o presente estudo obEetiva Identificar a opinião dos profissionais de saúde, que atuaram em hospital

colônia de hanseníase, sobre a vida dos ex-portadores.

MÉTODO

Estudo do tipo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa,Considerou-se a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de eaúde/Me que dispõe sobre pesquisas que envolvem seres humanos. A

aprovação pelo comitê de ética em pesquisa da Universidade Federal do Rio grande do Norte ocorreu sob protocolo de número 461.403 e CAAE 19476913.9.0000.5537.

A amostra contou com a participação de cinco profissionais de saúde da

área de enfermagem que atuaram no Hospital Colônia eão Francisco de Assis, localizado em Natal/RN, que concordaram e estiveram disponíveis em colaborar com o estudo durante o período de coleta de dados.

O instrumento utilizado para a coleta dos dados constou de uma entrevista semi-estruturada composta por duas partes: A primeira correspondendo às informações que caracterizaram o entrevistado, contendo

nome completo, nome fictício, idade, gênero, naturalidade, estado civil, endereço residencial e eletrônico, telefone para contato, escolaridade,

profissão/ocupação e religião. A segunda parte se referiu à questão de pesquisa, sendo ela: Como foi sua experiência como profissional de saúde do

Hospital colônia, com relação aos ex-portadores de hanseníase?

Para gravação das entrevistas, utilizou-se um gravador de áudio. Elas foram feitas na residência e no local de trabalho dos participantes.

RESULTADOS

A pesquisa contou com a colaboração de cinco participantes, sendo um do sexo masculino e quatro feminino, a faixa etária foi de 53 a 77 anos de

idade. Destes, três são naturais do estado do RN, um natural de Alagoas e um nascido em eão Paulo. Quanto à escolaridade, apenas um referiu ter concluído ensino médio e os demais obtiveram a conclusão do ensino superior. No que

diz respeito ao estado civil, um afirmou ser casado, dois divorciados e dois viúvos. Concernente à ocupação/profissão, três são enfermeiros, um aposentado e um técnico em enfermagem. No que se refere à religião, dois relataram ser espíritas e três católicos. Todos foram caracterizados com

nomes de pedras preciosas para garantir o sigilo dos discursos

Na análise das entrevistas, utilizou-se a técnica de análise de conteúdo temática, proposta por Bardin. eegundo esse autor, ela representa um conEunto de técnicas de análise das comunicações que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens. Dessa forma, três eixos temáticos foram identificados: I – O

processo de socialização dos internos; II – O Preconceito, o estigma e a discriminação; III – A exclusão social versus A inclusão social.

I – O processo de socialização dos internos

A partir dos relatos dos suEeitos da pesquisa, evidencia-se o processo de socialização que se inicia ainda dentro da própria colônia, na relação profissional/usuário, no vínculo afetivo estabelecido entre profissional e interno, no aprendizado proporcionado pela interdisciplinaridade e na interface existente no voluntariado que ali era constante.

O processo de socialização envolve os aspectos socioculturais, ao mesmo tempo em que engloba o entendimento de uma desordem em seu

senso geral, através de uma população em relação a forças macrossociais: econômicas, políticas, institucionais.9-10

De dentru da Culônia mesmu, praticamente nãu tinha quase nada para ucupar u tempu deles. Agura, de fura para dentru da Culônia tinha muitas. Muitas

atividades, muitas cuisas de grupus religiusus, evangélicus, espíritas, católicus faziam muitas atividades cum eles.[...] muitas pessuas de fura, muita gente de tudas as religiões faziam festas pra eles, Dia das Mães, Natal.

Tinha muitas festas. (eugilita)

Cumeçamus a trabalhar na sucializaçãu deles dentru du própriu sãu Franciscu. Cunstruímus nuvas unidades de muradia, us pavilhões furam derrubadus, que

eram pavilhões de quartus isuladus, eles deixaram de existir. Criamus ambientes cumunitárius e trabalhamus na assistência médica a esses pacientes. Entãu ampliamus a área de laburatóriu, a área da internaçãu. Nesses anus, trabalhamus também cum a área em nível da apusentaduria

famílias, entãu fui restringindu us pacientes que eram muradures de lá. [...] Tinha grupus espíritas que faziam trabalhu semanalmente cum eles em nível de festividades, bazares beneficentes (Rosa do deserto).

Apesar dos esforços por parte dos profissionais em reintegrar os portadores de hanseníase que ali estavam confinados, não existiam grandes interesses demonstrado pelo estado em reverter o quadro, ao qual estavam

submergidos aqueles internos:

Au me apruximar deles, eu passei a estimular u autucuntrule, quer dizer,

mustrar que eles estavam ali, mas que eles eram seres cumu nós, eram seres humanus iguais a nós e que eles um dia puderiam sair dali purque em uutrus estadus já tinham acuntecidu issu e aqui nu Riu Grande du Nurte demuruu muitu purque a gente nutuu que as auturidades Sanitárias nãu tinham u mínimu interesse de ajudar aqueles seres humanus que ali estavam

cunfinadus [...] Lá na culônia, eu fazia u trabalhu “psíquicu-terapia”, “evangelhu-terapia” e “prece-terapia”, tudu para ajudar a mural, u altu- astral, essas cuisas (Topázio Imperial).

A vida deles era assim dentru du huspital. Tinha um grupu de vuluntárias. Eram senhuras da suciedade daqui de Natal que tudu mês iam fazer aquela

visita nu huspital, levava lanche, aí se reuniam nu antigu cinema e tudu Sãu Juãu, Páscua, Natal elas iam e distribuíam presentes para eles. Outras vezes quem ia lá também eram us Espíritas purque lá também tinha um centru Espírita, eles faziam visitas pra eles. Issu era a diversãu deles. (Turmalina)

II – O Preconceito, o estigma e a discriminação.

Embora o preconceito, o estigma e a discriminação estivessem presentes no cotidiano do portador da hanseníase, em uma sociedade que ainda desconhecia as formas de contágio da doença, não se observou nos depoimentos analisados, evidências de que eles pudessem existir na relação profissional/usuário.

O preconceito, a discriminação e o estigma, evidenciados contra pessoas portadoras da hanseníase, são atribuídos, principalmente, a fatores

como insuficiente informação acerca da doença, de sua transmissão e do seu tratamento. Isso acarreta o medo e temor pela população em frequentar os mesmos locais de circulação de uma pessoa acometida pela hanseníase, seEa ele público ou privado. 11

Nãu encuntrei nenhuma resistência pur parte da gestãu, nãu tinha questãu de precunceitu, discriminaçãu (Ágata dendrita).

Tudus us prufissiunais de lá eram prufissiunais antigus, prufissiunais que

tinham muitu amur pelu que faziam lá, tudus mesmu. Eu já cunvivia, cumu eu disse anteriurmente, lá na Culônia Sãu Franciscu em atividades cum u meu grupu Espírita. (eugilita)

Quandu eu cheguei, visitei um a um, até cumprimentava e u pessual dizia: “huum, vucê cumprimentuu”, eu dava a mãu purque ninguém fazia issu... Eu lembru que eu cheguei e visitava tudu mundu... Fui impurtante purque também passei a cunhecer melhur, a estudar, u paciente, a sua vida, e cumu

Na relação usuário/familiares, usuário/sociedade; essa tríade pôde ter sido notada nas histórias contadas.

Os prufissiunais que trabalhavam lá nãu demunstravam estigma e precunceitu. Eu nunca presenciei, mas para us que nãu trabalhavam, realmente era difícil u cunvíviu deles externu... Dentru du serviçu, nãu existia discriminaçãu. De fura, permanecia u estigma du leprusáriu (Rosa dos

ventos).

Nutei muita angústia, muita revulta, muita tristeza, abandunu, discriminaçãu, precunceitu. Eles nãu queriam que alguns familiares suubessem que eles estavam ali, pediam para dizer que eles estavam em uutru Estadu, uns eram tidu cumu murtus pur causa da vergunha que eles tinham pur saber que eles eram purtadures da duença de hanseníase (Topázio

imperial).

Até um tempu que eu trabalhei, Vitalianu, quandu ia para u bancu, se chegasse au bancu e a fila estivesse grande e ele nãu queria esperar, ulhava

para u puvu e dizia para u puvu: - issu aqui é lepra-, num instante u puvu se afastava dele. Mas dizia a ele: - nãu tem mais u que vucê fazer, issu aí nãu transmite mais a duença-. Ele dizia:- Mas eu digu e u pessual se afasta. [...] A

equipe que trabalhava lá era furmada pur Técnicu e auxiliar de enfermagem, nessa épuca tinha puucus Técnicus e Auxiliares de Enfermagem, Enfermeiras, Fisiuterapeutas, Psicólugus, Nutriciunistas, Assistência Sucial, Dermatulugista, Clínicu Geral, uma equipe multidisciplinar. Tinha um

apenas us pacientes, eles atendiam também u pessual de fura. Eu nãu nutava nenhum precunceitu, ninguém tinha precunceitu! Ia para casa deles, sentava, lanchava, nãu tinha essa cuisa. (Turmalina)

III - A exclusão social jersus A inclusão social

A dinâmica constante das atividades proporcionadas tanto pela atuação

dos profissionais que trabalhavam na colônia, quanto pelo voluntariado foram relevantes para o processo de desmistificação quanto ao portador de hanseníase, assim como a prática da inclusão social.

Sentiam-se excluídus purque eles sabiam que estavam lá purque tinha sidu excluídu, mas eles encaravam, assim, cum naturalidade purque eles nãu tinham saída. (eugilita)

A minha intençãu era envulver us alunus de graduaçãu em um prujetu de extensãu purque eu suu prufessura, para que eles cunhecessem a realidade, tantu da hanseníase cumu da história pregressa e entender melhur cumu acunteceu antigamente e cumu recentemente, na épuca entãu, estava sendu

vista tantu pela suciedade cumu pela saúde, a questãu da inclusãu. Trabalhar a inclusãu /sucial desses purtadures de hanseníase. Nós fazíamus as visitas, tínhamus que fazer visitas diretu a esse casal, dávamus supurte, assim, mais

de urientaçãu para evitar traumatismu cum relaçãu às extremidades, se aparecesse algum uutru ferimentu, uutra lesãu (Ágata dendrita).

Tinha peça de teatru lá, u puvu ia de fura, principalmente us espíritas que nãu tinham precunceitu nenhum, us que iam para lá. Juntavam-se cum eles e

purque u que fez quebrar u muru, a muralha que separa u puvu de fura dus de dentru era u descunhecimentu purque agura a gente sabe que em 1943 já existia u tratamentu cum a Sulfuna, nãu era tãu bum quantu huje, mas já

existia e puuca gente sabia dissu. (Topázio imperial)

DISCUSSÃO

Os relatos dos entrevistados evidenciaram que o asilamento compulsório provocou muitas transformações familiares, psicológicas e emocionais para o portador de hanseníase. Para os profissionais que

trabalharam no Hospital colônia, desenvolver sua prática Eunto a essa população, na época excluída, tornou-se um importante fator para o amadurecimento profissional e enquanto ser humano.

Eu lembru que cheguu uma paciente nu huspital cum hanseníase, nãu estuu

lembrada qual, e a família se afastuu, cumeçuu a se afastar e a Assistente Sucial teve de prucurar a família e a gente sentar e cunversar cum a família. O maridu se afastuu, ela era casada há puucu tempu, u maridu se afastuu e

cumeçaram a se afastar e a gente teve que ir atrás pra eles chegarem para ela que nãu era aquilu (Turmalina).

A minha experiência fui de grande valia purque, eu, embura fusse da

área da saúde, eu tinha medu da Hanseníase. Tinha medu de cuntrair, embura, sabendu que para trabalhar lá tinha tudus us cuidadus cumu: luva, capute e tudu mais, mas eu tinha medu. (eugilita)

A hanseníase oferece grande preEuízo para a vida diária e as relações interpessoais, provocando um sofrimento que ultrapassa a dor e o mal-estar,

fortemente relacionados ao preEuízo físico, com grande impacto social e psicológico12.

É notório, nos discursos, o grande benefício apresentado na boa relação de convivência que foi estabelecida entre os usuários e os profissionais de enfermagem, tanto para o enfrentamento social frente ao preconceito ligado à doença, quanto ao impacto psicológico provocado pelo

confinamento obrigatório.

O vínculo social é um fator indispensável para o paciente e provoca

mudanças diretas no comportamento em relação à doença. Dependendo da forma que seEa estabelecido com o mundo exterior, o portador se posiciona positiva ou negativamente, pois os movimentos a ele relacionados reforçam ou diminuem os estigmas criados pelo próprio doente. 13

Falando sobre estigma, notam-se três diferentes tipos: o primeiro relacionado comas abominações do corpo, as deformidades físicas; osegundo, relativo às culpas de caráter individual, percebidas como vontade fraca,

paixões tirânicas ou não naturais, crenças falsas e rígidas, desonestidades, decorrentes de distúrbios mentais,alcoolismo, homossexualismo, desemprego, comportamento políticoradical, entre outros. E o terceiro tipo, relacionado

com as tribos, raças, nação e religião. 11

Esses três tipos de estigma convergem para um ponto comum: Na relação social com os demais, afasta aqueles que encontram, destruindo a

Apesar de se falar, na época, em socialização dos internos, é perceptível, nas falas dos suEeitos, que existia um forte receio de conviver

com o mundo externo à colônia por parte dos portadores da hanseníase. A preocupação quanto à aceitação e preconceito pela sociedade eram fatores que permeavam o mundo dos asilados.

Na hanseníase, o estigma é um fenômeno real e afeta a vida dos

portadores em seus diversos aspectos: físicos, psicológicos, sociais e econômicos. Ele representa um conEunto de fatores como crença, medo, preconceitos, sentimentos de exclusão que atinge os portadores da doença. A

própria estigmatização, a vergonha das deformidades e as posturas manifestadas pelos habitantes da comunidade contribuem para o isolamento

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