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Artista multimídia e pesquisadora, SCIArts-Equipe Interdisciplinar, PUC-SP, São Paulo, Brasil

Resumo — Nosso conceito de espaço foi construído de diferentes formas e orientado pelos paradigmas que encontramos no processo de evolução do nosso conhecimento enquanto humanidade. Aqui abordamos alguns conceitos de espaço aplicados às poéticas artísticas conectadas ou transpassadas pelas tecnologias, que fazem perceber e recriar a visão de mundo. Essas obras são, em grande maioria, processuais com mídias emergentes. Para que se compreenda essa dinâmica, aspectos conceituais sobre estética e poética são lançados. Como os dispositivos de tecnologia móvel, ou mídias locativas, têm possibilitado alta variedade de conexões pervasivas entre as pessoas, entre pessoas e máquinas ou apenas entre máquinas, também os conceitos de pervasividade e ubiqüidade são enfocados. Ocorre ainda, uma transdisciplinaridade entre diversas áreas do conhecimento humano, gerada pelo entrecruzamento que foi patrocinado pelas mudanças que a própria tecnologia em movimento cibernético com o ser humano, comportou. Em suma, aqui abordamos de forma mais direta os aspectos poéticos e processuais da produção artística no âmbito da mobilidade e de forma geral, apenas contextualizadora, os problemas do espaço híbrido com tecnologias móveis.

Palavras-chave — Convergência das mídias, espaço híbrido, mídias emergentes, mídia locativa, obra processual, poética da mobilidade.

I. Introdução sobre as influências poéticas e estéticas

A situação espacial hibridizada, própria das mídias locativas, acende interesses no sentido de desvendar que vantagens e problemas são trazidos para todos os campos do conhecimento humano. No contexto aqui enfocado, nos interessa especialmente as influências poéticas e estéticas que daí possam advir. Percebe-se que o ambiente pervasivo oferece possibilidades de lidar de modo diferente com o nosso cotidiano, tanto quanto com nossos processos de criação artística.

Por isso, vasculhar o modo como os especialistas de vários campos têm tratado o assunto é interessante para que se possa localizar um apoio no sentido de encontrar paradigmas significativos à nossa época. Um pensador altamente crítico, mas nem por isso negativista é Milton Santos. Ele vê na globalização um caminho para novas formas de posturas políticas e criativas.

Segundo ele, “a técnica das máquinas exigia investimentos maciços, seguindo a massividade e a concentração dos capitais e do próprio sistema técnico. Daí a inflexibilidade física e moral das operações,

levando a um uso limitado, direcionado da inteligência e da criatividade. Já o computador, símbolo das técnicas da informação, reclama capitais fixos relativamente pequenos, enquanto seu uso é mais exigente de inteligência. O investimento necessário pode ser fragmentado e torna-se possível a sua adaptação aos mais diversos meios. Pode-se até falar da emergência de um artesanato de novo tipo, servido por velozes instrumentos de produção e de distribuição.

Dir-se-á, então que o computador reduz – tendencialmente – o efeito da pretensa lei segundo a qual a inovação técnica conduz paralelamente a uma concentração econômica. Os novos instrumentos, pela sua própria natureza, abrem possibilidades para sua disseminação no corpo social, superando as clivagens econômicas pré-existentes.

Sob condições políticas favoráveis, a materialidade simbolizada pelo computador é capaz não só de assegurar a liberação da inventividade como torná-la efetiva.” (2004: 164) [1]

Observando o pensamento de Milton Santos nos perguntamos se o open source, as atitudes de mídia ativismo e algumas ações hackers não são uma grande demonstração desse tipo de modificação política favorável da “nova globalização” [2] que ele sustenta. É exatamente a partir dessa facilidade do uso dessas tecnologias, da “docilidade” das técnicas, como ele costuma dizer, que se vê o surgimento de poéticas com mídias locativas.

Essa nossa fala também é um chamado ao cuidado que deve ter o artista no seu processo de criação, no sentido de que, dada a grande oferta de hardware e software, e da variedade de tipos de usos que ele tende a fazer dos equipamentos, suas obras possam estar sujeitas a homogeneização. Ou seja, cada vez mais se vê repetições de soluções plásticas, baseadas em tecnologias computacionais de mesma natureza, utilizadas por diferentes artistas.

Isso é relevante desde que, de posse de um microcontrolador e do endereço de fóruns de discussão e distribuição de programas open source, qualquer pessoa, com capacidade lógica, é capaz de criar dispositivos qualificáveis como mídia locativa e deles fazer o uso que lhe convier, inclusive artístico. Se, por um lado essa é a vantagem da situação. Por outro, ela se torna um grande fator inflacionário de poéticas similares ou esvaziadas, o que, possivelmente, as descaracterizaria como poéticas. A faceta positiva mais interessante é a de

que na inflação reside o trampolim para o surgimento de outras poéticas.

Na busca pela própria poética, o artista incorre em repetições das propensões dos conjuntos maquínicos que opta utilizar, por proximidade ou facilidade. Surge então um grande desafio: construir sua poética graças e apesar da facilidade de uso dos equipamentos, e da sua entrada naquilo que Flusser [3] chamou de “caixa preta”.

II. A poética na prática

Um exemplo de prática, que tenta escapar da homogeneização, pode ser dado com as obras da exposição “Em Meio” que inaugurou dentro do evento 7º ARTi em Brasília. Ali encontramos uma grande variedade de modos pelos quais o artista trafega, a fim de construir sua poética, utilizando-se de mídias emergentes. Como nosso interesse, neste texto, aponta para as mídias locativas, é interessante observar uma coincidência de aportes tecnológicos, porém diferentes resultados plásticos. Notamos entre uma das nossas obrasii, intitulada “Corpo expandido” e a obra de Tiago Franklin, intitulada “BTBR” , existe essa correspondência.

No trabalho de Tiago Franklin o visitante da exposição, desde 100 metros de aproximação da obra, é “lido” pelo sistema de rastreamento do Blue Tooth do celular, e sua chegada é “anunciada” no celular virtual do computador, sendo projetada a frase “o visitante x está aqui”. Cria-se uma situação pervasiva, onde, mesmo sem ter conhecimento disto, o visitante se comunica com o espaço expositivo.

A frase “Você está aqui” também existe no nosso trabalho. A partir dela, a idéia de corpo expandido é colocada em cheque. O trabalho foi feito copiando o posicionamento do Museu da República, em Brasília, segundo o Google Maps. Esse ponto foi alocado em três gradações de aproximação diferentes e impresso em chapas de plástico. Esse ponto marca o início de uma poesia potencial, que deve ser lida e construída pelo visitante. A situação é simples: ao entrar no espaço da instalação um sensor de presença faz mostrar ao visitante seu posicionamento no mapa. Ao correr os olhos pelas vias que foram agregadas ao site específico, expandindo o mapa inicial para parede e teto do Museu, o visitante, agora leitor interativo, inicia um percurso visual que o informará que, ele não está em outro lugar além de “aqui”. Se ele fizer ou receber uma ligação no seu celular, vários pontos do mapa começam a acender. Assim, ao mesmo tempo em que ele está conectado a qualquer lugar do mundo, e também ao próprio site específico, a obra continua questionando sua verdadeira posição no espaço. A idéia é examinar os conceitos de espaço e lugar, tão caros às mídias locativas. Mas,

diferente da obra de Tiago Franklin, a ação deve ser buscada pelo visitante.

Fig. 1. A Instalação Corpo expandido” durante interação de visitante. Pode-se ver os leds acesos pela interferência das ondas do celular.

Todavia, ambas as obras abordam, de maneiras próprias, as situações de pervasividade que vivemos, no mínimo ao denunciar a forte presença das ondas que, ao mesmo tempo em que nos servem, nos tolhem e nos invadem silenciosamente.

A percepção dessas obras insere a transformação do nosso modo de estar no mundo, do nosso senso de espacialidade e de referência do limite corpóreo.

Outro exemplo é o trabalho Sensitive Roseiii de Martha Gabriel, desta vez apresentado em outro espaço expositivo, mas abrangendo uma espacialidade mais híbrida. Essa hibridez é tomada conforme se verá mais adiante sobre o conceito de espaço.

Fig. 2. A obra “Sensitive Rose” no momento em que o sistema recebe a inclusão de um desejo, formando a aura vermelha ao redor da imagem de QRcode correspondente. (Imagem: Martha Gabriel)

ARTECH 2010 -5th International Conference on Digital Arts, 22 & 23 April, 2010 – UM, Guimarães, Portugal

A obra foi lançada no Nokia Trends 2008, em São Paulo e também participou do E-poetry 2009, em Barcelona. Ela convidava o interator a participar contando seus desejos, utilizando seu celular, ou apenas pela internet. Essencialmente, Sensitive Rose visa “mapear desejos das pessoas”. A interface metaforiza um rosa dos ventos onde, no norte, aparecem as colaborações que representam o número maior de desejos dos participantes.

A participação pela internet, todavia, não permite a “leitura” dos desejos. Pois esses são traduzidos para QRcodes e, portanto, só podem ser traduzidos pelos aparelhos com capacidade para tal, como celulares e PDAs.

III. Identidade expandida como poética Da mesma forma, os procedimentos do artista, no empenho de realizar suas obras, mudam, assim como as poéticas e o modo de veiculá-las, e assim também a identidade da obra se transforma. Pensando nisso, viemosiv [4][5][6]desenvolvendo a idéia de que a identidade da obra tem agora um corpo expandido assim como expandiu sua fisicalidade.

O conjunto de propriedades específicas, relativas ao meio de cada obra, são definidores da sua identidade. Essa identidade aparece vinculada ao formato, atrelado a fisicalidade, em que se apresenta a obra. Há uma estrutura que aparece em cada um dos formatos em que ela é veiculada, por isso haveria uma nova estrutura quando o formato fosse modificado

A idéia de ampliação da identidade se baseia no senso de que há obras cuja propriedade e ter a identidade expandida pela multiplicação dos meios onde ela é veiculada. Mas consideramos que existe também uma possibilidade na transversal que é a da mistura, da hibridação dos formatos criativos.

Um exemplo de obra com identidade expandida pode ser dado com o projeto de Peter Greenaway, “Tulse Lupper Suitcases” apresentado no SESC Paulista (São Paulo, Brasil) em 2007.

Ali observamos que a identidade geral, o conjunto da obra é visto como uma congregação de vários meios (palco, instalação, filme, vídeo etc...). O artista está falando de coisas muitos similares em meios diferentes. Tais meios estão congregados pela poética que o artista inseriu no trabalho. Teríamos então um corpo ampliado - da obra - e assim ampliada a sua identidade. Esse procedimento seria dar um corpo muito maior àquilo que seria a obra original - se pudéssemos separar - a trilogia fílmica “Tulse Lupper Suitcases” do restante da evolução do projeto. Mas temos que examinar a intenção de que esse corpo expandido da obra se dê. Do contrário, estaríamos tratando apenas da semiose, o que também não seria pouco.

No caso de Greenaway, vemos explícita, na poética da obra, a idéia de expansão. Aqui cabe um parêntese: aquilo que se tem confundido com estética, em geral se trata da poética. É importante frisar que a poética dos artistas muda conforme eles modificam a sua pesquisa, o trabalho, a sua intenção. Assim novas poéticas vão sendo construídas, configuradas. Quando isso acontece, a estética também é modificada, havendo uma retroalimentação contínua. Aqui estamos considerando os conceitos sobre estética e poética trazidos por Pareyson.

Conforme nos traz Pareyson [7][8], a estética seria algo de valor filosófico que estuda – como uma das funções – aquilo que e é o procedimento do artista. Assim a estética se resume pelo aspecto filosófico enquanto a poética pelo programático. A poética define quais seriam os propósitos do artista com a sua obra.v

Dessa forma, não é possível separar poética e estética. Elas caminham juntas. Isso pode ser exemplificado falando-se sobre a relação entre o equipamento e a linguagem, que só podem ser separados para análise. vi

Outra forma de ver a poética é tratando-a como aquilo que é a expressão do senso estético da época vivida. Mas não existe uma relação de conseqüência entre as poéticas de períodos subseqüentes, ligados por ordem cronológica. Isto é, não há uma lógica linear de eventos entre aquilo que é a poética de um período e o que será a poética do período vindouro.

A razão disto é que, tanto o sistema da arte como o sistema social é complexo. Sendo assim, não nos é possível saber qual tipo de amarração será feita entre os elementos desse sistema para que uma nova poética surja, ou seja localizada.

Olhando retrospectivamente será possível perscrutar- se um caminho lógico que nos permita reconhecer o percurso trilhado para aquele aparecimento, aquela emergência poética. Vão se criando subsistemas que, de alguma maneira, afetam as partes e essas partes poderão gerar uma emergência em linearidade temporal, mas não de evento. Apesar de não haver uma continuidade lógica, de linearidade temporal, há uma lógica de inter- relações. Ou seja, ação sistêmica.

IV. Existe um paradigma?

Uma poética pode surgir na forma de uma “porta” de possibilidades que foi aberta, mas que só será retomada muito tempo depois, quando outras condições do sistema fizerem com que uma conexão de dê, justificando o seu aparecimento. Olhando para o evento do ponto de vista do presente só se conseguirá entender o trajeto feito de trás para frente.

Assim, se olhássemos para o futuro, não seria possível saber pra que lado iria a ruptura. Mas, de alguma maneira, toda a ruptura é sempre uma pseudo-ruptura,

pois, em geral, ela fica latente em algum lugar do sistema da arte.

O paradigma da época fica obrigatoriamente implícito no trabalho do artista. Pode ser na temática, na técnica, na tecnologia ou na linguagem. De alguma maneira lá estará a relação inequívoca com o paradigma, mesmo que ela não possa ser lida no momento da execução da obra do artista, e mesmo que este não estivesse buscando, conscientemente, essa relação.

Isso é o mesmo que dizer que, conforme a ética, a lógica e a estética de cada tempo se dá o aparecimento das poéticas.

Examinemos então: qual seria o paradigma de nossa época? Esta não pode ser uma resposta simples, nem pretendemos dá-la. Também não podemos nos aventurar a localizar um paradigma como válido individualmente para nossa contemporaneidade. Mas sabemos que a pervasividade, encaminhada pelas tecnologias computacionais e crescente miniaturização dos dispositivos, permite aceitar um encaminhamento de uma idéia de conexão de âmbito global, em escala nanométrica, entre espaços, dispositivos e seres como sendo um paradigma significativo.

Se o artista cria ligado aos paradigmas das épocas, e se a palavra chave da computação pervasiva é mobilidade, parece coerente considerar a existência de um terreno muito favorável ao surgimento de um novo tipo de poética: a poética da mobilidade.

É esse tipo de poética que temos visto aparecer em muitas experiências com mídias locativas. Inclusive na exposição “EmMeio”, citada anteriormente.

Essas experiências, nem sempre enfocadas como artísticas, denotam um novo tipo de relação com o espaço. Nesse contexto, a hibridização – do espaço virtual com o espaço físico – se torna um lugar comum no contato entre as pessoas, mediado por dispositivos móveis de conexão.vii

Os atores dessa relação invocam modos dinâmicos - lúdicos ou ativistas - para materializar pensamentos na efemeridade das ações que, em suma, só valem pela memória que se constrói delas. Seja nas mentes, seja nos dispositivos.

Esse modo efêmero ensina a lidar com o espaço também de maneira alterada, onde não é possível mais localizar-se, como indivíduo, relacionado a objetos, mas também a fenômenos de porte virtual.

Aí também é modificado o senso de corporeidade, pois não é mais possível ignorar as situações telemáticas, onde o corpo ocupa um espaço mais expandido do que de costume. E onde o coletivo tende a somar à noção de corpo a ação do outro.

V. O conceito de espaço

Da mesma forma que mudou nosso senso de corporeidade, também o conceito de espaço foi alterado.

Examinando uma parcela dessa transformação, temos o pensamento de Bollnow [9], que descreve os vários tipos de espaço que localiza, sem, entretanto, entrar na temática do espaço hibridizado entre ciberespaço e espaço vivido. Esses tipos de espaços, enfocando suas transformações são resumidos em quatro fases encontradas na seguinte citação:

“1- Uma delas é a confiança ingênua no espaço, o sentir-se abrigado da criança, que então, numa vida posterior, pode continuar como um sentir-se abrigado natural, irrefletido, na casa e na pátria. O homem é aqui fundido com seu espaço, encarnado num modo imediato.

2- A segunda é o estado sem pátria ou sem teto. O espaço se revela aqui em seu caráter estranho e sinistro. O homem se vê perdido nesse espaço.

3- Disso resulta, em terceiro lugar, a tarefa da recuperação do sentimento de abrigo pela construção da casa. (...) Surge assim um espaço interno que abriga, separado do mundo exterior. O espaço ameaçador não desaparece, ele somente é deslocado do centro e empurrado para a margem.

4- Entretanto, pelo motivo de cada casa feita pelo homem se mostrar vulnerável (...) resulta como última tarefa vencer novamente a imobilização num invólucro fixo e recuperar uma última sensação de abrigo num espaço, que já não é o espaço próprio da casa, fundado por seres humanos, mas, enfim, é o vasto espaço em geral. Cumpre, pois, passar sobre a aparência em si própria empedernida de uma sensação de abrigo artificialmente criada e sempre somente ilusória e chegar à outra sensação de abrigo, aberta, na qual a espacialidade ingênua é recuperada num nível mais elevado.” (323-324)

Nesse ponto, nos surge a pergunta sobre como Bollnow trataria esse espaço híbrido midiatizado locativamente. Embora tenhamos usado uma edição recente, seu texto foi escrito em 1963 e não nos fornece uma abordagem que encaminhe uma resposta. Mas podemos ensaiar uma ampliação em uma das vias de suas considerações, apoiados na sua fala acerca da necessária ampliação do conceito de espaço hodológico de K. Lewin, estudado por Bollnow. Esse conceito descreveria “os sistemas de caminhos sobre os quais se alcança” lugares no espaço, sendo esses lugares fora da casa (2008: 217). Bollnow [9] aí nos diz que

“o conceito do espaço hodológico foi desenvolvido a partir da atividade humana relacionada ao comportamento sensato nas estradas, a pé ou em veículo. Trata-se de um movimento relativamente vasto na paisagem, cujos locais específicos eu busco caminhando ou em veículo. A partir daqui, é

ARTECH 2010 -5th International Conference on Digital Arts, 22 & 23 April, 2010 – UM, Guimarães, Portugal

desenvolvida também a estrutura desse espaço. Inteiramente diferente, porém, é a articulação do espaço onde eu permaneço parra realizar o meu trabalho, e para passar meu tempo livre. (...) Na rede dos caminhos, eu me movo quase sempre no plano horizontal, de modo que a rede de caminhos possa ser representada na superfície, cartográficamente. Já o alcançar e tomar nas mãos é sempre um buscar em todas as direções, mesmo para cima e para baixo, de modo que aqui se estrutura, logo de início, um espaço tridimensionalmente expandido.”( 218)

VI. Conclusão: infovias

Ligando-se então o conceito de “espaço hodológico” a outro conceito de Bollnow, o do “espaço vivenciado”[9] (14), que ele não confunde com o vivido, cogitamos se a relação entre espaços vividos através das redes e das mídias locativas inserem uma nova categoria de espaço vivenciado, sendo esta hibridizada entre expectativas geradas na relação entre espaços através das máquinas. Isso pode ser relacionado ao espaço hodológico, porém incorporando, além das vias, as infovias.

Através da computação em geral, mas com grande ênfase na pervasivaviii, estamos construindo outro tipo de corpo. O diferencial que se apresenta é que esse corpo é intercambiado de forma contínua. Entre ação local e a distância ele tende a amplificar algumas capacidades perceptivas em detrimento de outras. Por isso, é claro, há algum tipo de ganho.

Estamos elevando-nos para outro grau de percepção do nosso mundo e conseguindo imaginar esse corpo de forma super expandida, mas quando estamos na situação de super expansão, através da computação pervasiva, pode ser que partes do nosso corpo passem a ser sub- utilizadas. Isto é, é provável que, se minimizarmos as funções do corpo, percamos algumas habilidades. Mas para não incorrer nesse problema podemos parar de usar o computador e ir para nossos compromissos de bicicleta, ou caminhar na praça, substituir o elevador pela escada ou por uma corda do lado de fora do prédio!