• Nenhum resultado encontrado

MODERNIZAÇÃO E EDUCAÇÃO NO GOVERNO GRACCHO CARDOSO (1922-1926)

NATUREZA MUNICÍPIO RUAS E PRAÇAS DESTINO VALORES

Sobrado Aracaju Praça Fausto Cardoso Palácio do Governo 1.200:000$000 Sobrado Aracaju Praça Fausto Cardoso Assembleia Legislativa 280:000$000 Sobrado Aracaju Praça Tobias Barreto Tribunal da Relação 180:000$000 Sobrado Aracaju Praça Mendes Morais Biblioteca Pública 200:000$000 Palacete Aracaju Praça Mendes Morais Escola Normal Ruy Barbosa 300:000$000 Palacete Aracaju Avenida Ivo do Prado G.E. Barão de Maroim 160:00$000 Palacete Aracaju Rua de Itabaiana Quartel de Polícia35 312:909$000 Sobrado Aracaju Rua de Villanova Instituto de Química 195:076$508 Palacete Aracaju Rua de Vitória G.E. General Valladão 140:840$000 Sobrado Aracaju Rua de Campo do Brito Instituto Parreiras Horta 200:000$000 Sobrado Aracaju Av. Pedro Calazans G.E. Manoel Luis 147:400$000 Sobrado Aracaju Bairro Industrial G.E. José A. Ferraz 140:000$000 Sobrado Aracaju Avenida Rio Branco Atheneu Pedro II 360:400$000 Palacete Aracaju Praça Pinheiro

Machado

Diretoria de Segurança Pública36

135:000$000

Palacete Aracaju Rua de Itaporanga Instituto Coelho e Campos 600:000$000 Casa térrea Boquim Avenida Cel. Macedo Escolas Reunidas Severiano

Cardoso

68:000$000

Palacete Annapolis Praça da Matriz G.E. Fausto Cardoso 120:000$000 Casa térrea Annapolis Praça da Independência Quartel de Polícia 25:000$000

Sobrado São Cristóvão Praça da Matriz G.E.Vigário Barroso 80:000$000 Casa térrea São Cristóvão Porto da Feira Mercado Público 16:800$000 Palacete Própria Rua da Vitória G.E. João Fernandes 125:000$000 Casa térrea Villanova Praça da Matriz Quartel de Polícia 5:300$000 Casa térrea Villanova Rua da Frente Mesa de Rendas estadual 12:000$000

Palacete Villanova Praça da Matriz G.E. Olympio Campos 55:000$000 Palacete Santo Amaro Praça da Matriz Escolas R. Esperidião

Monteiro

44:800$000

Casa térrea Capela Av. General Valladão Quartel de Polícia 15:000$000 Palacete Capela Praça do Mercado G.E. Coelho e Campos 30:000$000 Casa térrea Estância Rua do Humaitá Quartel de Polícia 8:000$000

Palacete Estância Praça da Matriz G.E. Gumercindo Bessa 80:000$000 Casa térrea Itaporanga Rua do Comércio Escola pública 1:896$000

Palacete Lagarto Rua do Rosário G.E. Sílvio Romero 114:356$000 Casa térrea Laranjeiras Rua do Cangaleixo Escola pública 4:000$000

Total . . . . 5.196:777$508

Tabela elaborada pela autora.

Fonte: SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa... 1926, p. 92v

35 Antigo prédio do Grupo Escolar General Siqueira de Menezes. 36 Antigo prédio do Grupo Escolar General Valladão.

Sobre tais dados afirmava Graccho Cardoso que:

Os proprios do Estado, ao assumirmos o Governo, eram avalliados em 8.280:762$256; hoje estão registrados em 15.012:017$300. / Esse apreçamento, que não é de technicos, está muito abaixo do real, alem de nelle não figurar o valor das terras devolutas, algumas aliás já medidas e demarcadas. Mesmo assim, tomando-o para base de um balanço economico, apura-se um saldo consideravel a favor do Estado37.

Concordamos com Graccho Cardoso que, apesar da inexatidão dos valores declarados devido ao fato de não terem sido levantados por profissional técnico especializado, os valores da Tabela 3 representavam índicos acerca do patrimônio arquitetônico do Estado. Assim, podemos, a partir desses números, ter noção da monumentalidade que os prédios destinados à instrução pública representavam no cenário das cidades. Merece, portanto, consideração o exemplo dos imóveis públicos de Estância. Nesta cidade, percebemos considerável diferença em relação aos valores do grupo escolar e do quartel de polícia. O primeiro, orçado em 80:000$000, e o segundo, em 8:000$000, simplesmente nove vezes menor. Ao estendermos a análise acerca da relação entre o valor dos grupos escolares e demais prédios públicos a outras cidades do interior sergipano, verificamos a mesma disparidade. Em Villanova (Neópolis), o quartel de polícia era estimado em 5:300$000 e o grupo escolar em 55:000$000. Em São Cristóvão, o grupo escolar era orçado em 80:000$000 e o mercado público em 16:800$000. Nos dados referentes a Capela e a Annápolis (Simão Dias), percebemos situação análoga. Em relação à capital, podemos notar que as instituições de ensino público primário graduado, os grupos escolares, ao lado da Escola Normal, do Atheneu Sergipense e do Instituto Coelho e Campos, ocupavam lugar de destaque em relação aos maiores e mais importantes prédios da administração pública sergipana daquele período. Estavam no mesmo nível dos edifícios da Assembleia Legislativa, do Instituto Parreiras Horta e do Tribunal da Relação, ficando os prédios escolares, assim como os três demais citados, abaixo, apenas, do edifício do Palácio do Governo, o maior e mais estruturado prédio público do Estado.

Tendo em vista a verificação do lugar ocupado pela instrução pública durante toda a administração Graccho, mencionaremos dados relativos ao quadriênio. Na Tabela 4 apresentamos informações relativas à instrução pública dentro do universo de gastos totais de 35.944:668$706 durante os quatro anos de Governo38.

37 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1926, p. 93. 38 Ibid., p. 98-101.

Tabela 4 – Demonstrativo de despesas efetuadas pelo Estado com instrução pública – outubro de 1922 a junho de 1926 –

Despesa efetuada Valores

Biblioteca Pública 75:595$627

Diretoria de Higiene 321:986$966

Instrução Pública 3.132:358$756

Patronato São Maurício 42:508$385

Instituto Coelho e Campos 508:211$540

Instituto de Química 126:878$070

Aquisição de livros e material escolar para alunos pobres 3:858$340 Aquisição e reforma de mobiliário escolar 9:110$743

Total . . . . 4.220:508$427

Tabela elaborada pela autora.

Fonte: SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa ... 1926, p. 100-101.

No Demonstrativo de receitas e despesas do quadriênio 1922-1926 apresentado pelo presidente Graccho Cardoso à Assembleia Legislativa em setembro de 1926, os itens Biblioteca Pública, Diretoria de Higiene, Patronato São Maurício, Instituto Coelho e Campos, Instituto de Química, aquisição de livros e material escolar para alunos pobres e aquisição e reforma de mobiliário escolar aparecem separados do item instrução pública. Este, sozinho, totaliza o valor de 3.132:358$756. Entretanto, os demais itens foram postos na Tabela acima por entendermos que se relacionam diretamente às preocupações com a educação da população. Dessa forma, devem ser considerados despesas com instrução pública.

A partir dos dados da Tabela percebemos que durante o quadriênio Graccho Cardoso, de uma despesa geral de 35.944:668$706, foram gastos com instrução pública aproximadamente 11,74%. Esse percentual, no entanto, não deve ser considerado de modo exato, visto que não foram contabilizados os gastos com a construção e reformas de prédios escolares. Tais gastos não foram especificados no Demonstrativo Financeiro do Governo. O Demonstrativo apresenta somente o registro de gasto no valor de 11.364:881$390 no item “Obras novas, conservação e melhoramentos nas existentes”. Sabemos, entretanto, por exemplo, da existência da construção de nove novos grupos escolares e outros prédios para dois grupos já existentes - General Valladão e General Siqueira - da construção do novo Atheneu, do Instituto de Química, do Patronato São Maurício e do Instituto Profissional Coelho e Campos, além de compra de casas para

escolas isoladas. Tal fato obriga-nos a ter em mente um percentual maior de utilização do orçamento público para os serviços de instrução.

Havia uma compreensão sobre modernidade presente na administração Graccho Cardoso que podia ser percebida, por exemplo, quando o governante criticava o que chamava de peso da tradição, materializado na rotina dos processos econômicos e administrativos, problema cuja solução passava, segundo o presidente, pela difusão do ensino necessário para os diversos tipos de trabalhadores. Para tanto acreditava e defendia que era necessária a instrução dos agricultores, o que levaria o governo a determinar a promoção da instrução dos lavradores das estações experimentais de algodão como uma responsabilidade do Departamento Estadual do Algodão. Acreditava na ideia de progresso mediante o aperfeiçoamento dos métodos de produção agrícola, da adoção de modernos processos mecânicos para os diversos cultivos. Defendia um Estado como fiscalizador da sociedade e, ao mesmo tempo, promotor do desenvolvimento desta através da viabilização de estudos científicos e da realização de empreendimentos irrealizáveis pelos particulares, a exemplo da fundação de instituições de pesquisa e o financiamento destas. Graccho Cardoso deixava evidente que para sermos modernos eram necessários estudos e experimentação, o que levava seu governo a sustentar para os serviços de instrução um lugar particular.

Modernização da sociedade: criação e expansão de instituições e serviços

Foram muitas e diversificadas as instituições criadas na administração Graccho Cardoso (1922-26). Extrapolaram a fronteira dos negócios agrícolas e de industrialização, atendendo, dessa forma, à quase totalidade do que preceituava a sua plataforma presidencial. Entre estas instituições podemos citar o Instituto Parreiras Horta. De acordo com o presidente:

o novo Instituto servira ao mesmo Pasteur, Instituto Vaccinogenico e Laboratorio de Analyses clinicas, bacteriologicas e chimicas e tambem de pesquisas medicas, ficando Sergipe dotado de um estabelecimento da maior efficiencia contra a raiva e a variola, alem de constituir um centro scientifico para a investigação dos principaes problemas da medicina39.

Inaugurado em 1924, tinha como um dos seus atributos o desenvolvimento de pesquisas, destacando-se as realizadas sobre a febre tifóide procurando a obtenção, inclusive, de uma vacina (oral) para o mal40. A direção do Instituto foi confiada ao bacteriologista que lhe deu nome, Paulo de Figueiredo Parreiras Horta, que o dirigiu até dezembro de 1925, retirando-se do Estado tendo em vista a necessidade de continuidade de suas pesquisas e outros compromissos profissionais. Segundo Graccho, entre os melhores profissionais da área: “o governo não poderia encontrar quem com maior proficiencia, especialização e autoridade inaugurasse entre nós os estudos e trabalhos de laboratorio na investigação dos diversos casos clinicos e identificação de innumeros germens perniciosos á vida da humanidade”41.

Elogiado na imprensa42, o Instituto mantinha suas atividades distribuídas em diferentes seções: seção bacteriológica, que mantinha atividades de atendimento ao público, principalmente por meio de exames; Seção anti-rábica, com tratamento de pessoas; seção vacinogênica, com serviço de vacinação e fornecimento de vacinas aos municípios e a departamentos do Estado. Assim, é que, segundo o Presidente Graccho “[...]. Os ultimos surtos de epidemia de variola têm sido facilmente jugulados com o emprego da lympha vaccinica do Instituto”; e a Secção de Produtos que se destacava na fabricação de soros (glicosado e fisiológico) e vacinas tifo-paratíficas43. O reconhecimento além-fronteiras da produção da instituição sergipana era visto através das solicitações de seus produtos por outros estados. Referindo-se à vacina tifo-paratífica, informava Graccho:

Mediante pedido, foram fornecidas amostras desta vaccina: ao dr. Macedo Guimarães, clinico em Bahia; ao Serviço de Saneamento do Rio Grande do Norte, 176 dóses; ao general Ivo Soares, chefe do Corpo de Saúde do Exercito, 267 dóses; ao chefe do Posto de Hygiene de Itabuna, 115 dóses” [...]. Para o Serviço de Saneamento Rural no Estado do Rio de Janeiro, dirigido por um hygienista de real valor, foram remettidas mil dóses vaccinantes44.

40 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1925, p. 87.

41 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa .. 1925, p. 89; Ver também: SERGIPE. Mensagem

apresentada á Assembléa [...] 1926, p 74.

42 É de causar inveja! Sergipe dotado de um instituto scientifico modelo. Gazeta do Povo. Aracaju, 30/07/1925, n. 221.

43 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1926, p. 74-76.

44 No atendimento aos sergipanos especificamente Graccho refere-se ao surto epidêmico ocorrido na cidade de Capela, “Tendo-se manifestado na cidade da Capella um surto epidemico de molestia do grupo typhico, foi enviado a essa cidade um funccionario do Instituto, que vaccinou 582 pessoas mais em contacto com os doentes, sendo o surto epidêmico de prompto assim dominado”. E sobre os serviços na Capital, nos diz: “Por occasião de irrupção, mais ou menos violenta, de moléstia desse grupo, na capital, tem o Governo ordenado a vaccina em domicilio. / Só de 15 de Maio a 30 de Junho deste anno foram vaccinadas 1.860 pessoas”. Ver: SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1926, p. 75-76.

A atenção relativa às questões de saúde produziu outra instituição para Sergipe e que, a exemplo do Instituto Parreiras Horta, ainda se mantém em funcionamento no Estado – o Hospital de Cirurgia. Construído na capital, Aracaju, “com as installações modernas necessarias a um bom serviço clinico e operatorio, se bem que em moldes modestos, devido às possibilidades financeiras do Estado”, consoante o presidente45.

Figura 2 – Hospital de Cirurgia

Acervo da Prefeitura Municipal de Aracaju

Inaugurado, em 1926, o Hospital de Cirurgia, destacado na imprensa da época46, foi “possivelmente a maior obra do Governo Graccho Cardoso”, segundo Figueiredo47. Possuía um edifício constituído de três pavilhões, sendo de 106 metros o comprimento da sua fachada. Abrangia uma área total de 1.800 metros quadrados, sendo 1500 dos pavilhões laterais e 300 metros do central. Ocupava toda a quadra em que foi construído, sendo toda ela murada e de propriedade do Estado. O hospital era destinado à “assistencia medico-cirurgica, de accordo com os ensinamentos e methodos da techina moderna, [...]”48, conforme o presidente do Estado. Tanto o Instituto Parreiras Horta quanto o Hospital de Cirurgia podem ser considerados exemplos da preocupação modernizadora do governo, marcada pela busca do desenvolvimento de instituições de pesquisa científica e prontos serviços à população voltados aos aspectos de Higiene.

Entre as instituições voltadas diretamente aos aspectos econômicos, no intuito, por exemplo, de apoiar tanto a grande quanto a pequena produção agrícola e tornar mais efetivas as relações comerciais para os produtos locais, entrou em funcionamento em agosto de 1923 o Banco Estadual de Sergipe49.

A instituição não foi construída com capitais exclusivamente sergipanos. Graccho Cardoso justificava tal medida declarando que “em razão da indifferença e ausencia de iniciativas, então existentes, em o nosso acanhado meio financeiro”50. Contou o banco com capitais sergipanos e franceses. As críticas ao empreendimento fizeram-se sentir na imprensa. Um exemplo foi o “Correio de Aracaju”. O periódico via no Banco do Estado de Sergipe “um alçapão falso, [para o qual] o Estado concede isenção de todos os impostos estaduais presentes e futuros”. O jornal falava em imoralidade, “tudo concedido a um Banco organizado por estrangeiros, de crédito duvidoso”51. Semelhante ao que afirmava este periódico posicionava-se o “Sergipe Jornal”, de certo, o maior crítico do governo Graccho Cardoso após meados de 1924, quando da cisão entre Graccho Cardoso e Pereira Lobo. De acordo com esse jornal, o Estado de Sergipe “foi doado ao Crédit Foncier du Brésil et de l’Amerique du Sud”52. No mês seguinte, outubro de 1924 e após um ano do início de funcionamento do banco, o deputado Mecenas Peixoto denunciava no “Sergipe Jornal” que o banco girava com o capital do Estado, única e exclusivamente, pois o “Crédit

46 Inauguração do Hospital de Cirurgia. Gazeta do Povo. Aracaju, 26/04/1926, n. 436; Hospital de Cirurgia.

Gazeta do Povo. Aracaju, 04/05/1926, n. 501.

47 FIGUEIREDO, Ariosvaldo. História política de Sergipe. v. 2, Aracaju: Sociedade Editorial de Sergipe, 1989, p. 105.

48 Ver: SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1925, p. 114. 49 Lei n. 837, de 10 de março de 1923.

50

SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1925, p. 124. 51 Correio de Aracaju. Aracaju, 25/10/1923.

Foncier” ainda não havia cumprido o acordo de integralização de capital no valor de 2.500:000$000 a que se obrigara. Diante das denúncias, o presidente não se pronunciava, apenas no ano seguinte fazia referência ao assunto. Tal referência, contudo, em postura positiva. Lembrava Graccho Cardoso que o banco, inaugurado em 1923 com um capital realizado de 10% do nominal, elevava essa soma, dois anos após, a 67% desse capital. Situação promissora que, de acordo com o presidente, levaria o banco até o final do ano de 1925 a completar dois terços do seu capital social53.

No balanço final do seu governo à Assembleia Legislativa, em 1926, Graccho Cardoso destacava o Banco Estadual de Sergipe, o qual tinha como condição de constituição a reserva de parte do seu capital para ser destinada a empréstimos pouco onerosos para os agricultores e industriais sergipanos54. Além disso, obtivera, por meio de aditivo de 1926, autorização para fundar filiais em outros estados. Sobre o assunto, Graccho Cardoso informava que: “Como é corrente, vem funccionando já no Rio de Janeiro a Agencia do Banco Estadual de Sergipe, o que muito contribuirá para desenvolver e facilitar o movimento entre a Capital Federal e o nosso Estado, com evidente proveito para o commercio e classes productoras”55. Materializava-se, assim, mais uma proposta de governo apresentada na plataforma presidencial em 1922.

Outras três instituições consideradas modelos foram inauguradas na capital: o Mercado Modelo, o Matadouro Modelo e a Penitenciária Modelo. O mercado, construído em parceria com a iniciativa privada, tomava uma área de 5.168 metros quadrados. Tornava-se, pois, mais uma obra monumental da administração Graccho Cardoso. Entretanto, convivia com a crítica da oposição, que questionava da seguinte maneira: “Que necessidade tem o povo de mercado bonito, aquela babilônia?”56. Mesmo diante de críticas, as obras continuavam recebendo apoio e elogios também de parte da imprensa57.

As críticas dirigiam-se também à construção do Matadouro Modelo na capital, obra realizada em parceria das administrações estadual e municipal e posteriormente concedida à iniciativa privada58. O “Correio de Aracaju”, concluída a obra, comandava ofensiva: “Combatemos o monopólio imoral do Matadouro Modelo”59. O matadouro era moderno, suntuoso, mas não apresentava motivos que o fizessem imoral. Em 13 de agosto de 1926,

53 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1925, p. 129. 54 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1926, p. 102. 55 Ibid., p. 103.

56

Sergipe Jornal. Aracaju, 7/11/1924.

57 A inauguração do Mercado novo. Gazeta do Povo. Aracaju, 08/02/1926.

58 Concessão à empresa Cardoso, Fontes & Cia sobre a qual afirmava Graccho Cardoso não existirem sócios com laços de consanguinidade com os representantes do Governo. Ver: SERGIPE. Mensagem apresentada á

Assembléa Legislativa [...] 1926, p.22.

com a presença do eleito presidente da República Washington Luis, a obra era inaugurada. Possuía cinco pavilhões, todos, segundo Graccho Cardoso, “[...] convenientemente dotados de apparelhagem e machinismos os mais modernos”60.

Em outubro de 1923, o presidente do Estado, com o engenheiro paulista Artur Araújo à frente de 375 operários, batia a pedra fundamental da Penitenciária Modelo, iniciando assim, “a construção daquele que, criado pela Lei n. 943, de 09/10/1926, irá ser, na periferia de Aracaju, um dos mais modernos estabelecimentos penais do Nordeste”61.

O presidente do quadriênio 1922 a 1926, ao lembrar de seus compromissos expressos na sua plataforma de governo de 24 de outubro de 1922 no que se referia a uma melhor aplicação do regime penitenciário estatuído pelo Código Penal da República, desde maio de 1923, “ordenou as providencias preliminares para a construcção, em local conveniente, de um edificio em tudo harmonico com o conceito moderno de repressão”. Pela Secretaria Geral do Estado foi então aberta concorrência pública para a construção de uma nova penitenciária. “O edital exigiu que a penitenciaria fosse calculada para 250 detentos, devería possuir officinas e obedecer a todas as regras de architectura e hygiene inherentes aos carceres modernos”62.

O edifício possuía área coberta de aproximadamente 450 metros quadrados. Continha dois pavilhões e duas torres. O conjunto penitenciário foi inaugurado com enfermaria, lavanderia, banheiros, hospício, capela, oficinas e necrotério63.

Buscava-se incorporar na construção da nova penitenciária os progressos da ciência penal, obtidos desde o fim do século XIX. Essas ideias, entre outros delineamentos, exigiam que a prisão não se constituísse simplesmente em um instrumento de segregação, mas que em suas dependências “[...] a hygiene do movimento, a disciplina apropriada ás varias manifestações criminosas e o trabalho não só como agente moralizador e hygienico, mas tambem como retribuição que cada detento deve ao Estado pelo seu sustento”64.

Em relação específica ao exercício laboral na penitenciária, Graccho Cardoso afirmava que:

[...] a servidão penal, em favor do Estado, com participação dos delinqüentes, nos resultados della provindos, merece todo o apoio. E por assim entender é que, alem da penitenciaria modelo [...] alimento egualmente o desejo de, valendo-me da autorização reservada aos governos

60

SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1926, p. 22. 61 FIGUEIREDO, Ariosvaldo. Op. cit., 1989, p. 51.

62 SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1923, p. 18. 63

SERGIPE. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa [...] 1925, p. 112-113. Elogios à construção da penitenciária por parte da imprensa, ver: Sergipe Jornal. Aracaju, 01/06/1923.

dos Estados, no art. 9º, do decreto n. 145, de 11 de julho de 1893, fundar uma colonia correccional agricola, para a educação; pelo trabalho, dos menores, vadios e capoeiras, sem occupação legal e honesta65.

Figura 3 – Penitenciária Modelo

.

Acervo da Prefeitura Municipal de Aracaju

No campo da educação, desta vez no ensino superior, referia-se Graccho Cardoso, em 1925, à instalação da Faculdade de Direito Tobias Barreto. Na ocasião da inauguração, afirmou: “Festividade de intenso jubilo, pelas esperanças que suscitou, traduziu a installação da Faculdade de Direito Tobias Barreto, estabelecimento superior de letras jurídicas [...]”66. Entretanto, no ano seguinte, lamentava o presidente de Sergipe o fato de a instituição não ter entrado em funcionamento, devido a um “absoluto retraimento de alumnos á matricula”67. Francisco Nobre de Lacerda, diretor interino da instituição, atribuiu tal fracasso ao fato de não ser a Faculdade de Direito Tobias Barreto equiparada aos demais estabelecimentos oficiais congêneres68.

A instituição foi alvo tanto de apoios69 como de críticas transmitidas pela imprensa local. O “Correio de Aracaju”, por exemplo, declarava que “Sergipe não pode ainda ter uma Faculdade de Direito, deve criar uma escola de Agronomia”70. O “Sergipe Jornal”, por sua vez, ao se referir à pequena representatividade da Faculdade de Direito, provocava

Documentos relacionados