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ESTRUTURA HORIZONTAL E USO MÚLTIPLO DO COMPONENTE ARBÓREO DE UM SISTEMA AGROFLORESTAL NO ASSENTAMENTO MOACIR

LUCENA, APODI, RIO GRANDE DO NORTE - BRASIL

RESUMO

Os sistemas agroflorestais surgem como uma alternativa à degradação dos recursos naturais, pois permitem a harmonia entre a agricultura e as espécies florestais, garantindo a sustentabilidade do meio ambiente. O objetivo deste estudo foi analisar a estrutura horizontal, com foco em árvores, de um sistema agroflorestal sucessional localizado em Apodi- Rio Grande do Norte / Brasil e analisar a utilidade das espécies por parte das famílias de agricultores. Dez parcelas de 20x20m foram instaladas medindo árvores adultas o ir u fer ia à altura do eito ( ) ≥ os arâ etros usuais de fitosso iologia foram avaliados: densidade, dominância, frequência, índice de valor de importância e diversidade usando o software Mata Nativa 4.0, além disso dois encontros para diálogo sobre o uso das espécies foram realizados com as famílias que manejam na forma de sistema agroflorestal. Foram amostrados 427 indivíduos, sendo 18 espécies e 9 famílias botânicas considerando assim uma área rica e biodiversa quando comparadas a outras áreas de manejo semelhantes na Caatinga e similares às áreas preservadas no bioma. Cordia oncocalyx foi o mais presente e, consequentemente, o mais utilizado pelas famílias dos agricultores para diferentes finalidades.

PALAVRAS-CHAVE: Caatinga, manejo sustentável, produtos florestais, agricultura familiar, floresta seca.

INTRODUÇÃO

A Caatinga é um bioma de floresta seca que cobre cerca de 11% do território nacional brasileiro. Está distribuído por 844.453 quilômetros quadrados em áreas com alta sazonalidade do Nordeste do Brasil e Norte do estado de Minas Gerais, denominado semi- árido brasileiro (MMA, 2015). Uma longa estação seca e alguns meses de chuva favorecem a dominância de espécies decíduas adaptadas ecofisiologicamente à deficiência hídrica

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devido à alta taxa de evapotranspiração ambiental e baixa retenção hídrica (ANDRADE, 1981; EMPERAIRE, 1989; RODAL 1992; LEMOS & MERGURO 2010, Andrade e Lima 1989). Embora as altitudes na sua maioria sejam inferiores a 500 metros, as variações no relevo estão associadas à distribuição espacial da flora local (MEBESSONE, 1978), criando um mosaico único de formações fisionômicas e floristicamente distintas. Caatinga arbórea, Caatinga arbustiva e Caatinga espinhosa são formas fisionômicas (LIMA,1966) que combinam características como um elemento herbáceo anual, espécies suculentas (cactáceas), predominância de arbustos e árvores menores e uma cobertura descontínua de copas (ALVES, 2007).

Dados para plantas vasculares incluem 932 espécies nativas e 318 endêmicas (Giulietti et al. 2002; 2004). Componentes arbóreos comumente apresentam troncos esbranquiçados e brilhantes durante a estação seca, quando a maioria das árvores perdem as folhas (Prado 2003). Os gêneros típicos da Caatinga são Tabebuia (Bignoniaceae), Cavallinesia (Bombacaceae), Schinopsis e Myracrodruon (Anacardiaceae) e Aspidosperma (Apocynaceae), embora espécies arbóreas sejam mais comuns em áreas de florestas densas que foram intensamente suprimidas para fornecer material para atividades como a construção de casas, cercas e fazendas após a colonização européia, já no início do século XVI (FILHO & CÂMARA 1996). Atualmente, florestas densas de Caatinga são raras, pois se tornaram escassas e fragmentadas devido a séculos de exploração desenfreada (Filho e Câmara, 1996). Originalmente cobrindo 969.589 km², a Caatinga perdeu mais de 45% de sua cobertura vegetal originária e o Rio Grande do Norte é um dos quatro estados que mais desmataram nos últimos anos (MMA 2011; INPE 2015).

A dificuldade climática de períodos mais longos de seca, chuvas mal distribuídas e uso não planejado dos recursos naturais do bioma potencializam a destruição da Caatinga. Historicamente, no Estado do Rio Grande do Norte, por exemplo, o bioma sofreu desmatamento acelerado devido ao consumo desenfreado de madeira nativa extraída ilegalmente para fins domésticos e industriais, pastoreio excessivo e conversão de pastagens (CERRATINGA, 2013). Esse modelo de ocupação da terra afeta a agricultura familiar, que tira seu sustento dos recursos naturais do bioma (MACHADO, 2006). O modo de vida tradicional da agricultura familiar no semi-árido alia conhecimento popular à produção de renda, respeitando a cultura local, utilizando tecnologias próprias para coexistir com as adversidades naturais do bioma (seca) e procedimentos adequados ao contexto ambiental e climático, que resulta em uma construção coletiva dos processos de

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convivência com a diversidade e harmonia entre as comunidades (GONÇALVESet al. 2016).

Este é um exemplo de como o planejamento adequado do uso dos recursos naturais, juntamente com a conservação da natureza, melhora a produção de renda das famílias agricultoras, mostrando que o desenvolvimento sustentável é possível para a região (HOMMA, 2006) e nisso uma das estratégias é o uso de Sistemas Agroflorestais Sucessionais em seus quintais ou lotes (MOARES,2001). Estes sistemas seguem os princípios de sucessão vegetal, não utilização de fertilizantes químicos, manutenção de cobertura vegetal, consórcio diversificado de espécies com diferentes usos, não utilização de defensivos agrícolas, multi-estratificação para melhor aproveitamento da luz solar e da água em conjunto com técnicas de gestão do sistema, como corte seletivo, enriquecimento e poda (PENEIREIRO, 1999).

De acordo com estudos recentes, o enriquecimento do solo, a manutenção da biodiversidade, a melhoria da qualidade da água e do ar e o sequestro de carbono são alguns dos serviços ecossistêmicos prestados pelos sistemas agroflorestais (Jose, 2009). Além disso, quando as árvores estão estrategicamente dispostas no espaço, elas ajudam a proteger o solo, reduzindo a probabilidade de erosão (BRANDLE et al. 2004), aumentando a quantidade de infiltração e causando menos escoamento e perda do solo (ANDERSONet al. 2009) . Isso pode contribuir para reduzir as perdas de nutrientes das culturas (VAN NOORDWIJKet al. 2006), bem como aumentar a estrutura da diversidade ambiental e fornecer habitats para insetos (STAMPS & LINIT 1997; GLEMNITZet al. 2013), pequenos mamíferos (DIX et al. 1995) e aves (GRUSS & SHULZ 2008). Sistemas Agroflorestais Sucessionais buscam ser funcionais e estruturalmente semelhantes às florestas naturais, sendo essenciais para o conhecimento do funcionamento da floresta e sua dinâmica e sucessão natural (KESTREL 2014).

Os conhecimentos dos resultados positivos da agrofloresta e seu alto potencial para uso benéfico na Caatinga combinados com a agricultura familiar, funcionam também na mitigação dos desafios climáticos, socioeconômicos e de conservação na área, estudos descrevendo e avaliando o potencial de uso ambiental sustentável de Sistemas Agroflorestais Sucessionais na Caatinga, detalhando composição florística e de uso florestal são incipientes. Neste estudo, estudamos a estrutura horizontal de vegetação arbórea e classificamos os principais usos das espécies em um Sistema Agroflorestal localizado no assentamento Moacir Lucena, no Rio Grande do Norte, implantado há 16 anos.

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MATERIAIS E MÉTODOS

ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi realizado no assentamento Moacir Lucena, localizado na área rural do município de Apodi, na mesorregião oeste do estado do Rio Grande do Norte. Área inserida na microrregião do Planalto Apodi, entre as coordenadas geográficas 05 ° 32 "S e 37 ° 52" O. O relevo local tem predomínio de terras planas levemente elevadas, formadas por solos sedimentares (IDEMA 2007). Os solos predominantes são o alfisolo vermelho-amarelo echernossolo (ZIMBACK, 2003; EMBRAPA,1999). A precipitação é irregular, variando de fevereiro a maio e centralizada em março e abril (ERNESTO SOBRINHO et al. 1983). O clima local é quente e semi-árido, segundo a classificação climática de Köpper, com temperatura média anual de 26,9 ° C, precipitação de 920,4 mm e evaporação de 2.145,9 mm (SILVAet al 2010 &SILVAet al 2011).

O sistema agroflorestal sucessional onde o estudo foi realizado abrange 10 hectares de área, a classificação como Sistema Sucessional se deve à associação de culturas que utilizam diferentes estratos (baixo, médio, alto e emergente) para otimizar o uso de espaços e luminosidade, permitindo a produção de várias espécies econômicas na mesma área, cobertura total e permanente do solo. As espécies foram selecionadas com base no estágio sucessional do sítio que fazia parte do arranjo inicial de instalação e de acordo com a preocupação da soberania e segurança alimentar da família.

A família de agricultores implementou este sistema em 2003, realizando algumas técnicas de manejo, como desbaste seletivo, enriquecimento, desrama e podas. A área foi anteriormente usada para monocultura de algodão e melancia por mais de 20 anos, sob uso de máquinas agrícolas e pesticidas. A introdução de espécies foi baseada em grupos ecológicos das espécies, sucessionalidade e disponibilidade de mudas. Inicialmente, espécies pioneiras de crescimento rápidos não muito exigentes para solos férteis (Mimosa caesalpiniifolia Benth. eMimosa tenuiflora Benth.). Foram introduzidas em linhagens com espaçamento de 4x4m. Ao longo do estabelecimento desses indivíduos, outras espécies foram introduzidas entre espaçamentos para preenchimento (cobertura) como Myracrodruon urundeuva Allemão, Anadenanthera colubrine Vell. Brenanvar. cebil (Griseb). Altschul e Bauhunia cheilantha (Bong.) Steud que foram incluídos como grupo de diversidade para garantir uma recomposição mais rápida na área (TCN, 2013). Anualmente, durante a estação chuvosa (março a julho), o sistema inclui em consórcio

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milho, sorgo, gergelim e feijão como culturas em linhas de policultivo com árvores. Durante a estação seca, as ovelhas se alimentam dos restos das folhas e da casca das árvores sendo assim, o componente animal inserido sazonalmente.

AMOSTRAGEM E COLETA DE DADOS

Para analisar a estrutura horizontal foram utilizadas dez parcelas de 20x20m distribuídas equidistante 80 metros cada e com 40 metros de bordas. Somente árvores com ≥ 0 fora i lu das este estudo de a ordo o a re o e da o da ede de Manejo Sustentável da Caatinga (2005). Todas as árvores cuja base do tronco estava dentro da parcela foram incluídas, mesmo se o caule e a coroa fossem deixados de fora. Nas parcelas foram medidas a altura e circunferência de cada indivíduo, obedecendo ao padrão de inclusão das espécies utilizadas pela Rede de Manejo Sustentável da Caatinga (2005).

Amostras de cada espécie inventariada foram coletadas e incluídas na coleção do herbário da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) como comprovantes e para posterior identificação. Cálculos de densidade relativa, frequência relativa, dominância relativa, índice de valor de importância, índice de valor de cobertura e índice de Shannon- Weaver e Pielou (KENT & COKER, 1992) foram realizados para cada uma das espécies e famílias usando o Sistema Mata Nativa 4.0 (CIENTEC, 2016 ).

Os dados sobre os usos múltiplos das espécies foram obtidos através da realização de duas reuniões comunitárias entre julho e agosto de 2018. Após a leitura em voz alta das espécies catalogadas anteriormente em florísticas e anotações de diálogos anteriormente com os agricultores, a comunidade expressou usos locais para cada espécie, que classificamos segundo categorias: energia (carvão e lenha), construções em geral, remédios caseiros, adubação orgânica, alimentação humana, alimentação animal e artesanato.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

COMPOSIÇÃO FLORÍSTICA

As parcelas estudadas no Sistema Agroflorestal do Assentamento Moacir Lucena obtiveram 427 indivíduos de 18 espécies e 9 famílias. As famílias com maior riqueza de espécies foram: Fabaceae (9 spp.) e Euphorbiaceae (2 spp.). Ambas juntas representaram 41,07% das espécies catalogadas. Quanto aos representantes dos indivíduos, a

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famíliaBoraginaceae foi responsável por 191 indivíduos (44,6%), seguidos por Fabaceae e Euphorbiaceae, com 132 indivíduos (31,07%) e 43 indivíduos (10%), respectivamente (Tabela 1). Essas três famílias somadas somam 85,67% dos indivíduos amostrados. Em levantamentos fitossociológicos na Caatinga do Rio Grande do Norte, em ambientes preservados e antropizados, essas famílias também foram as mais citadas (SILVA et al., 2008, FREITASet al., 2007, LIRA 2003).

Famílias Numéro de espécies Número de indivíduos %

Fabaceae 9 132 31.07 Euphorbiaceae 2 43 10 Boraginaceae 1 191 44.6 Anacardiaceae 1 14 3.27 Combretaceae 1 20 4.67 Apocynaceae 1 5 1.16 Malvaceae 1 8 1.86 Bixaceae 1 7 1.63 Rhamnaceae 1 7 1.63 TOTAL 18 427 100

Tabela 1. Famílias, número de indivíduos e percentuais de indivíduos na área de estudo.

Estudos sobre sistemas agroflorestais na Caatinga são insuficientes para fins comparativos, porém para um contexto geral comparamos nossos resultados com outros estudos que combinam dados sobre florística e estrutura da vegetação em áreas de Caatinga. Um estudo foi realizado em uma área de reserva legal (Caatinga nativa) no assentamento Moacir Lucena, uma área que foi antropizada anteriormente, mas foi deixada para regeneração natural por mais de 20 anos. Neste estudo, Guerra et al. (2014) investigaram a composição florística através de 12 parcelas de 10x20m, onde o número de indivíduos, famílias e espécies foi menor quando comparado com o sistema sucessional aqui estudado, embora este estudo em Caatinga nativa tenha sido realizado em uma área menor. O fato de esses resultados serem discrepantes pode estar associado a diferentes tamanhos amostrais (ARAÚJO et al., 1995) e ao modo como o Sistema Agroflorestal é manejado. No entanto, em ambos os estudos, as Boraginaceae foram responsáveis por maior número de indivíduos; 77,46% no estudo de reserva legal (GUERRA et al. 2014) e

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44,6% neste estudo. Quando comparados os resultados obtidos neste estudo com dados de estudos de vegetação natural na Caatinga, em alguns casos foi encontrada riqueza superior, como em SANTANA et al. (2016), MARANGON et al. (2013) LEITE et al. (2015) e LEMOS & MEGURO (2015). No entanto, CEZAR et al. (2006) encontraram parâmetros semelhantes de riqueza e MOREIRA et al. (2007) encontraram valores menores (Tabela 2). Por outro lado, estudos realizados em sistemas agrossilvipastoris (que são dinamicamente semelhantes ao sistema sucessional, resultados semelhantes foram encontrados em termos de riqueza de espécies (CAMPANHAet al 2011; SANTOS,2012) na tabela 2. Os índices de Shannon-Weaver e Índice de diversidade de Pielou (KENT & COKER, 1992) refletem a riqueza de espécies da comunidade biótica, bem como a proporção entre elas. Comunidades com um grande número de espécies e / ou proporções semelhantes geram valores altos para o índice, enquanto comunidades com baixo número de espécies e / ou dominância de espécies fortes tendem a assumir baixos valores (CAMPANHA,2011), e o resultado deste estudo foi considerado alto (2,06 nat.individual-1) quando comparado a estudos realizados em Caatinga antrópica (1,64 nat.individual -1) em área nativa (2,54 nats.individual -1) registrada em estudos de ARAÚJOet al. 1995; LYRA 1982; RODAL et al. 1999 e FERRAZet al. 1998. O resultado foi maior do que em outros estudos florísticos em Savana Estépica (FILHO et al 2003 e PEREIRAet al 2002) pode ser devido aos diferentes tamanhos de áreas ou ao fato de que existem diferentes tipos de Savana descritos por Veloso et al (1991).

ESTRUTURA HORIZONTAL

A densidade absoluta calculada para a área foi de 1.067,5 indivíduos.ha-1. Cordia oncocalyx (pau-branco) apresentou a maior densidade relativa com 44,5% dos indivíduos no ambiente seguido de P. bracteosa (caatingueira), que contribuiu com 12,41% dos indivíduos no ambiente (Tabela 2). Estes valores de alta densidade podem indicar que estas espécies estão bem estabelecidas na área ou mesmo bem adaptadas às séries sucessionais atuais, isto é, muito competitivas nas condições ambientais da área (LOPES et al 2002). Eles também podem ser um resultado da forma do manejo utilizado pelo agricultor.

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Popular

N AB DA DR FA FR DoA DoR IVC% IVI%

Poincianella bracteosa (Tul.) L.P.Queiroz Caatingueira 54 0.30 5 132 .5 12.41 100 12. 99 0.761 14.6 6 13 13 Croton sonderianus Müll. Arg. Marmeleiro 38 0.07 95 8.9 70 9.0 0.195 3.75 6.3 7.2

Cordia oncocalyx Pau branco 189 0.65 475 44.5 100 12 1.629 31.3

6 37 29 Myracrodruon orundeuva Aroreira 14 0.29 35 3.28 70 9.0 0.743 14.3 1 8.7 8.8 Combretum leprosum Mart. Mofumbo 20 0.05 50 4.68 60 7.7 9 0.133 2.56 3.2 5.0

Mimosa tenuiflora Jurema Preta 17 0.09 42.

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3.98 30 3.9 0.247 4.76 4.3 4.2

Bauhinia cheilantha Mororó 19 0.03 47.

5 4.45 40 5.1 0.098 1.89 3.1 3.8 Anadenanthera colubrine Angico 8 0.07 20 1.87 30 3.9 0.197 3.8 2.8 3.1 Jatropha mollissima (Pohl) Baill. Pinhão bravo 5 0.07 12. 5 1.17 20 2.6 0.016 0.32 0.7 1.3 Amburana cearensis (A.C. Smith) Amburana de cheiro 4 0.10 10 0.94 20 2.6 0.253 4.87 2.9 2.8 Mimosa caesalpiniifolia Sabiá 19 0.21 47. 5 4.45 80 10 0.543 10.4 4 7.4 8.4 Mimosa ophthalmocentra (Mart. ex Benth) Jurema de Embira 2 0.01 5 0.47 20 2.6 0.035 0.67 0.5 1.2 Aspidosperma pyrifolium Mart. Pereiro 5 0.01 12. 5 1.17 30 3.9 0.024 0.46 0.8 1.8 Pseudobombax marginatum (A. St.- Hill) A.Robyns Imbiratanha 8 0.02 20 1.87 20 2.6 0.07 1.36 1.6 1.9 Cochlospermum vitifolium (Willd.) Spreng. Pacotê 7 0.03 17. 5 1.64 20 2.6 0.075 1.45 1.5 1.9

64 Ziziphus joazeiro Mart. Juazeiro 7 0.03 17. 5 1.64 20 2.6 0.08 1.54 1.5 1.9

Libidibia ferrea (Mart. ex Tul.) L.P. Queiroz var.férrea Jucá 6 0.02 15 1.41 20 2.6 0.05 1.03 1.2 1.6 Piptadenia stipulaceae (Benth.) Burke Jurema- branca 5 0.01 12. 5 1.17 20 2.6 0.041 0.78 0.9 1.5 TOTAL 427 2.07 106 7 100 770 100 5.196 100 100 100

Tabela 2. Parâmetros Estruturais da Vegetação na Área. N = número de indivíduos; AB = área basal; DA = densidade absoluta; DR = Densidade Relativa; FA = Frequência Absoluta; FR = Frequência Relativa; DoA = Dominância Absoluta; DoR = Dominância Relativa; IVC% = Valor de Valor de Cobertura; IVI% = Índice de Valor de Importância.

A espécie com maior valor de importância foi Cordia oncocalyx, que apresentou a maior densidade registrada, de 475 ind.ha-1 e maior freqüência relativa (12,99%) nas parcelas, além de ser a espécie dominante que gerou um valor de importância de 37,93%. Poincianella bracteosa (caatingueira), C. oncocalyx (pau-branco) e M. urundeuva (aroeira) obtiveram maior Dominância Relativa (DoR), somando 60,33%. No entanto, as espécies que apresentaram maior redução de DoR na área foram J. mollissima (pinhão bravo), A. pyrifolium (pereiro) e M. ophthalmocentra (jurema-de-embira), aquelas com menor porcentagem de área basal de esta espécie em relação à área basal de todas as espécies amostradas, totalizando 1,45%. A área basal (AB) dos indivíduos classificados no estrato arbustivo foi de 2.078 m². ha-1 (Tabela 2), que é considerado baixo em relação à AB de mata nativa na Caatinga e semelhante ao estudo em Sistemas Agrosilvipastoris no mesmo bioma (CAMPANHA et al 2011; SANTOS 2012) o que implica o grau de ocupação das espécies nesse Sistema Agroflorestal é inferior quando comparado às áreas nativas da Caatinga.

LISTA DE ESPÉCIES E USO MÚLTIPLO DO COMPONENTE ARBOREO

As espécies encontradas na área estão listadas na Tabela 3, todas nativas do bioma Caatinga e apresentam diferentes usos.

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USOS

Espécies ENER CONS MC AD AH AA ART

Poincianella bracteosa X X X X Croton sonderianus X X X Cordia oncocalyx X X X X X X Myracrodruon urundeuva X X X X Combretum leprosum X X Mimosa tenuiflora X X X Bauhinia cheilantha X X X X Anadenanthera colubrina X X X Jatropha mollissima X X Amburana cearensis X X X X Mimosa caesalpiniifolia X X Mimosa ophthalmocentra X X X Aspidosperma pyrifolium X X X Pseudobombax marginatum X X X X Cochlospermum vitifolium X X X Ziziphus joazeiro X X Piptadenia stipulacea X X X

Tabela 4. Uso do componente arbóreo pela família de agricultores ENER: Energia (lenha e carvão); CONS: construção; MC: medicina caseira; AD: adubação orgânica; AH: alimentação humana; AA: alimentação animal; ART: artesanato.

Enfatizamos o uso de todas as espécies para adubação orgânica (matéria orgânica) dentro do próprio sistema (restos de poda) e como uma atração animal. Na estação seca, os agricultores introduzem o componente animal que utiliza as árvores como alimento (folhas, frutos ou casca). Além disso, todas as espécies em época de floração servem de alimento para as abelhas criadas dentro do sistema. Cordia oncocalyx (pau-branco) é a espécie mais utilizada por famílias de agricultores (exceto artesanato), a Bauhinia cheilantha (mororó) também se destaca como uma das principais com ênfase no uso de cercas. A espécie Myracrodun urudeuva (aroeira) é a única espécie protegida por lei (Portaria Normativa nº

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83 de 1991), por isso é usada apenas para alimentação das abelhas, adubação orgânica, artesanato e remédios caseiros, este é amplamente utilizado para infecções e inflamação de feridas em seres humanos e animais, bem como para fazer sabonetes e shampoos de sua casca. Pau-branco é a espécie que a família de agricultores introduziu em seu sistema devido à sua utilidade. Freqüentemente usado para construção de cerca, o pau-branco também é usado para remédios caseiros (carrapatos), energia (lenha e carvão), alimentação humana (as folhas são usadas para chás e a semente é torrada e consumida in natura) que levou o agricultor para dar prioridade a essa espécie. Pau-branco é recomendado na composição de quebras de vento e cerca viva e para arborização de estradas (Carvalho 2008) além de ser usado como forragem no sistema. Aroeira sofreu intensa exploração não sustentável que causou a devastação de suas populações naturais (Nunes 2008) nisso a família de agricultores introduziu isso em seu sistema para fins de conservação e não o exploram.

CONCLUSÕES

A diversidade de espécies encontradas no sistema agroflorestal foi similar ou superior quando comparada a outros sistemas manejados de maneira semelhante na Caatinga e com riqueza próxima a áreas de mata nativa inventariadas no Bioma. Cordia Oncocalyx foi a espécie com maior número de indivíduos e com valor expressivo de importância, o que leva à conclusão sobre a importância desta espécie para diversos fins para a agricultura familiar. As espécies nativas mais abundantes na área foram aquelas que têm maior uso pela agricultura familiar seja para produção de energia, atração animal ou remédios caseiros e todas as espécies manejadas no sistema trazem algum retorno econômico aos agricultores. Desta forma, estes resultados confirmam que o sistema agroflorestal desenvolvido na região semi - árida contribui para a conservação das espécies nativas do bioma Caatinga e permite a utilização da vegetação de maneira sustentável e como fonte de renda para as famílias.

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