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Artista-trançador: trançando a vida e a esperança em Juramento

Alocado em um pequeno quarto em meio a muitas tiras de couro, facas, argolas, cordas, chicotes e um pequeno banquinho, está o senhor José Miranda. Aos 75 anos, o alegre sertanejo abre a porta e convida-me a adentrar em meio àquela “bagunça organizada”, onde conhece cada canto e, mesmo no escuro, segundo ele, “é capaz de encontrar um pequeno botão”. Num primeiro momento é possível perceber que somente ele domina aquele pequeno espaço. Nada de novo para um sertanejo acostumado a experienciar desde cedo as agruras e entreveros da vida. Tornar-se forte para enfrentar a vida.

Seu Zé Miranda é um homem de estatura baixa. É magro e usa calça social com cinto bem apertado, camisas de botão, além de chinelos de dedos. É possuidor de um fino bigode preto e, pela aparência, costuma pintar, frequentemente, tanto os fios do bigode quanto os cabelos da cabeça. Vaidoso, está sempre alegre e é bastante educado e receptivo com as pessoas que o visitam.

O local de trabalho do seu Zé Miranda é um cômodo anexado à sala da casa. Próximo à esquina da principal avenida da cidade onde o movimento de pessoas e carros é maior está o espaço ocupado pelo experiente trançador que é conhecido por todos na pequena cidade. Ali, passa seus dias observando a cena urbana com seus “agitos e buchichos” e é, também, o lugar onde fica sabendo das novidades e de tudo que acontece na cidade. “Sou um cidadão bem informado”, afirmou.

Habilidoso com os couros, seu Zé Miranda ficou conhecido por realizar trabalhos que utilizam o couro de boi como matéria-prima principal para a realização dos bens oriundos do mesmo. São diversos objetos feitos pelo artesão no pequeno espaço que dispõem para suas atividades. Mas é possível perceber que nesse pequeno espaço brota e cresce formas diversas e utilitárias de objetos indispensáveis ao trabalho no campo.

Com muita disposição, seu Zé Miranda não tem hora certa para iniciar os trabalhos. Mas, afirmou-me que prefere trabalhar à tarde, pois pela manhã prefere “dar umas voltas” pela cidade, seja para rever pessoas ou mesmo realizar alguma compra para seu “escritório”. “Tenho 75 anos que fiz no mês de agosto. Tive problema de catarata, mas fiz cirurgia agora no mês de agosto, mas enxergo bem, muito bem mesmo” (Zé Miranda).

Entre um grito e outro com alguma pessoa que passa na rua em frente a sua casa, pois o pequeno cômodo onde trabalha é junto a casa onde mora, o artesão trançador, com seus óculos já na face parte para o trabalho com diversas tiras de couro já preparadas anteriormente. São dessas tiras de couro de que são produzidos os objetos feitos por seu Zé Miranda. São chicotes, cordas, cabeçadas, trabucos, bainhas e mais alguns outros objetos que, com o passar do tempo e o refinamento de suas habilidades passaram a dar maior sentido à vida do trançador.

Casado pela segunda vez é pai de dez filhos. Como afirma, “todos os meus filhos estão esparramados pelo mundo”, nenhum dos filhos aprendeu e quis dar prosseguimento ao trabalho do pai. Mas, segundo ele, “não me desanima. Cada um sabe o que faz da vida. Não tem nenhum que aprendeu. Só aprendeu outras coisas. É pedreiro, outros trabalham para a Cemig, barbearia. Mas ser trançador, ninguém quis ser”.

Figura 4: Tiras de couro cru utilizadas no processo de trançagem Fonte: LOPES, C.A.S. 2014

Nascido no mato, em Congonhas – comunidade rural pertencente ao município de Itacambira – como gosta de afirmar, nas terras altas de Itacambira, município vizinho de Juramento, o trançador norte mineiro sempre volta ao seu passado para explicar sua atuação como trançador. Sua realização enquanto profissional é feita cotidianamente a partir da satisfação do freguês ao ver o produto que solicitou antecipadamente já pronto.

Figura 5: Seu Zé Miranda mostra um chicote em fase de construção Fonte: LOPES, C.A.S. 2014

Para entendermos o presente de seu Zé Miranda devemos retornar ao passado, mais precisamente à sua infância e adolescência para compreendermos os processos sociais pelos quais passou para se tornar um trançador reconhecido na região. Como a maioria dos sertanejos, a trajetória de seu Zé Miranda foi marcada pelo trabalho desde criança.

Quando eu era menino eu aprendi a trançar rasgando folhinhas de coco com uns tios meu. Aprendi com eles, também, a tirar as correias do couro e trançar. Eu era menino pequeno e a gente ia para roça vigiar arroz, porque a gente trabalhava na roça. Meio dia a gente tinha uma folguinha. Tinha um tio meu que era profissional nisso, e aí eu já levava as folhinhas de coco e lá eu rasgava elas, fazia a quantidade de “tentos”27 e ele me ensinava. Aí eu fui aprendendo. Depois que eu cresci e virei rapaz aí eu aprendi a fazer uma trancinha e vendia pro povo. Mas tem muitos anos que eu mexo com isso. Cinquenta e tantos anos (Zé Miranda).

27 Na linguagem nativa, “os tentos” são as tiras de couro cru cortadas finas e que são utilizadas

Ainda sobre seu tempo de menino, o trançador narra partes de seu passado. Excetuando as dificuldades da época, que são inúmeras, a começar pelos acessos em trilhas e estradas muito esburacadas, seu Zé Miranda vai de encontro ao seu passado e, sorridente, narrou com alegria e felicidade o seguinte fato:

Eu era um menino muito inteligente. Antigamente só se usava isso, coisas de couro. Lá em Congonhas tinha muito disso, eu sou de lá. Lá, naquela época, tinha umas dezesseis pessoas que mexiam com isso. Aí ele [seu tio] me ensinava naquelas horas vagas que a gente ia pra roça trabalhando, meio dia tinha aquelas folguinhas, aí eu já ia naquelas chapadas e tirava as folhinhas de coco, lascava, e ali ele me ensinava quantos tentos a gente colocava. Era um tempo muito bom. Foi o começo de tudo que aprendi, com as tranças. E eu gostava. Cada vez mais eu começava a gostar e daí fui gostando, gostando e não parei mais (Zé Miranda).

Com o passar do tempo seu Zé Miranda e sua família se mudaram para Juramento, cidade onde vive até hoje. Afirma não ter interesse em se mudar para nenhum outro lugar do mundo, nem mesmo a Congonhas onde nasceu. “Lá mudou muito [Congonhas]. Agora mesmo estão querendo construir uma barragem imensa. Vai acabar com tudo. Vai tirar água do rio para levar para Montes Claros”.

Com águas limpas e cristalinas, o rio Congonhas é alvo de projeto de construção de barragem para captação de água para abastecer a cidade de Montes Claros. A obra já foi licitada e espera apenas emissão da ordem de serviço do Governo Federal via DNOCS28 para que sejam iniciados os trabalhos. Assim como em outros casos e lugares, a construção de grandes barramentos em rios gera preocupação e ansiedade entre os moradores que poderão ser atingidos. Os símbolos e significados construídos e reafirmados ao longo da vida podem ser imersos pelas águas, assim como lugares sacralizados pelos moradores, como os cemitérios familiares e coletivos. O risco é iminente e mesmo as pessoas que nasceram lá, mas que não vivem, como Seu Zé Miranda, demonstram preocupação com o que pode acontecer no futuro.

A trajetória de seu Zé Miranda foi construída a partir do seu trabalho braçal. Aliado a outras formas de ganhar a vida, como a lavoura, o trabalho com o couro

preencheu a quase totalidade da vida desse sertanejo. Acostumado a enfrentar a vida no campo para sustentar sua família, o sertanejo, ao se fixar na cidade, passou a dedicar a vida exclusivamente ao trabalho de trançar. A arte aprendida com o tio na adolescência, ao se mudar para a cidade passou a ser a forma de ganhar a vida e sustentar sua família.

Seu Zé Miranda lembra que no passado a busca por produtos de couro para a lida no campo era maior. “Tinha muitas fazendas e muitos camaradas para mexer com os bichos. Hoje diminuiu muito”. Há que considerar que por toda parte que se vá ao Norte de Minas a queixa dos moradores é quase sempre a mesma. Afirmam, sem rodeios, que a vida no passado era melhor e que, hoje em dia, diante do quadro de seca que se agravou a partir da década de 1980 vários modos tradicionais de ganhar a vida foram marginalizados ou mesmo esquecidos. Como afirmado anteriormente, vários cultivos foram extintos, principalmente o cultivo de arroz que se tornou restrito às beiras de lagoas em pouquíssimos lugares, e a cotonicultura, que durante a década de 1970 movimentou a economia da região através de subsídios estatais.

Mas o trabalho nunca parou e nem acabou. Atualmente, seu Zé Miranda não se queixa da vida. Perguntei se hoje em dia ele ainda vive exclusivamente da arte de trançar couros, e ele foi pontual em sua resposta. “Não! Hoje eu sou aposentado. Isso aí é um quebra galho, um passa tempo”. Assim como outros trabalhadores do couro no Norte de Minas seu Zé Miranda trabalha apenas com encomendas. Não costuma fazer os produtos e deixá-los guardados a espera de um comprador. “É uma forma de não perder tempo”, afirma ele. Porque se você faz muitas coisas e deixa guardada pode ser que não vende. E se não vender, onde eu vou usar essas coisas?”.

O saber fazer construído ao longo da vida fez do seu Zé Miranda um homem especial. Portador de um saber e fazer diferenciado e que se encontra em processo de atualização, o experiente trançador, assim como outros ouvidos durante o processo de coleta de dados para esta pesquisa, mostra-se receoso quanto ao futuro dos trançadores. Essa preocupação é recorrente, motivo pelo qual a pesquisa foi pensada. Estes saberes tradicionais que pareciam fadados a

desaparecer estão adquirindo fôlego devido a novas formas de atuação no universo rural do Norte de Minas.

Assim como os seleiros, que atualmente alegram-se com os esportes rurais que oxigenaram o mercado de produtos artesanais de couro, os trançadores também se veem inseridos nessa nova janela de oportunidades que se abre no sertão mineiro: as cavalgadas e vaquejadas já mencionadas em outra parte desse texto tornaram-se importantes no processo de soerguimento desses ofícios tradicionais.

Com a habilidade adquirida durante os anos, seu Zé Miranda passou a produzir vários objetos úteis à vida norte mineira. Além dos já citados laços, cordas, cabeçadas, chicotes, trabucos, há, também a confecção de alforjes, embornais e bainhas para facões e canivetes, todos feitos exclusivamente, sob encomenda.

A matéria-prima para os produtos feitos pelo trançador é o couro de boi. Mas afinal, de onde vem o couro do boi e como ele é preparado? Essas foram perguntas que fiz ao trançador que, pacientemente, narrou o processo de compra, preparo e corte do couro. Seu Zé Miranda informou que o couro utilizado por ele é comprado em açougues clandestinos da cidade de Juramento, pois a cidade não possui um matadouro licenciado.

A gente compra o couro do boi fresco na mão dos açougueiros. Depois a gente estica ele no chão com uns tocos para ele não encolher e nem ficar enrugado. Daí quando ele seca a gente tira e apronta ele. O couro eu compro ele fresco e deixo secar lá na beira do rio, tem um lugar lá que eu estico ele. Não precisa salgar. Salga o couro apenas para curtir. Para as coisas que eu faço eu uso é o couro cru. O couro curtido é para fazer a sola, aí já é o couro curtido. Agora o couro cru é para trançar (Zé Miranda).

Perguntei ao trançador os valores que são pagos pelos couros na região. Para ele, houve um aumento exagerado no preço do couro. “Ele já teve baratinho, mas hoje custa sessenta contos (reais). Ele ficou uns seis anos com o preço de dez reais e ninguém queria. As exportações tinham acabado, mas agora voltou” (Zé Miranda).

Pela fala do meu interlocutor é possível perceber que, mesmo distante dos grandes centros urbanos onde as transações econômicas são feitas muito

rápidas, o sertanejo está atento às movimentações financeiras, onde, por um determinado período o couro de boi teve suas exportações diminuídas tendo apenas o mercado interno como comprador permitindo, dessa forma, uma manutenção do valor do preço do couro em seis reais. Com a volta das exportações o preço disparou no mercado interno, é o que alega o seu Zé Miranda. Essa análise do meu interlocutor reforça o discurso da glocalidade apresentada por Stuart Hall ou seja, o seu Zé Miranda, atento à movimentação do mercado de couros sofre a influência dessa glocalidade pois, aos mesmo tempo que está em sua cidade pequena (aldeia) sua produção influencia e é influenciada pelos preços do mercado internacional.

Depois de seco e recolhido da beira do rio, o couro está pronto para ser utilizado. Pela resistência e espessura específica, os couros apresentam imensas dificuldades para cortá-los. É necessária uma nova técnica que facilite o manuseio do mesmo para que as tiras de couro fiquem “aparelhadas”, com mesma forma e tamanho. Para que esse procedimento seja feito adequadamente, seu Zé Miranda faz a seguinte afirmação:

Quando o couro já está seco e pronto, na hora de trabalhar a gente molha o couro na água para ele amaciar e ficar melhor de cortar. Aí a gente tira as correias, a gente enfia ele dentro d’água. Depois que tira da água acaba de trançar. Agora a gente passa um sebo nele para ele amaciar. Aí já fica pronto para trabalhar (Zé Miranda).

Perguntei ao seu Zé Miranda se o pai dele também trabalhava com couro. Em sua resposta afirmou que o pai também fora trançador, mas não de couro. Trançava palhas e tiras de bambu.

Meu pai fazia muito era balaio, cesta, esteira para samboeiro [carro de boi] com folha de coco e também com bambu. Meu avô mexia com carro de boi demais, carro samboeiro, com os cocões, onde a gente lubrificava com azeite para não pegar fogo, pois ia esquentando (Zé Miranda).

Os balaios e cestas bem como as esteiras são construídos no Norte de Minas especificamente com o bambu Bambusa vulgaris. Há uma cosmologia nativa que afirma que o bambu, assim como a madeira, deve ser cortado na lua fraca, como a minguante. Esses objetos eram e ainda são utilizados nos transportes de cargas, principalmente as feitas por carros de boi e carroções. As

esteiras ou caniças são usadas para fechar o carro ou carroção para que os produtos transportados não caiam durante o transporte. Já os balaios e as cestas são usados para encher com os produtos os carros de bois e carroções. São usados de várias formas e servem também como unidade de medida. Lembro ao leitor que no Norte de Minas é comum às pessoas do meio rural utilizarem a expressão “um carro de milho” para se referir ao grão comprado ou vendido. Um carro de milho equivale a trinta balaios de dez medidas. Cada “medida” constitui dois quilos, portanto, quando se compra um carro de milho com palha e sabugo, que equivale a trezentas medidas, está se comprando seiscentos quilos de milho.

A arte de trançar não se aprende da noite para o dia. É um aprendizado demorado e requer muita atenção e dedicação do aprendiz. As formas de tranças, quantos fios se usam, tudo depende do objeto a ser produzido e também da habilidade do trançador. As habilidades dos trançadores variam de produto para produto. Alguns se especializam e dedicam a apenas um objeto, como os chicotes, por exemplo. Outros preferem os laços, que são mais “custosos” exigindo uma maior experiência e habilidade. Quanto maior o número de tiras ou fios trançados em um objeto maior é a habilidade do trançador.

Figura 6: Corda de relho e laço.

Fonte: LOPES, C.A.S (2014).

A afirmação do trançador de Juramento é de que a produção de um laço é a parte mais delicada dos trançados que produz. Demanda bastante tempo e a quantidade de tiras de couro fica a critério do cliente. Há laços que são feitos até com vinte tiras. Usa-se no início do laço uma argola de ferro ou aço inoxidável. Mas os clientes, em sua maioria, preferem as argolas de aço

inoxidável, pois, além de não enferrujarem também dão um melhor acabamento ao laço, além de facilitar o manuseio do mesmo. São mais caras e nas lojas especializadas são encontradas pelo preço que varia entre sete e dez reais. Já na confecção do laço seu Zé Miranda cobra cento e trinta reais por um laço de seis metros.

Há argolas grandes, pequenas e médias. A colocação das argolas no “pé do laço” depende da vontade do cliente. Uma argola maior costuma ser mais resistente, mas as menores também são colocadas e costumam durar muitos anos. Seu Zé Miranda lembra que o tempo de duração de um laço depende do “capricho” do dono com ele. Se for mantido em local seco e não deixar molhar no período de chuvas um laço pode durar até trinta anos.

Figura 7: Argolas usadas em laços e chicotes Fonte: LOPES, C.A.S (2014).

No processo de elaboração dos chicotes é comum o seu Zé Miranda utilizar muitos tentos.

Um chicote a gente faz até com vinte e quatro tentos para ele ficar largo. Não pode ser ímpar, tem que ser os pares. Pode se fazer com doze, quatorze, dezesseis. Só é possível trançar, nesse caso, os pares. Cada fio é um tento. E é desses tentos que a gente vai puxando a trança até o final. Depois a gente faz o arremate e apara as pontas para ficar bem acabado.

Os chicotes são usados como complemento dos arreios dos cavalos, burros, éguas, jumentos, ou seja, dos animais de monta. Antigamente, lembra seu Zé Miranda, o chicote era conhecido também como “tala” e era usado no processo de amansamento de burros bravos. Além da tala usava-se também o “trabuco” que se assemelha ao chicote, mas este tem o cabo de madeira e é mais rústico. Já o chicote possui o cabo todo trabalhado, trançado, por isso tem maior procura principalmente nos eventos equestres.

O chicote tem o cabo todo trançado, e aqui tem uma argola, onde fazemos os acabamentos, vem até aqui assim (...) depois dele feito ele fica muito bonito. Em são Paulo tem uns lugares que fabricam isso, porque uma vez me trouxeram uns retratos para eu ver, mas quando chegou aqui eu conferi e era a mesma coisa do que eu faço (Zé Miranda).

Os chicotes servem para “despertar” o animal para que este obedeça aos comandos de quem esteja montado nele. Mas nem sempre é usado para agredir o animal. Atualmente, os chicotes tem uma função quase que “somente estética” no trato animal. Utiliza-se mais as esporas para “despertar” o animal.

Seu Zé Miranda lembra que, atualmente, quem encomenda um chicote pede um mais trabalhado, rico em detalhes, com tranças diferenciadas e argolas reluzentes que brilham quando expostas ao sol. São usados como acessórios nos diversos passeios e cavalgadas que são realizados em todos os lugares da região norte mineira. Os preços variam de acordo com a dificuldade do trabalho.

No desenrolar do assunto perguntei ao seu Zé Miranda qual o preço de um desses chicotes mais detalhados feitos por ele. Perguntei, também, como ele enxerga o ofício de trançador nos tempos atuais. Sua resposta vai ao encontro de diversos apontamentos já feitos nesse texto, como as mudanças proporcionadas pela modernização da vida no campo e as novas oportunidades aberta nas cidades para os jovens com ancestralidade rural.

Ah, mudou sim. Hoje em dia não tem nem quem faz isso mais. Aqui só tem eu nessa região que faz laços, chicotes, cabeçadas, esse tipo de serviço com couro. E só faço por encomenda. Um chicote eu faço por setenta reais. Mas quando eu vim de congonhas eu mexia com roça. Depois que eu me aposentei eu dediquei mais ao ofício. Quem aposenta não aguenta mais trabalhar, e ficar parado é ruim, né? Mas nessa arte, com a idade de dezoito anos eu já sabia mexer com isso (Zé Miranda).

As habilidades de seu Zé Miranda vão além de laços e chicotes. “Tudo é por encomenda. Faço também rédeas com cabelo de boi e cavalo. Eu mexo com uns porcos ali e por isso estou trabalhando somente as horinhas”.

Além de confeccionar objetos que são utilizados na vida rural, e agora no mundo urbano, esse sertanejo também faz consertos em bruacas e guaiacas.

Agora mesmo estou consertando essas bruacas aqui para um médico de Montes Claros. Ele tem uma fazenda aqui perto e pediu para consertar essas bruacas. Pediu para colocar um novo forro e