• Nenhum resultado encontrado

As atividades de extensão e o papel educativo dos museus

Capítulo 2 Os museus e a Universidade Federal de Pernambuco:

2.4 As atividades de extensão e o papel educativo dos museus

A Universidade Federal de Pernambuco não possui um setor ou órgão específico responsável pela administração dos seus museus. Como foi visto, anteriormente, os museus estão sob a responsabilidade dos departamentos nos quais estão localizados e onde foram criados, surgindo a partir das iniciativas e das atividades acadêmicas dos professores, pesquisadores, funcionários e alunos da instituição. A Pró-Reitoria de Extensão da UFPE (PROEXT) tem sido citada pelos coordenadores dos museus como um órgão que tem apoiado frequentemente as atividades dos espaços, através dos seus editais de financiamento dos projetos de extensão desenvolvidos pelos docentes, os fomentando com verbas para aquisição

de materiais e realização de serviços ou com bolsas de extensão para os alunos que fazem parte dos projetos.

De acordo com o Sistema de Informação e Gestão de Projetos do Ministério da Educação (SIGPROJ), no qual se tem o registro de projetos de extensão desenvolvidos nas instituições de ensino superior, a Universidade Federal de Pernambuco, possui cadastradas, nos últimos quatro anos, dez ações, nas modalidades de eventos, projetos e programas relacionados a museus. As ações foram identificadas pelo sistema em busca utilizando a palavra-chave ‘museu’.

Realizada a busca no sistema através dos editais de patrimônio da PROEXT, foram encontradas mais duas ações registradas. Essas ações vêm sendo desenvolvidas pelos docentes e técnicos da instituição que desenvolvem ações de extensão, e algumas delas são replicadas, dando continuidade aos trabalhos nos anos seguintes. O registro dessas ações e a busca por apoio e fomento para a área de museus da UFPE evidenciam que há uma significativa demanda da comunidade acadêmica.

Também se deve considerar a possibilidade de existência de ações de extensão relacionadas a museus que não possuem registro ou que ocorreram no período em que ainda não estava em funcionamento a plataforma SIGPROJ.

As ações cadastradas no Sistema, nesse período são de diversas naturezas e objetivos. Envolvem a criação de museu com o objetivo de disseminar o conhecimento sobre a ciência e a tecnologia, através de exposições, oficinas, exibições audiovisuais para alunos de ensino fundamental; Realização de exposição com exemplares do patrimônio cultural da Universidade a fim de divulgar técnicas e equipamentos utilizados nas áreas científicas; Realização de intercâmbio e cooperação científica entre museu da UFPE e Universidades estrangeiras; Criação de museu com a finalidade de preservar e valorizar os saberes populares; Desenvolvimento de atividades de preservação e divulgação de acervos; Requalificação de áreas de exposição de museus; Realização de cursos e oficinas sobre a área de conhecimento; Conservação, restauro e digitalização de coleções de livros e documentos raros; Realização de Seminários sobre o patrimônio de Ciência e Tecnologia, com o objetivo de estimular pesquisas sobre a temática na região nordeste, entre outras (FONTE: SIGPROJ).

O fato dessas atividades relacionadas à área de museus estarem registradas e buscando o financiamento para as suas atividades na Pró-Reitoria de Extensão

justifica-se também pela própria definição e função essencial dessas instituições, explicitadas nas definições de órgãos e legislações sobre a área, vistas anteriormente, que é o seu papel social, refletido na garantia da difusão e da promoção do acesso aos seus bens. Buscando-se a definição do papel da extensão nas universidades percebe-se que essa relação é mais do que justificável.

O conceito de Extensão Universitária apresentado às universidades públicas e à sociedade pelo Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Públicas Brasileiras (FORPROEX), em 2012, diz que:

A Extensão Universitária, sob o princípio constitucional da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, é um processo interdisciplinar, educativo, cultural, científico e político que promove a interação transformadora entre Universidade e outros setores da sociedade (POLÍTICA NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 2012, p. 15. Grifo nosso).

De acordo com a Política Nacional de Extensão Universitária, as diretrizes que devem orientar a formulação e implementação das ações de extensão universitária são a Interação Dialógica, a Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade, a Indissociabilidade Ensino-Pesquisa-Extensão, o Impacto na Formação do Estudante e o Impacto e Transformação Social.

A diretriz Interação Dialógica indica a troca de saberes nas relações entre a universidade e os setores sociais, a fim de produzir um conhecimento novo, que supere desigualdades e contribua para criação de uma sociedade mais justa e solidária; a diretriz Interdisciplinaridade e Interprofissionalidade tem como finalidade imprimir às ações de extensão a combinação de modelos, conceitos e metodologias das várias disciplinas e áreas do conhecimento a fim de proporcionar-lhes uma maior consistência teórica e operacional; a diretriz Indissociabilidade Ensino- Pesquisa-Extensão reafirma o caráter acadêmico da extensão, cujas ações serão mais efetivas se estiverem vinculadas à formação de pessoas e a produção do conhecimento; a diretriz Impacto na Formação do Estudante busca a possibilidade de ampliação das experiências teóricas e metodológicas do discente, ampliando o seu universo de referência; e por fim, a diretriz Impacto e Transformação Social confere à extensão o papel de agente integrador e transformador nas relação universidade-sociedade, assumindo seu caráter político, atuando em prol dos interesses da população e do desenvolvimento social e regional (POLÍTICA...2012).

A política extensionista da UFPE, coordenada pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT), é desenvolvida pela comunidade acadêmica com o apoio, coordenação, divulgação e avaliação de suas Coordenações Setoriais de Extensão de cada Centro Acadêmico. A missão da PROEXT está em consonância com as diretrizes da política nacional para o setor, uma vez que está pautada na promoção da relação transformadora entre universidade e sociedade. Entre os seus objetivos estão integrar as ações de ensino e pesquisa às de extensão, fortalecendo o compromisso social da universidade; contribuir com a formação acadêmica, profissional e cidadã dos seus estudantes; e apoiar programas e projetos voltados para o desenvolvimento social, cultural, científico, ambiental e tecnológico.

As atividades de extensão da universidade sejam elas técnicas, científicas, culturais e artísticas, são consideradas um instrumento de integração e de troca de saberes com a sociedade, beneficiando a população na melhoria da sua qualidade de vida e inclusão social, e, ao mesmo tempo, contribuindo para a formação cultural, social e cidadã dos seus estudantes (PROEXT/UFPE/PÁGINA INTITUCIONAL).

Grande parte das ações de extensão relacionadas a museus levantadas no SIGPROJ tem como área temática principal ou secundária a educação. A maioria dos museus da UFPE atende em suas atividades estudantes dos diversos níveis de ensino, em grande parte, provenientes de instituições públicas. Essa prática é abordada pela Política Nacional de Extensão Universitária como um dos princípios norteadores das atividades extensionistas:

A atuação junto ao sistema de ensino público deve se constituir em uma das diretrizes prioritárias para o fortalecimento da educação básica através de contribuições técnicocientíficas e colaboração na construção e difusão dos valores da cidadania (POLÍTICA..., 2012, p. 22).

O caráter educativo presente tanto nas ações registradas, como nas demais desenvolvidas nos diversos museus da UFPE, refletem a importância já citada por alguns autores, que essas instituições representam para a educação. Muitos deles defendem que o museu propicia o conhecimento, não só através do uso de práticas educativas, mas em sua própria essência. Para Valente (2009, p.88)

À medida que o museu cumpre suas funções elementares de conservar e mostrar um patrimônio tangível ou intangível ele está gerando efeitos educativos. Nesse sentido, independentemente de

contar ou não com um programa específico de atividades pedagógicas, a instituição é em si mesma um meio educativo.

A repercussão dos estudos e pesquisas da arte-educadora Ana Mae Barbosa que falam sobre as práticas educativas realizadas nos museus, defendidas pela autora como “Proposta ou Abordagem Triangular”, resultou na inclusão desse pensamento nas diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). A autora postula que os museus são lugares da prática da leitura da obra de arte e um espaço de apreciação, contextualização e prática artística (BARBOSA, 2014).

O arte-educador Robert William Ott compreende e defende o importante papel dos museus no ensino da arte, e não apenas no ensino, mas também para o desenvolvimento da percepção e da crítica nos indivíduos.

A arte, ensinada no contexto das coleções dos museus, reflete os valores estéticos intrínsecos da obra de arte e as preferências cognitivas dos alunos que estão nesse processo de aprendizagem, mas arte nos museus também reflete as condições culturais da sociedade (OTT, 2002, p. 114).

Ott (2002) ainda afirma que a relação educativa dos museus com a arte requer uma atuação ativa e que esta se dá a partir da orientação dos alunos no ensino da crítica nos museus.

Essa relação de educação ativa entre museu e ensino da arte, pode ser verificada em Henry Cole (1808-1882), primeiro diretor do Victoria and Albert Museu (um dos idealizadores da relação entre arte na escola e museus de arte) (OTT, 2002). Cole afirma que:

O museu tem como intenção voltar-se o máximo possível à preservação dos objetos, os quais não serão apenas tomados em seu aspecto físico e sim tratados enquanto objetos de estudo e ensinamentos. Da minha parte, arrisco a pensar que quanto menos os museus e as galerias se submeterem aos propósitos da educação, mais perder-se-ão como instituições sonolentas e inúteis (COLE, 1853 apud OTT, 2002).

Pode-se observar que os autores acima possuem opiniões convergentes com relação ao papel educativo dos museus, onde fica clara a definição desse espaço como lugar do conhecimento e do desenvolvimento da sociedade, que se encontram citadas nas definições de museus apresentadas anteriormente.

Essas premissas do caráter social e educativo vêm sendo colocadas em prática pelos museus da UFPE, que dentro das suas condições, vem colocando à disposição do ensino e da pesquisa, e também da sociedade, o valoroso patrimônio que possuem. As atividades desenvolvidas pelos museus e o alcance social que os mesmos vêm atingindo, refletido também no número de público apresentado por alguns espaços, que em grande parte é formado por estudantes, só vêm validar essa constatação.