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O presente estudo permitiu a elaboração de dois artigos científicos: “Relação entre o status de Magnésio sérico e a Capacidade de Sprint Repetido em Crianças” e “Efeito da suplementação com Óxido de Magnésio na Capacidade de Sprint Repetido em crianças”. Os manuscritos foram submetidos em periódicos com Qualis B1-A1 segundo a classificação da CAPES para área de Nutrição. A fim de possibilitar maior clareza na apresentação dos resultados obtidos, a discussão aqui abordada irá ter como objeto central (I) a relação entre o Mg e a CSR e (II) o efeito na suplementação nas variáveis da CSR.

Em recente estudo conduzido por nosso grupo intitulado “Relação entre as concentrações de Magnésio e a Capacidade de Sprints Repetidos em Crianças” no qual 20 crianças (IC = 12,25±1,88) em iniciação esportiva tiveram a concentração de Mg2+ dosada com o objetivo de analisar a relação entre essas

as concentrações e o rendimento nos testes de Sprint repetido, verificamos que 100% dos participantes apresentaram concentrações normais de magnésio (2,07± 0,13) para sexo e faixa etária. Os resultados mostraram também uma tendência (p = 0,06) de relação moderada entre a concentração sérica de magnésio e o melhor desempenho nos sprints. Para os demais índices as correlações foram fracas (CSRPior) e triviais (CSRTotal, CSRmédio e CSRDec) (p<0,05) (Figura xx), o que sugere uma possível relação entre as concentrações de magnésio e os sprints iniciais porém não suficiente para manter a performance.

Figura 3 – Correlação entre concentrações de Mg2+ e as variáveis de Sprint repetido

em crianças

Estes achados parecem ter relação com o papel do Mg2+ como cofator de

reações de oxidação da glicólise e na via fosfagênica, requeridas predominantemente para realização de movimentos de curta duração e alta intensidade (1, 4, 5) característicos dos sprints realizados no teste.

A relação entre magnésio e esportes já foi reportada na literatura por diversos autores e é atribuída ao importante papel do magnésio no metabolismo energético, transporte transmembrana e contração muscular (5,81). Em seu estudo, Rakhra et al. (2017) (110) (110) analisaram a relação da atividade física e idade nas concentrações de cobre, zinco, ferro e magnésio em 360 sujeitos e observaram diferença significativa (p <0,001) no valor médio dos minerais entre os grupos, sendo que o magnésio sérico foi maior nos grupos com moderada (p < 0,05) e alta atividade física (p < 0.001) quando comparada ao grupo sedentário, o que pode ser atribuído à diminuição do volume plasmático ou a uma troca celular de magnésio resultante de acidose.

A relação entre magnésio e parâmetros de performance física relacionados à força, flexibilidade, pliometria, pressão arterial já foi objeto de interesse em diversos estudos (5–7,22), embora os resultados sejam controversos sobre a eficácia da utilização do magnésio como recurso ergogênico, principalmente em jovens e crianças em função do nível de atividade física.

Partindo desse pressuporto, realizamos outro estudo entitulado “Efeito da suplementação de Magnésio na Capacidade de Sprints Repetidos em crianças” do qual participaram 18 crianças que ainda não haviam atingido o PVC (Tabela 1), que frequentavam um projeto de iniciação esportiva duas vezes por semana. Foi possível observar uma tendência de interação estatisticamente significativa entre a intervenção e o tempo na aceleração de jovens (F(1,16)= 4,180; p=0,058; Partial η2= 0,207). Foi possível identificar efeito de tempo (F(1,16)= 14,772; p= 0,001; Partial η2= 0,480), mas não de condição (F(1,16)= 2,211; p=0,157; Partial η2= 0,121). Pontualmente, o grupo suplementado com magnésio demonstrou efeito de tempo (∆= 0,135; 95%CI= 0,070 – 0,200; p<0,0001), enquanto que o grupo placebo não (∆= 0,041; 95%CI= -0,031 – 0,114; p= 0,245). Embora não tenha sido encontrado efeito de interação, os dados reportam uma tendência de diferença significativa no baseline (∆= -0,0250; 95%CI= -0,521 – 0,022; p= 0,069) que desaparece no momento após a intervenção (∆= -0,156; 95%CI= -,469 – 0,157; p= 0,307).

Tabela 1 – Tabela descritiva da amostra Controle (n = 8) Experimental (n = 10) Idade (anos) 12,2 ± 0,70 11,10 ± 1,19 Peso (kg) 53,38 ± 17,80 51,00 ± 9,80 Estatura (cm) 154,97 ± 8,50 154,57 ± 9,45 Maturação -3,43 ± 4,29 -2,71 ± 1,46 Mg2+ (mg/dL) 2,12 ± 0,35 2,11 ± 0,32

*Resultados apresentados em média ± desvio padrão

Como se vê na Tabela 2, não foi encontrada diferença significativa no efeito de interação entre a intervenção na performance de sprint pico (F(1,16)= 0,387; p= 0,543; Partial η2= 0,024). Entretanto, houve efeito significativo no tempo (F(1,16)= 6,73; p= 0,020; Partial η2= 0,296). O grupo suplementado com magnésio melhorou a performance de sprint (∆= 0,214; 95%CI= 0,402 – 0,26; p= 0,028), enquanto que não houve efeito para o grupo controle (∆= 0,131; 95%CI= -0,079 – 0,341; p= 0,204). Não foi possível identificar diferença entre as condições no baseline (∆= -0,442; 95%CI= -1,078 – 0,194; p= 0,160) e no momento após a intervenção (∆= -0,359; 95%CI= -0,983 – 0,264; p= 0,240).

Tabela 2 – Efeito de interação da suplementação de magnésio nos índices da capacidade de sprints repetidos.

Controle (n = 8) Experimental (n = 10) F P- valor Baseline Pós Baseline Pós CSR10-m 2,10 ± 0,09 2,05 ± 0,11 2,35 ± 0,08 2,21 ± 0,10a 4,180 0,058 CSRPico 3,97 ± 0,22 3,84 ± 0,22a 4,41 ± 0,20 4,20 ± 0,19a 0,387 0,543 CSRPior 4,14 ± 0,24 3,98 ± 0,26 4,68 ± 0,22 4,36 ± 0,23a 2,733 0,118 CSRTotal 24,28 ± 1,37 23,65 ± 1,51 27,75 ± 1,22 25,98 ± 1,35a 4,091 0,060 CSRmédio 4,05 ± 0,23 3,94 ± 0,25 4,62 ± 0,20 4,33 ± 0,23a 4,091 0,060 CSRDec# 0,40 ± 0,28 0,69 ± 0,20 0,66 ± 0,31 0,74 ± 0,20 1,692 0,212 CSRDec 2,98 ± 1,79 5,40 ± 2,48a 6,01 ± 5,90 6,03 ± 2,90 - -

*Resultados apresentados em média ± desvio padrão a Efeito do tempo (p<0,05)

# Transformado por Log de base 10.

Legenda: CSR10-m =Aceleração; CSRPico = melhor tempo; CSRPior = Pior tempo; CSRTotal = tempo total; CSRmédio = Tempo médio; CSRDec = Decréscimo de sprint

Para a CSRpior não foi identificado efeito de interação estatística (F(1,16)= 2,733; p=0,118; Partial η2= 0,146), embora tenha sido encontrado efeito de tempo (F(1,16)= 24,093; p< 0,0001; Partial η2= 0,601). Tanto o grupo

suplementado (∆= 0,320; 95%CI= 0,182 – 0,458; p< 0,0001), como o grupo controle (∆= 0,159; 95%CI= 0,005 – 0,313; p= 0,044) demonstraram melhora da performance. Entretanto, não foi demonstrado efeito de condição (F(1,16)= 1,870; p= 0,190; Partial η2= 0,105), sem diferença para o baseline (∆= -0,535; 95%CI= -1,230 – 0,159; p= 0,122) e no momento pós intervenção (∆= -0,374; 95%CI= -1,104 – 0,356; p= 0,293).

Em nosso estudo foi verificado uma tendência de um efeito de interação no índice da CSRTotal (F(1,16)= 4,091; p= 0,060; Partial η2= 0,240). Embora não tenha sido identificado efeito de condição (F(1,16)= 2,296; p= 0,149; Partial η2= 0,125), nós identificamos uma tendência de diferença no baseline (∆= -3,463; 95%CI= -7,350 – 0,423; p= 0,077) que deixou de existir no momento pós intervenção (∆= -2,330; 95%CI= -6,624 – 1,965; p= 0,267). Em adição, foi encontrado efeito de tempo (F(1,16)= 18,430; p= 0,001; Partial η2= 0,535), mas que ocorreu apenas para o grupo suplementado com magnésio (∆= 1,770; 95%CI= 0,978 – 2,562; p< 0,0001) e não para o grupo controle (∆= 0,636; 95%CI= -0,249 – 1,522; p= 0,147).

Para o tempo médio, foi identificada uma tendência de interação significativa (F(1,16)= 4,091; p= 0,060; Partial η2= 0,240). A análise dos efeitos pontuais demonstrou haver efeito de tempo (F(1,16)= 18,430; p= 0,001; Partial η2= 0,535), mas não de condição (F(1,16)= 2,296; p= 0,149; Partial η2= 0,125). Os dados reportaram uma tendência de diferença entre as condições no baseline (∆= -0,577; 95%CI= --1,225 – 0,071; p= 0,077) que deixou de existir no momento pós intervenção (∆= -0,388; 95%CI= -1,104 – 0,328; p= 0,267). Em concomitância, o presente estudo identificou efeito de tempo para o índice de tempo médio (F(1,16)= 18,430; p= 0,001; Partial η2= 0,535) com diferença pontual apenas para a suplementação de magnésio (∆= -0,295; 95%CI= 0,163 – 0,427; p< 0,0001).

Não foi verificado efeito de interação pra o decréscimo de sprint (F(1,16)= 1,692; p= 0,0212; Partial η2= 0,096). Também não foi verificado efeito de condição (F(1,16)= 3,031; p= 0,101; Partial η2= 0,159), embora tenha sido encontrado efeito de tempo (F(1,16)= 5,183; p= 0,037; Partial η2= 0,245). Pontualmente, nosso estudo reporta uma tendência de diferença nos valores do

baseline (∆= -0,259; 95%CI= -0,555 – 0,038; p= 0,083) que não se mantém após a intervenção (∆= -0,047; 95%CI= -0,248 – 0,154; p= 0,628). Em adição, nós identificamos que houve efeito do tempo para o grupo controle (∆= -0,291; 95%CI= -0,548 – -0,034; p= 0,029), mas não para o grupo que foi suplementado (∆= -0,079; 95%CI= -0,309 – 0,151; p= 0,475).

A comparação entre os deltas (Tabela 3) não verificou diferença estatística para o ∆% do sprint pico (U= 22,000; p= 0,122). O mesmo ocorreu para o ∆% do decréscimo de sprint (U= 27,000; p=0,274) e para o ∆% do pior sprint (t(16)= 1,376; p=0,188; ∆= 3,09 (95%IC= -1,67 – 7,85)). Entretanto, foi encontrada tendência de diferença para o ∆% da aceleração (t(16)= 1,752; p= 0,099; ∆= 3,90 (95%IC= -0,82 – 8,62), o ∆% do tempo total (t(16)= 1,797; p=0,091; ∆=3,82 (95%IC= -0,69 – 8,33)) e para o ∆% do tempo médio (t(16)= 1,797; p=0,091; ∆=3,82 (95%IC= -0,69 – 8,33).

Tabela 3 – Comparação do ∆% dos índices da capacidade de sprint repetido entre os grupos. Controle (n = 8) Experimental (n = 10) 95% IC P-valor ∆%10-m -2,07 ± 5,90 -5,97 ± 3,47 -0,82 – 8,62 0,099 ∆%Picob -2,44 ± 8,46 -6,83 ± 5,12 - 0,122 ∆%Pior -3,89 ± 5,20 -6,98 ± 4,34 -1,67 – 7,85 0,188 ∆%Total -2,78 ± 3,88 -6,60 ± 4,90 -0,69 – 8,33 0,091 ∆%Médio -2,78 ± 3,88 -6,60 ± 4,90 -0,69 – 8,33 0,091 ∆%Decb 70,5 ± 141,9 20,4 ± 187,8 - 0,274

∆% = representa a variação percentual das variáveis apresentadas b dados apresentados em mediana ± amplitude interquartil

Para as avaliações sanguíneas não foram encontrados efeitos de interação para a creatinina (F(1,15)= 0,569; p= 0,462; Partial η2= 0,037), Calcio, magnésio (F(1,16)= 0,418; p= 0,527; Partial η2= 0,025), CK-Nac (F(1,15)= 0,047; p= 0,831; Partial η2= 0,003), lactato (F(1,15)= 1,406; p= 0,254; Partial η2= 0,086) como Figura 3 – Comparação das variáveis de sprint antes e após intervenção

apresentado na Tabela 4. Também foi identificada diferença entre as condições no momento pós protocolo para Lactato (∆= -0,028; 95%CI= -0,047; -0,010; p= 0,005), sendo que essa diferença não ocorreu no baseline.

Tabela 4 – Comparação entre o delta das variáveis bioquímicas entre os grupos

Controle (n = 8) Exaperimental (n = 10) P-Valor Creatinina (mg/dL) -0,03(0,05) -0,07(0,12) 0,237 Cálcio (mg/dL) 0,44(0,93) 0,08(0,57) 0,360 Magnésio (mg/dL) -0,04(0,43) -0,05(0,22) 0,762 CK-Nac (mg/dL) 3,00(97,00) -4,50(86,00) 0,887 Lactato (mg/dL) 3,50(1,75) 0,00(4,00) 0,074

A tabela 5 mostra que não houve efeito de interação entre os grupos controle e experimental em relação à ingestão dietética de macronutrientes, energia e magnésio e cálcio.

Tabela 5 – Comparação da ingestão dietética entre os grupos antes e após a intervenção Controle (n = 8) Experimental (n = 10) F P- Valor Pré Pós Pré Pós Kcal (kcal/kg/dia ) 1473,3 ± 447,5 1374,4 ± 589,1 1788,3 ± 559,0 1811,2 ± 547,0 0,359 0,558 PTN (g/kg/dia) 67,9 ± 33,5 63,6 ± 31,9 70,2 ± 33,5 80,2 ± 34,3 0,098 0,759 Gord (g/kg/dia) 54,9 ± 17,6 42,5 ± 26,9 54,3 ± 30,8 53,7 ± 23,7 0,069 0,796 CHO (g/kg/dia) 219,2 ± 72,9 184,4 ± 90,5 24,7 ± 67,8 251,8 ± 76,4 0,804 0,383 Mg (mg/dia) 151,2 ± 102,2 88,7 ± 52,0 107,6 ± 52,2 137,1 ± 59,3 0,740 0,402 Ca (mg/dia) 344,4 ± 186,8 245,7 ± 122,5 417,7 ± 298,3 298,6 ± 175,8 3,338 0,086

*Resultados apresentados em média ± desvio padrão

Em nosso estudo 89,9% dos participantes apresentavam ingestão de Mg2+

abaixo da RDA proposta para sexo e faixa etária (Tabela 5). Embora no estudo de Rakhra et al. (2017)(110) a média da ingestão dietética diária de micronutrientes (Cu, Fe, Zn e Mg) para os sujeitos avaliados estivesse acima da RDA para a população de referência, diversos outros autores têm demostrado que a ingestão dietética de magnésio em crianças praticantes de atividade física está abaixo das recomendações propostas pelas DRIs em indivíduos de ambos os sexos e praticantes de diferentes tipos de esportes (26–28).

A concentração de minerais nutricionalmente importantes como o Mg2+ na

circulação é regulada por um rígida homeostase que pode ser perturbada por fatores externos como o exercício físico, o que torna os atletas particularmente vulneráveis às perdas pelo suor, aumentando suas necessidades nutricionais em torno de 10 a 20% em relação as de indivíduos sedentários do mesmo sexo e faixa etária (110,111).

A baixa ingestão dietética parece alterar o status sérico de Mg2+, já que,

mesmo ingerindo uma quantidade abaixo da RDA, 94,4% da amostra tinha os níveis adequados de magnésio no plasma no início do experimento, o que pode ser atribuído ao eficiente mecanismo de regulação metabólica do mineral. Cerca de 21 a 28g de magnésio estão distribuídos no organismo e se concentram nos ossos, músculo (compartimentos de troca lenta) e tecidos moles (compartimentos de troca rápida). Quando a ingestão é adequada, os estoques de magnésio são mobilizados de acordo com a demanda dos sistemas corporais, diferentemente do que ocorre quando há deficiência do mineral, casos em que o percentual absorvido através da dieta está aumentado, a quantidade excretada é diminuída e os compartimentos de troca lenta como os ossos fornecem o magnésio necessário à manutenção dos órgãos vitais, direcionando o fluxo para locais de maior necessidade metabólica de produção de energia (61,67,69,81).

Nielsen e Johnson (2016), em estudo com mulheres posmenopausadas exemplificam a regulação metabólica do mineral em função da ingestão dietética. Neste estudo, as mulheres consumiram a recomendação diária de Mg2+ (299

mg/dia) durante 10 dias, período em que a concentração plasmática não variou significativamente (2,05 mg/dL). Contrário do que foi observado quando elas foram suplementadas com 120 mg/dia de Mg, o que parece ter diminuído a concentração plasmática do mineral (1,95 mg/dL) 60 dias depois do início da intervenção. Em

recente metanálise, conduzida por Zhang et al., (2016) em 48 estudos com suplementação (n = 2131) foi constatado uma efeito de dose-respota para o Mg2+circulante. Quando as concentrações no baseline aumentavam, o aumento no

Mg circulante em resposta à suplementação caia.

Em nosso estudo, não foi verificada variação significativa entre os níveis de Mg2+ antes e após suplementação (pré = -0,04(0,43); pós = -0,05(0,22); p = 0,762)

com MgO possivelmente porque a deficiência dietética não foi capaz de causar diminuição nos níveis plasmáticos do mineral, sugerindo assim que a suplementação sé se torna realmente eficaz em casos de deficiência dietética severa, corroborando os achados de (61,76)

Nos trabalhos com suplementação com objetivo de analisar o potencial do magnésio na melhora da função celular durante o exercício, foi demonstrado que a suplementação não apresenta benefícios na performance em indivíduos com adequado estado nutricional, a concentração de magnésio plasmático maior nos grupos fisicamente ativos implica a necessidade de atividade física para manter os níveis plasmáticos do mineral quando a ingestão não foi suficiente, embora alguns estudos tenham reportado diminuição do magnésio com exercício em indivíduos fisicamente ativos em função de perdas urinárias e do suor bem como pela redistribuição do magnésio do plasma para outros sítios corporais ativos (85,87).

O tipo de exercício altera a homeostase do magnésio, já que, como descrito em estudos clássicos como o de Rayssiguier e Durlach (1990) (81), o aumento na concentração de magnésio seria função da diminuição do volume plasmático durante os exercícios de alta intensidade e curta duração, muito embora pesquisas recentes apontem que a causa da elevação nas concentrações de magnésio durante o exercício seria decorrente da proteólise pós exercício (112).

Poucos são os dados publicados que descrevem a relação entre magnésio e os parâmetros de sprint repetido em crianças, no entanto, Santos et al. (2011) (5) observaram relação estatisticamente significante com flexão, extensão e rotação de tronco (p = 0,028; p = 0,324; p = 0,05), força máxima de preensão palmar (p = 0,027), bem como com performance de salto com agachamento e salto vertical contramovimento (p = 0,07; p = 0,075) em um grupo de atletas com baixa ingestão do mineral, enfatizando que o papel determinante da adequada ingestão de magnésio na performance de força em atletas de modalidades coletivas parece ser independente do aporte energético.

Em modalidades esportivas como o voleibol a capacidade anaeróbica é determinante para o desempenho (113,114), bem como, durante os períodos de recuperação ou baixa intensidade, a capacidade aeróbica se mostra importante para manutenção dos esforços de alta intensidade como os saltos e acelerações (114). A CSR em modalidades coletivas como ao voleibol não constitui por si como um atributo físico específico da modalidade, embora estudos já tenham mostrado que o desempenho nos sprints apresenta correlações moderadas-fortes com a altura máxima atingida no salto (115,116).

A CSR é uma das variáveis mais importantes em modalidades de característica intermitente e sendo assim diversos autores já se propuseram a investigar estratégias para melhorar o desempenho em relação a essas variáveis (117,118). Desse modo, a CSR representa situações de jogo nas quais é requerido dos atletas repetição de sprints sem uma ressíntese completa dos fosfatos de energia (4,119).

Em relação à ressintese de adenosina trifosfato (ATP) durante sprints repetidos, observa-se que a via energética predominantemente requerida é a via anaeróbica, sendo observada alta depleção dos estoques de PCr, principalmente nos momentos iniciais (120,121). Bogdanis et al., (1995) (19) verificou que um sprint de 30-s levou à depleção de mais de 80% as reservas de PCr e que, após 4-min, observou-se uma taxa de ressíntese de 78,7 + 3,3% do conteúdo em repouso. Sabe-se que a via fosfagênica desempenha papel determinante na formação de ATP em movimentos de alta intensidade e curta duração. No entanto, em modalidades intermitentes a repetição dos esforços intercalados por breves períodos de recuperação acaba por não permitir a ressíntese completa dos estoques de PCr, o que resulta em níveis abaixo dos níveis de repouso para iniciar o movimento subsequente (122,123).

Em decorrência disso, a contribuição do metabolismo glicolítico para ressíntese de ATP aumenta proporcionalmente a concentração de íons H+ pelo aumento da concentração de lactato, o que reduz o pH do músculo (120,121). A acidificação do meio parece afetar a capacidade glicolítica, prejudicando a capacidade de sustentar a potência em esforços repetidos, o que foi objeto de dalguns estudos (124,125) que demonstraram redução da contribuição anaeróbica do primeiro para o último sprint, sugerindo que a capacidade de realizar sprints repetidos, mesmo com a dependência predominante da via anaeróbica durante a

repetição dos esforços, também depende do metabolismo oxidativo para realização dos estímulos subsequentes (124–126).

Os resultados da ANOVA não demonstraram efeito de interação entre as variáveis para o sprint, o que pode ser atribuído à duração da suplementação (4 semanas). Embora no estudo conduzido por Setaro et al., 2014(22) a suplementação por 4 semanas com 350 MgO tenha sido suficiente para obtenção de resultados significativos em relação à variáveis relacionadas a parâmetros isocinéticos dos extensores de músculos do joelho, salto contromovimento e com balanço de braços em jogadores de vôlei, em um recente revisão sistemática com metanálise conduzida por Zhang et al., (2017)(33) que contemplou 2131 participantes adultos, a mediana de duração da suplementação foi de 12 semanas, tempo necessário para permitir aumento das concentrações plasmáticas de magnésio (0,78 mmol/L no baseline para 0,83 mmol/L após a intervenção com 365 mg/d de Mg).

Ao analisar os dados entre os grupos, pode-se observar que, embora sem efeito de interação, houve efeito de tempo para todos os índices no grupo intervenção, exceto para a variável decréscimo de sprint. Observamos efeito de tempo significativo para a aceleração e uma tendência de efeito de tempo no tempo total e tempo médio nos grupos suplementados, o que nos leva a crer que a suplementação com magnésio foi capaz de melhorar o desempenho no teste de sprint repetido em relação à aceleração, tempo médio e tempo total, evitando perda de performance, uma vez que o grupo suplementado não demonstrou efeito de tempo em relação à variável decréscimo de sprint.

Estudos demonstram que quanto maior o sprint inicial, maior é o decréscimo de desempenho nos esforços seguintes (38,120). Nossos resultados demonstraram melhora na performance do CSRPICO e CSRPIOR nos grupos

suplementados, em paralelo à uma melhora no CSRTM e CSRTT do grupo

suplementado em relação ao controle. Os dados sugerem que a suplementação favoreceu a capacidade de resistência à fadiga dos sujeitos. Associado a isso, observamos que o grupo suplementado não apresentou diferença entre as condições após a suplementação para o lactato, sugerindo que a suplementação pode prevenir a fadiga pelo diminuição do acúmulo de subprodutos de reação da via glicolítica.

As diferenças entres os tipos de fibra podem também contribuir para explicar os resultados, uma vez que em crianças pré- púberes verifica-se maior dependência do metabolismo energético aeróbico para produzir energia no músculo ativo demonstrando um perfil mais oxidativo maior que em adultos (15,41,51) pela prevalência de fibras do tipo I, mais oxidativas e de contração lenta (44,46–48,51). Por essa razão, a suplementação com Mg+2 poderia favorecer a

utilização mais eficaz da via anaeróbica nos sprints, preferencialmente utilizada em movimentos de custa duração e alta intensidade, o que explicaria a discreta mudança nos índices de sprints já que o mineral é cofator na via fosfagência, sugerindo que uma maior disponibilidade do mineral contribua para aumentar a velocidade da reação possibilitando maior produção de ATP por esta via.

Em estudo publicado por Molina_López et al (2012) para avaliar o status nutricional e o efeito de uma intervenção com magnésio (100 mg de MgO) nas concentrações plasmáticas e eritrocitárias de Mg e Zn em jogadores de handball (22,9 ± 2,7 anos) de alto rendimento e sua relação com carga de treinamento por um período de 2 meses e foi verificado que o grupo suplementado foi capaz de aumentar os níveis de Mg no plasma durante o período de suplementação (Mgbaseline = 89,12 ± 29,19; Mgapósintervenção = 116,37 ± 18,95; p < 0,05) e de manter

esses níveis no período não suplementado, o que por sua vez demonstrou relação com o volume de treinamento em diferentes intensidades após a intervenção.

8 CONCLUSÃO

A partir dos dados analisados, podemos concluir que a suplementação com óxido de magnésio não foi capaz de produzir efeito significativo nas variáveis relacionadas à capacidade de sprint repetido em jovens com adequado status sérico do mineral, muito embora tenha se observado efeito de tempo nas variáveis de sprint entre o grupo experimental e o controle. O estudo demonstrou ainda uma interação não significativa entre os níveis de magnésio no sangue e o desempenho nos testes de sprint repetido, com melhora no melhor tempo, no tempo total e médio e no pior tempo para o grupo suplementado quando comparado ao controle.

Sugerimos ao final, a realização de estudos mais longos que permitam analisar a contribuição do tempo de suplementação no desempenho final de diferentes variáveis físicas.

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