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A vinculação dos temas “escola”, “reforma” e “modernidade” é uma constante na história da humanidade como atesta Cavalcante ao afirmar a “existência de alguma forma dessa articulação no debate filosófico, histórico, científico, político e religioso dos últimos quatro ou cinco séculos”1. No Brasil constatamos tal conexão com destaque para iniciativas nos vários estados da Federação no início do século XX. Deste período podemos, ainda, eleger a década de 1920 como a impulsionadora de um movimento educacional reformista responsável, talvez, por plantar efetivamente a gênese do Brasil moderno. A defesa da educação como uma necessidade e meio possível para a entrada do país no mundo da modernidade e a articulação de questões educacionais às de ordem urbana e de organização do trabalho, fazendo com que a escola passasse a ser considerada espaço também de projetos de reforma social2, apesar de encontrar ressonância desde o final do século XIX, ganham força nos anos de 1920.

Ao se referir às reformas ocorridas nas primeiras décadas do século XX, Cavalcante cita a presença de “médicos, juristas e engenheiros, todos alçados à categoria de reformadores pelo fato de haverem tomado para si a responsabilidade de edificação nacional e traçado relatórios sobre o estado da instrução e da higiene pública nas cidades e estados, onde se encontram imiscuídos”. A autora lembra ainda que a imbricação de áreas e problemas sociais contribuiu, no período, para que as reformas empreendidas fossem, naquele momento, “a um só tempo de instrução, de higiene e de reordenamento do espaço urbano de convivência social”3.

Ao pensarmos nas reformas e seus reformadores na década de 1920, somos levados a concordar com Lorenzo e Costa, quando afirmam que “de fato, nesse período, o país viveu uma espécie de ‘aceleração da história’, com a emergência de novos atores políticos (classe operária, camadas médias urbanas, militares) e novas ideias, que se expressavam não apenas no plano da política, como também nas transformações da sensibilidade e do

1

CAVALCANTE, Maria J. M. (Org.). História e memória da educação no Ceará. Fortaleza: Imprensa Universitária, 2002, p. 25.

2 Cf. MATE, Cecília H.. Tempos modernos na escola: os anos 30 e a racionalização da educação brasileira. Bauru: Edusc; Brasília: Inep, 2002, p. 34.

3 CAVALCANTE, Maria Juraci Maia. João Hippolyto de Azevedo e Sá: o espírito da reforma educacional de 1922 no Ceará. Fortaleza: EDUFC, 2000, p. 34-35

gosto”4. Ao refletirmos sobre a década de 1920, concordamos também com Carvalho quanto a mudanças referentes aos reformadores. A autora salienta a crescente presença dos profissionais da educação na direção dos assuntos de instrução pública como estratégia política e administrativa também responsável pela projeção de seus atores.

Na situação de crise oligárquica, abrir espaço para a intervenção técnica dos profissionais da educação, esses mediadores do moderno que surgiam na cena pública na década de 20, era fato político de impacto que sacudia a rotina administrativa e projetava os seus promotores no cenário nacional da disputa oligárquica. Envolver professores, inspetores e diretores de escola em iniciativas de impacto como Inquéritos, Conferências, Cursos de Férias, Congressos; ganhar visibilidade junto à opinião pública por meio da imprensa; envolver pais e mestres eram procedimentos que faziam ecoar, para além do universo burocrático das providências legais, o apelo modernizador das reformas5.

A reforma de 1924 em Sergipe, a exemplo do dito acima, teve como orientador Abdias Bezerra, professor e ex-diretor do Atheneu Sergipense. A reforma integrou um movimento reformador da instrução brasileira nos anos de 1920, a exemplo do que foi vivenciado em outros estados como São Paulo em 1920 com Sampaio Dória, Ceará em 1922 com Lourenço Filho, Bahia em 1926 com Anísio Teixeira, e Distrito Federal em 1927 com Fernando de Azevedo. As reformas apresentavam-se como momentos de transformações para a melhoria da instrução pública, é necessário analisá-las em sua historicidade, percebendo mudanças e permanências e o alcance destas a fim de melhor compreender a realidade vivida ou pretendida no período.

Para uma melhor compreensão da reforma de 1924 em Sergipe e do seu lugar dentro do projeto modernizador do governo Graccho Cardoso, procuramos verificar quem eram os diretores da Instrução Pública no período e as concepções destes acerca da educação escolar bem como buscamos perceber a relação entre a Lei (852/1923) que estabeleceu as bases para a Reforma e a recente organização do ensino paulista (Reforma de 1920), da qual o governo Graccho Cardoso buscou orientação.

4 LORENZO, Helena C. de; COSTA, Wilma Peres da (Org.). A década de 1920 e as origens do Brasil

moderno. São Paulo: Editora Unesp, 1997, p. 8.

5

CARVALHO, Marta Maria C. de. Reformas da Instrução Pública. In: LOPES, Eliane M. T.; FARIA FILHO, Luciano M. de; VEIGA, Cynthia G. (Org.). 500 anos de Educação no Brasil. 3. ed., Belo Horizonte: Autêntica, 2003, p. 233.

Os diretores/reformadores na Diretoria Geral da Instrução

Durante a administração Graccho Cardoso estiveram no comando da Diretoria Geral da Instrução Pública os professores Abdias Bezerra e José de Alencar Cardoso, ambos, assim como o próprio Presidente do Estado, egressos da Escola Militar da Praia Vermelha, grupo que segundo Calazans Silva, formava uma das matrizes do pensamento cultural sergipano. O historiador Calazans ao analisar o desenvolvimento cultural no estado de Sergipe, toma o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe como ponto de partida, enfatizando dois períodos: o ano de fundação, 1912 e o ano de seu cinquentenário. No início do século XX, segundo o historiador, o Instituto funcionou como principal difusor cultural em Sergipe e nele concentraram-se as diversas matrizes do pensamento sergipano. José Calazans Silva identifica cinco matrizes: os bachareis do Recife; os doutores da Bahia e do sul; os padres de D. José Tomás Gomes da Silva; os poetas de Aracaju e os egressos das Escolas Militares6.

Os bachareis do Recife foram os intelectuais sergipanos que se formaram na Faculdade de Direito do Recife no final do século XIX e fizeram parte ou foram influenciados pelo movimento filosófico-cultural denominado de “Escola do Recife”. Este movimento foi liderado por Tobias Barreto, professor da Faculdade e defensor do debate livre de ideias de forma sistemática e aberto a todas as diferentes correntes filosóficas. Tobias destacou-se pela introdução das correntes filosóficas do pensamento alemão no Brasil. Os bachareis do Recife de volta a Sergipe, contribuíram para o cultivo da filosofia e da literatura bem como para o desenvolvimento de estudos sobre a cultura sergipana. Além disso, participaram ativamente da vida cultural e política do Estado. Além de Tobias Barreto, podem ser citados os bachareis: Sílvio Romero, Fausto Cardoso, Gumersindo Bessa, Manuel dos Passos de Oliveira Teles, Joaquim do Prado Sampaio e Francisco Carneiro Nobre de Lacerda.

Aos doutores da Bahia e do sul, Calazans referia-se aos médicos, farmacêuticos, dentistas e engenheiros agrônomos sergipanos. Estes, formados na Bahia e no sul do país, após os bachareis do Recife, assumiram os cargos de direção administrativa no Estado de Sergipe. Tais doutores, segundo o historiador Calazans, foram os responsáveis por uma aproximação com os principais centros culturais do país, oferecendo uma visão mais

6 SILVA, José Calazans B. da. O desenvolvimento cultural de Sergipe na primeira metade do século XX.

nacional para a cultura sergipana. A influência deste grupo seria mais acentuada a partir de 1913, quando da instalação da ferrovia que trouxe mais rapidez na circulação das informações. Entre os representantes deste grupo de intelectuais, Calazans destaca especialmente o nome do médico Helvécio de Andrade, por sua ação literária e pelos estudos realizados na área médica e na educação.

Os padres de D. José Tomás Gomes da Silva, eram os egressos do Seminário Sagrado Coração de Jesus, primeira instituição de ensino superior de Sergipe, fundada pelo bispo diocesano em 1913. O Seminário foi responsável pela formação de líderes católicos que muito influenciariam a vida cultural de Sergipe a partir dos anos de 1920. Seus principais expoentes foram: José Augusto da Rocha Lima, José Olino de Lima Neto, Domingos Fonseca, Avelar Brandão, Carlos Costa, Alberto Bragança, Mário Villas-Boas e Luciano Duarte.

Os poetas de Aracaju eram intelectuais que narravam as características do lugar, suas belezas, alegrias, a cidade, a colina do bairro Santo Antônio, os aspectos mais peculiares de Sergipe. Calazans destaca, entre outros, os seguintes nomes referentes a esta matriz cultural: Garcia Rosa, Gilberto Amado, Jackson de Figueiredo, Lourival Fontes, Barreto Filho e Jordão de Oliveira.

Aos egressos da Escola Militar, grupo que interessa mais de perto aos objetivos deste trabalho de tese, correspondiam os ex-alunos da Escola Militar da Praia Vermelha. Alguns deles atingiram o auge da carreira militar, outros, pelo envolvimento em revoltas, saíram da formação militar e retornaram a Sergipe, dedicando-se à carreira do magistério. Estes últimos foram responsáveis por uma renovação cultural na área educacional. Seus principais representantes foram exatamente Abdias Bezerra e José de Alencar Cardoso, os dois diretores da instrução pública durante o governo Graccho Cardoso.

Ao dissertar sobre esses egressos, Calazans relata as dificuldades das camadas média e baixa da população sergipana de encontrar trabalho e dar continuidade aos estudos, em decorrência da falta de instituições de ensino superior em Sergipe. Isto, segundo o autor, levava estas camadas da população sergipana a trilhar: “[...] a carreira das armas. Assentando praça no exército ou na marinha, o sergipano encontrava os meios necessários à sua própria manutenção e tinha diante de si um futuro assegurado, se vencesse o ‘cano de fogo’ e não fosse envolvido nas freqüentes rebeldias da caserna dos primeiros anos da República [...]”7.

A falta de outra instituição de ensino superior, além do Seminário Sagrado Coração de Jesus, levava as famílias das camadas médias da população sergipana a encaminhar seus filhos a outros estados com o objetivo de dar sequência aos estudos, por exemplo, nas Faculdades de Direito do Recife e de São Paulo, nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro ou nas Escolas Militares do Exército e da Marinha8.

Oliva de Souza9 permite-nos distinguir as parcelas das camadas médias que enviavam seus filhos para complementação de seus estudos e os locais onde o faziam. A autora nos mostra que os membros dos “grupos destituídos” que em decorrência da crise da produção canavieira do início do século XX perderam espaço na sociedade da época, enviavam seus integrantes para estudar nas Faculdades de Direito do Recife (principalmente) e de São Paulo e nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. Outros, das camadas médias, membros do funcionalismo, dos pequenos comerciantes e dos empregados do comércio, por não possuírem recursos financeiros suficientes para manter os filhos nas Faculdades de Direito e Medicina, encaminhavam-nos às Escolas Militares do Exército ou da Marinha, que possuíam um ensino “gratuito e de qualidade”.

Alguns sergipanos, alunos das escolas militares não progrediram na carreira. Houve quem se envolvesse em quarteladas no início da República e fosse desligado das escolas. Obrigados a retornar a Sergipe por esse ou por outros motivos, tiveram papel relevante na terra natal. Alguns integraram a administração pública em postos de direção. Entre eles, houve aqueles que se dedicaram ao magistério, tornando-se importantes professores nas primeiras décadas do século XX. Abdias Bezerra, Arthur Fortes e José de Alencar Cardoso foram exemplos desses ex-alunos da Escola Militar da Praia Vermelha.

Em 1889, a Academia Real Militar foi dividida, originando a Escola Superior de Guerra e a Escola da Praia Vermelha. Até 1897 o ensino nesta última estava dividido em três anos de curso preparatório e três anos de curso de armas. Depois desse período seus melhores alunos eram enviados à Escola Superior de Guerra com o objetivo de cursarem mais dois anos de estudos, completando a formação10. Monarcha lembra que, “no final do século XIX o motor modernizador foi a ciência. No Brasil essa ciência brotaria das

8

NUNES, Maria Thétis. História da educação em Sergipe. Rio de Janeiro: Paz e Terra; Aracaju: Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Sergipe; Universidade Federal de Sergipe, 1984a.

9 OLIVA DE SOUZA, Terezinha. Impasses do federalismo brasileiro: Sergipe e a Revolta de Fausto Cardoso. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Cristóvão: UFS, 1985.

10 CARVALHO, José Murilo de. As Forças Armadas na Primeira República: o poder desestabilizador. In: FAUSTO, Boris (Org.). História da civilização Brasileira. 2. ed., São Paulo, Rio de Janeiro: DIFEL, 1978.

academias militares e nas faculdades de direito e medicina. A elite dissidente se comporá em grande parte de militares”11.

Benjamim Constant foi professor da Escola da Praia Vermelha, reformando seu ensino e consolidando a influência positivista na mesma, tornando-a, antes “um centro de estudos de matemática, filosofia e letras do que de disciplinas militares”, segundo Carvalho12. Assim, formava-se um militar com características mais de bacharel que de um técnico militar. Essa formação de certo contribuiu para as boas condições para o exercício do magistério de Abdias Bezerra e Alencar Cardoso, expulsos da instituição por terem se envolvido na Revolta da Vacina, em 1904, na cidade do Rio de Janeiro.

Esta revolta popular pela defesa de direitos civis, foi motivada pela implantação da vacina obrigatória contra a varíola, fato ocorrido na presidência de Rodrigues Alves (1902- 1906). Entretanto, a Revolta da Vacina não se limitou à luta contra a obrigatoriedade da vacinação, buscou também a derrubada do governo, por meio de levantes das Escolas Militares da Praia Vermelha e do Realengo. Tais estabelecimentos tinham como líder o senador Lauro Sodré, militar, político e discípulo de Benjamin Constant. O objetivo era a instituição de “uma ditadura militar de essência positivista, capaz de salvar a ‘pureza dos princípios republicanos’”13. A revolta foi sufocada por tropas do Exército, Marinha e Bombeiros. A insurreição provocou desdobramentos: a extinção das Escolas Militares da Praia Vermelha e do Realengo, e a prisão dos alunos e oficiais envolvidos, que foram enviados ao Rio Grande do Sul e expulsos do Exército14.

Os envolvidos com o levante foram, posteriormente, anistiados, momento a partir do qual, José de Alencar Cardoso e Abdias Bezerra retornaram a Sergipe15. Nesse período o Estado encontrava-se com consideráveis problemas econômicos, devido à crise açucareira. Esta se deveu, em plano internacional, à concorrência com o açúcar de beterraba; no plano nacional, em decorrência do processo de modernização da indústria e agricultura açucareiras; em nível local, por sua vez, pela dificuldade de escoamento da produção. Alencar Cardoso e Abdias Bezerra encontraram também um incipiente processo de urbanização e industrialização, nas cidades de Estância e de Aracaju, sedes das duas

11 MONARCHA, Carlos. A reinvenção da cidade e da multidão: dimensões da modernidade brasileira: a Escola Nova. São Paulo: Cortez; Autores Associados. 1989, p. 42.

12

CARVALHO, José Murilo de. Op. cit., p.195.

13 BELLO, José Maria. História da República (1889-1954): síntese de sessenta e cinco anos de vida brasileira. 7. ed., São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976, p. 180.

14

CARONE, Edgar. A República Velha: evolução política. 2. ed., São Paulo: Difel, 1974, p. 213.

15 Arthur Fortes também foi anistiado e retornou a Sergipe. Durante o governo Graccho Cardoso (1922-26) foi o principal representante do Governo na Assembleia Legislativa.

maiores fábricas de tecidos de Sergipe, fruto do surto algodoeiro dos primeiros anos do século XX.

Em relação à política, o Estado estava sob o governo da oligarquia do Monsenhor Olympio Campos, que conseguindo restringir a atuação da oposição, forçava uma parte do grupo representado pelos “doutores” a emigrar para o Rio de Janeiro16. A proximidade do processo eleitoral de 1905 estimulou uma oposição sistemática ao olimpismo, que resultou na eleição de dois deputados federais: Fausto Cardoso e o general Oliveira Valladão. Resultou também na eleição de um senador, Coelho e Campos. Como fruto do processo eleitoral, podemos registrar a Revolta de Fausto Cardoso, em 1906, que objetivou derrubar a oligarquia olimpista, através da deposição do Presidente Guilherme Campos, irmão de Olympio Campos. Para José Calazans, este movimento político foi:

[...] principalmente, um choque de mentalidade, o livre pensamento contra o dogma, liberdade versus caciquismo. O pequeno Sergipe, que aparecera na segunda metade do século XIX, revolucionando o pensamento nacional com Tobias e Sílvio, tentava fazer a passos largos sua evolução política e social. Em última análise, o movimento de 1906 foi conseqüência lógica dos princípios pregados pela escola teuto-sergipana. (...). Preparavam-na aos poucos, bacharéis imbuídos dos ideais da época tobiária – moços que ouviram a palavra do Mestre na Cátedra gloriosa do Recife – jovens idealistas, expulsos da Escola Militar, em conseqüência dos diversos movimentos revolucionários do começo do século, que retornavam á terra natal, com a carreira cortada, mas repletos de são idealismo [...]17.

Nesse contexto político-econômico Abdias Bezerra e José de Alencar Cardoso integraram-se individualmente ao grupo dos “Bachareis do Recife”, participando da Revolta de Fausto Cardoso. Poucos anos depois, começaram a participar mais diretamente na vida política sergipana, por meio do exercício de cargos da administração pública. Abdias Bezerra iniciou-se como Professor do Atheneu Sergipense, no governo de José Rodrigues da Costa Dória (1908-1911) e José de Alencar Cardoso como Escriturário da Saúde dos Portos, no governo do General Siqueira de Menezes (1912-1914).

Na década de 1920, o Presidente Graccho Cardoso armou-se, no seu governo, da assessoria de intelectuais provenientes das camadas médias da população, tendo espaço os egressos da Escola Militar como Abdias Bezerra, Diretor da Instrução Pública e Arthur Fortes, seu líder na Assembleia Legislativa. Este assumiu também a direção da Escola Normal após a renúncia daquele, que alegara excesso de trabalho devido ao acúmulo dos

16

OLIVA DE SOUZA, Terezinha. Op. cit., p. 48.

17 SILVA, José Calazans B. da. Fausto Cardoso e a Revolta de 1906. Revista do Instituto Histórico e

cargos de Diretor da Instrução Pública e do instituto de formação de normalistas18. Além destes dois, participou também do governo Graccho, o professor José de Alencar Cardoso como Diretor da Instrução Pública. Ao cerca-se desses profissionais, garantia Graccho Cardoso um espaço maior de manobra política, permitindo a efetivação do projeto político de modernização do Estado de Sergipe, que entre outras ações buscou melhorar as obras de infra-estrutura em diversos municípios.

O conhecimento de características mais específicas sobre esses dois personagens: Abdias Bezerra (1923-1925) e José de Alencar Cardoso (1922; 1926), possibilitaram melhor compreensão das ações destes, empreendidas na Diretoria da Instrução Pública na administração Graccho Cardoso19.

Dessa forma é que podemos afirmar que o êxito da política oficial do governo Graccho referente à instrução pública, organizada em grande medida pela Reforma de 1924, foi parte, especialmente, da dedicação do professor Abdias Bezerra, Diretor da Instrução no período reformador. O próprio “Sergipe Jornal”, adversário do governo Graccho a partir de meados de 1924, ao referir-se a Abdias Bezerra, afirmava, em 1925, que

principalmente depois de visita a São Paulo, quer celebrar e modernizador a educação em Sergipe. Com apoio das autoridades, colegas e amigos Abdias Bezerra é a inspiração maior, em 1925, das reuniões preparatórias do pioneiro Congresso dos Professores Primários de Sergipe, marcado para 01/01/1926, evento que tem o apoio de Etelvina Amália de Siqueira, Quintina Diniz, Leonor Teles de Menezes, Sirena do Prado e Silva, Maria Amélia Fontes, Helvécio de Andrade, Edgar Coelho, Artur Fortes, José de Alencar Cardoso e Manoel José dos Santos Melo20.

Nascido na então Vila de Siriri, em 07 de setembro de 1880, Abdias Bezerra teve uma vida de perdas. Segundo o Desembargador Hunald Cardoso, “perdeu o pai aos nove anos de idade e a mãe aos dezesseis. Aos doze, era quase analfabeto”21. A partir da morte do pai e para ajudar sua mãe, foi ser caixeiro em Japaratuba, Rosário e em Nossa Senhora das Dores. Aos dezessete anos transferiu-se para Aracaju a fim de estudar. Com a ajuda de

18 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa ... 1925, p.21

19 Eram comuns notas e informes sobre os professores Abdias Bezerra e José de Alencar Cardoso na imprensa da época, são exemplos desses registros: Professor Alencar Cardoso. Correio de Aracaju. Aracaju, 12/02/1922, n. 3349; Sergipe Jornal. Aracaju, 18/04/1922, n. 212; Professor Abdias Bezerra. Sergipe Jornal. Aracaju, 06/09/1923, n. 607; Professor Alencar Cardoso. Sergipe Jornal. Aracaju, 18/04/1923, n. 497;

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